Durante os últimos trinta anos, o jornalista Elio Gaspari reuniu documentos até então inéditos e fez uma exaustiva pesquisa sobre o governo militar no Brasil. O resultado desse meticuloso trabalho gerou um conjunto de quatro volumes que compõe uma obra sobre a história recente do país. A obra é dividida em dois conjuntos - 'As ilusões armadas' e 'O sacerdote e o feiticeiro'. 'As ilusões armadas' reúne os livros 'A ditadura envergonhada' e 'A ditadura escancarada'. Nos primeiros anos após o golpe de 1964, o governo militar ainda relutava em se assumir como uma ditadura, daí o título 'A ditadura envergonhada'. Mas com a edição do AI-5, no final de 1968, que suspendeu direitos constitucionais, ela se revela. Em 'A ditadura escancarada', são reconstituídos os momentos mais tenebrosos do regime, como a prática da tortura contra os opositores do regime e a violência empregada contra os guerrilheiros do Araguaia, um dos últimos núcleos de resistência política.
Chegou ao Brasil ainda na infância. Começou a carreira jornalística num semanário chamado Novos Rumos, e depois foi auxiliar do colunista social Ibrahim Sued, passando a seguir por publicações de destaque, como o Diário de São Paulo, a revista Veja e o Jornal do Brasil.
É comentarista do jornal Folha de São Paulo, jornal diário de São Paulo, onde está radicado, tendo seus artigos difundidos para outros jornais, dentre os quais O Globo do Rio de Janeiro, Correio do Povo de Porto Alegre e O POVO de Fortaleza.
Em seus artigos, trata com ironia as personalidades. Para tanto, lança mão de personagens como Madame Natasha, professora de português que "condena a tortura do idioma" e vive concedendo "bolsas de estudo" àqueles que se expressam de modo empolado. Já Eremildo, o idiota, é uma sátira aos que usam indevidamente o dinheiro público.
Dono de consagrada carreira no mundo jornalístico, publicou uma série de quatro livros sobre a ditadura militar brasileira, dividida em duas partes, as Ilusões Armadas e O Sacerdote e o Feiticeiro.
Importante documento deste período histórico do Brasil, Gaspari havia em 1984 iniciado suas pesquisas a partir de uma bolsa de estudos no Wilson Center for International Scholars, cuja temática seria centrada nas principais figuras do período ditatorial: os generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva. Embasado em documentos pessoais de ambos, a obra deslinda os bastidores do regime militar que por duas décadas mergulhou o Brasil no regime de exceção.
é uma pesquisa documental muito impressionante, e eu gosto muito do jeito como ele estruturou o livro e os capítulos. algumas falsas equivalências me irritaram
This is the second book in Elio Gaspari's 5-volume series on the Brazilian dictatorship. The period covers the years that go from the death of Costa e Silva to the rise of Geisel to power. Known as "Years of Lead" this period was marked by the complete loss of control of the Brazilian state over the police apparatus that was created gradually since 1964. Gaspari shows that the only rule followed in the soup of letters that turned security policy - DOI , DOPS, SNI - was the lack of rules. This is the period in which torture, as a practice encouraged by the state, spreads through the prisons.
American readers may be interested in this book since it shows that Henry Kissinger and Nixon were conniving with the constant violation of human rights practiced at the time by the Brazilian state. Apparently, the Nixon administration feared that Brazil would become "a new China."
The volume also tells well-known episodes of the dictatorship, such as the kidnapping of the American ambassador by an urban guerrilla group, the murder of Rubens Paiva and the Araguaia guerrilla. Moreover, the book also shows the effort made by the Catholic Church to denounce and make public the knowledge about the torture practiced by the military.
"A negação da tortura pela retórica do regime catapulta a tigrada da condição de infratora à de intocável. Quando ela mostra que pode fazer o que o governo nega e condena, não se pode mais saber por onde passa a linha que separa o que lhe é permitido daquilo que lhe é proibido. O porão ganha o privilégio de uma legitimidade excepcional. A mentira oficial é o reverso da covardia da tortura. Através dela os hierarcas sinalizam o medo de assumir a responsabilidade por aquilo que apoiam e recompensam."
Mais um volume excepcional de Elio Gaspari sobre o Regime Militar no Brasil. Nesse volume, o autor fala sobre o princípio da torturas ocorridas nos DOIs, fala sobre o terrorista Carlos Mariguella e dá detalhes impressionantes sobre a guerrilha do Araguaia. A pesar de algumas vezes se mostrar bem parcial, o autor é bem detalhista aos fatos. Vale muito a pena.
A Ditadura Escancarada cobre o período que vai do AI-5 até o fim da Guerrilha do Araguaia. Assim como no primeiro livro, Elio Gaspari faz um relato suficientemente imparcial dos acontecimentos.
Esse período é o mais pesado da ditadura, com mortes mais violentas e mais sem sentido. Em comparação com o período coberto no primeiro livro, dá pra perceber que sobraram os generais mais barra pesada e a massa militar que colocou a mão na massa era constituída de vários criminosos, alguns psicopatas e por aí vai.
O poder dessa galera dos porões impressiona. Os altos oficiais não tinham esse controle todo sobre o dia a dia da repressão. O livro não alivia a barra deles, só mostra que a distribuição de forças é meio estranha quando tem tanto poder e violência em jogo. Nessas situações, os caras que de fato deformam a cabeça de gente na prensa (sim, isso aconteceu) acabam tendo uma ascendência maior do que a hierarquia oficial supõe ou deseja.
Ainda nesse campo dos bichos ruins, dá pra lembrar da lição dada no livro A Revolução dos Bichos: quando o assunto é maldade, sobram os piores, ficando os moderados pelo caminho.
O livro é bom e útil. Relata a morte cruel de inocentes, tortura por puro sadismo, assédio, estupro e óbvio, corrupção. Ah, e incompetência, muita incompetência por parte dos militares. Difícil ler esse livro e continuar acreditando no mito do governo militar honesto e eficiente.
Livro um pouco pior que o anterior (A Ditadura Envergonhada). O livro se concentra na luta armada entre os anos 1969 (promulgação do AI-5) e 1974 (fim da guerrilha do Araguaia). O livro também trata do golpe dos generais sobre o vice-presidente após a isquemia de Costa e Silva e também da forma louca de escolher o sucessor de Costa e Silva, Médici, com um colégio eleitoral inicialmente composto apenas por militares dos mais diversos serviços.
Como as principais fontes primárias do autor que não estão disponíveis em outros lugares, os escritos de Geisel e Golbery, não participaram tanto do poder nesses anos, o livro se atém mais a outras fontes primárias e secundárias já conhecidas, então ele não tem tanto a acrescentar, e fica um pouco repetitivo com o enfoque em combatentes de esquerda, de direita e pessoas que lutaram contra a tortura de direita, em especial a Igreja.
Esse livro é complicado de avaliar.Por um lado ele não cai nas críticas sobre suavização dos problemas da ditadura que são levantados contra escritos memorialistas e cronisticas sobre a época. Por outro lado o problema que de fato aparece acaba sendo mais insidioso, normalizar a produção memorialistica dos militares e controladores da máquina do Estado, e ser o guardião das fontes tanto desses memorialistas que lhe dão depoimento quanto como documentos que são por eles fornecidos, como o largamente citado diário de Heitor Ferreira. De qualquer modo pela vastidão da narrativa, que cobre todo o périodo, a obra de Gaspari se torna leitura obrigatória para qualquer pesquisador e interessado na Ditadura Militar.
Continuando a coleção, nessa tem alguns pontos interessantes como a participação de alguns membros da igreja, em ambos os lados (ditadura e resistência) e como se desenvolveu isso através de figuras conhecidas e a parte final sobre a guerrilha do Araguaia, muito interessante acompanhar esse desenvolvimento e até surpreendente a forças daquelas pessoas em sobreviver por tanto tempo em tais condições. Um pouco mais difícil de acompanhar pela quantidade de pessoas envolvidas, principalmente com codinomes.
Do AI-5 ao fim da guerrilha do Araguaia, o período de ação mais ostensiva das Forças Armadas na repressão aos movimentos "subversivos". Época do "milagre econômico", da Censura, de uma cultura florescente e de sangue derramado (de militares e de militantes). Uma página da nossa História pra ser conhecida, entendida, jamais esquecida.
Fiquei um pouco decepcionado com o livro. O autor dispensa muito tempo contando o dia a dia dos jovens revolucionários e pouco sobre a política da época. Fiquei com a impressão que o autor quis dar um verniz de heroísmo, como o herói Robin Hood, aos guerrilheiros. Ficou uma narrativa pobre.
Apesar de ser o segundo da série de livros sobre o Ditadura Brasileira, este foi o primeiro dos livros que li. Achei a escrita do livro um tanto monótona, pesada, por ser detalhada demais, nomes demais, eventos demais, não sei ao certo, algo me incomodou e achei o livro cansativo.
Depois de ler o primeiro livro da série “As Ilusões Armadas”, o segundo volume pedala um pouco em falso, sem, contudo, perder um cuidado extremoso na citação e embasamento do mais mínimo facto. Penso que não será demais dizer que Élio Gáspari será, indubitavelmente, um dos mais brilhantes jornalistas brasileiros. Na internet não lhe faltam ódios destilados em inúmeras resenhas sobre o seu trabalho, o que não será surpreendente para um investigador que embora denuncie neste volume os crimes selváticos da ditadura (na sua generalidade já bem conhecidos), mas também revele certas outras conclusões “inconvenientes”, como as abaixo listadas. Antes de as ler, registe-se que Gáspari fez parte do partido comunista na década de 60, mas foi além da miopia de uma elite que se dizia vanguardista e pensante, mas se mostrava incapaz de ter uma autonomia crítica, sendo facto comum na maior parte das esquerdas odes ao stalinismo e aos seus crimes.
Sobre as “intenções” dos focos revolucionários: “A luta armada fracassou porque o objectivo final das organizações que a promoveram era transformar o Brasil numa ditadura, talvez socialista, certamente revolucionária. Seu projecto não passava pelo restabelecimento das liberdades democráticas”. Pág. 193.
Sobre a política empreendedora do regime, que, ironicamente, bem poderá ser comparada aos actuais “obras”, como os estádios e recintos cuja construção e/ou recuperação para a copa do mundo e olimpíadas em 2014 e 1016, respectivamente, é tão propagandeada: “Potencial nuclear? O ministro das Minas e Energia anunciara a descoberta de excepcionais jazidas de urânio no nordeste e anunciara a compra de uma usina atómica, a ser montada em Angra dos Reis. Integração Nacional? Médici determinara a construção da rodovia Transamazônica, que rasgaria 2280 quilômetros de mata tropical, ligando o Maranhão ao Acre. Gigante soberano? Estendeu-se a duzentas milhas da costa o limite das águas territoriais brasileiras. Tecnologia nacional? A Embraer recebera 320 milhões de dólares para fabricar o primeiro jato brasileiro. Obras históricas? Acelerou-se a abertura dos metrôs do Rio de Janeiro e São Paulo e anunciou-se a construção da ponte que atravessaria a baía de Guanabara, ligando a praia do Cajú a Niterói”. Pg. 209
Uma fina ironia diante da tão propagandeada política social do actual governo: “Em 1971, Medici criara o ProRural, estruturando o sistema de aposentadoria dos trabalhadores no campo. Concedia meio salário mínimo mensal a todo lavrador ou pequeno proprietário que completasse 65 anos. Ampliado nos governos seguintes, haveria de se transformar no maior programa de renda mínima do país, um dos maiores do mundo”. Pág. 210 Sobre o comportamento seguido pela “luta armada”, como já preludiara “Che”, que advertura que “se você começa roubando bancos, acaba virando assaltante de bancos”: “[…] Quando um pequeno grupo de militantes reduz a sua actividade política a assaltos destinados apenas a sustentar-lhes a precária clandestinidade, pouca diferença há entre um revolucionário e um assaltante.” Pg. 393.
Sobre o comportamento das populações diante das guerrilhas rurais: “O amparo [das populações][aos guerrilheiros] derivava tanto da simpatia quanto do medo”. Pg. 430.
Sobre as conclusões a respeito da luta armada pelo PC do B (Partido Comunista do Brasil): “Só em abril de 1976 o núcleo dirigente do PCdoB admitiu que a guerra popular tinha ‘retrocedido’. Ainda assim, sustentaria: ‘O balanço político, do ponto de vista da luta do nosso povo e do papel do partido, no que respeita aos sucessos do Araguaia, é altamente positivo’. […] O extermínio tornara-se numa irrelevância diante do objectivo maior: a autoglorificação do partido”. Pg. 462/3.
The book covers a period of time in Brazilian history which I was not very familiar with and therefore, each page was a discovery. While we know about the torture and abuses that happened during that period, the author goes into fine-grain detail supported by very extensive research. A must-read for anyone who wants to understand the last 50-40 years in Brazilian history.
Elio Gaspari, apesar de ser mais crítico com o governo do que contra os subversivos, não poupa críticas a ambos os extremistas de periódo, chamando os esquerdistas radicais de terroristas e os torturadores de "tigrada", que atuavam na ilegalidade a favor do governo.