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Na terra dos outros

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Diário involuntário, narrativa dos invisíveis, crónica de costumes, episódios da vida privada: eis a história de uma rapariga de aldeia que vai para a capital como criada de servir.

Na Terra dos Outros conta-nos a extraordinária vida de uma mulher comum: Maria do Carmo, uma de milhares de raparigas que deixaram a família e o quotidiano severo no campo e abalaram para as cidades, sozinhas, em busca de futuro.

Criadas para todo o serviço, ocupavam-se do que quer que conviesse aos patrões; muitas vezes, recebiam por paga somente cama (dura) e comida (escassa); não havia folgas, férias ou licença para sair. A Revolução de Abril, vivida dentro de portas e entre sussurros, traz grandes mudanças, embora pouco retorno, e Carmo vai reinventando os seus dias, década a década.

Com impressionante desenvoltura romanesca, este livro leva-nos do fim da ditadura às portas da atualidade, acompanhando uma emancipação ainda desigual, ainda por cumprir. A história de uma vida que se cruza com a história de um país em formação: planos adiados, desígnios perdidos, ilusões desfeitas.

288 pages, Kindle Edition

First published January 1, 2024

6 people are currently reading
306 people want to read

About the author

Manuel Abrantes

1 book1 follower
Manuel Abrantes nasceu em Lisboa, em 1982. Formou-se em Estudos Europeus e Sociologia, sendo doutorado pela Universidade de Lisboa. Tem investigado e lecionado no campo da sociologia do trabalho e das desigualdades, com especial incidência no serviço doméstico. Na terra dos outros é o seu primeiro romance.

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Displaying 1 - 30 of 47 reviews
Profile Image for Fátima Linhares.
933 reviews340 followers
June 15, 2025
Jovem, abominara as circunstâncias impostas pelos patrões, pela família, pelo mundo inteiro; lutara para ter uma casa própria, lutara para levar uma existência independente; já velha, abdicara da casa e da independência de livre vontade. Mas somos livres afinal? Olhando para trás, Carmo recordava a única ocasião em que se sentira livre - muitos anos atrás, quando fugira da família e dos patrões, aproveitando uma boleia fortuita para Lisboa e escondendo de todos as suas verdadeiras intenções. E para quê? Para dormir a relento. Para se colocar à mercê da caridade alheia. Toda a vida quisera soltar-se das grilhetas que a prendiam, com veemência recusar o destino dos seus antepassados no campo, mas parecia-lhe agora que, tanto nas casas dos patrões como em sua própria casa, nunca deixara de lavrar a terras dos outros.

Este livro traz-nos a história de Maria do Carmo, uma criança do campo que, com onze anos e por necessidade da família, é enviada para Lisboa para ser criada. Isto acontecia muito durante o Estado Novo. Iam ainda crianças para a casa de patroas, algumas ficariam lá até serem velhas, servindo os patrões e, depois, os seus descendentes, outras encontrariam um jovem e constituiriam a sua própria família.

Na década de 1980, Maria do Carmo acabou por encontrar um moço e teve dois filhos, formando uma miséria de família na qual continuava a ser a criada. A mulher era sempre a criada dos pais, dos patrões, dos maridos e dos filhos. Uma vida infeliz e quase sem objetivos.

Foi uma leitura muito interessante, com uma protagonista sofrida, mas que vai tendo uns laivos de iniciativa, precipitada por vezes, para se libertar da vida enfadonha e cansativa que leva. Será que conseguirá, algum dia, ser dona da sua vida?
Profile Image for Marta Silva.
301 reviews103 followers
June 29, 2024
O que me cativou neste livro? A personagem principal: Maria do Carmo.
Esta é o retrato de muitas mulheres portuguesas que outrora, à força e instigadas pela pobreza, tiveram de trocar a província pela cidade, à procura de uma vida melhor. É aí que cresce à pressa e depressa aprende como a vida, por vezes, pode ser amarga, injusta e impiedosa.
Parece uma história comum mas de todo bem contada, em que a escrita leve e fluida ajudaram também a fazer deste livro uma boa leitura!
Profile Image for Rita.
906 reviews185 followers
September 29, 2024
Os homens sempre têm as mulheres para manter as coisas a funcionar, para pôr a comida na mesa e para lavar a roupa. E uma mulher? Uma mulher nem isso tem, uma mulher não tem nada, nada.



Nunca tinha ouvido alguém referir-se a Alfornelos como Alfornel. Colina do Sol, tudo bem, mas Alfornel…..encanitou-me.
Profile Image for Vera Sopa.
742 reviews73 followers
March 2, 2024
Manuel Abrantes que excelente primeiro romance!

A empatia com a Maria do Carmo que aos onze anos foi trabalhar para Lisboa como empregada interna de uma família burguesa sem filhos e o reconhecimento das circunstâncias de um Portugal empobrecido e embrutecido no ano não muito distante de 1971 foi decisivo para me apaixonar por esta extraordinária mulher comum.

Explorada, abusada, ignorada, traída e criticada Maria do Carmo é uma mulher como tantas outras que Manuel Abrantes recriou com mestria. A sua escrita é simples mas muito eficaz, sem desperdício de palavras e muito realista.

Sei que Maria do Carmo vai ficar comigo. Um romance transformador. Muito, muito bom.
Profile Image for diario_de_um_leitor_pjv .
781 reviews140 followers
March 2, 2024
[COMENTÁRIO] 
⭐⭐⭐⭐⭐💙
"Na terra dos outros" 
Manuel Abrantes 

Um primeiro romance que curioso e influenciado por alguns amigo fui ler. 

E fiquei preso numa narrativa escorreita cheia de detalhes e de pormenores encantadores. Um livro que nos apresenta uma inusitada voz na literatura portuguesa.


Mas este livro é também o espaço de uma intensa personagem: a Maria do Carmo, ou se preferirem a  Carmo. 

Nesta páginas esta personagem, tão especial e verdadeira, percorre a sua vida entre 1971 e 2020 nos dando a conhecer, em tantos, detalhes o quotidiano da vida desta mulher, da sua família e dos quem com ela se cruzam. Mas também da sociedade portuguesa dos últimos 50 anos. 

Como refiro no vídeo este livro é uma história desta mulher como "mulher-menina",  "mulher-casa" e  "mulher-cuidado". É uma história de tantas mulheres que fizeram este país. Uma história de que tantas vezes a História não fala. 
Ver vídeo aqui : https://www.instagram.com/reel/C4A5a7...

Como refere a Sara Figueiredo Costa na revista Blimunda:

«'Na Terra dos Outros' não tenta ser o testemunho fiel dos momentos mais relevantes das últimas décadas de um país, mas antes contar uma história (que também é parte da história desse país) cujo ângulo é pouco privilegiado nas ditas crónicas históricas. 'Na Terra dos Outros' não é um julgamento, um ajuste de contas com a história ou um balanço do que andámos para aqui chegar. É uma história, bem contada e longe de simplificações, que coloca a leitura na encruzilhada onde ela melhor se concretiza, entre a festa e a raiva, de olhos abertos para os sonhos cumpridos e para os desejos defraudados.»


(li de 17/02/2024 a 21/02/20234)


#livro #literatura #leitor #leitores #leitura #literaturaportuguesa 


#book #bookstagram #bookclub #bookstagramportugal #bookworm #booknerd #booklover 
Profile Image for Alex.
30 reviews22 followers
April 2, 2024
Termino Na Terra dos Outros com um ímpeto de falar sobre Maria do Carmo. Abraçá-la e acolhê-la.

Quando, aos 18 anos, fui morar para Lisboa dei por mim num premente exercício de adivinhação da vida dos outros. Observava os passageiros do 58 ou os transeuntes de Sete Rios e imaginava para onde iriam e como seriam as suas vidas. Sei que passei pela(s) Maria(s) do Carmo nas suas idas ao mercado de Benfica e nos transportes.
A protagonista deste livro, tão nítido de realidade, demonstra uma aparente displicência consigo mesma, mas será assim? Aos 11 anos é arrancada do “conforto” da sua dura vida familiar no interior do país, onde prevalecia a miséria e a escassez para ir viver para casa de uma família na capital. Torna-se assim criada/escrava de uma vida sem vida, com total despersonalização. Sem voz, sem roupa, sem bens pessoais, sem rosto, sem liberdade de movimentos, confinada a quartos exíguos, “celas”. As criadas como sombra de uma dinâmica familiar que não sobrevive sem elas mas que não as vê. As criadas como uma engrenagem secreta, sem direito a visibilidade. As paredes da sua nova “casa” contrastam com a vastidão que olhar no campo alcançava, na sua terra. Também a sua perspetiva de poder ser livre esvanece-se na mesma medida do avançar do tempo e do acumular de acontecimentos que a marcam como que rugas num rosto exasperado.
Manuel Abrantes estreia-se com um retrato sociológico que se afigura realista e que dá voz ao silêncio que vislumbramos em tantos rostos, tantas vezes informes como a imagem que a janela de um autocarro em movimento, ou nem isso.
As muralhas das cozinhas estendem-se bem alto e a tentativa de subtrair o máximo ruído possível, inerente às infindáveis tarefas domésticas, para que a sua presença seja imperceptível leva a uma implosão e a uma nulidade gritante. As criadas são transparentes. A Revolução do 25 de abril soou como um sopro ao ouvido de Maria do Carmo, entre afazeres, janelas fechadas (impostas pela patroa)e lamurias de pequenez. Maria do Carmo rendeu-se ao seu casamento impróspero. Conformou-se com os filhos ingratos. Viveu numa premente frustração. Dedicou a sua vida a cuidar dos outros sem que outros cuidassem dela. 💔
Profile Image for Margarida Galante.
463 reviews41 followers
April 25, 2024
Maria do Carmo é uma mulher igual a muitas mulheres neste país. Uma mulher sem voz, sem querer próprio, que vive para os outros e que, talvez no final da sua vida, ao olhar para o que passou, perceba que a liberdade é, em muitos casos, relativa.

A sua história, que acompanhamos de 1971 a 2020, não sendo a história do nosso país, é  uma parte dessa História dos últimos 50 anos. As transformações na vida de Carmo acontecem ao ritmo das mudanças em Portugal, desde a revolução dos cravos, passando pela adesão à CEE ou pela Expo98.

A escrita é simples e realista, mas cheia de detalhes. Manuel Abrantes, neste seu primeiro romance, consegue dar voz a quem normalmente é invisível. Maria do Carmo é uma personagem inesquecível, com uma vida sofrida e banal, infelizmente, comum a tantas outras mulheres. Recomendo muito.
Profile Image for Sónia  Pinto .
116 reviews11 followers
May 6, 2024
3,5

A história em si é boa, a forma como nos é contada, o que conta, mas sou como a morena do Tiago Bettencourt que "não lhes entende o sabor...".
Acho que foi isso, senti que havia uma história a ser contada (de forma eficiente), mas não cheguei à alma das personagens.
Profile Image for Conceição Puga.
146 reviews28 followers
May 2, 2024
Este livro tem um contributo valioso na visibilização do trabalho doméstico na sociedade portuguesa.

Comovi-me muitas vezes com a trajetória da Maria do Carmo, criada para todo o serviço, que recebia por paga somente cama rija e comida à conta.

Tantas meninas/mulheres foram entregues a estes "donos" sem quaisquer direitos, nomeadamente o direito ao descanso semanal, a férias e sobretudo, sem direito a um tratamento digno e de respeito.

Este livro é sobre o serviço doméstico, sobre a condição das mulheres, sobre as relações sociais, mas também sobre as emoções humanas.

Maria do Carmo Gouveia fica-nos na cabeça muito depois de termos acompanhado a sua trajetória de vida.
Profile Image for Ana  Isa  Rodrigues.
90 reviews5 followers
May 16, 2025
A escrita do autor prende logo no início.
Esta é a história de tantas mulheres, (de uma geração) que viram a sua infância ser negada e negligenciadas em detrimento das obrigações para com a família. Retiradas de casa, em tenra idade, para "servir" como empregadas domésticas em casas de desconhecidos, longe de tudo o que lhes é familiar...sobreviveram...
Este livro conta-nos a história de uma dessas mulheres, que apesar de ter todas as circunstâncias contra ela, não baixou os braços! Tomou decisões que mudaram a sua vida para sempre....sofreu, sorriu mas terá sido realmente feliz, durante toda a sua vida ?
Recomendo este livro.... Retrata a evolução de uma menina até à velhice...Sofremos com ela, rimo-nos com ela e no final temos as mesmas ilusões que tinha (ou tem?)
Venha o próximo livro do Manuel Abrantes!!!
Profile Image for Sofia.
1,034 reviews129 followers
August 19, 2025
Uma bela surpresa, este livro de um autor que desconhecia.

"Talvez ao fim e ao cabo acontecesse o mesmo a todas as pessoas, crescemos cedo demais, aprendemos tarde demais, abandonamos a esperança de modo tão gradual e calado que só damos conta quando olhamos à nossa volta e não a vislumbramos, zangamo-nos com os pais e afastamo-nos dos irmãos, embora acreditássemos que a nós isso não aconteceria, connosco seria diferente. E, à semelhança de toda a gente, também nós amamos quem não nos merece, também nós culpamos os outros ou as nossas próprias fraquezas ou a nossa má sorte, e quando perdemos a orientação continuamos ainda assim em movimento, como se não soubéssemos fazer outra coisa senão continuar em movimento."
Profile Image for António.
118 reviews8 followers
April 6, 2025
"Esperando à porta, Carmo recordava os dias, entretanto decorridos, quando começara a perceber o que a distinguia dos irmãos. Agora mesmo ouvia-os berrar e choramingar dentro de casa, dois ou três passos atrás de si, e já não Ihes acudia, já não os mandava calar, nada. Era uma rapariga que partia. Estava sozinha."

Maria do Carmo é a imagem de um certo Portugal, feito de dificuldades e agruras. Ainda antes do 25 de Abril partiu do campo para a cidade enviada pela familia em busca de melhor vida. É mais um caso das meninas/mulheres que foram para casas endinheiradas para serem mais do que empregadas, foram para "servir".

É ela a protagonista marcante de "Na Terra dos Outros" o ambicioso livro de estreia de Manuel Abrantes. Ao longo de quase 300 páginas vamos acompanhando a sua vida, desde que sai da aldeia, passando por diferentes experiências como imigração, a relação familiar conturbada ou abusos. Luta, adaptação e resiliência podiam ser também seus nomes numa existência marcada pelo sofrimento e em momentos até subserviência, mas nunca desistência.

Mas esta é uma estrada com duas faixas. A par de Maria do Carmo também acompanhamos um país, desde o pré 25 de abril até ao pré-pandemia, com breves pinceladas sociológicas desde o analfabetismo, até à onda de construção depois da entrada na CEE, passando pelo crescimento de doenças de índole mental deste século.

Mas a estrela desta leitura é mesmo Maria do Carmo. Diria que a relação com a personagem não é fácil. Pode ser admirável, mas também irritante e meter pena. Maria do Carmo acaba por ser uma vítima da sua condição, mas nunca se resigna. uma personagem humana com mais defeitos que virtudes, mas que cresce em nós mesmo depois de terminada a leitura.

A vida de qualquer um, por mais comum, invisível ou anónimo que seja, pode dar um bom livro. Um excelente livro até. Haja talento. E Manuel Abrantes tem-no.
Profile Image for Sol Barbosa.
57 reviews4 followers
March 15, 2024
Há muito tempo que um jovem autor não me enchia as medidas! Excelente, este livro. Uma escrita honesta, escorreita, despretenciosa e, ao mesmo tempo, bela, sensível, atenta ao pormenor. Não é, seguramente, um best seller, mas vale muito mais. Manuel Abrantes conta muito bem esta história de uma vida como todas as vidas das gentes do povo, dura, com momentos de alegria e ilusão e momentos de absoluto desespero e, sempre, sempre com a teimosa ervinha da esperança em dias melhores a rebentar. Gostei muito e recomendo.
Profile Image for Fernanda Robalo.
55 reviews
June 14, 2025
O retrato de uma mulher, a Maria do Carmo que aos 11 anos é obrigada a ir "servir " para Lisboa, para mim uma história muito próxima, senti logo empatia pela Maria do Carmo. O livro termina com a capacidade desta mulher em manter a esperança em continuar.
23 reviews1 follower
August 28, 2024
Este livro pode parecer, à primeira vista, apenas mais uma história comum, mas, na verdade, é bem mais pesado e profundo do que parece. A narrativa é simples, mas a forma como é contada faz toda a diferença.

Maria do Carmo, a protagonista, não é assim tão diferente de muitas outras mulheres que, quando meninas, foram enviadas para a cidade para servir as famílias ricas. A história dela reflete uma realidade vivida por muitas, forçadas a crescer à pressa e a enfrentar o mundo com muito pouco apoio. Mesmo assim, a Maria do Carmo nunca desistiu. Apesar de ter sido explorada, abusada, ignorada e traída, ela continuou a lutar por um futuro melhor, sempre tentando fazer o melhor que podia nas circunstâncias em que se encontrava.

O que realmente me impressionou foi a forma como a escrita, apesar de simples, consegue ser rica em detalhes. O autor fez um ótimo trabalho em destacar a importância do trabalho doméstico, algo que muitas vezes passa despercebido na sociedade portuguesa. Esse reconhecimento é um dos pontos altos do livro, que dá voz a uma realidade frequentemente esquecida.

Por fim, é preciso dizer: Manuel Abrantes, que ótima estreia! Este livro é um grande contributo para a literatura e uma homenagem a todas as Marias do Carmo por aí, cujas histórias merecem ser contadas.
Profile Image for Tatiana Vieira.
66 reviews8 followers
February 20, 2025
Quantas Marias do Carmo existem ainda nos dias de hoje? Quantas mulheres trabalham de sol a sol, limpando, arrumando, tornando-se cada vez mais invisíveis. Este romance, muito bem escrito, dá-lhes voz… é um reconhecidamente ao seu valor.
Profile Image for Maria.
1,035 reviews112 followers
October 21, 2024
Maria do Carmo Gouveia dá voz e vida a muitas das jovens mulheres ou pré-adolescentes que saiam de casa dos pais para irem servir os grandes senhores.

Assim se chamavam as criadas para todo o serviço e quando digo todo é mesmo todo. Passavam a viver em casa dos senhores e faziam tudo o que era necessário na casa grande, incluindo dormir com os homens mais velhos ou mais novos, caso fosse preciso.

Esta jovem menina, com apenas 11 anos, deixa a casa dos pais, uma família numerosa e bastante pobre da Sertã, para ir para a capital servir, sem folgas, sem regalias, tendo por salário uma cama e a parca comida que lhe dão.

E de jovem menina Maria do Carmo torna-se mulher, com algumas ambições, vontade de assentar vida e deixar a escravatura que é servir em casa de uns patrões que pouco lhe dão.

Mas nem sempre a vida é fácil para uma mulher nos longínquos anos, que nem a Revolução de Abril veio ajudar. Vai padecer com algumas decisões tomadas ao longo dos anos, mas nem assim nada a demove para alcançar uma vida melhor.

Manuel Abrantes faz um retrato da sociedade da época, que começa ainda no Estado Novo e que se estende praticamente aos dias de hoje. Sobretudo uma sociedade que sempre se serviu das mulheres, sobretudo das mais desfavorecidas a seu bel prazer. A começar nos patrões, passando pelos maridos e próprios filhos. A mulher estava ali para servir e não para ser servida.
A vida sofrida de Maria do Carmo é disso exemplo.

Muito bem escrito, e com uma personagem fascinante, espelho de uma época, este é um livro que me ficará para sempre na memória e que devia ser de leitura obrigatória.

https://www.instagram.com/p/C_jQ1BrM-7U/
Profile Image for CCB.
74 reviews62 followers
December 16, 2024
Que portento de estreia literária. Um livro importantíssimo que me prendeu desde a primeira página. A escrita do autor é uma das melhores do Portugal contemporâneo com que já me cruzei, rica e elaborada sem ser pretenciosa, com uma fluidez invejável e o dom de capturar a imagética e os conflitos interiores das personagens. O enredo é muito bem construído e os mecanismos literários vão guiando os leitores astutamente pela vida da Maria do Carmo, como pelo Portugal do fim do Estado Novo até à contemporaneidade. As personagens, em particular a principal, são riquíssimas e muito bem construídas. Li-o de quase um sopro, verdadeiramente "unputdownable", não descansei enquanto não se desfiou o destino desta rapariga que foi ainda criança para Lisboa servir, como tantas outras, e cuja vida exibe os despojos dos percalços da História recente deste país.
Manuel Abrantes é sem dúvida um nome a acompanhar em próximas obras.
Profile Image for Ana Rita.
173 reviews16 followers
January 9, 2025
Não é o tipo de história que costumo devorar, mas a personagem principal conquistou-me de tal forma que eu tinha de saber o que lhe acontecia. Se por um lado esta é uma história bem conhecida (muito graças ao fenómeno que foi a peça Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa), é incrível como este livro prova que a melhor forma de explorar uma experiência vivida por tantas mulheres é mergulhar numa história tão particular.
Profile Image for Susana Margarida Jorge .
287 reviews19 followers
June 13, 2024
📚35.2024
📚Na Terra dos Outros
📚Manuel Abrantes
📚Companhia das Letras
📚288pg

⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️




Na Terra dos Outros, o romance de estreia de Manuel Abrantes foi-me dado a conhecer pelo meu marido, que leu a sinopse e achou que deveria ser interessante. Numa visita recente à FNAC veio connosco, pois tínhamos os dois muita curiosidade em lê-lo.
Este romance traz-nos a história de Maria do Carmo, uma jovem de uma aldeia na zona da Sertã que vai servir para a casa de um casal abastado em Lisboa ainda muito jovem. Criada para todo o serviço em troco de um escasso salário, cama e comida (muitas vezes os restos das refeições), vive a Revolução de Abril de portas trancadas, mas este é um facto determinante para o crescimento desta personagem, que ganha uma nova força e coragem para descobrir novos caminhos para a sua vida. Ao longo da história de Maria do Carmo conhecemos outros marcos determinantes na história do nosso país, pela voz de quem raramente tinha opinião.
Esta é uma personagem que nos lembra tantas histórias de meninas por este país, uma personagem simples, humilde, trabalhadora, e muitas vezes invisível e desvalorizada. Não é uma narrativa densa, nem carregada de pormenores históricos, é sim tão fluída e interessante, que se lê de uma assentada sem darmos conta.
Uma belíssima estreia de Manuel Abrantes. Recomendo muitoooooooooooooo!

Personagens marcantes:
📚Maria do Carmo

O que gostei:
📚 Narrativa
📚 Personagem

O que não gostei:
📚Nada a apontar

Citações:
📚 "No entender de Deonilde, os homens conseguiam executar todas as tarefas domésticas em caso de necessidade extrema, como acontecia aos soldados na guerra; o que não conseguiam era organizar as tarefas, planeá-las, encadeá-las. Tratava-se de uma limitação de raciocínio. Por conseguinte, só serenavam quando arranjavam uma mulher capaz de assegurar por eles essa operação mental."
Profile Image for Cristina Delgado.
255 reviews72 followers
April 21, 2024
Que história com um tema tão simples e contudo tão verdadeiro e que traduziu uma realidade até há bem pouco tempo vivida neste nosso Portugal de brandos costumes e preso a tradições tamanhas! Quem não se lembra de ouvir falar que no tempo das nossas avós/bisavós era costume vir "servir" para a cidade? Era uma forma de "rentabilizar" os muitos filhos que se tinham e, também, de ter menos uma boca para sustentar.

Pegando nessa vivência muito portuguesa, Manuel Abrantes, com uma mestria na escrita que eu não conhecia (primeiro romance) construiu uma história na qual reconhecemos traços da História de Portugal ainda recente, pobre e limitado.

A personagem principal, Maria do Carmo, 11 anos, vai, a contra gosto, servir para uma família lisboeta. As saudades apertam, o trabalho não dá descanso, o amor não abunda. Explorada no seu trabalho, abusada sexualmente, traída repetidamente pelo marido, mal amada pelos filhos, Maria do Carmo tem uma vida dura. Lutadora, não desiste.

É toda uma vida que começa no trabalho infantil e que se prolonga durante a sua vida toda. As necessidades dos outros em primeiro lugar. Casamento, filhos. Até quando?

Uma leitura que gostei muito de fazer e que me recordou de certas histórias que ouvi falar há muito. Escrita envolvente, simples e directa. Recomendo muito.
Profile Image for Carla Ferreirinho.
137 reviews5 followers
June 11, 2024
Na Terra dos Outros conta a história de Maria do Carmo, desde os 11 anos em que parte da aldeia perto da Sertã onde nasceu, para servir uma família rica em Lisboa.
Ao longo do livro vamos acompanhando a vida de Carmo ao longo de décadas e os acontecimentos marcantes da história de Portugal, como a revolução de Abril, a adesão à CEE e a Expo 98, aos quais ela presta pouca atenção.
Numa iniciativa arriscada, consegue trocar os primeiros patrões por outros, política e socialmente progressistas, que a incentivam a estudar, mas um episódio traumático força-a a uma nova mudança.
Após um salto temporal de 15 anos, casou e passou de criada interna a mulher-a-dias, mas o lar proporciona-lhe pouca felicidade pois os 2 filhos são arrogantes e impacientes.
A experiência de emigração em Roterdão não corresponde às expectativas e contribui para separar no espaço uma família já desunida.
Maria do Carmo é uma personagem com uma vida sofrida e banal que dedicou a vida inteira a cuidar dos outros sem que os outros cuidassem dela.
Este livro é sobre o serviço doméstico, sobre a condição das mulheres, sobre as relações sociais, sobre traição, sobre as emoções humanas e mostra que nunca é tarde para mudar de vida.
O livro acaba, mas a história de Carmo não.
O Manuel Abrantes tem uma escrita envolvente, simples e direta.
Profile Image for Ana Rodrigues.
181 reviews12 followers
April 22, 2024
Esta é a história de uma menina de 11 anos, de uma aldeia do interior do país que vai para Lisboa como criada de servir. O seu nome, Maria do Carmo.

Nada lhe foi perguntado, a sua vontade não foi ouvida, não teve opção de escolha.

Deixou a sua família e sozinha veio trabalhar para uma casa, onde recebia como pagamento uma cama dura, um quarto sem janela, as sobras das refeições dos seus patrões.

Os dias passam, e à medida que acompanhamos a vida de Maria do Carmo, acompanhamos igualmente as mudanças que o nosso país atravessa. Do fim da ditadura até aos dias de hoje. A história de uma vida lado a lado com a história do país.

A leitura deste livro fez-me pensar no que muitas destas mulheres passaram em busca de um futuro.
Sonhos desfeitos, planos adiados, recusaram o passado do campo para se colocarem à mercê das vontades e necessidades dos patrões, sempre a lavrarem nas terras dos outros.

E a sua liberdade, onde ficou?
Quem escolhe o que fazer com a vida?
E quando se escolhe, é-se na verdade livre?

Um livro bastante interessante, e para primeiro romance de Manuel Abrantes, é sem dúvida um excelente começo.

Fez com que a Maria do Carmo, seja difícil de esquecer, depois de a lermos.


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