Em Domínio, a chuva não tem fim e os relógios pararam nas cinco da tarde. Numa terra sem tempo, as vidas andam todas desencontradas. Conhecedora dos hábitos de cada um, Muda percorre as ruas, carregada de sacos, distribuindo as compras e uma réstia de normalidade. Aguarda o momento em que se cruza com o filho, Amor, um jovem que vive aprisionado numa fábula que o padrasto lhe conta desde pequeno e que mudará a sua vida para sempre. Ao largo de Domínio está a Ilha da Fortaleza, onde encontramos Mãe, mulher possessiva, que nunca deixou Filho conhecer o mundo. Mas algo fará com que ele parta e o seu caminho se cruze com o de Amor. Poderá a decisão de um alterar a vida de todos?
Um romance em que a culpa e a obsessão andam de mãos dadas com o acaso e a coragem.
«Uma chuva teimosa é a premissa para um belíssimo romance, uma narrativa muito bem escrita e construída.» Afonso Cruz
«Ao fim de poucas páginas, também nós habitamos este romance. Há vida aqui.» José Luís Peixoto
«A escrita do Álvaro é capaz de iluminar até um sítio onde faz sempre chuva.» Rita da Nova
Sei que sou suspeito (aliás, muito suspeito! 😅) mas não resisto a dizer-vos que se gostam de um bom enredo, mas também de uma escrita cuidada, da criação de cenário e da construção de personagens beeem marcantes, então “Filhos da Chuva” é para vocês! “Muda” foi a minha personagem preferida, a sua relação com o filho “Amor” deixou-me muitas vezes emocionado. Tive a sorte de ser um dos primeiros leitores (relação privilegiada, né?) e de poder acompanhar o processo desde a ideia ao livro. E embora esteja sempre a chover, fiquei cheio de vontade de passear pelas ruas de Domínio e encontrar estas pessoas que têm tanto de imaginação como de realidade. Que seja também para vocês uma boa leitura!! 🫶🏻
“Aquilo de que mais gostei neste livro foi, sem sombra de dúvida, a capacidade de construção de todo este mundo. Domínio é uma terra onde nunca para de chover e onde os relógios estão congelados nas cinco da tarde, há praias cobertas por teias de aranha e outras por vidros, há homens que perdem peso numa viagem de barco… houve, no fundo, um cuidado em criar um mundo que é extremamente original e diferente, com laivos de realismo mágico.”
Entrei no livro com calma, muito curiosa, mas com calma, para saborear bem a escrita, as personagens e o ambiente. Já a 2a parte, foi lida de um fôlego 😅 muito original, cativante e absorvente! Adorei!!
Entrar em Domínio foi uma viagem feita às cegas que me conquistou nas suas primeiras páginas. Um território chuvoso que acompanha os sentimentos, os locais e as personalidades que vamos conhecendo. A personagem Mãe foi aquela que mais me ficou na mente pelas suas camadas e relação com Filho.
Fiquei muito desiludida com este livro. Se calhar tinha um expectativa muito alta, mas a verdade é que não foi nada do que eu estava à espera. Passei o livro tudo com a sensação que o autor queria criar um mundo, tanto pelo enredo, como pela sua escrita, semelhante ao do Saramago. Só me lembrava do Ensaio sobre a Lucidez. A escrita pareceu-me forçada, não era real, pouco natural, e à medida que o livro ia avançado tudo se ia tornando confuso. Há partes do livro, que parecerem cair totalmente fora do contexto, o tom não está certo e não fazem qualquer sentido. Há personagens com alguns pormenores que me agradaram imenso, mas que não encaixam em nada no mundo que o autor criou.
Os filhos da chuva são a geração que tem que se libertar da obsessão e da culpa.
Original e criativa esta história de encantar passa-se em Domínio, uma terra onde nunca pára de chover e o tempo não condiciona ninguém. As personagens marcantes e bem definidas têm nomes que são como alcunhas que as identificam. Personagens que se dão a conhecer e que provocam reação, de empatia ou aversão numa história que nada tem de infantil. A linguagem é rica e requintada mas escorre como água e gota não é apenas o que se dá nesta terra porque as ternas e até angustiantes imagens que projetamos com a Mãe e o Filho na Fortaleza e a Muda e Amor ou Homem na Cama são muitas e cinematográficas. Bem como as de Amor e Filho. O desenlace desta trama, que peca por ser longo, tem muito que se lhe diga mas eu vou silenciar. Um excelente romance de estreia.
O amor não é aprisionador, obsessivo, manipulador, doentio. Quando adquire essas formas passa a não ser amor, não existem trocas compensatórias que o caracterizem, estamos perante uma relação abusiva, de controle. Por vezes, nem a vítima, nem o manipulador se apercebem desse tipo de relação, só o constatando quando confrontados com o exterior. O amor, existindo, revela-se nos frutos da relação, seja ela entre pais e filho, entre amigos ou dois amantes, tem que ser algo libertador e edificador. 🌧️ Muda é o exemplo de uma mãe-casa. Sem palavras, ela abarca o mundo como se as tivesse engolido e as transformasse em gestos de cuidado e carinho. Toma conta das famílias de Domínio entregando-lhes víveres e esperança e vive para o seu Amor, filho de um incidente que nem por isso o torna menos querido. Amor é força e despeito, é um Obreiro neste reino, a classe designada para manter as coisas em ordem e dominar a chuva que não cessa de manhã à noite. Anseia um dia poder vingar-se daquele que o fez semente e abandonou. A ponte Pestana de Cabra afina-lhe o olhar e divaga-lhe os pensamentos até à Fortaleza que a ensombra. Esta Fortaleza, alvo de muito mistério, alberga a Mãe e o Filho. Uma mãe aranha que urdiu tamanha teia à volta do filho, que a faz mar e chuva, inundando tudo em seu redor. Mas a linha da vida só é impedida pela morte e em Filho cresce a vontade de conhecer o mundo. É nesse romper de relação que surge Amor. Ministro, personificação da podridão política e social, reflexo das suas origens, é quem comanda Domínio. Exilado da Capital, finca aqui o cargo que lhe foi dado, regulando a seu bel-prazer e ao que lhe convém. Personagem caricata e nauseabunda, fez-me ecoar, muitas vezes, uma crítica à moda de Eça ou Camilo, que muitas gargalhadas me arrancou. 🌧️ Um livro repleto de personagens mágicas, que nos confronta com a toxicidade nas relações, a passagem da infância à idade adulta, a inserção na sociedade e o nosso poder como um todo. 🌧️ Parabéns Álvaro, magnífico! Que orgulho 🥹❤️
não me lembro exatamente quando é que o álvaro me disse “vasco, vou publicar um livro”, mas sei que estava a arrumar as minhas coisas e estávamos a preparar-nos para sair. entrou no escritório e deu-me a notícia, com a maior serenidade do mundo, enquanto eu fechava a mochila. levantei a cabeça com um “como assim?!” incrédulo e seguiram-se minutos de abraços, de “parabéns!” e de muitos “isso é incrível!” entusiásticos. depois disso, naquele final de tarde, não conversamos muito sobre o livro ou sobre a história. o álvaro tinha-me dito que ia publicar um livro, e isso bastava.
soube detalhes de história, quando filmamos os vídeos que apresentariam a jornada do livro. desde o primeiro momento (não que duvidasse das capacidades do álvaro) me questionei sobre “como é que ele vai unir isto tudo?” e, a partir daí acho que não sabia exatamente do que estava à espera. fosse o que fosse, o meu amigo tinha escrito um livro e eu queria lê-lo. pronto, era isso.
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de repente, durante a madrugada, eram cinco da tarde, o céu estava encoberto e conseguia ouvir a chuva. estava, definitivamente, em Domínio. iniciada a leitura, fui surpreendido pela qualidade literária da escrita e da narrativa de “filhos da chuva”. não digo isto por ser amigo do álvaro (nem a leitura, nem a opinião, foram condicionados pela nessa amizade), o pacto foi “dizer a verdade” mas, a verdade é esta: este livro é esse lugar cheio de coisas boas; uma escrita maravilhosa, robusta e imersiva, onde cada personagem tem a sua voz e onde, o leitor vai sendo surpreendido por acontecimentos insólitos.
apesar de ser o seu primeiro romance, o álvaro demonstra uma mestria, na arte de contar histórias, que me leva questiona a veracidade de #filhosdachuva ser a sua estreia.
afirmo, com toda a certeza, que, se existe uma nova e talentosa promessa da literatura portuguesa é, sem dúvida, o álvaro, e, no fundo, só lamento o tempo que o nosso mercado literário viveu sem a presença das suas histórias e da sua escrita.
o seu livro chega, no inverno, para fazer o sol raiar, num céu que se abre, depois de um dia cinzento, porque “filhos da chuva” não é um livro onde cabe só Domínio, mas onde cabe o mundo todo.
3,5⭐️ Uma escrita densa e nem sempre fácil de seguir, a mim exigiu tempo para perceber o seu verdadeiro sabor. Tem frases e parágrafos que parecem poemas e isso é muito bonito. Tem personagens pelas quais nos afeiçoamos, mesmo que não as conheçamos em todas as suas dimensões. Porquê só as 3,5 ⭐️? Porque a linguagem do livro nos afasta, é denso e com passagens difíceis, por isso apesar de estar muito bem construído e com personagens incríveis não nos atrai para a leitura.
"Em Domínio, já ninguém olha para o céu. Sempre Coberto, forma um teto de peso simulado nas cabeças de quem apanha por baixo.Acinza-as. Empalidece-lhes os mais poéticos gestos, cobrindo tudo de um véu sem sombra ondo a chuva cai sem misericórdia." 🌧️
" Filhos da chuva” é dos livros esteticamente mais belos da literatura portuguesa contemporânea que se encontra neste momento nas livrarias e nas palavras dos leitores ávidos, ansiosos por conhecer a escrita de Álvaro Curia. Já conhecíamos o amor de Álvaro às letras, ele consegue sempre transmitir o cerne e alma dos livros que lê, através das suas palavras. A partida para a ficção não deixaria de fazer sentido.✍️
A beleza da capa de Juan Cavia extende-se à escrita do Álvaro, que carrega uma poesia incrível nas suas palavras. Perdemo-nos na beleza, na música, neste vento e na chuva que habitam permanentemente em Domínio. A escrita mágica, cuidada e fantástica do Álvaro transporta-nos a este mundo,onde as personagens mais singulares vivem.❤️
Sentimo-nos inebriados com a Gota de Domínio, viajamos entre a Fortaleza, Domínio e a Praia dos Vidros. Calcorreamos a ponte estreita por cima do Mar das Aranhas, percorremos as ruas cobertas de lonas onde os Obreiros desempenham a sua função, sentimos a ganância de Ministro, somos Muda e o seu Amor, o Filho da sua Mãe.🌧️
Neste Domínio, onde a Chuva não pára e todos se entregam aos seus achaques, pequenos mundos se entrecruzam , abalando os alicerces que , por si só , se encontravam fragilizados. Encantem-se com este mundo mágico, pelo amor de uma mãe pelo seu filho, onde a culpa e a obsessão encontram- se lado a lado com a coragem..❤️
3,5+⭐️ O início do livro, confesso, foi difícil. Muito por causa da escrita que é diferente de tudo o que li até então. Mas bastou conseguir entrar no estilo para rapidamente me apaixonar por Domínio. A história é mesmo maravilhosa e a segunda parte é extraordinária!
fui para este livro com pezinhos de lã. não por não acreditar nas capacidades do álvaro, mas sim por só ter visto opiniões positivas (ênfase no positivas). fiquei com receio que não correspondesse às expectativas. e isso assustava-me. lembro-me de ver a review da susana e pensar “tem de ser agora”. no dia seguinte passei numa fnac e comprei o livro.
estive até hoje a pensar no que iria escrever e confesso que ainda não sei. apenas sei que quero ler tudo o que o álvaro escrever.
a escrita é belíssima e cinematográfica: poética, trabalhada e cuidada, e nela vi algumas das grandes influências do álvaro. cada personagem está construída com detalhe e atenção, e “Muda”, “Amor”, “Mãe”, “Filho”, “Homem na Cama” estão repletas de camadas. ainda hoje penso nelas! até no narrador que nem sempre nos guia pelo caminho certo. e adorei a forma como explorou duas relações tão antagónicas: uma onde prevalece o amor e a compreensão, e outra completamente destrutiva, manipuladora, quase obsessiva.
domínio tornou-se real e não consigo conceber um mundo em que não exista esta terra em que chove 365 dias por ano, em que há praias com teias de aranha e vidros, em que os relógios estão parados e as vidas totalmente desencontradas.
a minha psicoterapeuta diz-me sempre que ando com a casa às costas, sempre carregada com mil e uma coisas… quem me dera que essa carga desaparecesse. poderei eu ir para domínio?
"... Embora a história tenha como protagonistas o Filho e o Amor, na minha opinião Muda e a Mãe também têm um grande destaque, através da forma como exprimem os seus sentimentos, as suas mágoas e o seu amor pelas crias.
Não é uma história fácil, não é uma linguagem simples, vi-me grega, literalmente, para entrar no ritmo da narração. Todavia, foi só o início que foi mais complexo porque depois de entrarmos no discurso cantado de Álvaro, torna-se mais fácil ou pelo menos, mais acessível. O que mais me impressionou nesta história, mais do que as personagens em si, foram as emoções e as descrições das mesmas."
Primeiro: podemos todos concordar que esta é uma das capas mais bonitas da literatura portuguesa contemporânea?
Quanto ao livro e à história que conta: queria ter gostado mais. A primeira parte é muito lenta, com uma escrita que me pareceu, por vezes, demasiado trabalhada e que me fazia sentir que quanto mais lia mais tinha por ler. Na segunda parte melhorou — muito — e a narrativa tornou-se muito mais dinâmica e a história pareceu ganhar uma vida diferente, uma nova luz talvez. Com os toques de realismo mágico que por aqui habitam acho que havia muitas partes que não seriam necessárias porque a magia desse género é mesmo deixar espaço às perguntas e à imaginação.
A capa de um livro nunca poderá ser um elemento acessório, até porque, muitas vezes, é um reflexo daquilo que podemos encontrar no interior. Naturalmente, é a história que queremos que prevaleça, mas a capa abre-nos a porta para aquele mundo. E foi através da que Juan Cavia criou - uma ilustração que apetece emoldurar, sobretudo, quando a observamos no seu todo - que eu entrei no livro de estreia de Álvaro Curia.
A escrita, nota-se, é bastante cuidada, para responder à vontade que o autor tem de que seja «feita de procura e desafio», mas a partir de certo ponto pareceu-me excessiva. Num contexto já de si complexo (intrigante, mas que nos exige uma atenção redobrada para mergulharmos nos seus acontecimentos e nos sinais guardados nas entrelinhas), preferia que simplificasse um pouco. E não deixaria de ser sublime por isso. Outro aspeto que me fez oscilar foi a voz do narrador: gosto de encontrar um narrador que converse com o leitor, principalmente em histórias como esta, que têm tantos segredos dentro, porque creio que nos aproxima e que nos faz sentir parte do enredo. E isso acontece no livro, mas não de um modo constante e eu gostava que a voz fosse sempre essa. No entanto, isto é apenas uma preferência individual.
Por oposição, fiquei encantada com os nomes das personagens. E a segunda parte funcionou muito melhor comigo, porque, sem subterfúgios, espelha a fragilidade do ser humano, a culpa, o comportamento obsessivo que molda personalidades e que condiciona o futuro de terceiros.
Filhos da Chuva não representou tudo o que imaginei, ficando aquém das expectativas. Ainda assim, não deixa de ter um retrato interessante da sociedade. O final é a prova que existe sempre um raio de luz a querer romper a escuridão - do tempo e das pessoas.
3,7⭐️ Admitidamente um livro que não é para (agradar) a todos. Realismo mágico e escrita lírica vertiginosa, que acerta mais vezes do que falha, que abre campos na imaginação mais do que a sufoca. Um livro de estreia que se esforça por deixar a sua marca própria, sem largar as claras referências que mantém bem próximo do coração.
Confesso que o início não foi fácil, a escrita é singular e é preciso estar com disposição para entrar em Domínio com tempo, com presença. Quanto mais nos dermos a este livro, mais ele nos dá de volta, disso não tenho dúvidas.
Domínio tem um ambiente intrigante, uma terra onde chove constantemente e os relógios pararam às cinco da tarde. Acompanhamos várias personagens, cada um com um nome característico, nome esse que revela as suas identidades através das relações pessoais, do seu carácter, profissão ou condição.
A minha experiência de leitura foi lenta e vagarosa. Achei um mundo cuidadosamente construído, como se cada palavra fosse colocada especificamente para fazer o leitor refletir, parar e não pensar em mais nada.
É um livro com muitas camadas, as personagens também, cada uma vai-se revelando à medida que avançamos na leitura e quando dei por mim estava no final e não queria acreditar nas reviravoltas e revelações que me eram apresentadas.
Tremendamente bem conseguido e lido na altura certa, talvez se fosse há uns anos atrás não teria tido paciência nem teria tido o impacto que teve sobre mim. Lembrei-me muito da escrita de Afonso Cruz e na importância que hoje tem para mim, quando há uns anos atrás desisti dela e hoje é da escrita portuguesa que mais admiro.
Acredito que Álvaro Curia tem muito para revelar como escritor e eu quero assistir ao desabrochar da sua carreira.
“Chorar sem som é o apogeu da sinceridade. Quando se chora sem som, pensei eu na altura, é porque algo nos dói mesmo, já que o choro calado de fita tem nada, não procura ser visto.”
Não consegui ficar indiferente à capa, irresistível. A sinopse deslumbrou-me. As primeiras páginas envolveram-me no mundo e fizeram-me apaixonar pelas personagens. Mas (há sempre um mas), talvez pela densidade da escrita aliada a uma progressão lenta inicial, acabei por ter uma dificuldade enorme em entrar na narrativa e manter a motivação para ler.
Gostei do livro, da escrita, do mundo criado, das personagens… mas por algum motivo a junção de todos não resultou comigo da forma que esperava.
Leitura 53 de 2024. Filhos da Chuva de Álvaro Curia, que tive o prazer de conhecer na Comic Con e que simpaticamente me autografou o livro. Uma história incrível, escrita de uma forma muito própria e original, algo poética até, que me fez lembrar algumas obras de Isabel Allende ou Laura Esquível, com acontecimentos oníricos ou fantasiosos. O nome da cidade e das personagens e as características de cada uma dizem-nos muito sobre a condição humana. Há o Domínio exercido pelos corruptos. Há o amor opressivo. Há a ganância. Há resignação. Há Amor puro. Um livro muito especial e de leitura aconselhável. E com uma capa extraordinária de Juan Cavia.
Esta, para mim, foi uma história de política, resiliência, onde a distopia se aliou à metáfora e hipérbole na criação de um universo com personagens ricas em personalidade. Porém, não consegui apreciar em pleno a escrita e a incongruência da primeira parte com a segunda não me ajudou. Aplaudo o delinear de cada personagem, tão importante num primeiro livro, e na mensagem que o mesmo pretende passar de terminarmos com o "domínio" da opressão e, da tempestade, fazer surgir o sol.
Este foi um daqueles livros em que precisei de alguns momentos, após terminar, para digerir e remoer sobre o que tinha lido. Confesso que conseguir entrar na história e habituar-me à escrita não foi propriamente fácil. Podia tentar justificar o porquê dessa dificuldade, mas assim esta review não faria sentido. Não faria sentido porque são precisamente esses aspetos que, ao decorrer da leitura, me fizeram gostar cada vez mais dela: - A escrita, que é tão diferente daquilo que esperava, tão bonita e carregada de metáforas, onde parece que não há uma única palavra que não tenha sido escolhida propositadamente. - O mundo repleto de lugares peculiares (como praias cobertas de teias de aranhas ou terras onde nunca para de chover e os relógios pararam às cinco da tarde) que, se de início achava tratar-se de algo mais fantasioso, acabou por manifestar uma maior semelhança à realidade. - As personagens que, apesar de nunca nomeadas, criam em nós impressões tão fortes como se de conhecidos se tratassem. O livro está divido em duas partes e o que a primeira tem de mais lento e introdutório, a segunda compensa em reviravoltas. Cada vez que achava estar certo sobre a direção que a história estava a tomar, o Álvaro arranjava forma de me trocar as voltas. Gostei, principalmente, de acompanhar a jornada do Filho a navegar por Domínio e vê-lo a construir relações pela primeira vez após uma vida fechado na Fortaleza com a mãe. Ainda tive a oportunidade de discutir o livro com o próprio autor, no meu clube do livro, e a experiência, desde ouvir sobre as inspirações por detrás do livro até o processo de escrita e publicação, foi completamente fenomenal. O Álvaro é definitivamente um escritor que manterei debaixo de olho!
Ainda não sei bem o que acho deste livro, só que não gostei como achava que ia gostar. E ninguém está mais triste do que eu.
Senti que a história não teve bem uma finalidade e nenhuma personagem me pareceu real. Sim, eu sei que estamos num mundo fictício com mares de aranhas e territórios onde não para de chover, mas eu preciso de conseguir compreender e rever-me em, pelo menos, uma das personagens por mais mitológicas que estas sejam. O facto das personagens não terem um nome "normal" e este ser uma característica delas (Mãe, Filho, Muda, Dono, etc.) não ajudou. Também sei que esta é uma escolha criativa do autor, provavelmente para que tenha nos leitores o efeito oposto que teve em mim.
A escrita "Saramaguiana" não me pareceu completamente genuína (como a da Catarina Costa, por exemplo) mas isso será algo que advém mais da minha interpretação e preferências e menos do trabalho do Álvaro.
Escrever uma review mais negativa do que positiva pode parecer um ataque pessoal ao autor mas (quase) nunca o é. Está aqui um trabalho hercúleo que eu não conseguiria replicar, vivesse eu mil vidas. E sim, sendo um autor português e "mais próximo" de mim, faz com que sinta a necessidade de justificar uma review mais ácida.
Quando comecei a ler o livro, senti um certo baque e quase estive para o pousar. Uma Muda que anda a distribuir sacos de compras debaixo de uma chuva esquisita que nunca pára e que lhe faz escorrer o batom fazendo-a parecer ter uma barbicha vermelha de diabo?! Confesso que este início juntamente com o ritmo arrastado das longas frases da narrativa me foram estranhos e me dificultaram a entrada em Domínio, local onde se passa a ação e que é, na minha perspetiva, a personagem central da obra. No entanto, talvez seja este um dos grandes pontos fortes deste Os filhos da chuva, pois é este ritmo arrastado que confere à obra, desde o início, uma densidade e um peso estruturais que estão em concordância com a descrição que é feita dos locais e das personagens. Tudo parece estar em sintonia, o ritmo arrastado e lento das frases, a descrição dos locais, a caracterização das personagens. Tudo parece ter sido pensado para a construção daquele lugar distópico e fora do tempo. É bonito ler todo este cuidado posto na escrita. À medida que ia avançando no enredo, senti-me cada vez mais naquela terra esquecida de ninguém, Domínio, local onde sempre chove e a vida é pesada. Os personagens são eles igualmente densos, pela ambiência dos locais, pela chuva constante e pelos segredos, mentiras que carregam. Alguns chegam mesmo a ser bizarros e apresentam - se como arquétipos, Muda, Amor, Ministro, Mãe, Filho, Rapaz, Dono, Homem das Imposições, Barqueiro. Gostei muito deste livro e achei-o complementamente fora da caixa. ⭐⭐⭐⭐⭐