Em Dezembro de 2023, de passagem por Lisboa, o historiador britânico Simon Sebag Montefiore disse que há muita gente a querer envenenar a História, a ir ao passado à procura de crimes e a olhar para esse passado pelos padrões de hoje. Montefiore tem razão. Contudo, ter-lhe-á faltado dizer que a gente a que se refere não se limita a olhar erradamente para o passado, quer, também, construir uma narrativa que condicione o futuro. E tem geralmente duas formas de o fazer. A primeira, é através do debate e do esforço para influenciar a opinião pública; a segunda, mais insidiosa e difícil de contrariar, é através do ensino de crianças e adolescentes. Num caso ou no outro, essas pessoas tentam, aqui em Portugal, impor uma memória negativa do que foram o império português e a acção do homem branco no mundo. Este livro confronta directamente essa venenosa narrativa. Pergunta ao leitor se quer que a memória do nosso império fique reduzida a um sentimento de culpa e de vergonha, e tenta fornecer-lhe elementos e argumentos históricos para escapar a essa armadilha política e ideológica.
JOÃO PEDRO MARQUES nasceu em Lisboa, em 1949. É desde 1987 investigador do Instituto de Investigação Científica Tropical e foi Presidente do Conselho Científico desse Instituto em 2007-2008. Doutorado em História pela Universidade Nova de Lisboa, onde lecionou a cadeira de História de África durante a década de 1990, é autor de dezenas de artigos sobre temas de história colonial, e de vários livros, dois dos quais publicados em Nova Iorque e Oxford (The Sounds of Silence, 2006, e Who Abolished Slavery? A debate with João Pedro Marques, 2010).