What do you think?
Rate this book


336 pages, Hardcover
First published May 1, 2014
O João afirma que o MPLA usou Nito Alves para combater grupos de extrema-esquerda, como o Comité Amílcar Cabral e o Comité Henda e outros grupos que surgiram mais tarde, como a Organização Comunista de Angola (OCA).O que o João Van-Dúnem diz é rigorosamente verdade.
– Em termos sociais, porém, não tinha peso nenhum – vangloria-se o João. – Não tinha linhagem, como a minha família, que era uma poderosa família de proprietários fundiários de Luanda. Tínhamos demasiados lugares no Bureau Politico, por isso não podiam matar-nos a todos.
Aparentemente divertido pelo seu acesso de snobismo, deixa escapar uma curta gargalhada que me desconcerta. O seu complexo de classe confunde-me. Eis um homem que eu julgava ser um radical, um homem que sonhou com uma revolução socialista. Uma vez pediu-me para o ajudar a emoldurar umas fotografias do Che Guevara. Acedi, presumindo que, atendendo a sua história, devia ter uma colecção pessoal. Em vez disso, pediu-me que lhe comprasse um conjunto daqueles postais a preto e branco que existem um pouco por toda a parte e que retiraram ao herói argentino já falecido todo o seu fervor ideológico, convertendo-o num insipido produto de consumo, diluído em felicitações, votos de feliz aniversario e vagas declarações de amizade. Ao ouvi-lo vangloriar-se das suas origens privilegiadas, sinto-me ridícula e ingénua. Não sei se reparou ou não na minha irritação, mas os meus sentimentos serenam a medida que continua a falar no irmão.