— De um lado, as crónicas que há muito alertavam para a ameaça do autoritarismo; — Do outro, aquelas que nos apontam o caminho para um Portugal melhor.
NÃO FOI POR FALTA DE AVISO Na última década e meia, enquanto o mundo lutava com as sequelas de uma crise financeira e enfrentava uma pandemia, crescia uma ameaça maior à nossa forma democrática de vida. O regresso do autoritarismo estava à vista de todos. Mas poucos o quiseram ver, e menos ainda nomear desde tão cedo. Não Foi por Falta de Aviso é um desses raros relatos. Porque o resto da história ainda pode ser diferente.
AINDA O APANHAMOS! Nos 50 anos do 25 de Abril, que inaugurou o nosso regime mais livre e generoso, é tempo de revisitar uma tensão fundamental ao ser português: a tensão entre pequenez e grandeza, entre velho e novo. Esta ideia de que estamos quase sempre a chegar lá, ou prontos a desistir a meio do caminho. Para desatar o nó, não basta o «dizer umas coisas» dos populistas e não chegam as folhas de cálculo dos tecnocratas. É preciso descrever a visão de um Portugal melhor e partilhar um caminho para lá chegar.
Este livro tirou-me as dúvidas sobre algo que eu já pensava há algum tempo: Rui Tavares é um dos maiores intelectuais portugueses dos últimos 20,30 anos. Capaz de falar do passado com honestidade, do futuro com visão e esperança. Liga esse conhecimento da história com os ideias e as propostas políticas como ninguém.
"É preciso que governos, políticos, pais, líderes religiosos e os jornais também, todos nós, na verdade, se juntem para explicar que a escola não é um armazém onde os pais depositam as crianças para que lhes seja dito apenas e só o que aos pais aprouver. Esse é, se assim o quiserem, o papel da casa e da família, na escola, prepara-se gente para a diversidade e a exigência da vida em sociedade, e dá-se-lhe acesso, nuns poucos anos priveligiados das suas vidas, a uma parte daquele acervo de conhecimentos e experiências que a humanidade levou milénios a construir. Nem tudo tem de agradar, a escola é um ponto de encontro, no qual as opiniões divergentes têm lugar, incluído as de pais e professores."
Nestes ensaios estão as pistas para as obras que Rui Tavares entretanto publicou (a série Agora Agora e Mais Agora), mas também para a sua acção política. Podemos concordar ou não com as suas propostas, mas uma coisa é certa, faz o que propõe e age conforme pensa: só a acção humana conta, a história é feita por nós, todos os dias. Tendo em conta o contexto em que vivemos, este livro torna-se fundamental.
este livro tem duas partes: uma mais focada em mostrar os indícios de um potencial ressurgimento do fascismo a nivel nacional e europeu (e global) e a urgência de defendermos a democracia; a outra apresenta soluções e reflexões que dão esperança e guiam esta luta. esta segunda parte tem as melhores crónicas, especialmente por apresentar soluções, o que torna este livro importante. achei, no entanto, muitas das crónicas inacessíveis a quem não é historiador. tive que pesquisar demasiadas coisas para ir acompanhando. é um livro escrito para um grupo de pessoas restrito quando aborda um tema crucial para todos.
Um conjunto de críticas que nos fazem pensar naquilo que a nossa democracia se tornou, não só em Portugal com a subida desenfreada do populismo, mas também na Europa e no resto do mundo. Desde Trump, Bolsonaro ou Orban, o perigo dos discursos de ódio que fazem subir a desigualdade e a corrupção - talvez a ameaça maior que enfrentamos nos dias de hoje.
Rui Tavares não nos deixa esquecer os valores de Abril: a importância do estado social, do serviço nacional de saúde, do direito à habitação, à cultura e à educação.
Temos muita sorte em ter Rui Tavares, um dos melhores historiadores e políticos do nosso século.
Definitivamente é uma boa escolha começar por ler primeiro "Não Foi por Falta de Aviso" que se reveste de contornos bastante deprimentes com os vários avisos de Tavares sobre a expansão da extrema direita. Já "Ainda o Apanhamos" é significativamente mais esperançoso e otimista.
Isto na escrita bastante fluida do autor, que fez um bom apanhado dos seus artigos de jornal.
Um livro para ser ler com tempo e com mente aberta. A mestria de Rui Tavares expõe claramente os mais diversos temas acerca do estado de Portugal, isolado e na Europa, dos seus porquês e de possíveis soluções/caminhos a seguir. Ainda deu para me emocionar com algumas partilhas mais pessoas que o autor faz acerca de entes seus, mas sou tendenciosa, gosto muito dele.
"As «perguntas de analista» deixam-me sempre encanitado. Às vezes perguntam-me coisas como: acha que a sociedade se vai polarizar cada vez mais? Dá-me sempre vontade de responder: bem, a sociedade somos nós, portanto essa não é uma pergunta para se responder adivinhando mas uma pergunta para se responder fazendo. Se fizermos por que a sociedade se polarize, ela será cada vez mais polarizada. Se acharmos que o não deve ser, não devemos contribuir para isso. Mas por vezes a pergunta em si já me parece o início de uma desculpa para aquilo em que prevemos participar, como quem encolhe os ombros e diz «a culpa não é minha». Bem, a culpa é sempre nossa, por ação ou omissão, mas não se chama culpa. Chama-se responsabilidade. Chama-se agência. Chama-se livre-arbítrio. Chama-se até liberdade. Nós contamos sempre para alguma coisa, e em geral temos mais poder do que aquilo que pensamos. Podemos é escolher não o usar."
A primeira parte, Não Foi por Falta de Aviso, é uma retrospetiva das décadas anteriores em que o autor visa os perigos do autoritarismo na sociedade. Existe o papel de contextualizar, recorrendo a exemplos e a diversos estados, os perigos que a democracia já enfrentou na nossa história e continua a enfrentar. Uma espécie de arquivo histórico, no fundo.
A segunda parte, Ainda o Apanhamos!, é uma visão mais futurista que se apresenta através de soluções e ideias inovadoras para um Portugal que ainda se pode realizar.
Rui Tavares, é um historiador conceituado e um homem intelectual, o que lhe permite conseguir ter um desempenho cognitivo bastante dinâmico, estando sempre ciente daquilo que rodeia a sociedade.
Todavia, é visível a parcialidade política, o que é, também, natural, diga-se. Nos perigos da democracia, o historiador recorre a inúmeros exemplos europeus, e não só, dos malefícios que a extrema direita representa, e bem. No entanto, são igualmente gritantes os casos pelo mundo fora onde a extrema esquerda corrompe e envenena o estado democrático de igual modo. O facto de serem muito tímidas as menções aos regimes do outro lado da margem, faz com que quase se transpareça uma tentativa de branquear aquilo que de negativo há na esquerda.
Os perigos democráticos vêm dos dois lados e é, nos dias que correm, importante reconhecer e denunciar aquilo que ameaça o bom funcionamento da sociedade.
“Acabaram-se as crónicas a alertar para a possibilidade de um regresso do fascismo: ele aí está, inconfundível e indesmentível. Quando o governo dos EUA separa crianças dos pais para as encerrar em campos de detenção. Quando o ministro do Interior de Itália diz que vai fazer um censo para expulsar todos os ciganos estrangeiros e acrescenta que «infelizmente teremos de ficar com os ciganos italianos porque não os podemos expulsar». Quando o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, faz um discurso dizendo que «nenhum compromisso europeu será possível em matéria de imigração e asilo», porque «a Hungria é contra a mistura» com povos estrangeiros. Quando tudo isto acontece, o regresso do fascismo já se deu. Sem eufemismos e sem pleonasmos.”
Mais do que “dizer umas coisas sobre populismos”, Rui Tavares, oferece a sua visão sobre o que falta cumprir em Portugal, par um país melhor, liberto de reacionarismos fascistas. Da semana laboral de quatro dias – proposta presente no seu programa político às legislativas 2004 – ao reforço da cultura científica no país e defesa da universalidade dos direitos humanos, encontramos neste conjunto de crónicas os princípios valorativos que norteiam a vida política e científica do autor.
O livro é uma coleção de crónicas publicadas no jornal Público desde 2010 até ao presente ano (com algumas adicionais do expresso). O que tem de interesse é o seu enquadramento no plano político pré-eleitoral legislativo de 2024. Em termos editoriais, de salientar que o objeto livro é composto por duas metades, uma com crónicas esperançosas sobre o nosso futuro enquanto humanidade e nação, sendo que "o futuro está por escrever", e do outro lado, crónicas onde o autor aborda questão na sua maioria relativas ao surgimento dos movimentos populistas no seio europeu.
É uma leitura interessante, nem que seja pelo seu aspecto "arquivístico", onde sobrevoamos questões sociais e políticas, nacionais e internacionais, da última década e meia. É também uma leitura que no meu ponto de vista é importante, mais que não seja para compreender um pouco melhor a visão política do coordenador do partido Livre, que conta agora com um grupo parlamentar.
Recomendo começar pelo "Não Foi por Falta de Aviso" e de seguida ler o lado "Ainda o Apanhamos!", isto é, se quiser acabar com uma perspectiva um pouco mais optimista nesta conjetura política onde é difícil de vislumbrar essa luz, mesmo que ténue.
Este(s) livro(s) reúnem as crónicas de Rui Tavares publicadas no jornal Público mais ou menos desde 2010. Acho que o livro perde bastante por ser uma coletânea de crónicas - o espaço para desenvolver determinada ideia estava pré-determinado, em vez de ter o espaço exato que merecia para ser bem explicado; por outro lado, são frequentes as referências a temas da atualidade que, enfim, agora já não são atuais e que podemos nem compreender. Ainda assim, é um livro que demonstra o quão Rui Tavares é hoje um dos maiores e melhores intelectuais portugueses e que - concordem ou não com elas - RT tem ideias ambiciosas e valorosas sobre o desenvolvimento da Sociedade (portuguesa, europeia, mundial) que merecem muito ser escutadas. Tenho esperança: ainda o apanhamos!
Um conjunto de ótimas reflexões sobre o que vemos e lemos diariamente e a noção clara de que as atrocidades do passado podem muito bem repetir-se se cometermos os mesmos erros.