magine um livro no qual cada capítulo é um miniconto completo, e esses contos, sobrepostos, se tornam uma narrativa maior, complexa, formando um épico pós-moderno urbano e underground. Agora pense que esses capítulos são como entradas em um blog e que partes da narrativa são interações com a seção de comentários. Para completar, ilustre ricamente essa obra com desenhos, quadros, fotografias, muitas vezes tudo junto, em intercâmbios artísticos que fazem parte da narrativa. Pronto, você consegue visualizar o que é Lobisomem sem barba, trabalho de estreia do escritor e artista plástico Wagner Willian, uma ficção de mais de 300 páginas sobre a vida moderna, repleto de referências a cultura pop, popular e erudita. O Lobisomem sem barba é antes de um personagem, uma realidade em excesso e metalinguagem sobrenatural, como se a cada passada de página alisássemos o couro de um animal selvagem. Na trama, dividida em duas partes, caímos nas graças de uma escritora e seus afetos, e na desgraça de um pintor e suas crises. Um trabalho soberbo, com personagens fortes, muito bem definido por Xico Sá em sua apresentação: “W.W. e o seu duplo, escritor-ilustrador, nos deixa de presente um imberbe herói moderno em sintonia com os feios, sujos e malvados”.
peguei na biblioteca por conta da contracapa: “você não tem grandes ambições, não tem grandes motivos. sua desgraça é a mais imperceptível de todas. tanto eu como você nunca estamos totalmente satisfeitos. existe algo que nos incomoda, que nos irrita amargamente. uma sensibilidade estranha de quem sabe algo da própria natureza que seria melhor nunca ter descoberto. e por mais que tente esconder isso, sempre acontece alguma coisa… algo detona tudo. e então você percebe que tudo voltou ao normal”.
acontece que todo o arrebatamento provocado pelo trecho se esvaiu ao longo da narrativa, apesar da composição criativa. cheio de fontes, disposições textuais quase sonoras, elementos visuais que remetem a movimentos e nos levam a indagar o que há por trás da cena - apesar de tudo isso, a narrativa, em si, é fraca….
não vi propósito no uso de tantas referências - me pareceu vazio, ostensivo, pretensioso. (o que é que husserl tem a ver com uma calcinha?)
o tom da narrativa provoca asco - o que é mérito do autor, que quis criar uma atmosfera sensorial de expectativa, de antecipação, de alguma atrocidade.
mas sinto que na busca por coisas “cruas” tudo é vulgarizado - nada importa, ninguém é alguém, “alguém” não passa de um momento, um fragmento. o vocabulário tosco me incomodou, também. não sei se é uma questão geracional, mas não encontrei humor na misoginia kk. achei a violência leviana, o sexo pornográfico e a prosa fraca. e a única criatura terrível que consegui vislumbrar por trás daquilo que é dito é a imaginação de um homem, que entendi personificada pelo narrador e pelos personagens.
As crônicas desse livro me deixaram um pouco chocado, não esperarava ler palavras que até então saiam da boca dos meus colegas de trabalho. Mas ao mesmo tempo existe uma certa cronologia que acompanha a história de quatro amigas que buscam o prazer da vida nas coisas do cotidiano e talvez até, no próprio sexo.
conceito de escrita fragmentada super cativante, porém conteúdo muito esparso, confuso e narrativamente complicado de seguir, ao ponto da história principal ficar completamente perdida nos meandros dos pensamentos rápidos do autor.