Em O Peso do Pássaro Morto, fascinante romance de estreia da brasileira Aline Bei, a autora apresenta-nos uma mulher que, com todas as suas forças, tenta não coincidir apenas com a dor de que é feita. Seguimo-la ao longo da vida, sempre maravilhados pela crueza e profundidade poética de Bei, partilhando com a protagonista as simplicidades quotidianas e as persistentes tragédias. Um livro denso e leve, violento e inspirador.
Aline Bei nasceu em São Paulo, em 1987. É formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e em Artes Cênicas pelo Teatro Escola Célia-Helena. É editora e colunista do site cultural OitavaArte. O peso do pássaro morto é o seu primeiro livro.
Dou estas cinco módicas estrelas com o coração, que também fala quando se lê, embora o meu tenha ficado partido aos bocados. Não conhecia a autora, o estilo é estranho, sabem, no mínimo, mas é tão, tão, original que me partiu o coração de ternura, mas isso eu já tinha, mais ou menos, dito. (Acho que vou inaugurar as resenhas ao estilo do escritor lido) Vai doer.
"a música escorria pelas paredes, eu jurava que via a música escorrer mas pensei que estava ficando sozinha demais e começava a inventar distrações mentais parecidas com loucura."
O estilo do livro, seu aspecto mais notável, é fraco. Primeiro, porque o tratamento da história frequentemente cai em sentimentalismo. Mas, principalmente, o problema é que sua escrita "versificada", ou fragmentada, deixa escapar uma falta de projeto da frase, uma frouxidão do discurso que não mimetiza a oralidade, nem o fluxo de pensamento e tampouco inova a escrita. A página parece feita por uma empilhadeira de frases curtas e interrompidas, que facilitam a compreensão ao invés de desafiá-la - e isto é crítico. A história é dura, cheia de violência, solidão e morte e, por isso, um estilo mal trabalhado compromete sua profundidade. A linguagem precisa ser torcida e testada até o limite e eu não acho que é isso o que o livro oferece, embora pareça ser o que ele pretendia.
O peso de todas as lágrimas que chorei no ônibus. O livro tinha que vir com disclaimer: grandes reações emocionais envolvidas, leia em ambiente seguro e acolhedor, onde você possa raspar seu coração do chão e enfiar ele de volta no lugar fingindo que tá tudo bem.
Não é à toa que este foi um dos livros mais comentados do último ano, usando do fluxo de consciência de maneira abissal em que estilo e conteúdo confluem de maneira brilhante, fica até impossível inferir que este é um livro de estreia de uma jovem de trinta anos, tamanha a bagagem técnica e emocional que ele comporta. Sem dúvida temos hoje Aline Bei como uma das vozes mais relevantes de nossa literatura contemporânea e que sua carreira seja longeva para cada vez contemplar-nos com maiores obras de tal qualidade.
A leitura desse livro de pouco mais de 150 páginas chamou muito a minha atenção… e por vários motivos. Em primeiro lugar, pela forma como ele é escrito: um "romance em versos", uma narrativa extremamente poética e que utiliza do próprio espaço daquela página, inicialmente em branco, para construir a sua história.
Em segundo lugar, pela temática abordada: a perda. Acompanhamos a trajetória de uma protagonista sem nome, em diferentes fases da sua vida, que vão desde os 8 até os 52 anos de idade. É uma história repleta de perdas, com a certeza de que o presente é o que temos, o passado deixa saudades e que o futuro é assustadoramente imprevisível.
Além disso, me chamou atenção também a idade da autora. No começo de seus trinta anos, Aline Bei consegue despertar reflexões no leitor, tratando de temas que exigem uma sensível e tocante maturidade - normalmente atribuída a alguém que já viveu muitos anos e muitas perdas. Algumas passagens me deixaram com uma sensação de que a autora poderia ter ido mais fundo, desenvolvido mais aquele momento vivido pela protagonista, mas isso é só um detalhe: a obra é muito impactante e realmente nos faz sentir - seja raiva, tristeza ou compaixão - enquanto os versos são lidos.
Por fim, me impressionou muito o fato de esse ser o romance de estreia de Bei. “O peso do pássaro morto” já foi ganhador de relevantes prêmios literários, mas o maior presente que ele nos dá é a certeza de que estamos acompanhando apenas o início de uma carreira que tem muita coisa boa a nos apresentar!
“entendendo que o tempo sempre leva as nossas coisas preferidas no mundo e nos esquece aqui olhando pra vida sem elas"
Sempre disposta a conhecer mais autores brasileiros e a apoiar livrarias em espaço físico, neste caso a Livraria da Travessa em Lisboa, quis perceber as classificações tão boas das leitoras brasileiras que sigo no GR a este "O Peso do Pássaro Morto", de Aline Bei, vencedora do Prémio São Paulo de Literatura 2018. Escrito em prosa poética, acompanha a vida da protagonista, uma mulher comum mas bastante sofrida e com alguma dificuldade em lidar com as tragédias que a vida lhe reservou, desde os 8 aos 52 anos. A relação com o filho é de estilhaçar o coração em mil pedacinhos, e do cão é melhor nem falar... Excelente para desobstruir os canais lacrimais mais secos e entupidos.
Que livro!!! Foi o melhor que eu li nesse começo de 2019. Tão sutil, tão poético, tão cru... Uma história aparentemente banal mas tão intensa, contada de uma forma tão, tão bela... Curto e marcante. Fiquei apaixonada e ansiosa pelos futuros livros da autora!
“A escrita de Aline Bei é, então, uma mistura de ingredientes perfeitos: tem a sonoridade do português do Brasil, tem a cadência da poesia, tem um ou outro apontamento sarcástico, próprio de uma cultura que vê motivos para rir mesmo quando só apetece chorar.”
06/02/22 Ler este livro foi como levar murros no estômago. Sem ter tempo para me recompor da dor que me causou o primeiro murro, já estou a levar o segundo, e é assim ao longo de toda a história, um espancamento constante no estômago, na alma... A protagonista, uma mulher, vai-nos mostrando, de uma forma tão melancólica, sofrida e real as perdas da sua vida e como esta é tão frágil, vulnerável... Vários temas são abordados na história, a saber: a morte, a violação sexual, a maternidade, o amor, a solidão, a melancolia, etc. etc. etc... Como é que um livro tão pequeno pode ser tão grande quando se trata de emoções e sentimentos que despoleta nas pessoas que o lêem?! De uma forma ou de outra, esta história ou partes dela são as histórias de muitas pessoas, eu revisitei, com um nó na garganta e com saudosismo, algumas fases da minha vida, acontecimentos que me marcaram profundamente. Foi, sem dúvida, uma leitura muito avassaladora. A autora está de parabéns, pois conseguiu imprimir num livro a vida e o que ela carrega. Não é um livro para toda a gente, na medida em que a carga emocional que despoleta no leitor é muito impactante. Acabei de o ler há mais de um dia e só agora consegui escrever sobre ele, irá ficar na memória e no meu coração por muito tempo. Só para terminar, deixo aqui uma frase que se apoderou de mim aquando do término do livro. E o Vento... O Vento tudo levou ...
Minha primeira avaliação do livro foi de quatro estrelas, mas, alguns dias depois de ter lido, reconsiderei minha avaliação inicial e por isso tirei uma estrela e, posteriormente, outra. É um livro que me marcou, mas pelos motivos errados.
Acho que vale a pena dizer que se o livro me causou uma impressão forte o bastante para me fazer voltar aqui depois, então ele foi bem-sucedido em algum ponto. Porém, tenho pensado na natureza desse impacto e como nós reagimos a livros que se usam muito de fator choque, e em como gostamos de criticá-los, especialmente quando são escritos por homens, como no caso do Raphael Montes, por exemplo.
Em retrospecto, toda vez que eu penso em 'O Peso do Pássaro Morto', menos eu gosto. Depois da primeira reação, que é muito visceral, ele parece que perde muito do seu impacto. Um certo argumento pode ser usado aqui, como: este não é um livro pra você "gostar". O que é justo. Não é um livro pra você ficar feliz depois de ter lido. Mas acho que a falta de nuance nas situações acaba pesando contra a história que a autora quer contar, tira muito de sua complexidade e de sua profundidade. No fim, acaba sendo uma coleção de tragédias seguidas de mais tragédias e assim sucessivamente até o trágico final. Tudo bem, o livro é uma tragédia, mas quanto mais eu penso sobre ele, menos acho que ele diz algo de profundo ou revelador acerca da condição humana, acerca da condição da mulher e, principalmente, acerca da condição da mulher no Brasil (o que não é o mesmo que dizer que o Brasil é um país fácil de se viver para as mulheres, porque definitivamente não é).
Então assim; uma vez terminada a leitura, como um livro se sustenta ao longo do tempo, especialmente quando o tom dele é baseado no recurso de tocar uma nota cada vez mais pesada do começo até o final?
No fim das contas, acho que tudo o que eu falei é um jeito embromado de dizer que achei o livro exagerado, que achei que ele peca por excesso.
lembrei dos meus pais numa época boa em que os dias eram mais longos porque dava tempo de brincar de tudo e os dias eram curtos, já que um verão passava mais rápido do que 8 horas na mesa de trabalho. meu pai mora no olho do deusinho, minha mãe no bracinho gordo e sinto muita falta mas não agora que eles estão mortos, ou antes, quando a gente mudou tanto o jeito de ver o mundo que não cabíamos mais 1 no outro até o ponto de não cabermos mais na mesma casa, na mesma sala, no mesmo telefonema de sábado à tarde. a falta que sinto é deles comigo criança que não entendia nada de morte e que segue na mulher que sou não entendendo.
Nunca tinha lido nada desta autora, mas agora que já li só tenho a dizer que é uma escrita belíssima, que faz com que uma história tão triste, de solidão, de perda, das memórias que temos e das que poderíamos ter tido, nos toque de uma forma tão sentida. Gostei muito!
É um livro que nos tira todas as forças, que nos destrói completamente. É um livro para ser lido quando a nossa saúde mental está bem, quando estamos preparados para ler algo avassalador.
A narrativa é muito peculiar e aborda temas como o bullying, maternidade, abuso sexual, construções sociais e a vida. A fragilidade da vida. Uma vida que não foi vivida, porque a personagem principal apenas passou por ela. Durante a leitura, estava constantemente com um nó na garganta, sentia-me apreensiva e senti a protagonista sempre comigo.
É um livro sobre o fim das coisas. É um livro pesado, duro, triste. Não dá para não chorar à medida que viramos as páginas, não dá para não nos identificarmos com o que vai acontecendo, mesmo que nada daquilo nos tenha acontecido. Toda a dor crua que Aline Bei coloca entre frases curtas é tão real, que todos os eventos acontecem no mundo em que vivemos, tudo se repete todos os dias. 'O peso do pássaro morto' ensina-nos empatia, a olhar com atenção para quem está à nossa volta, estar atento ao que nos rodeia.
Sinto que não escrevi nada de jeito, não consigo colocar em palavras tudo aquilo que senti enquanto o lia, parece-me ser daqueles livros que só quem já leu, ou só lendo, é que se percebe toda a força do mesmo
Foi uma leitura muito bonita, mas também muito triste. E estes são dos meus livros favoritos: aqueles que são tristes e bonitos ao mesmo tempo, essa dicotomia da vida de algo tão simples e tão complexo. E tão real.
Que delícia de livro... Apesar da dureza do tema, o açúcar do Português do Brasil, quando misturado com a cadência que a autora dá à história, torna este pequeno livro numa coisa absolutamente incrível.
E agora é recolher os fragmentos do meu eu destroçado, depois de conhecer esta mulher tão maltratada pela vida e pelas pessoas, e agradecer pelo privilégio de não me faltarem os afetos que me dão sustento.
Li o livro em um dia só. Que bom que consegui lê-lo assim, com tempo e prazer. A escrita de Aline Bei é uma prosa diferente, em que o padrão é não ter padrão. A história é envolvente, muito bem contada, cheia de sutilezas. É um dos melhores livros que li em 2018.
A cura não existe foi o título de minha redação, tirei 4
O título do livro é um prelúdio de uma experiência de leitura que eu não consigo por em palavras. Não chorei com ele mas senti, e sei que voltarei a sentir muitas outras vezes. A forma da escrita, feita para ser lido no mesmo instante, perspicaz.
Eu não gostei desse livro como um todo. Começando pela forma: essa pulação de linha. Os pontos onde as linhas quebravam em poucos momentos tinha sentido (bem poucos) e de cara já senti como um recurso pra me deixar cansada e encher linguiça. Me lembrou uma tentativa de ser Rupi Kaur, mas não era poesia. Me lembrou Valter Hugo Mãe se inspirando em Saramago, mas lá tinha um porquê enquanto aqui.. bleh Outro recurso pra tentar se fazer interessante foram os buracos no enredo. Acho que a ideia era dar espaço pra gente interpolar mas.. achei bem mal construída a personagem principal e a história. Nada me convenceu. Posso estar pegando pesado, mas realmente me senti como ouvindo notícias do Cidade Alerta em formato de pseudo poesia. Muita tragédia, com apenas a intenção de chocar, só pra “gastar” seu sentimento mas sem nenhuma construção em volta. Só não dei nota 1 porque eu achei que há várias metáforas legais na visão infantil de mundo, e vi potencial também. Minhas críticas são duras mas se eu tivesse oportunidade investiria em dar um belo feedback pra autora. Definitivamente não daria de presente e muito menos leria de novo.
Que delícia de livro - original na sua mancha gráfica, com um estilo de escrita muito suave, mas "afiado" quando o tem que ser (e a narrativa está pejada de momentos onde o lado afiado abunda). Trata de vidas próximas a todos nós, com uma protagonista muito humana, que nos toca, que está repleta de tentativas e erros ao longo da sua vida e que é bafejada por um "Vento" que a completa.
Nao posso negar que o livro realmente é muito sensivel, com uma linguagem que transborda sentimento. Mas é extremamente triste. Tragedia apos tragedia. Nao ficou cansativo pra mim por ser em forma de poemas mas tive a impressao de ter lido interminaveis paginas de apenas tristeza e tragedia. Fiquei pra baixo mesmo durante a leitura. Nao tenho muita maturidade pra tristeza.
“— não me importo — eu disse pra ele — que seja breve o nosso encontro. porque no tempo da minha memória somos pra sempre. não existe morrer dentro, é como uma canção. as canções não morrem nunca porque elas moram dentro das pessoas que gostam delas.”
Eu só queria ler algumas páginas antes de dormir e no final das contas acabei devorando o livro. Não sei explicar exatamente o que me fez me conectar tanto a ele, talvez seja a naturalidade e fluidez da escrita, talvez seja brutalidade inesperada da história. Fato é que irei acompanhar outros trabalhos da autora no futuro.
A escrita da autora me cansou um pouco, em alguns momentos a quebra de linha é linda, mas em outros enche o saco. O livro é pesado, rasga o peito feito navalha, fiquei sem ar com alguns trechos e com a identificação que senti com eles - não sei o motivo da surpresa, sempre soube que sentir muito é também ser um pouco triste. “Sentir também é jeito de dizer a verdade”.