Inspirada na tradição ensaística de autoras como Susan Sontag, Virginie Despentes, Chris Kraus e Maggie Nelson, Ligia Gonçalves Diniz reflete sobre os variados aspectos da vida masculina. Ela parte de sua experiência como mulher — mas também como teórica e leitora de literatura — para explorar, pelas lentes da ficção, as figurações do que é ser um homem.
Uma das coisas que só a ficção é capaz de nos proporcionar é a experiência de existir em um corpo que não é nosso e olhar o mundo a partir dele. Em O homem não existe, Ligia Gonçalves Diniz se propõe a esse exercício e abre um repertório de referências literárias e artísticas na tentativa não apenas de entender, mas de experimentar o papel de ser esse seu duplo. Homero, Philip Roth, Tolstói, Maiakóvski, Ben Lerner, Montaigne, Paul Preciado e muitos outros nomes entram no rol de apreciações afetivas da autora. E é a partir da leitura de seus textos, sob uma ótica generosa e feminista, que ela se debruça sobre temas frequentes a respeito dos a obsessão pelo pênis, a estetização da violência e da dor física, o fantasma ou a fantasia da guerra, o ímpeto ao movimento, a apreciação da força e da beleza e o ambíguo prazer sexual. Recorrendo à psicanálise de Freud e Lacan, fazendo contrapontos a ela e convocando outras vozes femininas para sua análise — como Luce Irigaray, Audre Lorde, Anne Carson e Amia Srinivasan —, Ligia oferece um retrato sincero e irônico, mas cheio de ternura, desses seres tão esquisitos.
"'O que quer uma mulher?' é uma das perguntas mais batidas da psicanálise, uma pergunta que pautou uma imensidão de produções culturais, discussões acadêmicas e conversas de bar. Penso que já passou da hora de nós, mulheres, revirarmos a situação e tomarmos para nós a tarefa de pensar o que querem os homens."
É professora da área de Literatura Comparada e Teoria Literária na Faculdade de Letras da UFMG. É doutora em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB), com período sanduíche na Universidade de Stanford (EUA), com pós-doutorado no Programa de Pós-graduação em Estudos Literários (PÓS-LIT) da Faculdade de Letras da UFMG. Sua tese, Por uma impossível fenomenologia dos afetos: imaginação e presença na experiência literária, recebeu o Prêmio Capes de Tese (Linguística e Literatura) de 2017. A versão em livro, Imaginação como presença, foi lançada em 2020 pela Editora UFPR, e recebeu o prêmio de 1º lugar da Categoria Ciências Humanas da 7ª edição do Prêmio ABEU (Associação Brasileira das Editoras Universitárias). Tem experiência em teoria literária, área na qual pesquisa questões referentes à leitura, à imaginação e aos limites e possibilidades da literatura como representação. Pesquisa, atualmente, a imagem masculina na ficção ocidental, bem como as possibilidades e limites da experiência ficcional na contemporaneidade.
Quando vi este livro na lista dos pré-lançamentos da Amazon, fiquei bastante empolgado. Uau, a pessoa autora vai nos explicar como funciona masculinidade envolvendo teorias do desejo e da ficção. Mas na prática, lendo o livro, a coisa não é bem assim. A masculinidade entendida pela autora é algo digno de desdenho e de anedotas de seus encontros com homens, relacionada com personagens ridículos e risíveis de livros de ficção (a maioria de origem europeia), na visão da autora, e o desejo - quando aparece - é pautado pelas suas próprias experiências. Entendo que a proposta do livro é ser um ensaio, mas não gosto desse estilo de escrita confessional e pessoal para livros que se vendem como algo pretensamente analítico. Não precisa ser um tratado lacaniano sobre a masculinidade como o último livro do assunto que li e não gostei. Mas se a autora se propõe a escrever sobre masculinidade deveria ao menos pesquisar as pessoas que falam sobre isso há muitos anos e são autoridades mundiais no tema. O homem não existe é um livro para leigos, leigos em masculinidade, em desejo e em ficção. Sinceramente eu esperava mais. Afinal, foi o que me prometeram.
Ótimo livro! Fiquei emocionada, apavorada, melancólica, mas principalmente instigada pelas reflexões dispostas na obra. Por uma possibilidade de abordar a não limitação da ficção, porém, sem recorrer a uma defesa de um cânone ocidental a partir de uma supervalorização de uma masculinidade, mas sim revirando essa masculinidade do avesso, destrichando-a, e, de certa forma, sentindo-a.
me diverti muito lendo esses ensaios fantásticos. a Lígia tem um repertório de dar inveja, uma inteligência rara combinando tudo e uma escrita gostosa, engraçada e emocionante. apaixonado pelo livro
leve, interessantíssimo e bem humorado! a autora traz o aporte teórico de uma maneira fácil de compreender para leigos nos assuntos, com a didática que só uma professora pode alcançar. daquelas leituras que enriquecem.
Quando vi O homem não existe na livraria, fiquei fascinado. A ideia de um livro que mergulhasse na masculinidade através das teorias do desejo e da ficção parecia uma verdadeira promessa. Mas, ao começar a leitura, percebi que o conteúdo não correspondia exatamente ao que eu imaginava. A visão da autora sobre a masculinidade se baseia muito em suas próprias vivências e em personagens masculinos da literatura europeia, que ela apresenta de forma quase caricata e até um pouco depreciativa. Isso me deixou com a sensação de que a leitura estava mais focada em anedotas do que em uma análise profunda.
O início do livro é verdadeiramente instigante e traz algumas reflexões interessantes, especialmente a pergunta “o que os homens realmente querem?”, que me cativou e parecia um ponto de partida promissor. No entanto, conforme o texto avança, a narrativa se torna excessivamente prolixa e repleta de referências que, na minha opinião, não acrescentam muito ao tema. Parece que a autora está mais preocupada em mostrar sua erudição do que em mergulhar fundo na questão.
Apesar das críticas, reconheço que o livro é importante e necessário, pois abre espaço para discutir a masculinidade sob uma ótica diferente. No entanto, eu esperava um trabalho mais consistente e fundamentado, com um diálogo mais amplo com estudiosos e especialistas que já pesquisam o assunto há bastante tempo. A escrita confessional e pessoal, embora válida para alguns estilos, não funcionou para mim neste tipo de ensaio que se propõe a ser mais analítico.
Em resumo, O homem não existe pode ser uma boa introdução para quem está começando a refletir sobre masculinidade, desejo e ficção, mas para quem busca uma análise mais profunda e rigorosa, o livro acaba soando superficial e disperso. A promessa era grande, mas o resultado ficou um pouco aquém do que eu esperava. Talvez, com um pouco mais de profundidade e menos referências ornamentais, o livro pudesse ter sido ainda mais impactante.
Me identifiquei logo na primeira página, em que ela começa atacando Camus por conta das cartas trocadas com Maria Casares, sua amante. Esperei muito tempo para lê-las, super interessado, e fiquei desapontado em ver o grande autor se humilhando com argumentos tão ordinários e até repugnantes, eventualmente. Lígia destrincha isso com excelência.
O livro só cresceu nas páginas seguintes, impressionando por percorrer dos gregos aos brasileiros contemporâneos; dos clássicos reconhecidos aos poetas do Instagram. Fiquei com a impressão de que era um trabalho de uma vida, e uma vida longa, mas Lígia não tem idade para isso, rs.
A impressão que ficou ao fim da leitura, foi a de que nenhum elogio é exagerado para a obra, que já nasceu como um clássico do gênero. O vocabulário é impecável, o ritmo eletrizante e o arcabouço teórico admirável e empolgante.
Embora julgue a narrativa até condescendente no sentido de abdicar de algumas rejeições completas naturais à feminista contemporânea, intencional e no intuito de se permitir tentar enxergar como o homem, senti uma leve falta de mais ponderações sobre os males que as performances patriarcais causam nos homens, assim como tenho encontrado em outros livros sobre o tema, mas isso diz mais sobre mim do que sobre a obra, cuja proposta está mais para desmontar o homem e inverter a fala de Lacan, que certa vez disse que "A mulher não existe", e nisso Lígia foi muito feliz!
Torço muito para que a obra alcance repercussão internacional.
o começo é bem instigante e promove algumas boas reflexões. fui particularmente capturado pela pergunta "afinal, o que os homens querem?". pensei que seria um bom ponto de partida.
apesar de um primeiro terço até bem divertido, o livro decai muito. os ensaios ficam cada vez mais dispersos e o número excessivo de relatos e anedotas da autora tornam as soluções interpretativas bem pobres. não existem conclusões consistentes.
como crítica relativamente injusta da minha parte, senti que a restrição ao cânone limita um tanto as reflexões. sei que ela não poderia contemplar todas as masculinidades, mas o prisma analítico é bem mais eurocêntrico do que deveria para um livro escrito no Brasil. isso enfraquece muito os pontos levantados nos dois últimos terços (eu gostaria de me estender mais sobre essa questão futuramente).
lamento bastante, pois realmente queria ter gostado do livro.
Grande livro. A Lígia propõe discussões sobre a masculinidade, em aspectos gerais e específicos, por meio de comentários sobre literatura e outros meios artísticos, sejam contemporâneos ou clássicos, com profundidade e sem pedantismo. As reflexões são divertidas e a escrita leve, mesmo em se tratando de assuntos pesados, sem perder o tom adequado. É, claramente, um livro com muitas opiniões pessoais, e são todas consistentes e bem elaboradas, mesmo que em casos que discordei. São excelentes ensaios que tratam bem dos temas que se propõem - alguns mais tematicamente coesos que outros.
O livro traz diversas referências (livros, filmes, músicas etc.) Apresentando como a visão masculina reflete padrões de gênero e estereótipos. É bem interessante ver como ela pega situações desde a Ilíada até os dias de hoje. A autora é bastante sarcástica e leva o livro todo com muito humor, mesmo que o conteúdo seja bastante denso. Apesar de mencionar várias vezes que precisamos separar o autor da obra, acho que em alguns casos não tem como, mas aí é uma visão pessoal.