O que significam a negritude e a identidade para as bases populares negras e para a militância do movimento negro? Por onde deve passar o discurso sobre essa identidade contrastiva do negro, cuja base seria a negritude? Passaria pela cor da pele e pelo corpo unicamente ou pela cultura e pela consciência do oprimido? A partir de questionamentos como esses, Kabengele Munanga debruça-se sobre a construção identitária do Brasil ao longo dos tempos, partindo do princípio de que o conceito de identidade recobre uma realidade muito mais complexa do que se pensa, englobando fatores históricos, psicológicos, linguísticos, culturais, político-ideológicos e raciais.
Ao tratar da negritude e da identidade negra na contemporaneidade, o autor discorre ainda sobre o conceito na diáspora, contemplando o que se pode chamar de tentativa de assimilação dos valores culturais do branco, abordando discursos pseudojustificativos e diferentes acepções e rumos da negritude.
Escrito por um dos maiores estudiosos da cultura negra no Brasil e no mundo, este livro, integrante da coleção Cultura Negra e Identidades, figura como obra relevante e inquietante sobre a temática e, principalmente, acerca da construção identitária da nação e da configuração social, cultural, política e econômica no Brasil.
Kabengele Munanga nos traz nesse pequeno livro a origem do termo Negritude. Ele faz um panorama histórico, conceitos, divergências e críticas. Apesar de pequeno e uma apresentação não tão profunda o autor já garante uma discussão relevante sobre o tema.
É um livro sobre o negro e a sua tentativa de lutar contra a assimilação imposta pelo colonialismo e imperialismo. É uma obra para ser relida e porta de entrada para discussões mais profundas sobre o tema. Discordo de alguns pontos, mas nada que me faça odiar ou menosprezar o conteúdo.
Nesse livro, o professor Munanga faz um resgate da criação do conceito de negritude e posteriormente das críticas que foram lançadas a esse pensamento por autores como Fanon e Ménil. Em uma linguagem acessível, ele fala da formação da identidade cultural (ou personalidade coletiva), que idealmente é composta pelos fatores histórico, linguínstico e psicológico. Sendo o fato histórico o mais importante, na medida em que "constitui o cimento cultural que une os elementos diversos de um povo através do sentimento de continuidade histórica vivido pelo conjunto da sua subjetividade" (pág. 12). Ele trata ainda do contexto que fez necessária pensar sobre ser negro e sobre recusar a assimilação da cultura branca europeia. Sobre como se deu a colonização do social e do imaginário negro e como os discursos pseudojustificadores do evangélio e da ciência serviram primeiro para justificar a barbárie e depois para glorificar o branco. Esse discurso pseudocientífico justificador incubia-se de "descorir e pôr em evidência as diferenças entre colonizador e colonizado, valorizá-las, em proveito do primeiro e detrimento do último, e levá-las ao absoluto, afirmando que são definitivas e agindo para que assim se tornem" (pág. 33). Essa leitura é essencial para todo aquele inserido nesse contexto, sujeito branco ou negro, na medida em que fornece um contexto necessário sobre as relações raciais que se sustentam até hoje e, ainda que escrito em 1988, é absolutamente atual e urgente. "Os negros não foram colonizados porque são negros; ao contrário, na tomada de suas terras e na expropriação de sua força de trabalho, com vista a expansão colonial, é que se tornaram pretos. Se existe um complexo de inferioridade do negro, ele é consequência de um duplo processo: inferiorização econômica antes, epidermização dela em seguida." (pág. 81)
Não é de todo mau, mas achei algumas partes um tanto desatualizadas ou simplificadas, especialmente no que diz respeito à figura do Egito Negro e à suposta inexistência de benefícios advindos do racismo por parte de pessoas brancas oprimidas. Sinto que faltou aprofundamento nas discussões sobre negritude e identidade negra no Brasil, para além e em contraste com a négritude francófona. E eu pessoalmente colocaria a introdução no final do livro em vez do começo.