Narrando as experiências de personagens que oscilam entre o cinismo e a busca por autenticidade, "Pro Inferno Com Isso", de Matheus Peleteiro, reúne contos que mergulham profundamente nas ironias e desafios da vida contemporânea, explorando as contradições de um recorte da sociedade saturado por pretensões literárias e conflitos ideológicos.
Utilizando-se de uma escrita que combina o crítico com o lírico, a obra questiona as expectativas em torno da arte e do artista, ao mesmo tempo em que reflete sobre temas universais como solidão, desilusão e o eterno anseio por significado.
Trata-se de um espelho das angústias modernas, pronto para oferecer uma perspectiva nua e crua sobre as complexidades do ser humano frente a um mundo em constante transformação.
Nascido em Salvador – BA em 1995, escritor, advogado, editor e tradutor, Matheus Peleteiro publicou em 2015 o seu primeiro romance, Mundo Cão, pela editora Novo Século. Após, lançou oito obras, dentre as quais se destacam as coletâneas de contos "Pro Inferno com Isso" (2017) e "Nauseado" (2021); a distopia satírica "O Ditador Honesto" (2018), e as coletâneas poéticas intituladas "Nossos Corações Brincam de Telefone sem Fio" (2019) e “Caminhando sobre o fogo” (2021).
Também organizou e editou a coletânea de contos “Soteropolitanos” (2020); deu início ao Selo ÊCOA – Faça ocê mesmo, em 2021; disponibilizou, de forma gratuita, o conto “O último a sair, por favor, apague a luz e me deixe aqui”, como forma de protesto, em todas as plataformas digitais, e produz o podcast 1Lero, onde realiza entrevistas com expoentes da literatura contemporânea. Além disso, em 2018, assinou, ao lado do tradutor Edivaldo Ferreira, a tradução do livro "A Alma Dança em Seu Berço" (Editora Penalux), do premiado autor dinamarquês, Niels Hav.
Lançado em 2017, esse livro reúne 28 contos do escritor baiano Matheus Peleteiro, um dos ótimos nomes a se prestar atenção na literatura brasileira contemporânea. São contos, em sua maioria, curtos e com uma pegada bem pop, recheados de ironia, de acidez, de críticas à sociedade atual, ao mundo literário e à futilidade de nossa geração, mas que não deixam de ser divertidos e arrancar boas risadas do leitor.
Entre os contos que mais gostei, destaco o agridoce "Mãos de Poeta", o excelente "Eu Vou Foder com Você!", o ótimo "Um Encontro com o Velho" (que narra um imaginário encontro com o espírito de Bukowski), o cinematográfico "Uma Puta Cativante e um Cafajeste Romântico" (daria um bom curta-metragem), o hilário "O Bar da Escrita Criativa" (o que mais me arrancou risos) e "Entrevista na Gaiola dos Pedantes" (no qual fiquei com a impressão de que o autor flertou com a autoficção).
Como é comum em livros de contos, é sempre difícil manter o nível elevado em todos os textos. Penso que a obra se beneficiaria de um corte maior de gordura, de uma enxugada, excluindo alguns contos que estão em um nível mais abaixo, mas entendo que é sempre uma decisão complicada para o escritor - eu mesmo sempre digo que deveria ter sido mais "xiita" na seleção dos contos que compuseram meu primeiro livro, "O Caminho dos Excessos". Enfim, nada que tire o brilho do livro, uma ótima amostra do talento de Matheus, que já havia me surpreendido anteriormente com seu livro de poemas, o ótimo "Nossos Corações Brincam de Telefone Sem Fio".