Seleção de crônicas publicadas inicialmente na newsletter de mesmo nome, Tá todo mundo tentando, de Gaía Passarelli, atravessa temas comuns às metrópoles. Enquanto nos leva para conhecer o mundo, de Salvador a São Francisco, a autora apresenta um lar que, no frenesi da cidade, ainda oferece momentos de introspecção. Dividido em três seçõ Tá todo mundo tentando, Todo mundo e 011, cada uma encerrada com um conto inédito, o livro traça um mapa entre registros cotidianos, memórias e vida urbana. Afinal, tá todo mundo tentando dormir, ler, escrever, ver filmes ou meditar.
Adorei a leitura! Tenho que admitir que havia lido metade do livro numa madrugada - me segurei pra fazer durar, por ser uma leitura agradável que, ironicamente, queria que durasse mais. A Gaía acumulou um livro de histórias próprias e observadas gostosas de ler, em grande parte com minha imaginação tentando relembrar a sua própria narração em programas da MTV. Se os livros tem personagens que interagem e geram a história, os lugares de seus devaneios, de suas viagens e de seus passeios na própria São Paulo são os personagens que vão constituindo a personalidade da autora, por vezes pacata, por vezes aventureira mas sempre interessante.
Otimo pra descansar a cabeça e refinar o olhar sobre as coisas. Li muito rápido. Adoro o olhar da Gaia sobre as coisas. Já acompanhava a newsletter e resolvi me aprofundar.
Adorei a mistura de reflexões sobre a escrita e sobre explorar o mundo (facilmente leria um livro inteiro sobre a aventura na Patagônia, mas não vou dar spoilers). Sendo um paulistano vivendo longe de casa, gostei de revisitar o espírito da cidade nas descrições da terceira parte do livro. Deixo minha recomendação para quem quiser uma leitura relaxante.
Comprei esse livro porque a diagramação com tinta azul e as bordas arredondadas conquistaram meu coração. Quando vi que seria um livro de newsletters, li como se fosse um livro de Salmos do Antigo Testamento, abria aleatóriamente e lia o texto como se pudesse me ajudar a entender minha vida. Ajudou. Agora que me mudei pra São Paulo, talvez esse livro seja mesmo um livro de Salmos pra mim. Adorei.
Acompanho a Gaía há muito tempo, mas a compilação é ótima pq vc pode ler várias histórias numa só sentada. De filosofia paulistana aos mares patagônicos tem de tudo um pouco, uma bela companhia. E pra quem quer ouvi-la, fica a dica de um gostoso podcast Amigos&Barcinski&Forasta&Paulão: https://open.spotify.com/episode/1nKw...
Há muito mais cronistas por aí do que imaginam os prêmios literários tradicionais. Gaía Passarelli é uma dessas cronistas atuais que até tem bom público, mas não o bastante para que o Jabuti ache que deve dar algum reconhecimento a ela (mais do que nunca, está visto que é o nome que orienta as decisões do Jabuti). E, contudo, seu último livro de crônicas, “Tá todo mundo tentando” (Editora Nacional, 2024) é um que certamente não faria feio em meio à lista de semifinalistas do prêmio.
Gaía tem uma trajetória literária muito interessante, já que escreve muito diários e foi por meio deles que chegou à crônica. Há um parentesco entre os gêneros, afinal. Ambos compartilham do tom confessional e do registro cotidiano. Verdade que, na crônica, a dimensão estética e literária se sobrepõe, por mais que ela tematize o cotidiano e circunstancial. (Para o Jabuti, infelizmente, o diário é igual à crônica).
Mas, mais do que olhar para si, enquanto resgata memórias pessoais, Gaía faz em seu livro algumas significativas análises sobre São Paulo, a sua cidade. Não é uma visão romantizada da cidade, com a qual – admite – tem uma relação complexa, sem, contudo, se decidir a romper. Ela às vezes acha quase toda a cidade muito feia, e o belo, quando aparece, em geral convive com o horrível na mesma calçada.
Ela destaca alguns personagens que encontra a rua, com uma visão empática, isto é, não é um João do Rio a expor o que encontra como se fosse uma excrecência. Nessa categoria, merece destaque “Vão do MASP”, em que a cronista fala de um senhor que fica na frente do museu com expressão de raiva (e lhe dá razão).
Ela também esmiúça alguns dos bairros que melhor conhece na cidade: Bela Vista e Santa Cecília. Mas não é uma “quatrocentona” nem uma modernista de fachada e desconfia dos mitos: insiste que é preciso parar de fingir que o horror cotidiano de São Paulo é menos importante que a semana de 1922 ou a Revolução de 1932.
A cronista, porém, não se limita a São Paulo. Gaía viaja bastante, e tem inclusive um livro próprio só de crônicas de viagens. Neste último livro, as viagens compõem uma seção do livro, com crônicas que falam sobre lugares como a Patagônia e a Índia. Talvez não seja exagero dizer que essa é a seção mais interessante do livro.
Nas crônicas, Gaía parece duvidar de receitas prontas de bem-estar que parecem ir contra o próprio movimento da vida. Ao mesmo tempo, às vezes ela pode ser um pouco mais “professoral”, como quando sugere dicas para a carreira. Pode tratar de questões existenciais e de temas bem contemporâneos, como a distração.
Além disso, ela inclui ficções cotidianas em cada seção, que eventualmente até poderiam ser chamadas de contos. Na parte das viagens, por exemplo, ela oferece uma ficção biográfica da correspondente Martha Gellhorn. Essa parte ficcional em nada impediria uma eventual indicação do Jabuti, que aceita como crônica todos os tipos de texto possíveis, desde que, é claro, feitos por uma pessoa muito famosa.
O livro de Gaía chegou a ser finalista do Prêmio Sabiá de Crônica.