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Esôfago

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Lígia Braga está atrasada para o trabalho. Ela faz o seu caminho de sempre em direção ao metrô, esbarra em ombros, desvia-se de olhares e respira o ar pesado da cidade grande. Até que vê um amontoado de pessoas ao redor do acidente. Alguém se jogou na frente do trem. Alguém que Lígia conhece... alguém que ela queria morta.

Em meio à memórias dolorosas e amargas, Lígia tenta contar sua história, refazendo-se após inúmeras mortes. Fantasmas do passado vêm à tona, enquanto o presente segue sendo uma lembrança constante do que perdera. Seu esôfago queima em feridas, ao passo que tenta se curar de outras tão profundas quanto.

O futuro é um emaranhado de incertezas sobre os trilhos de um trem. Tudo o que possui é a sua própria verdade, e ela está disposta a contá-la.

E você? Teria um minuto para ouvi-la?

187 pages, Kindle Edition

Published May 30, 2024

6 people are currently reading
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5 stars
77 (22%)
4 stars
127 (37%)
3 stars
93 (27%)
2 stars
29 (8%)
1 star
10 (2%)
Displaying 1 - 30 of 89 reviews
Profile Image for Miguel.
66 reviews7 followers
December 27, 2024
2.5
o choque não é sempre a melhor estratégia
Profile Image for Melissa Ferreira.
27 reviews72 followers
September 11, 2024
como pode esse livro ser uma sessão de tortura e de terapia ao mesmo tempo??? amei 4,5 estrelas ✨✨✨✨💫
Profile Image for liv ✶.
278 reviews22 followers
July 14, 2025
a protagonista, lígia, se vê diante de um acidente no metrô: uma mulher se joga nos trilhos e é alguém que ela conhece, alguém por quem nutre ódio e desejo de morte. esse choque desencadeia uma trajetória intensa entre presente e passado, onde ela reconstrói seus traumas e tenta digerir as feridas emocionais que carregava.
a escrita é densa, poética e ao mesmo tempo visceral, você sente a dor subir da garganta até o peito, quase queimando como refluxo. o título do livro se transforma numa metáfora perfeita para o que lígia vive: angústia engolida, emoções nunca expelidas.
por outro lado, senti que o livro poderia ser ainda mais forte: faltou profundidade em alguns personagens (além de lígia, ninguém realmente ganha uma camada complexa), e alguns temas importantes ficaram pouco explorados. a narrativa é bem construída, mas em certos momentos parece um vislumbre, não um mergulho completo.
a leitura flui rápido e prende, mesmo com páginas pesadas. e o final acaba deixando uma vontade de “mais”: mais intensidade, mais vozes, mais respostas. ainda assim, gostei muito da experiência.

nota final: 3,5★
Profile Image for thay.
253 reviews6 followers
August 31, 2024
essa, definitivamente, não é a resenha que eu esperava fazer pra esse livro, mas vamos lá.

Algumas coisas me incomodaram durante a leitura de "Esôfago" o que fez com que eu me desconectasse completamente da história, da personagem, enfim, do que estava sendo narrado, mas vamos em ordem.

"Esôfago" vai contar a história de Lígia Braga, uma mulher que com certeza sofreu mais do que Jesus e Juliette juntos. Em um dia que para ela era comum, ela tem sua rotina interrompida por uma pessoa que se suicidou nos trilhos do metrô, naquele momento Lígia ainda não sabia, mas a fatal vitima era Alice Freire pessoa que, durante todo tempo em que estiveram próximas. Depois desse fato, o livro vai se dividir na narrativa do "antes" e do "agora" mostrando para o leitor as dores sofridas por Lígia durante sua história que culminaram em quem ela é, em como ela age, no "agora".

Esse normalmente seria o tipo de livro que me pegaria pelo pé e me sacudiria inteira, me deixando vulnerável e sensível, causando identificação e comoção, mas infelizmente não foi o que aconteceu. Achei tudo em "Esôfago" muito pretencioso, achei que a escrita tenta durante o tempo todo do livro ser muito poética enquanto narra as coisas mais comuns da vida, esse tipo de narrativa não é tão raro, e normalmente eu gosto bastante, mas aqui, comigo, não funcionou, como eu disse anteriormente, só me deu a sensação de pretensão, de querer ser mais do que realmente é.

Quanto as cenas que eu falei que eu me desconectei, uma delas preciso descrever aqui então PULE ESTE PARAGRAFO SE NÃO QUISER SPOILER. Em um momento de reencontro da turma do ensino médio, Lígia faz um monólogo sobre como todos os outros são culpados pela dor que ela sentiu, pelo bullying e por como sua vida se desenrolou, já que ela é o resultado de toda essa dor que ela sofreu, nesse momento, as pessoas descredibilizam as palavras dela, porque é ÓBVIO que ninguém quer assumir a narrativa de dor do outro, e ai em uma maneira de ter seu ponto validado, Lígia desabotoa a própria blusa e mostra as cicatrizes que ela tem em seu corpo vinda da automutilação que ela se infringiu por anos e enquanto isso ficava falando para as pessoas algo no sentido de "vocês me mataram". Em momentos de desespero e de dor nós realmente somos capazes de tudo, mas quem faz terapia (e a personagem principal alega fazer) sabe, que por mais que os outros tenham tido responsabilidade quando nos infringiram uma dor, um bullying, verbalizar a culpa não nos ajuda no nosso processo de melhora, força-los a se assumirem culpados não iria livra-la de ter que lidar com tudo que aconteceu com ela, pra a idade que a personagem tem e para a experiência que em sofrimento que ela demonstra ter durante o livro, já que cada capítulo é basicamente a história de um momento em que ela "morreu" ela deveria saber, porque esse é um dos passos básicos do processo de terapia: os outros não são seres mágicos que vão nos entregar a melhora de mãos beijadas, a melhora é um processo lento, não linear e totalmente pessoal, gritar e esbravejar, pedindo para que alguém assuma a responsabilidade do que aconteceu conosco, só causa dor a nós mesmas, sentimentos de invalidação (porque como eu disse: ninguém vai assumir esse b.o de ser o causador da tristeza alheia) e nos expõe e nos leva a um limite que poderia ser evitado. E também como pessoa que sofre com o fantasma da automutilação (mais de 1 ano livre e contando!!!) é compreendido que o modus operandi comum é o de esconder os cortes e cicatrizes, pois isso além de ser um momento de extrema vulnerabilidade, também é algo relacionado a vergonha.

Então, em razão dessa cena e de outras duas, os momentos em que eu deveria me conectar mais com a personagem, acabaram perdido, em contra partida, achei muito sincera e honesta uma das cenas finais, do penúltimo capítulo para ser mais exata, que não vou relatar aqui pra não dar mais spoiler, mas aquela cena eu achei passível de acontecer, aqueles sentimentos, o modo como ela esbravejou o que pensava, aquilo ali me pareceu real, porque ela fez aquilo para ela mesma se libertar e não para os outros, então pra mim fez sentido com a mensagem que o livro quer passar.

Também entendo que seja uma escolha de narrativa e que todo livro precisa de um fim, mas me incomodou um pouco a ideia do "agora que eu estou recebendo ajuda está tudo bem e posso recomeçar" quando o processo de cura de depressão, como já citei, é cheio de altos e baixos e não é porque você pediu ajuda que essencialmente vai ficar tudo bem, é uma luta constante consigo mesma e com tudo e todos ao seu redor, para que as coisas se estabilizem.

Tirando essas questões é um livro curto e muito fluído de ler, mesmo tendo poucos momentos disponíveis na minha rotina pra a leitura, eu conseguia avançar bastante quando me sentava pra ler, os capítulos curtos dão essa sensação de progresso na leitura o que acaba estimulando a ler mais, é bem positivo. Gostei da história de uma maneira "inteira" não concordo com algumas atitudes e questões de narrativa, mas no fim Lígia pode ser uma mulher real, alguém por ai pode viver (infelizmente) o que Lígia viveu e está vivendo e pra essas pessoas: espero que você encontre paz e conforto e que não desista.

E desculpem pelo texto imenso que eu tive a pachorra de chamar de resenha, eu só senti que precisava escrever sobre minha experiência de leitura.
Profile Image for anna.
28 reviews
November 8, 2024
cara, que livro lindo. Um retrato do ser humano por inteiro: alguém que vive, quebra, se dói, chora, morre, renasce e tenta de novo.
O Ítalo desenvolve a história da Lígia de uma forma muito crua e direta, que dá o tom certo aos traumas e às feridas da personagem. A alternância temporal foi uma excelente forma de apresentar os fatos e foi muito importante pra entender o que a personagem estava de fato pensando e sentindo (principalmente em relação a Alice, que permeia a narrativa o tempo todo). No começo, não consegui simpatizar tanto assim com a protagonista, mas depois de ler tudo que ela passou e o quão dolorido foi cada vez que ela "morreu", não consegui não me apegar e não me sentir mal por ela. No final de tudo, foi muito bom ver o livro terminar ao contrário de todas as minhas expectativas.
Profile Image for Laís.
138 reviews1 follower
August 29, 2024
Primeiramente, para deixar claro: não é um livro leve (ou seja, tem gatilhos).
Escolhi o livro no encha seu Kindle pela capa e nome. Li a sinopse, gostei e foi isso, não sabia o que esperar. E que baque, que sofrimento, que lindo, que dor. Como a personagens fala algumas vezes no livro, essa história é sobre as diversas mortes e, simultaneamente, é sobre como renascer - ou sobreviver - a elas.
Recomendadíssimo! A história, a narrativa, a escrita , etc. são perfeitas. Se tornou um dos meus favoritos de 2024 sem nem perceber.


Profile Image for lya.
19 reviews
April 24, 2025
talve eu só não consiga mais ler livros onde mulheres só sofrem e sofrem de todas as maneiras possíveis ao ponto que chega a ser desnecessário — além de que a história parece não andar para nenhum lado. nem as frases de efeito que provavelmente fazem sucesso sendo destacadas conseguiram impactar positivamente
Profile Image for ella.
174 reviews
August 29, 2025
Nunca saberemos como viver, porém devemos escolher não morrer todos os dias.

"(...) desejei que seu choro se tornasse apenas uma vaga lembrança, e que ela conseguisse aprender a viver"


Essa é uma das últimas sentenças do livro e foi o que eu senti em cada capítulo lido. Eu desejei que Lígia pudesse amar novamente, e que sua vontade de viver voltasse mesmo que nada em sua vida contribuísse para que esse sentimento fosse despertado.
Lígia foi como um vômito preso, que clama para sair enquanto o esôfago dói. Fico feliz que ela tenha conseguido sair :)
Profile Image for ludy.
59 reviews4 followers
January 18, 2025
uma surpresa e tanto!!! gostei bastante dessa historia mas precisei tirar uma estrela pq achei que tiveram algumas pontas soltas... é super comum um livro ter uma ponta solta aqui e ali, mas esse eu achei que tiveram pontas >>muito importantes<< soltas
o suicidio da alice é com certeza a maior pq ele só acontece pra ser um ponta-pé pra ligia começar a ter esses flashbacks e amarrar com os fatos presentes. o motivo da alice ter tirado a vida fica muito subentendido e não teve uma explicação exata do pq ela fez oq fez (e isso é algo que eu queria saber desde ler a sinopse, mas a explicação não veio) mas eu gostaria de ler um livro/conto pelo ponto de vista da alice, acho que seria interessante saber mais sobre ela - mesmo ela sendo uma babaca mas ok
enfim, isso foi algo que me incomodou mas não posso deixar de falar que gostei bastante da escrita do italo e principalmente da conexão linda entre a ligia com a mãe dela que é de emocionar
e por ultimo: VALORIZEM AUTORES NACIONAIS!
This entire review has been hidden because of spoilers.
Profile Image for mari %ᵕ‿‿ᵕ%.
40 reviews57 followers
December 3, 2024
Baixei pela capa linda e foi uma das melhores experiências de leitura que tive no ano.
A escrita do Ítalo é tão sensível que senti todas as dores da Lígia, me transportei pros cenários da adolescência delal e adorei ler uma juventude identificável com orkut, fake, lan house... Refleti por dias sobre como a pressão social nos leva a mentiras e outras compulsões por aceitação.
Profile Image for Liv.
73 reviews
December 23, 2025
Um livro curtíssimo e com uma premissa simples. Tinha me interessado a um tempo e acabei lendo super rápido. O autor tem uma escrita interessante, mas senti que a história é fraca em certos aspectos. A protagonista é bem chatinha em alguns momentos, porém não justifica em nada o bullying e as constantes intimidações de que ela foi vítima. As pessoas descritas na obra me parecem muito caricatas e abstratas. Posso estar sendo muito positiva, mas pela minha experiência com pessoas, ainda mais com uma amiga próxima como a protagonista tinha, a amizade não seria quebrada assim sem mais nem menos. Me pareceu que elas já não tinham muita conversa, e após aquele incidente fiquei surpresa pela amiga dela simplesmente ter cortado contato (mas acho que acontece né, tem gente que não gosta de explicação).Acho que a ideia do livro é melhor do que o desenvolvimento que este ganhou em si. Me pareceu que a certo ponto do livro a protagonista estava numa competição de quem sofre mais, parece que o autor pegou uns cinco traumas diferentes e pronto. Pelo final da história me pareceu que a narrativa se perdeu um pouco. De qualquer forma, acho que é uma obra que traz visibilidade à esse problema que beira o tabu.
Profile Image for Carol.
55 reviews2 followers
July 24, 2025
Eu não ia ler esse livro, mas resolvi dar uma chance e ainda bem que fiz isso. Se você não se sente bem com temas pesados, sugiro que não leia, mas se não for um problema para você, leia.

O sofrimento da Lígia é angustiante, cada decisão que ela foi tomando ao longo da vida se deu aos traumas que ela viveu no passado. O livro se passa no passado e presente e você consegue entender um pouco das atitudes dela no decorrer da história.

É uma ótima leitura. Ela também nos faz refletir sobre nossos próprios traumas, mesmo não sendo tão cruéis como os de Lígia.
Profile Image for Lorena Netto.
59 reviews5 followers
October 6, 2025
este livro é como um grito que ecoa no vazio; intenso, áspero e, às vezes, belo em sua própria ruína. há frases e momentos que cortam fundo. mas, ao meu ver, o sofrimento se repete até perder o sentido, como uma ferida que já não surpreende. a dor acaba se tornando exaustiva, esvaziando parte de seu impacto. a narrativa parece se perder ao insistir no martírio da protagonista como única via possível. ainda assim, entre os escombros, traumas e demônios do passado, surgem faíscas de sensibilidade e um toque de poesia que não passam despercebidos e que sobrevivem ao caos. e são capazes de causar no leitor um sabor amargo e inesquecível.
Profile Image for Stéphani Aparecida Torres Lima.
66 reviews
December 15, 2024
4 ⭐️ eu amo começar um livro que não sei nada sobre e me surpreender com a história. esse livro é uma verdadeira tortura e uma sessão de terapia ao mesmo tempo. aqui temos personagens que sofrem, que choram, que sentem raiva, personagens reais com problemas reais. é um livro curto mas valeu demais a leitura.
Profile Image for Mafe.
16 reviews
August 11, 2025
essa doeu na alma, que livro bom meu deus
Profile Image for Mariana Nhoque.
3 reviews
September 16, 2024
esôfago é uma obra instigante que me desafiou a mergulhar nas profundezas das angústias humanas, abordando temas como a solidão, a opressão social e a vulnerabilidade do corpo e da mente.

o livro se apresenta como uma metáfora para as dificuldades que engolimos ao longo da vida, tanto emocionais quanto físicas, e nos força a refletir sobre o que acontece quando não conseguimos mais suportá-las.

a narrativa é construída em torno de ligia, uma mulher que enfrenta suas próprias dores de maneiras cruas e intensas, e o esôfago se torna um símbolo potente dessas angústias engolidas.

essa relação simbiótica entre o corpo e a mente permeia a obra, revelando que o sofrimento interno não se restringe a meras abstrações, mas pode corroer a própria estrutura do ser.

o livro nos questiona: quantas vezes engolimos o que deveríamos expressar? quantas vezes silenciamos nossa própria dor, tornando-a parte de nós, até que ela nos consuma?

ligia sofre desde a infância com bullying e com os próprios pensamentos. engolir toda essa dor por anos é como se alimentar de café e cigarro: a gastrite uma hora se faz presente.

apesar de toda a carga de sofrimento e das angústias vivenciadas pela protagonista, há uma virada significativa que aponta para a possibilidade de superação, deixando uma mensagem de esperança: vai ficar tudo bem.

por mais que enfrentemos momentos de escuridão e angústia, há sempre a possibilidade de luz.

a felicidade da protagonista não é fruto de uma solução mágica, mas de seu próprio processo de autoconhecimento e de uma nova maneira de lidar com as próprias vulnerabilidades. ela descobre que tudo bem ser imperfeita, tudo bem sentir dor – o que importa é continuar, e, eventualmente, as coisas se ajeitam.

esôfago é, sem dúvidas, um convite à introspecção.

através de uma narrativa que mistura o físico e o emocional de maneira densa, italo oliveira me fez refletir sobre as dores que engolimos, os silêncios que guardamos e o preço que pagamos por não expressar nossos sofrimentos.

é uma obra que desafia, incomoda e, acima de tudo, provoca uma profunda reflexão sobre o que significa existir em um corpo permeado por emoções reprimidas.

obrigada, ítalo!
Profile Image for Dulcinea Silva.
195 reviews
September 21, 2025
Esôfago, de Ítalo Oliveira, apresenta Lígia Braga, uma mulher que caminha pelas ruas da cidade grande em sua rotina apressada, até se deparar com um acidente no metrô: alguém se jogou nos trilho. Não alguém qualquer, alguém que ela conhece, alguém cuja morte, em silêncio, desejava. A partir desse choque, a narrativa se abre em um fluxo de memórias dolorosas: traumas familiares, perdas sucessivas, fantasmas do passado que insistem em retornar. Lígia tenta se reconstruir no meio dessas ruínas, narrando sua própria história como quem procura respirar apesar do aperto constante. O esôfago, metáfora central, queima em feridas, engasga lembranças, mas também conduz sua voz. O romance se constrói nesse espaço entre a dor íntima e a tentativa de cura, entre a morte que se arrasta aos poucos e a força de quem insiste em contar sua verdade.


Cheguei a Esôfago quase por acaso, um post de uma tagger me apresentou a capa, aquela fotografia da mulher de olhar expressivo que parecia fitar o leitor e, ao lado, o título curto e impactante. A imagem ficou ressoando, e quando encontrei o livro na lista do Kindle, não hesitei em escolher. É curioso como, às vezes, a literatura chega até nós por detalhes visuais, pequenos acenos do acaso. Há capas que prometem mais do que cumprem; esta, ao contrário, antecipava com precisão o mergulho que o texto ofereceria.


Ítalo Oliveira é um autor independente, e isso já dá à leitura um sabor particular. Não há o aparato de uma grande editora por trás, não há campanhas de marketing ocupando vitrines. Há, em vez disso, um gesto direto do autor para o leitor, um risco e uma ousadia. E o que encontrei foi um livro de excelente construção, que me surpreendeu não apenas pela consistência da escrita, mas pela forma como soube lidar com a metáfora que carrega no título. O esôfago, órgão de passagem, torna-se o espaço simbólico de bloqueio e resistência, de dor e de sobrevivência.


Um dos aspectos mais marcantes da narrativa é o modo como Oliveira articula o presente de Lígia com o passado que a fere. O cotidiano da personagem (o metrô lotado, o ar denso da cidade, os encontros e desencontros banais) nunca está isolado. Cada passo de hoje é atravessado pelas lembranças que voltam como assombrações, costurando o ritmo da vida com a permanência da dor. O romance se constrói justamente nesse vaivém: enquanto o presente avança, as feridas antigas se impõem, e o leitor compreende que não há separação possível entre o agora e o que já foi.


Essas memórias não surgem como recordações distantes, mas como cortes ainda abertos. Traumas familiares, perdas íntimas, ressentimentos que não cicatrizam: tudo pulsa dentro dela como uma segunda pele. E é nesse ponto que o corpo passa a ser linguagem. A esofagite de Lígia não é um mero detalhe biológico, mas o sinal mais visível de sua incapacidade de “engolir” a vida. O esôfago, lugar da passagem vital, se torna o espaço do bloqueio, da dor que queima, do alimento e das lembranças que não descem. A doença é metáfora e é também testemunho: traduz em termos físicos aquilo que a narrativa expõe em termos emocionais.


Essa fusão entre corpo e memória é talvez a grande força do romance. Oliveira não trata o passado como algo distante, mas como uma chama que continua a arder no presente, queimando a garganta, sufocando a respiração. Lígia se movimenta no mundo, mas é o próprio corpo que denuncia sua história, que carrega em si os traços das feridas ainda abertas. O leitor acompanha, assim, não apenas um enredo, mas uma lenta e dolorosa travessia, um processo de morte aos poucos e de resistência silenciosa.


Ainda que Esôfago seja uma obra de grande densidade e bem construída, há escolhas narrativas que poderiam ser melhor ajustadas. A ausência de uma localização geográfica definida, por exemplo, deixa a história num espaço quase suspenso, o que pode ser lido tanto como limitação quanto como recurso, um gesto de universalizar a dor, mas que por vezes priva o leitor de um chão concreto. Da mesma forma, a maneira como Lígia é narrada sugere uma mulher próxima dos cinquenta, embora a personagem tenha pouco mais de trinta e cinco anos, criando um descompasso entre idade biológica e peso existencial. Por outro lado, esse envelhecimento precoce também pode ser visto como efeito da sucessão de perdas que a consome, mas também dá impressão que o autor não diferencia as idades.


O que mais impressiona, no entanto, é o modo como Ítalo Oliveira entrelaça os personagens. As vidas se cruzam, se refletem, se refratam, compondo um tecido narrativo de ecos e sombras. E a ausência de qualquer indagação de Lígia sobre o suicídio de Alice soa como silêncio proposital. Lígia, que morre tantas vezes e retorna, ganha uma força inesperada, enquanto Alice, a “perfeita”, não suporta o próprio fardo. Esse contraste abre múltiplas camadas de leitura, transformando a narrativa em reflexão sobre resiliência e fragilidade, sobre como a imperfeição pode paradoxalmente oferecer mais vida do que a aparência da completude.


A inimizade entre as duas mulheres funciona como espelho partido. Alice, na imagem social da perfeição, carrega uma fragilidade oculta que a leva ao colapso. Lígia, com todas as marcas expostas, encontra nas próprias falhas um modo de resistir. O romance sugere que a sobrevivência não está na ausência de feridas, mas na capacidade de habitá-las. É nesse paradoxo, viver mesmo quando se morre por dentro, que reside a força de Esôfago.


O mérito do livro não está apenas em ser “bom para um autor independente”. Está em ser bom, ponto. Uma narrativa que sustenta sua própria força literária e que mostra como a literatura independente pode oferecer descobertas raras. A qualidade não depende de chancela editorial; depende de voz, de imaginação e de cuidado na escrita, tudo o que encontrei aqui. Oliveira não escreve à sombra de convenções mercadológicas, mas a partir de uma urgência íntima, e talvez seja exatamente isso que dá ao romance sua autenticidade.


No fim, Esôfago nos lembra de uma verdade difícil, mas incontornável: o trauma é também uma forma de morte. Ele nos silencia, nos corrói, nos enterra em camadas invisíveis de dor. Lígia, em sua doença, em sua esofagite, em sua incapacidade de digerir o passado, encarna esse processo de morrer repetidas vezes. Mas, paradoxalmente, é dessa mesma dor que nasce sua força de voltar, de encontrar brechas por onde respirar. A cada queda, um ímpeto de retorno; a cada perda, uma centelha de resistência. Alice sucumbe, mas Lígia se reinventa. E é nesse contraste que o livro revela seu maior ensinamento: o trauma é também impulso de vida. Ele não se apaga, mas pode ser transformado em matéria de sobrevivência, em memória que, ainda que doa, nos permite caminhar. Ítalo Oliveira nos entrega, assim, uma história que não é só sobre o morrer, é, sobretudo, sobre a arte árdua e bela de insistir em viver.



Esôfago de Ítalo Oliveira. Brasil: Independente, 2024. 187p. Leitura de Setembro 2025.
59 reviews
August 19, 2025
esses tipos de história são muito complicadas para mim, eu consigo ficar desconfortável com muito pouco e desanimado para ler, mas como era um livro curto eu fiz o esforço, mas mesmo assim o desconforto não me deixou, o que talvez seja o objetivo de histórias assim, mas eu não sei porque alguém procuraria constantemente histórias assim.\n\nno fim achei muito pouco que eu gostei sobre o que foi contado, apesar de ter apreciado a forma como foi contada. um dos meu maiores problemas foi a protagonista, porque eu consigo aceitar os outros personagens serem um pouco mais simples só para ser mais uma pessoa para fazer mau para lígia (apesar de alguns realmente terem mais nuance), mas ela não fica muito atrás, com um ceticismo e rancor de tudo e todos e que muda de repente para uma leve simpatia com tudo sem mais nem menos antes de voltar para antipatia, que apesar de entender de onde vem, não é mais legal de ler.\n\n e sobre um dos pontos do final do livro eu só tenho uma coisa a mostrar\nhttps://www.tiktok.com/@hollywoodrepo...
Profile Image for Jéssica.
21 reviews
January 10, 2025
Infelizmente não foi pra mim.

Primeiro, achei todo o desenrolar muito desinteressante, mas, em contrapartida, fiquei curiosa para saber o final, rsrsrs. Acredito que esse esquema de intercalar entre passado x presente tenha dado uma atrapalhada na fluidez dos acontecimentos. Temas importantes, como o assédio sexual, foram desperdiçados. A protagonista, Lígia, é uma chata, com todo respeito. Eu sei que eu deveria sentir empatia por ela, porém, apesar de tudo, da dor, do bullying, a achei tremendamente unidimensional e simplória.

Parte dessas impressões se deve, claro, a escrita - esta tenta ser poética, só não funciona. Alguns diálogos não soam naturais, assim como metáforas. (Flechas? mds!). Não é ruim, mas é evidente que precisava de maior tratamento. Usar o verbo "possuir" indiscriminadamente é horrendo (o verbo em si é feio e precisa ser usado com cautela, pfvr) e acho que engessa qualquer escrita.

Eu esperava que a pior cena gráfica, aquela em que Lígia enfia um objeto cortante nas partes íntimas para simular menstruação, fosse se desenrolar, trazer consequências... simplesmente nada, nada, nada, nada. Não sei como isso é possível. Nenhuma infecção, dor posterior... Fiquei agoniada. Enfim, fora isso, tiveram pontas soltas, como a tal viagem pra Londres - a trabalho? Lazer? - e não creio que faça sentido o abusador dela a chamar para a reunião do terceirão (?). O suicídio de Alice poderia ter surtido mais efeito, ocasionar algo a mais. Só aconteceu. Foi um recurso narrativo para nos levar aos tempos passados, acho, mas desnecessário já que Lígia carrega os fardos pelo corpo. O esôfago mais serviu para escrever "vômito" muitas vezes em contextos diferentes. Fora tudo isso, as reflexões são, em sua maioria, clichês, pobres e melodramáticas, mas sem gerar o efeito reflexivo (em mim).

Bom, eu tinha muito a reclamar. Como o autor é br, deixo claro que nada aqui é um ataque a ele. O potencial existe.
This entire review has been hidden because of spoilers.
Profile Image for Giulia.
152 reviews3 followers
December 26, 2024
Tenho que admitir que comecei a leitura por conta da belíssima capa, o fato de ser nacional foi a cereja do bolo. Na contracapa diz que a arte é do Italo, então meus parabéns de verdade.

Sobre a história, depois de passar os olhos por cima da sinopse, eu imaginei que seria bem triste e realmente foi. Empatizar com a Lígia não é difícil, como a maioria de nós, ela morre em diversas situações de seu passado e todas essas mortes culminam na forma como ela vive no presente.
Mesmo que seja uma leitura curta, me senti intrigada desde o início à descobrir o que se passava com ela e preciso admitir que os capítulos da infância/pré-adolescência foram os que mais me pegaram. Senti que na vida adulta, meu interesse diminuiu mas nada a ver com a escrita, acho que foi mais a identificação pessoal com a infância.

Quanto à recomendação: Se você estiver procurando uma leitura psicológica leve, fique longe desse livro. Caso contrário, seja feliz e se esbalde!!!

>>> SPOILER (Abaixo) <<<

Profile Image for Fred Gomes.
52 reviews
June 11, 2025
Peguei "Esôfago" para ler durante uma viagem e me surpreendi com a fluidez da obra, mesmo tratando de temas tão difíceis. Não é um livro fácil de se ler no que diz respeito aos assuntos que aborda, mas a escrita do Ítalo faz com que as páginas passem em um ritmo tal que, quando percebemos, já estamos sentindo as dores da protagonista — tanto as físicas quanto as emocionais.

Um dos pontos que mais gostei na leitura foi como o autor foi crível ao mostrar que pessoas "ruins" também se dão bem na vida e que, muitas vezes, ela é injusta. Outro aspecto que apreciei foi a forma como o escritor nos apresentou a história e a personagem principal, alternando constantemente entre passado e presente. Essa estrutura desperta no leitor o desejo de descobrir, cada vez mais, quem é essa personagem tão infeliz e por que ela se tornou assim.

Um único ponto que me incomodou na leitura foi que, em alguns trechos, parece que o autor quis florear demais a escrita, o que fez com que o texto perdesse um pouco da sua fluidez. Mas, no geral, foi uma ótima leitura.
Profile Image for Jaqueline.
93 reviews
December 24, 2025
“Admiro aqueles que conseguem viver. Eu, ao contrário de muitos, nunca aprendi.”

“Não almejo reinos celestiais ou condecorações por boas atitudes, galardões nunca estiveram entre meus objetivos, eu só gostaria de dormir. Retirar as pedras que carrego em meus bolsos e sentir a leveza de sonhar tranquilo, sem toda a pressão do tipo, sem todo o cansaço de várias vidas vividas em uma só. Gostaria de dormir como se amanhã fosse domingo, sem hora para acordar. Esse era o meu único desejo. Também existe algo irônico na vida. Não importa quantos anos vivamos, nunca saberemos o jeito certo de viver. Escolher uma profissão que nos agrade, trabalhar até a velhice para receber um mísero salário no fim da vida e se arrepender pelo tempo perdido... De fato, não sabemos como viver. Nada nunca é o suficiente, tudo às vezes é nada, e a saudade que o tempo deixa é o pior dos castigos para aqueles que decidem amar.”

Me prendeu bastante e eu estava gostando da leitura, mas senti algumas coisas meio irreais e o final tbm foi menos do que eu esperava.
10 reviews
February 12, 2025
Eu sou uma Lígia. Acredito que ter vivenciado tantas coisas semelhantes à personagem me fez vibrar tanto com ela, estou muito feliz por viver na mesma época que Italo Oliveira para poder degustar essa obra, comecei a ler ontem, segunda, e terminei hoje, terça.

Lígia é humana e crua, ela erra e não entende o motivo de tanta crueldade. Ela, assim como todos nós, está vivendo pela primeira vez. Ok, mais tentando do que realmente vivendo em si, mas ela cai várias vezes e se reergue novamente.

Esse livro me lembrou duas coisas importantes: coisas ruins acontecem. Ponto. Isso, independentemente de razões, elas simplesmente acontecem. O que nos resta a fazer é superá-las.

Outra coisa: não importa quantas vezes morremos, sempre podemos nos reerguer depois. Gostaria que todas as "Lígias" lessem esse livro. Podemos não ter a experiência do metrô, mas podemos nos reerguer e prosperar. A vida nos dá essa benção de reconstrução e possibilidades infinitas.
Profile Image for clara maria.
5 reviews
September 9, 2024
Sobre morrer e nascer de novo.

Eu peguei esse livro no exploda seu kindle só por achar a capa bonita, sem ler sinopse nenhuma. Quando comecei a leitura, ela logo me prendeu. Fiquei curiosa achando que ia ser um livro de suspense, mas com o tempo fui vendo que era uma coisa completamente diferente. É sobre morrer, pensar que nada tem conserto, e se reerguer dos pedaços deixados para trás. A escrita é poética, onde você passa vergonha, raiva, nojo, e no final, esperança. As reflexões da Lígia te fazem querer parar de ler por um tempo e só absorver tudo, refletir junto dela sobre a vida. As sensações que senti nessa leitura me lembraram bastante das que senti quando li "Tudo é rio", o que por si só já valeu a pena toda a leitura. Recomendo bastante. (Deixo também um alerta de gatilhos para bullying, automutilação, suicídio, depressão e estupro)
Profile Image for Sharon Domingues.
14 reviews
May 6, 2025
"(...)e a saudade que o tempo deixa é o pior dos castigos para aqueles que decidem amar."

entrei sem saber oq esperar e me surpreendi. achei a escrita muito fluída, a história bem interessante e te prende fácil. talvez por eu não ter sido buller ou ter sofrido bullying na escola, seja difícil ver oq a Lígia passou e não achar que ela deveria ter agido diferente, mas ao mesmo tempo cada um tem um tipo de reação. na minha mão a Alice não teria espaço e isso me irrita profundamente.
tudo oq a Lígia passou nesses 30 anos de vida é enlouquecer.

amei demais a mãe dela e a relação das duas, talvez a parte mais linda do livro.

agora... tem muitas coisas que ficaram em aberto, como o suicídio, como as consequências das feridas da Lígia, principalmente com o compasso no banheiro, o estupro no final, enfim...

com isso: sofri, passei raiva, chorei. recomendo.
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Profile Image for gigi.
47 reviews
January 9, 2025
Primeiro nacional do ano, mas vamos pra resenha.
Esse livro me destruiu de tantas maneiras com o vazio, o estresse, o cansaço e o traumas que guardamos para vida ou até os esquecemos para não nos deixar pior, o jeito que esse livro retrata sobre assuntos extremamente importantes é incrível, a escrita é impecável. O livro mostra que mesmo que tudo que passamos da infância até a fase adulta nos matam por dentro nos machucam por dentro e por fora, com os olhares cansados, cicatrizes e etc. ele mostra também que com ajuda e conhecendo novas pessoas, quebrando ciclos talvez nos ajude a seguir em frente, melhorar e aprender com a vida e os machucados que ela nos dá. Só digo que se for ler, escute alguma música da Billie junto pois é uma misto de emoções que é impossível descrever.
Profile Image for Bia Baggio.
19 reviews
April 27, 2025
Italo tem uma escrita fluida e consegue trazer tópicos com naturalidade. Encontrei alguns erros de edição, mas que no geral não atrapalharam a leitura.

Apesar de ter gostado da leitura, senti que esse era um livro que poderia ser muito mais denso. É interessante a forma como embarcamos na vida da personagem em diferentes épocas (e Italo faz isso com mestria, sem deixar o leitor confuso), mas nenhum assunto é tratado com a devida profundidade que merecia. Nenhum personagem é complexo o suficiente, nem mesmo a protagonista, pois é impossível ler a história e não ficar 100% do lado de Ligia. Mas, tirando os óbvios vilões, não seria interessante saber um pouco mais dos outros personagens e entender o por quê de seus atos?

Uma boa leitura, mas deixa a desejar nesses pontos.
Displaying 1 - 30 of 89 reviews

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