Adélia Prado se firmou no cenário da poesia brasileira contemporânea logo quando da publicação de seu primeiro livro, Bagagem. Desde então, religiosidade, erotismo e cenas do cotidiano estão presentes em toda a sua obra, evidenciando um lirismo aparentemente marcado pela simplicidade. Esta Reunião de poesia apresenta ao leitor 150 poemas selecionados dos 7 livros de poesias da autora: Bagagem (1976), O coração disparado (1978), Terra de Santa Cruz (1981), O pelicano (1987), A faca no peito (1988), Oráculos de maio (1999) e A duração do dia (2010). Uma ótima oportunidade para conhecer sua emocionante produção poética. "Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo.” Carlos Drummond de Andrade “Um dos notáveis dons de Adélia Prado é a compreensão de que abraçar a vida é aceitar suas incríveis contradições.” Ellen Watson, tradutora americana da obra de Adélia Prado “Não fui eu quem descobriu Adélia Prado, nem Drummond, nem Pedro Paulo de Sena Madureira. Ela se revelou, se desvelou, teve coragem de ir à raiz do ser para desencravar sua linguagem. Apenas facilitamos sua passagem.” Affonso Romano de Sant’Anna
Adélia Luzia Prado Freitas, is a Brazilian writer and poet. Started writing at the age of 40 which is relatively late in life for a poet. Although much of her outlook is religious, deeply Catholic, her works are often about the body. Adélia Prado's poems were translated into English by Ellen Watson and published in a book entitled, The Alphabet in the Park. (Wesleyan University Press, 1990).
adélia prado é a minha poetisa favorita. ela sempre escreve palavras que me traduzem e transpassam. a poesia dela é de uma sutileza que emociona. adélia é mineira como eu, nasceu e vive em divinópolis, uma cidade do interior pra onde eu ia muito durante a infância. as poesias da adélia tocam a minha alma, porque falam da simplicidade da vida em minas. é incrível como enquanto eu as leio, consigo enxergar os lugares, as pessoas, sentir a brisa e os cheiros sobre os quais ela fala. sinto um conforto imenso, como abraço de vó e café fresquinho com broa de fubá ou pão de queijo. adélia mistura religiosidade, erotismo e cenas do cotidiano. é uma dessas leituras que te reeconecta com as suas raízes.
obs: o meu poema favorito da adélia é "bendito" publicado em seu primeiro livro "bagagem" de 1976:
bendito.
"louvado seja Deus, meu Senhor por que meu coração está cortado a lâmina mas sorrio no espelho ao que à revelia de tudo se promete;
por que sou desgraçado como um homem tangido para a forca, mas me lembro de uma noite na roça o luar nos legumes e um grilo minha sombra na parede.
louvado sejas por que eu quero pecar contra o afinal sítio aprazível dos mortos, violar as tumbas com o arranhão das unhas, mas vejo a tua cabeça pendida e escuto o galo cantar três vezes em meu socorro.
louvado sejas, porque a vida é horrível porque mais é o tempo que eu passo recolhendo os despojos - velho ao fim de uma gerra como uma cabra - mas limpo os olhos e o muco de meu nariz por um canteiro de grama.
louvado sejas por que eu quero morrer, mas tenho medo e insisto em esperar o prometido
uma vez quando eu era menino abri a porta de noite a horta estava branca de luar a acreditei, sem nenhum sofrimento: LOUVADO SEJAS!"
3,5. Não é o meu estilo de poesia favorito e também vejo que muito do que ela escreveu não envelheceu bem, MAS acho que Dona Doida é uma das melhores coisas que já li na minha vida.
DONA DOIDA
Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora. Quando se pôde abrir as janelas, as poças tremiam com os últimos pingos. Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema, decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos. Fui buscar os chuchus e estou voltando agora, trinta anos depois. Não encontrei minha mãe. A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha, com sombrinha infantil e coxas à mostra. Meus filhos me repudiaram envergonhados, meu marido ficou triste até a morte, eu fiquei doida no encalço. Só melhoro quando chove.
esse foi meu primeiro contato com a poesia de Adélia, e, enquanto lia, eu não parava de pensar: "isso é lindo, mas não é o meu estilo". acho que aconteceu o mesmo com Manoel de Barros... talvez por focar numa vida interiorana que não é minha realidade e impede que eu me identifique plenamente? mas não sei se é isso, necessariamente, porque me identifico muito com a poesia de Drummond, mesmo que ela aborde temas semelhantes (no que tange ao interior de Minas, acho).
claro que, por ser uma coleção de poemas, é normal que eu prefira uns a outros — e foi o que aconteceu! amei principalmente aqueles em que ela falava sobre si e sobre o mundo de forma mais subjetiva.
foi um bom primeiro contato, mas não posso dizer que me sinto encorajada a ler muito mais. quem sabe no futuro?
Primeiro livro de poesia do ano! E já comecei me sentindo menos culpada por ser uma autora brasileira também. Adélia Prado é do interior de Minas Gerais e teve como padrinho literário Carlos Drummond de Andrade, o que é algo que pesa no seu currículo.
Comecei a conhecer a autora justamente com essa seleção de 150 poemas, recolhidos de diversas obras ao longo da carreira da poetisa. E posso dizer que fiquei cativada. Não só Drummond tinha razão com relação ao talento de Adélia, mas ela tem aquele quê do interior de Minas que é extremamente brasileiro, e ver isso em poesia é realmente sensacional.
Adélia faz poesia das coisas simples do dia a dia, da cozinha, da família e da fé. Poesia com jeito de cidade pequena do interior de Minas. Excelente pedida para quem curte.E sua poesia tem sempre voz feminina, o que é muito interessante, pois acaba por tratar também de questões da mulher. De um jeito interiorano, claro.
Às vezes as poesias relacionadas à fé e o jeitão de interior não me agradaram, ou me cansaram, mas eu também me sinto assim quando viajo no interior, eu acho tudo muito lindo e muito legal até um certo limite, depois canso. É uma questão puramente pessoal. Não é à toa que moro em cidade grande.
Pretendo ler mais da poetisa brasileira no futuro.
Nunca havia lido Adélia Prado, escolhi esse livro como primeiro contato com a autora e não me arrependi. Claro, existiram momentos em que o clima interiorano e a repetição de Jonathans foi cansativo para mim. Mas eu amei, amei, amei. Destaco a parte "Um jeito e amor", meus poemas favoritos estão aí; foi um suspiro a cada poesia lida. Pra mim ainda tem um outro fator muito agradável, já que sou bordadeira e vários poemas dela mencionam bordados. Achei incrível.
Uma visão feminina da poesia brasileira, mineira… Traz vários retratos da vida feminina, traz um pouco de religiosidade, da preocupação com a juventude, um pouco do fundo de quintal no interior, um pouco de romance também. Fica aquela sensação de que aquele eu poético poderia ser eu, ou poderia ser uma cena da infância da minha avó ou minha tia ou minha sogra, que moraram em Minas quando crianças, ou poderia ser alguém bem próximo de mim. Essa identificação é o ponto alto do livro.
Ler Adélia Prado, pra mim sempre é muito especial. Foi a primeira poetisa que conheci, com minha mãe declamando seus poemas e usando-os como inspiração nas suas pinturas. Fico sempre admirada com a beleza nas descrições de situações banais
Apesar de alguns poemas terem envelhecido como leite, essa coleção contem preciosidades, destaque para: Poema Esquisito ( me fez chorar ), Exausto, Para Comer Depois, Roça, As Mortes Sucessivas, Casamento e Amor Violeta.