Para Espanha, com Franco octogenário e em fim de ciclo, a revolução portuguesa não podia ter vindo num melhor momento: a oposição rejubilou com esperança, o regime cerrou fileiras. Durante o biénio revolucionário em Portugal, o ditador espanhol definhava, acabando por morrer na cama.
Manuel Vázquez Montalbán, à época uma das vozes da oposição comunista com maior presença nas páginas de jornais e nos escaparates das livrarias, entusiasmou‑se e, como um grande número de jornalistas espanhóis, entre 1974 e 1975 fez da revolução de Abril um dos seus temas.
Nestas 55 crónicas inéditas em Portugal, acompanhamos o entusiasmo do grande escritor mais conhecido pelo génio dos policiais, e a sua análise apurada daqueles tempos, por vezes precipitada e corrigida, sempre regada com doses generosas de humor, uma das técnicas mais eficazes para lidar com o sofisticado sistema censório implementado em Espanha.
Manuel Vázquez Montalbán was a prolific Spanish writer: journalist, novelist, poet, essayist, anthologue, prologist, humourist, critic, as well as a gastronome and a FC Barcelona supporter.
He studied Philosophy at Universidad Autònoma de Barcelona and was also a member of the Unified Socialist Party of Catalonia. For many years, he contributed columns and articles to the Madrid-based daily newspaper El País.
He died in Bangkok, Thailand, while returning to his home country from a speaking tour of Australia. His last book, La aznaridad, was published posthumously.
"O espectáculo de Lisboa não merece hoje os «mas» que surgem na análise política com o passar do tempo. Os casais felizes não precisam de ser surpreendidos na cama para se lembrarem de que todas as manhãs haverá um despertador nas suas vidas. A mais de mil quilómetros de distância, resta-nos contemplar a cena e lamentar não ter ido de chapéu para o tirar, num gesto de profundo respeito e admiração. Quem conhece Lisboa bela, ampla, clara, manchada pelos lemas dos feiticeiros, e imagina uma Lisboa bela, ampla, clara, livre, cheia de crentes na razão e na lógica histórica, é tomado por essa doce inquietação do mirone. Haverá muito turismo espanhol em Lisboa. É provável que Lisboa venha mesmo a substituir Perpignan nas nossas peregrinações, e não exactamente para ver o deslumbrante streaking de Laura Antonelli ou de Burt Reynolds, mas para comprar, a qualquer preço, um pequeno souvenir de liberdade."
Livrinho que reúne as crónicas do escritor espanhol nos anos de 1974/75 sobre a revolução mais bonita de sempre. Foi bom rever alguns destes acontecimentos e sentir a admiração que vinha do outro lado da fronteira, pelo caminho que Portugal estava a fazer rumo a uma democracia, enquanto Espanha continuava a lutar para sair da sua ditadura.
(PT) As aventuras de Manuel Vázquez Montalban como jornalista, no 25 de abril de 1974, numa altura de transição na politica espanhola. Movendo-se cuidadosamente numa imprensa espanhola vigiada, tenta contar com humor e um pouco de absurdo, como andam as coisas em Portugal, nos tempos pós-revolução.
Não conhecia ainda Vázquez Montalbán, e agora descobri um cronista certeiro, perspicaz e cheio de humor. Ele viu longe naqueles dias de esperança e de incredulidade, como talvez só quem visse de fora, da vizinha Espanha ainda em ditadura, o pudesse fazer. Agora fiquei curiosa com o seu detective Pepe Carvalho...