Francisca é uma fugitiva. Esconde-se do passado, marcado pela violência. Em Lisboa, juntamente com a mãe e a irmã, forjou uma nova vida para as três, mantendo-se na clandestinidade à custa de árduos sacrifícios.
Só quando canta reencontra o seu lugar. É através da sua voz que alcança a realidade paralela que lhe alimenta a verdadeira identidade, uma frágil luz interior que sente minguar a cada dia que passa.
A sorte pareceu favorecê-la depois de ser contratada para cantar no clube Álibi e conhecer Pedro, mas é quando acredita que os seus dias negros chegaram ao fim, que a realidade a irá confrontar com os seus piores pesadelos.
Nasceu em Lisboa em 1978. É médica e escritora. Fez a especialidade de Ginecologia e Obstetrícia e a Subespecialidade de Medicina da Reprodução. É uma leitora compulsiva e apaixonada por histórias desde que se conhece. O seu primeiro romance, A Terceira Índia, foi publicado em 2020. Vive com o marido e os filhos, a cadela e o gato.
A Iris tem realmente um dom para este tipo de literatura. Acho que não a ofendo se disser que é um Nicholas Sparks mais original, mais variado e com um sorriso mais bonito.
Quando a Iris disse que tinha um livro prestes a sair, implorei-lhe que mo mandasse. Tenho tempo? Nem por isso, mas não perderia por nada a oportunidade de o ler e, quem sabe, dar um parecer ou outro sobre a história - reparem que acabei de publicar o meu sétimo livro e os conselhos que recebi sobre o enredo foram cruciais para o produto final! Dispus-me a isso e, sorte a minha, a Iris concordou.
Fui desde logo arrastada para aquelas personagens, para a estranha autenticidade que a Iris empresta às pessoas que lhe saem do punho. Compõe uns ramalhetes muito realistas, muito humanos - e depois, claro, faz ali uma feitiçaria qualquer com a química das personagens principais a ponto de haver faíscas a saltar das páginas.
Gostei muito da Francisca e da sua coragem, e achei a premissa principal do livro muito premente. Quando se escreve sobre violência doméstica, às vezes podemos esquecer-nos da impotência dos filhos naquele ambiente, mas é precisamente esse o pilar que sustenta este livro: a relação de interdependência emocional dos pais, a mágoa que isso traz aos filhos, a incompreensão de outros membros da família. O livro aborda outros temas pesados, mas consegue oferecer-nos um equilíbrio entre essa carga e uma certa leveza a que as personagens da Iris parecem sempre aspirar, uma certa rebeldia, garra, luz, que nos faz torcer tanto pelas suas protagonistas.
Lê-se muito rápido e, no final, fica a angústia de sabermos que está aqui representada a realidade de muitas famílias, mas fica também o travo doce do amor e da superação.
esta experiência de leitura foi uma cadência, como uma música, que começa baixa, lentamente e vai subindo, criando ondas, revoltando-se e que nos deixa no auge.
quero dizer com isto que começa bem e agarra, mas houve uma parte em que senti que haviam duas situações muito fortes e muito intensas para serem tratadas e que não era fácil dar o devido destaque ao mesmo tempo.
mas a Íris conseguiu tornar o final galopante e arrumar todas as gavetas, dando sentido e ligação.
a escrita da Íris está mais madura, um tom mais profundo, continua a ser envolvente e a prender o leitor, com capítulos curtos e com personagens bem construídas.
mas houve algo aqui que não funcionou a 100% comigo. não senti uma química real entre a Francisca e o Pedro, faltou-me qualquer coisa aí e desmotivou-me um pouco, porque só conseguia fazer comparação com a Julie Blue e a forma como fui arrebatada por esse livro.
os temas centrais da história são bastante fortes, como principal e que é todo um universo de maldade, a violência doméstica: que se espalha como um cancro, não só na vítima "principal" que costuma ser sempre a mulher, mas também aos filhos e, neste caso, às filhas Francisca e Mariana.
não é um livro leve, é bastante duro, com algumas descrições difíceis de ler, mas das quais não quero falar para não contar mais do que devo. são temas frágeis, fraturantes, em que a mulher é maioritariamente aquela que sofre.
Escrever sobre um tema tão forte como a violência doméstica é um risco, acho eu. Porque já há tantos livros com esta temática, porque não sei se será fácil para o autor imprimir o realismo necessário… mas a Iris conseguiu! Parece-me que a decisão de tratar o tema partindo do ponto de vista da filha faz toda a diferença: porque os filhos também são vítimas na espiral de terror que se instala quando há violência. Mais uma vez, uma protagonista lutadora e cheia de autenticidade. Uma miúda que teve de amadurecer à força, que teve de agarrar nos destroços da sua família e recomeçar. Uma miúda rebelde… a Iris dá sempre uns pozinhos de rebeldia às suas protagonistas, o que nos prende e deixa em suspenso para saber o que vai acontecer. E esta tem um excelente gosto musical! Recomendo!
Esta foi a minha primeira experiência com a autora Íris Bravo, cujo nome já tinha ouvido em elogios rasgados e recomendações do género: "Tens que ler, vais adorar."
"O Som em Mim" faz o tempo desaparecer, quer pela simplicidade da história, quer pela profundidade das personagens e dos temas abordados. É uma leitura fluida e envolvente, mesmo sem grandes surpresas ao longo da narrativa.
A história é sustentada por duas linhas principais: o presente de Francisca (ou Bicho, como é carinhosamente chamada) e o seu passado, repleto de segredos e traumas. Estes dois elementos misturam-se para criar uma protagonista forte, desconfiada e fria, mas profundamente humana.
"O Som em Mim" é o retrato de uma filha que enfrenta os seus fantasmas enquanto tenta equilibrar uma família disfuncional. É também uma representação de uma geração que luta contra a violência doméstica e os resquícios do patriarcado.
Com uma narrativa cheia de sequências e consequências, este é um livro que deixa pouco por dizer. Gostei especialmente da forma como explora a importância da família e da voz da protagonista, que luta incessantemente para manter todos à tona.
Adoro a Iris, enquanto autora, é, para mim, uma das mais completas autoras portuguesas contemporâneas. A escrita é incrível, as estórias são envolventes e muito reais, mas tenho a dizer que neste livro ela superou-se. O som em mim merece e deve ser muito lido e muito falado.
Quando lemos sobre um tema que é recorrentemente retratado ficamos sempre com receio de ser mais um livro, mas este "O som em mim" não é mais um livro. Inteligentemente a visão da protagonista não é de vitima direta, mas de indireta ou secundária. É um pormenor bastante importante porque retrata a impotência dos espetadores, daquelas pessoas que assistem constantemente às mais variadas formas de violência e não conseguem ajudar a vitima principal.
Assim, a Iris trouxe-nos a estória da Francisca, uma menina cheia de sonhos, presa num ambiente familiar violento. Francisca aparentemente tem uma vida perfeita. Criada num ambiente de abundância, teve acesso à melhor educação, às melhores festas, à melhor casa, mas nem tudo é cor-de-rosa na vida de Francisca. Vê a mãe a definhar dia após dia, vitima de um agressor em posição de vantagem que, em vez de as defender e proteger, é o responsável por lhes incutir os atos mais vis e dolorosos . Assim, a Francisca, com medo de perder a mãe, só vê uma solução... fugir com a mãe e a irmã para garantir que têm um futuro, que têm uma possibilidade de sobrevivência.
A Francisca não me fascinou imediatamente. Ao contrário das outras protagonistas, não morri logo de amores por ela. Inicialmente senti que tudo lhe acontecia.. que tinha uma veia de mártir vá. Irritava-me um bocadinho. A Francisca é precipitada, explosiva e, por vezes, faz por magoar quem mais a apoia. Aos poucos fui aprendendo a gostar dela. Senti a solidão dela. Valorizei a luta inglória dela para manter aquela família disfuncional à tona. E quando tudo se começa a desmoronar senti realmente toda a dor e impotência dela e desmoronei com ela. A Francisca é uma sobrevivente.
O Pedro também não é um protagonista típico, mais distante, percebe-se depois porque a Iris brilhantemente não lhe dá muito foco. No final todos vão querer este Pedro. O Pedro vai tentar ajudar a Francisca, mas chega a uma altura que percebe que vai ser difícil demover a Francisca e que isso só a vai magoar. A capacidade analítica dele a longo prazo, vai permitir minimizar os danos.
A mãe da Francisca está super bem construída. Todos nós, ao ler, vamos visualizar 2 ou 3 pessoas naqueles traços comportamentais. Ela irritou-me tanto, senti vontade de abana-la, mas são exatamente esses os sentimentos que quem está de fora e assiste ao comboio a mover-se contra o muro, sente e daí a escrita da Iris ser tão especial.
As personagens da Iris são, portanto, imperfeitas, mas tão reais. Elas têm várias camadas, despertam constantemente sentimentos contraditórios. Este é o dom que a Iris tem, de construir personagens credíveis, cruas e reais, tão verdadeiras quão intensas.
Esta estória é tão forte, tem passagens tão cruas. Na fase final, não consegui parar de ler. Foi tão avassalador. Eu chorei tanto, mas tanto. Fiquei completamente arrasada e temi por momentos, o pior dos piores. A Iris criou o final perfeito mas foi difícil, muito difícil.
Para finalizar quero só agradecer à Iris por este livro e por introduzir nele um velho amigo nosso, o inspetor Alex. Adorei revê-lo e espero que venhamos a ter a estória dele.
Cada livro que a Íris escreve, cada vez escreve melhor. Livros deliciosos mesmo. Adoro e recomendo. A minha opinião em breve no Livros à lareira com chá!
Foi o meu livro de estreia com a Íris e que boa experiência! Li dois terços do livro de uma só vez tal era a ânsia por terminar o livro e saber o destino daquelas personagens. Sinto que a Iris fez jus à impotência que uma mulher, naquelas condições, sente perante a justiça. Recomendo muito!
Fiquei rendida a este livro logo desde as primeiras páginas. Foi a minha estreia com esta autora porque era o tema que mais chamava por mim, apesar de ser sempre arriscado ler sobre violência doméstica, temática sobre a qual tenho algum conhecimento prático e sou bastante crítica. Contudo, gostei bastante de ter sido narrada de vários pontos de vista, não só da mais habitual visão típica da esposa, mas também das filhas, especialmente da destemida Francisca. Achei que a dicotomia emocional da Mariana foi bastante bem retratada pela escritora. Apesar de ter achado que o meio do livro engonhou um pouco, o final voltou a acelerar, captando toda a minha atenção. Guardarei na memória estas três mulheres de coragem, cada um à sua maneira única.
Não há nada melhor do que começar o ano como uma história que nos agarra do início ao fim. Começa devagarinho, vai-se enredando e começamos a virar as páginas naquele sufoco de que não queremos que corra tudo mal. Com um passado marcado pela violência é impossível não torcermos pela heroína Francisca logo desde o início. Em cada vitória, em cada nova reviravolta que enfrenta, em cada plano que inventa, em cada canção que canta.
Adorei ❤️ A @iri.bravo conseguiu passar a emoção, a tristeza, a impotência, a coragem, a resiliência, a angústia e o altruísmo. Sempre com os livros e a música muito presentes, trouxe-nos (infelizmente) o retrato de uma vida como tantas outras.
Este livro tornou-se um dos meus favoritos de uma autora portuguesa.
Como sempre, avancei para esta leitura sem ler nada sobre ela, simplesmente porque a capa e o título me chamaram a atenção. A única coisa que eu sabia é que a protagonista Francisca compõe e canta músicas, algo que tem em comum com a Melissa, a protagonista do meu segundo livro «Quando o Sol Aparecer».
Mas eu não estava à espera de gostar tanto desta história, de me sentir tão conectada com ela, e de ela me agarrar tanto. Já tinha gostado do primeiro livro e da escrita da Iris Bravo, «A Terceira Índia», mas não tinha sentido um verdadeiro clique com a história. A conexão que senti com este foi incrível.
Este livro aborda vários temas pesados, mas está tão rico e bem construído, que sinceramente, eu não sei porque não há mais gente a falar dele. Neste livro temos vários crimes, como o crime de violência doméstica, mas não só. E adivinhem? Temos um julgamento e algum conteúdo jurídico, muito bem construído, na minha opinião, algo que para mim, enquanto ex-advogada, foi super interessante e que é sempre algo que gosto de ler. Recomendo imenso!
4,5* Este é o quarto livro da Iris que leio, mas para mim o melhor. Uma história sobre violência doméstica e o impacto que isso origina na vida dos filhos. Uma história triste e angustiante numa altura em que em Portugal já morreram 9 mulheres por violência doméstica, só nos primeiros seis meses deste ano.
3.5 🌟 Este livro retrata um dos temas mais actuais da nossa sociedade, a violência doméstica. Não o faz de uma forma ligeira, prende-nos às personagens (uma mãe e duas filhas) que ao verem-se "livres" de um pesadelo, passam a vida a olhar "por cima do ombro". Numa escrita simples, a autora descreve-nos, o medo, a aflição, o desespero... Mas também nos dá a perspectiva que dói mais...."E quando se "tem sentimentos" pelo agressor? Como é que fazemos ? Como lidamos com esse misto de emoções?
Foi o livro em que, ainda nas primeiras páginas, me fez chorar. Família, amor, resiliência, mudança... São tudo temas presentes neste livro. A realidade que muitas mulheres vivem e que têm medo de dizer. Mas no fim, é o amor que prevalece. Adoro todos os livros da Íris 💖
4,5* Este é o 4.o livro da Iris e para mim o melhor. Uma história sobre violência doméstica e o impacto que isso origina na vida dos filhos. Uma história triste e angustiante numa altura em que em Portugal já morreram 9 mulheres por violência doméstica, só nos primeiros seis meses deste ano
Que livro… estou sem palavras, é sempre tão difícil avaliar um livro que fala de um assunto tão mas tão doloroso como este. Francisca, Mariana, Teresa três mulheres que sofreram tanto nas mãos de um maldito que a única coisa que fez foi dar-lhes sofrimento e o apelido de família. Que livro avassalador, a Francisca que orgulho desta personagem, que lutadora, que contra tudo e contra todos protegeu a sua mãe, a irmã e todos os que pela sua vida passaram, a sua dor fez-me chorar e ao mesmo tempo conseguiu arrancar-me um sorriso. Um livro que fala sobre assuntos tão importantes, que me fez ficar mal disposta com alguns temas, mas que me deu um prazer enorme ler, não o tivesse eu devorado em apenas um dia. Que orgulho destas personagens, dos seus caminhos e de quem são mesmo depois da dor, mesmo apesar da dor. Não me posso esquecer também de Alex, Tiago ou Pedro que foram tão fundamentais na vida de Francisca e de tudo aquilo que ela conseguiu ultrapassar.
"Eu tenho sempre medo de alguma coisa, a minha cabeça é incansável a construir derivações paralelas de cenários catastróficos e possíveis soluções para cada um. É muito engraçado que eu seja a fã número um do João Sem Medo, porque me tornei na sua antítese."
Um tema muito importante que me toca no coração. Identifiquei-me, tanto felizmente como infelizmente, com muitas características e pensamentos da personagem principal. Desde a partilha do mesmo nome à sensação de querer largar-se de uma versão amedrontada e toldada pela vida repleta de dificuldades. Tocou-me a forma como fez da música o escape da personagem, realçando o quão importante pequenas coisas podem ser na vida de quem vive com medo de viver o último dia, todos os dias.
Um dos melhores livros deste ano e, certamente, um dos favoritos da vida. Sorri, ri e chorei…não houve uma página que não me fizesse sentir durante a leitura deste livro! Uma história maravilhosa, na escrita genial a que a autora nos habituou, com personagens inesquecíveis. Quem me dera poder lê-lo pela primeira vez novamente 🤍
"Afinal, não serve de muito ser-se rico, se as mães levam na tromba à mesma. A diferença é só o tamanho da casa, a merda lá dentro é a mesma."
A capa lindíssima esconde uma história escabrosa. Este é o livro mais impactante de Íris Bravo que se estreou com A terceira Índia, uma história bem mais leve e que não me cativou tanto.
Oriunda de uma família abastada, Francisca deseja fugir ao destino de uma vida de violência. Dona de uma personalidade forte e destemida, decide sair do conforto de uma vida sem qualquer preocupação a nível monetário para passar a ser uma fugitiva. E com ela leva a irmã mais nova e a mãe.
É em Lisboa que se estabelece e começa a criar uma vida, longe do perigo. Mas nem tudo são rosas já que Francisca tem de lutar pelo sustento da família e continuar na clandestinidade. Ninguém, nem mesmo a adorada avó pode saber onde se encontram.
Esta é uma história dura, mas que retrata bem as pessoas vítimas de violência doméstica. Na sua maioria, quem sofre é que tem de fugir, enquanto o criminoso continua a viver no conforto do lar como se nada se passasse.
O estigma da violência, o deixar um casamento planeado e sonhado, a solidão, a procura por uma nova vida depois de tantos anos dedicada àquela pessoa tudo isso é retratado com a mestria de Iris Bravo. A autora criou uma história dura, mas com alguma doçura à mistura. Francisca é um doce de menina. Tudo faz para mudar a vida de sofrimento da família e isso vai recompensá-la com a descoberta de um novo amor e uma carreira na música.
A Iris Bravo é uma das minhas escritoras nacionais preferidas. E, este livro, reforça, ainda mais, esse sentimento.
Temas importantes, personagens reais e uma escrita cativante e fluida que nos prende desde a primeira página.
“O Som em Mim” conta a história de Francisca - uma rapariga que decide fugir do pai abusador com a mãe e a irmã Mariana. As três deixam para trás uma vida marcada pela opressão e violência e tentam, em Lisboa, encontrar a felicidade. Foi numa dessas vezes que Francisca se sentiu verdadeiramente feliz: a cantar. O que ela não esperava era a reviravolta de acontecimentos que a iriam marcar para sempre…
A escrita da Iris nunca desilude. As personagens, à semelhança dos outros livros, estão muito bem construídas e inspiram-nos (já estamos habituados a que assim seja eheh). Os temas são muito relevantes e, infelizmente, refletem a realidade de muitas pessoas.
Um livro sobre superação. Relação entre mãe e filhas. Amor. Violência . Força. Família. Laços que nos unem. Determinação.
Às vezes, “o amor” é opaco mas é encarado como se fosse transparente. E é por isso que este livro é tão importante! É um alerta. Um apelo à empatia e à consciencialização do caminho que ainda temos de percorrer nas injustiças que marcam o feminino.
Apesar de ter gostado bastante e achar que a Iris tem vindo a evoluir imenso enquanto escritora continuo, por opinião pessoal, muito fiel à Julie Blue.