O morro da Pena Ventosa fica lá no cimo, nesse Porto antigo, onde dizem que nasceu a cidade. No morro da Pena Ventosa, as casas encavalitam-se umas nas outras e nelas sobrevivem a custo os velhos moradores, aqueles que construíram a invicta e que o turismo e a modernidade vão empurrando para os subúrbios. No morro da Pena Ventosa, são as gentes que dão o colorido às vielas escuras aonde o sol quase não chega e onde subsiste a memória coletiva de um povo que se diz tripeiro. E é no morro da Pena Ventosa que vivem as personagens deste livro, a Beta e a avó, a D. Lisete e o Dr. Belarmino, o Navalhadas e o Fulminantes, o Luís Miguel Ideias e O-da-Pastinha, nessa janela com vista para o Douro. Ou assim é até a narradora nos trocar as voltas.
Mais umas palavras daqui a uns tempos. Agora tenho de descansar.
Já estou descansada, vamos lá divagar sobre este Morro. Aviso já que tudo o que vier a seguir será spoiler. Estão avisados!
Este livro estava no expositor de novidades da biblioteca. Nunca li nada do autor, por isso, porque não experimentar?
Comecei a leitura e pareceu-me um guia turístico da cidade do Porto. Mais à frente percebi que a narradora, Elisabete, mas como estamos no nuorte, é a Béta, tem como profissão, adivinhem: guia turística! Tadah! Isto explica a minha sensação inicial. Lá vamos pelas ruas, ruelas, morros, fontanários, igrejas, chafarizes, cemitérios e outras coisas mais da cidade do Porto, até há recomendações de sítios para almoçar, já que a nossa Béta leva os grupos de turistas a vários locais, muitos não tão conhecidos da cidade, outros mais. Repetiram muitas vezes a Cadeia da Relação onde esteve o grande escritor Camilo Castelo Branco. Já percebemos, Béta. Também fala no FCP, óbvio, e numa coisa que devia ser uma cena na juventude de Béta, ir ao Bairro do Cruzinho tirar o quebranto. Alguém ouviu falar? Penso que seja uma espécie de mau olhado...
A nossa Béta mora com a avó no n.º 42 do Morro da Pena Ventosa e vai, numa espécie de formato diarístico, narrando a alguém que, no início não se percebe quem é, episódios da sua infância, da vida da sua avó, do seu avó e dos seus pais. Claro que isto não podia ser só um guia turístico, por isso também temos o problema da gentrificação, pois os senhorios querem o imóvel onde a Béta mora para alojamento local, e assim a essência dos bairros perder-se-á. As milhentas ilhas que se fizeram irão desaparecer, assim como os portistas de gema. Se a Béta tivesse um milhão de euros, não havia problema, exercia o direito de preferência, mas não tem, por isso, após a morte da avó vai para outro sítio já não tanto no coração da cidade.
Não sei para onde é que ela vai, já que só consegui ler até à página 231 e pensei: Caraitas! Não aguento mais isto! Então, passei os olhos pelo resto do livro e comecei a perceber que o rio Douro estava a secar e fiquei hã? Fui ler a contracapa e vi as palavras realismo e mágico e pensei, está tudo explicado! Não sei se o rio Douro volta a ter água, nem me importa. Aborrecimento de morte!
Resumindo: guia turístico, uma narradora que tem uma amiga imaginária, a tal a quem se dirige no seu diário, narradora essa que escreve num caixão e, a cereja no topo do bolo, um rio Douro seco.
Não pensem que é tudo mau, gostei de saber alguns pormenores sobre a cidade do Porto: a história de C.S. e Urbino, que estão no Cemitério do Prado do Repouso, um nome bem bonito para um cemitério, digo já; a existência do Rio Vila, que corre por baixo da cidade; a origem do termo tripeiros, que não conhecia e mais umas coisitas. Mas, claramente, isso não foi o suficiente para levar este suplício até ao fim.
Este livro leva-nos a esse nosso coração portuense que late aflito. Estamos na artéria principal, plena Sé, outrora mundo de bairrismo, hoje a very typical gourmet experience. Mas por lá ainda encontramos a Beta e a avó, a Lisete e o Navalhadas, entretidos na sua vida de ser Porto até mais não. O autor consegue a proeza de não romantizar o passado saudoso que já não existe, e até o maldito alojamento local aqui vai ter algo de digno, pois serve de teto a O-da-Pastinha, personagem importante. Se há homenagem, esta é feita aos idosos. Se há mensagem é a de que a cidade é um ser vivo em constante mudança. Aprendi que a variação dialetal do português europeu encontra uma resistência no noroeste do país que dá um caso de estudo interessante. Ao contrário do resto do território, que progressivamente vai integrando as formas lexicais, fonéticas e semânticas da língua padrão (eixo Coimbra/ Leiria/ Norte de Lisboa), o noroeste tem vindo a afastar-se ainda mais. O nosso dialeto sofre alterações, criam-se ditongos e novos sentidos para as palavras, mas com uma evolução própria, que nada tem a ver com a do português padrão. O linguista que propõe esta visão justifica o fenómeno no facto de haver um traço etnográfico tão marcado na região, e tão único em contexto continental, que faz com que os seus habitantes falem como lhes apetece, seja em ambiente familiar ou formal, atravessando classes sociais, estando-se nas tintas para a valoração que os de fora dão ao seu dialeto (e suas variedades regionais) e sendo cada vez menos frequentes os fenómenos de hiper-correção entre os mais jovens. Isto é científico, não é matéria de intuição ou palpite, e diz muito sobre quem por cá mora. Rui Couceiro conseguiu traduzir esta raça (no sentido figurado, obviamente, e não biológico) nortenha neste "Morro da Pena Ventosa" e penso que isso, vindo de um portuense como eu, será o melhor elogio que lhe posso fazer.
A narradora é uma mulher que escreve na primeira pessoa, em capítulos curtos que fazem avançar rapidamente esta história de memórias. A cidade do Porto, mais exatamente a Sé, é a co-protagonista, juntamente com Elizabete que é guia turística e que, nos conta rocambolescas peripécias dos seus habitantes. Contudo, a história não é apenas saudade e afetos. Também comporta dor e temor. Os mesmos turistas que lhe davam o pão tiravam-lhe o teto.
Admirável a escrita de Rui Conceiro numa história muito atual que prende e convence. Admirável o pulsar da cidade do Porto que se sente. Admirável a personagem feminina de língua solta que queremos conhecer. Admirável os temas que aborda com sensibilidade e bom senso como a velhice, a solidão, as alterações climáticas, as doenças mentais e a morte. E sem esquecer, o tema óbvio do turismo e da exploração imobiliária.
Um delírio para o desfecho sobre a falta de água nesta homenagem ao Porto e à Sé onde fica o Morro da Pena Ventosa.
"Aqui, na Sé, ainda moram alguns dos de cá. É gente de uma estirpe muito resistente, mas que todos os dias se perde, mais até do que noutras partes da cidade, menos povoadas pelas cãs diante das quais é nossa obrigação levantarmo-nos. Há, por aqui, mulheres e homens com os corpos e as almas habituados aos declives da vida. "
O morro da Pena Ventosa situa-se na Sé, zona muito antiga e característica do que é ser portuense, ou como muitos nos chamam, tripeiros ( e com muito orgulho). É no morro da Pena Ventosa, onde as casas são velhas mas cheias de História que encontramos Elisabete, ou para os que a viram crescer, Beta. Devido às vicissitudes da vida Beta vive desde muito pequena com a avó que é a sua pessoa, a sua amiga, confidente e os pais que ela não teve. Beta adora a avó e adora a sua Sé, as ruas antigas, os monumentos e as histórias da cidade e por isso torna-se guia turística para assim dar a conhecer às centenas de turistas a magnífica cidade do Porto. Beta tem como companhia um caderno onde escreve sobre o seu dia a dia e sobre os seus pensamentos mais íntimos e por vezes impossíveis de concretizar, para Beta a escrita é como respirar, é a extensão do seu ser.
"...a escrita é refúgio, é salvação e é também sonho, o degrau apontado ao céu de uma escada que conduz a outra versão de nós mesmos."
Através dos escritos de Beta vamos conhecer detalhadamente não só as ruas do Porto mas também as fantásticas personagens que habitam no morro da Pena Ventosa: O-da-Pastinha, um homem que não tira os olhos do telemóvel e que anda sempre com uma pasta na mão mas que não consegue disfarçar a sua solidão; os dois criminosos da zona, o Toni Fulminantes e o Navalhas, dois homens de meia idade que se odeiam; a D. Lisete que seduz os vizinhos com o aroma delicioso dos seus cozinhados e a D. Fátima que tem como única companhia o gato Pitosgas e o Rio Douro como confidente, são alguns exemplos das personagens fascinantes neste livro. Com uma escrita soberba e hipnotizante Rui Couceiro, neste seu segundo romance, faz uma linda homenagem à cidade do Porto que acaba por ser também uma personagem, com a suas gentes genuínas, a sua História, os seus monumentos e tradições. Este livro, para mim, portuense de gema foi uma leitura encantadora e viciante e é impossível ficarmos indiferentes à sua magia onde por vezes o real e o imaginário andam de mãos dadas com a Sé e a Ribeira como pano de fundo.
Na minha infância, Porto era uma cidade mais ancestral, muitos edifícios estavam abandonados, mas sentia-se sempre a história da cidade em cada um dos seus mais nostálgicos cantos. Deleitava-me com os livros em segunda mão nos alfarrabistas, com a Torre dos Clérigos, a avenida dos Aliados e os seus edifícios majestosos, os docinhos portuenses, a estação de S. Bento e os seus magníficos azulejos, a Ponte D.Luís a espraiar a sua vista na Ribeira, a vista da Sé. . . Vinte anos mais tarde, mudar-me-ia, devido a motivos profissionais, para esta cidade. Desde então, a cidade mudou, tornou-se mais turística, ouve-se mais inglês que português na rua. E nunca paramos para pensar que todos os alojamentos turísticos que, entretanto, apareceram implicaram que os seus moradores mais antigos fossem despejados e obrigados a viver na periferia. . . “O morro da Pena Ventosa” é uma homenagem à cidade natal de Rui Couceiro, e é uma ode magnífica ao Porto e às suas gentes. Vivemos a história da cidade Invicta, desde os rios que existiram por baixo dela, o jardim da Cordoaria, o túmulo de Camilo Castelo Branco, as carquejeiras do Porto, os caminhos e as gentes da Sé. Há tantas histórias, lendas e mitos sobre esta cidade que as pessoas do Porto não podem ficar indiferentes a esta ode. <3 O Morro da Pena Ventosa faz parte da alma da cidade, e as suas gentes não podem ficar esquecidas. . . É também uma escrita de realismo mágico, ainda mais brilhante que "Baiôa sem data para Morrer", onde podemos viver a escrita divertida, nostálgica e interessante de Couceiro.
"uma história que te contei em conjunto com outras: a de um lugar que é mundo, o morro da Pena Ventosa; a de uma pessoa que era tudo e de verdade, a da minha avó (...)"
O autor transforma o bairro histórico da Sé, no Porto, numa espécie de guia turístico literário. Leva-nos a subir e descer ruas, vielas e escadarias, dando a conhecer moradores pitorescos...figuras excêntricas que carregam memórias e histórias do bairro. A narrativa revela a vida do bairro em todas as suas cores, mostrando pequenas transformações que tornam a cidade viva e única. A narrativa cheia de expressões típicas dão autenticidade e fazem sentir o pulsar da vida no Porto. A cidade torna-se, assim, um verdadeiro protagonista. “Se na nossa cidade há quem troque o b por v, há muito pouco quem troque a honra pela infâmia, e a liberdade pela servidão.”
A escrita combina realismo com realismo mágico, mostrando o quotidiano do bairro de forma detalhada, mas ao mesmo tempo com pequenos elementos que tornam a cidade quase encantada. Mas há momentos em que a narrativa se arrasta e se tornou, para mim, um tanto secante... muitas partes poderiam ser mais curtas,...e como se costuma dizer, muitas vezes o menos pode ser mais. Mesmo com menos páginas, o Porto continuaria a revelar toda a sua beleza e personalidade...mas isto é apenas a minha percepção muito pessoal.
================ 𝗡𝗼𝘁𝗮 𝘀𝗼𝗯𝗿𝗲 𝗼 𝗮𝘂𝘁𝗼𝗿: Rui Couceiro (n. 1983, Porto) é escritor e editor português. Licenciado em Comunicação Social, publicou o romance Baiôa Sem Data para Morrer (2020). Morro da Pena Ventosa confirma o seu interesse pelo Porto e pelas suas histórias. Como editor da Quetzal, contribui para a divulgação da literatura portuguesa contemporânea e mantém um profundo respeito pela palavra escrita.
Fonte: Couceiro, Rui. Morro da Pena Ventosa. Porto: Quetzal, 2023.
Numa escrita admirável o autor leva-nos a passear pelas ruas do Porto. Uma história de saudade e afetos, dor e temor, de velhice e solidão, de doenças mentais, da morte e da exploração imobiliária que assola as nossas cidades. A ligação da protagonista com a sua avó, trouxe-me algumas lágrimas ao remeter me para a minha infância e para a ligação que tinha com a minha avó.
Foi no Alentejo, entre os cinco livros que levei para apenas três dias, que reencontrei o Porto. E é entre o Porto mais antigo e, muitas vezes esquecido, que encontramos o Morro da Pena Ventosa. Porque é no berço da antiga, mui nobre, sempre leal e invicta, onde as casas se amontoam e os velhos moradores parecem esquecidos, que encontramos as personagens que preenchem este livro: a Beta e a avó, a D. Lisete e o Dr. Belarmino, o Navalhas e o Fulminantes, o Luís Miguel Ideias e O-da-Pastinha. Não há outra forma de dizer isto: O Morro da Pena Ventosa, de Rui Couceiro, é uma carta de amor ao Porto. E, muito provavelmente, é a carta de amor mais bonita que eu já vi ser escrita ao Porto. Há muitos textos e crónicas por aí que declaram o seu amor ao Porto e às suas gentes, mas o Morro da Pena Ventosa está noutro patamar. Enquanto percorria estas páginas, estar no Alentejo a quilómetros e quilómetros de distância do meu Porto parecia-me quase sufocante. Não era ali que devia estar. Devia estar, sim, a percorrer os caminhos que Beta fazia com os grupos de turistas a que mostrava a cidade, em busca dos monumentos e dos sabores que teimamos em esquecer por serem para nós tão familiares e acessíveis. Mas esta não foi a única coisa que me conquistou neste livro. Toda a forma como esta história nos é contada, todo o mistério em volta do recetor que este narrador tanto procura e todas as reviravoltas que vamos encontrando acabaram por também contribuir para o quão agarrada me senti a este livro. Este livro soube-me a refúgio, a reencontro. E pareceu-me só mais uma prova de uma teoria que tenho já há alguns anos: fosse de que forma fosse, mesmo que eu não tivesse nascido e morado por lá 90% da minha vida, eu iria sempre acabar por me apaixonar pelo Porto. Agora, fica a vontade de me perder nos trajetos relatados neste livro, de ler mais coisas de Rui Couceiro e de saber o que acharam deste livro caso já o tenham lido.
Este é um livro estranho, porque desigual. Não gostei do início, que me pareceu desinteressante e com uma escrita algo pretensiosa. No entanto, a partir, mais ou menos, da página 20, entusiasmei-me. Senti que tinha em mãos um livro com gente dentro. E a grande literatura é isso!
A maior parte do livro é feita de uma escrita sensível, que nos revela personagens que poderiam ser da nossa família ou da nossa vizinhança, caso sejamos gente do Norte. A utilização de expressões que me habituei a ouvir desde criança dá espessura e verosimilhança às personagens.
Só que, a dada altura, já não bastavam as derivações a cair para o guia turístico da cidade do Porto, ainda somos confrontados com a transformação da narrativa numa espécie de distopia glicodoce.
Em suma, num único livro temos escrita para dar cinco estrelas - a maior parte da obra -, e trechos para duas estrelas. Resultado: três de nota final.
No "Morro da Pena Ventosa", as histórias e segredos de uma comunidade são desvendados com lirismo e profundidade, revelando a força e a humanidade de seus moradores em cada página. 3,5*
Foi o meu primeiro contacto com este autor e fiquei agradavelmente surpreendida. A escrita tem um tom quase poético, o que me envolveu desde o início. Gostei especialmente da forma como a narradora vai dando a conhecer as suas relações familiares (nomeadamente a relação com a sua avó), a vizinhança e até pequenas histórias ligadas à cidade invicta. Entre ruas, miradouros, cemitérios, cafés e restaurantes, sente-se o cuidado na pesquisa e uma bonita homenagem aos portuenses. Como aspeto menos positivo, destaco a introdução da realidade mágica. Essa parte não funcionou comigo e acabou por quebrar um pouco o encanto das primeiras páginas. Ainda assim, valeu a pena a leitura e o contacto com um novo autor português.
Morro da Pena Ventosa, é um romance extremamente bem escrito, mas sobre esse quesito, não tinha eu qualquer dúvida, mesmo antes de o abordar. É longo de mais – já tivera essa impressão no anterior que é superior – pese embora, reparo agora, as mesmas quatro estrelas. É importante reconhecer, aqui, que Baioa é melhor – culpe-se esta escala neo-piagetiana com apenas 5 termos. Morro da Pena Ventosa é uma declaração de amor a um Porto rousseauiano que se existiu, não existe mais e também, um extraordinário guia do centro histórico do Porto: só por isso já merece toda a minha atenção. E é muito bom. Não sou apreciador destes finais que, de súbito, saltam para um outro plano, fantasioso, distópico, whatever (Cf. Pés de Barro). Tivesse havido um editor que convencesse o RC a encurtá-lo um pouco e mereceria mesmo mais de 5 estrelas! Gostei, e regressarei às suas páginas, que anotei sem contenção, se não antes, em próxima viagem ao Porto.
What the actual fuck? 😭 Eu nunca li nada tão desapontante e tão genuinamente... triste? Porque durante as primeiras 200 páginas o livro foi tão bom! Estava a caminho das 5 estrelas, foi tão tocante, os temas desenvolvidos e o foco da escrita proporcionava uma reflexão e consciência mais profunda da natureza humana e das pessoas que são esquecidas no progresso do desenvolvimento. Era uma história linda sobre a solidão, a perda, o crescimento e a comunidade. E do nada este moço escreve-me que O RIO DOURO DESAPARECEU? PERDÃO? DESCULPE LÁ? Arruinou completamente a história ao abandonar a narrativa linda que tinha vindo cuidadosa e perspicazmente a construir para se entregar aos devaneios de uma fantasia ambiental? I'M SORRY SIR? Percebo completamente a crítica que estava aqui a ser veiculada e é algo que concordo que deva ser falado, mas não a custo de um romance que teria otherwise sido completamente lindo e enternecedor. Senhor, escrevia um contozito com este outro plot e deixava este seu livro em paz. Porque é que o tinha de tornar um Inaudita Guerra na Avenida Gago Coutinho type shit? Do nada! A rigor, a rigor, isto merecia três estrelas porque no fim ficou outra vez melhorzinho e porque a história em si (até à parte em que goes south) é maravilhosa, mas a desilusão foi tão grande que vai 2 mesmo.
edit: ok ok, estive a interpretar o livro para o portefólio e eu kindaa, kate back what i said? idk, arranjei uma maneira de que o enredo funcionasse para mim. anyway, história linda numa cidade linda, as 2 estrelas duplicam-se e tudo está bem, quando acaba bem
"Morro da Pena Ventosa" de Rui Couceiro é um retrato sociológico de uma cidade com orgulho de ser genuína. Uma ode à antiga, mui nobre e sempre leal e invicta cidade do Porto e por extensāo às suas gentes que empunham com vaidade esse jeito tripeiro.
Não é todos os dias que o cemitério do Prado Repouso, as Fontaínhas ou a Rua Escura são mencionadas na Literatura. Também não é comum que se usem expressões como "andar de cu tremido" ou "dar corda aos vitorinos", sem medo de escangalhar o produto final. Só por isso o Rui Couceiro já merece elogio.
Esta é uma história centrada em Beta, mas também cabem aqui a sua avó, Luísa, O da Pastinha, D. Lisete, o Navalhadas e o Fulminantes. Beta é uma jovem guia turística que tem a seu cargo a avó, moradoras na Pena Ventosa, na zona da Sé. A profissão é a perfeita desculpa para visitarmos alguns dos locais mais emblemáticos da cidade, levados por uma escrita cuidada.
É nesta redoma ameaçada por desafios atuais como a gentrificação, turismo de massas ou alterações climáticas, que observamos a vida destas personagens "very tipical". Especialmente de Beta, que vai driblando as dificuldades do dia a dia, numa cidade em luta entre a fidelidade às origens e a necessidade de adaptação a novos desafios.
Este é um livro de dualidades, entre tradição e modernidade, entre memória e presente, entre nostalgia e urgência. Uma dualidade que também acontece na obra como um todo, depois de uma primeira metade, digamos de apresentação e mais não digo.
Em suma, esta é uma bela homenagem ao Porto e ao ser tripeiro, onde a verdade nem sempre é o que parece. Não desminto que quem tiver interesse nesta cidade e suas gentes, tirará maior prazer desta leitura. Ainda assim, é um exercício literário bem interessante e fora da caixa.
Já tinha lido o Baioa sem Data para Morrer, livro que gostei bastante, e tinha alguma expetativa para este segundo do autor. Não me cativou da mesma forma, até porque alterna momentos de grande qualidade na narrativa com outros demasiado exaustivos. Chega a ser imensamente descritivo. Ainda assim gostei da personalidade da personagem principal e da relação com a avó.
Bom. Um Romance que tem como cenário a Cidade do Porto, a sua Alma e as suas gentes. Uma "viagem" ás suas ruas,ruelas,locais icones e factos históricos desse Porto invicto. E um olhar sob o seu Futuro e de como as suas gentes de vão adaptando aos novos tempos / mercados. Recomendo muito,em especial aqueles que vivem ou já viveram no Porto.
Neste segundo livro de Rui Couceiro continua a notar-se o amor do autor pela ruralidade, pelo que é genuíno nas cidades e nos lugares; no primeiro viajámos com Couceiro pelo vagar alentejano, neste segundo andamos pelas ruelas do meu amado Porto.
Nota-se em Couceiro o seu amor pela cidade. O autor explora sobretudo o lugar da Sé, berço da Invicta, falando do que ela foi e do que ela é hoje, com o boom turístico.
A história de Elisabete, personagem principal, é uma história comovente, terna e cativante na primeira metade do livro. Mas depois a narrativa segue por um caminho distinto, tornando-se quase distópica… Em algumas partes do livro há um exagero quanto à descrição dos lugares e da história da cidade, que o tornam aborrecido, quase uma aula de história dentro de um romance. Morro da Pena Ventosa é assim um livro que quase poderia ser dois, com uma personagem nascida na Sé, mas que fala de uma forma pouco natural - também na linguagem, no tom de voz das personagens, achei o primeiro livro de Couceiro melhor do que este.
Aplausos no entanto para um autor jovem que se propõe explorar as tradições portuguesas. Fica a curiosidade para saber para que lugar nos levará a viajar Rui Couceiro no seu próximo livro.
Um livro que me acompanhou durante todo o mês e que não foi uma leitura fácil. Senti que o saldo final foi positivo e fico com boas memórias de partes desta leitura.
Para quem quer saber mais sobre o Porto, a história da cidade, a cultura, as celebrações e a essência dos seus nativos, este livro é um guia perfeito.
Com uma escrita muito própria, passei várias vezes pelas ruas do Porto ao desta leitura. Por isso, o autor conseguiu ter o poder de me levar a viajar.
No entanto, ao longo do livro o enredo divaga muito, há momentos que chegam a ser aborrecidos e repetitivos, personagens que só servem para encher paginas e que pouco acrescentam. Este momentos quebraram o ritmo da leitura que se arrastou quase ao longo de um mês.
Senti que houve questões que ficaram por responder, nomeadamente sobre a Luísa. Gostava de ter percebido melhor e mais sobre esta figura.
Acabei por sentir que a divagação desgastou a leitura. Mas no final acabei com um sentimento bonito sobre o Porto, a mensagem e objetivo do livro ficou em mim.
Ao iniciar a leitura deste livro, somos imediatamente transportados a um tempo em que as ruas e vielas nos contavam a vida dos que lá moravam. Este livro é uma ode à essência do Porto e das suas gentes, registando em cada página a magia da alma tripeira. As descrições vividas e contadas com sotaque e sensibilidade que só os tripeiros sabem, revela-nos pormenores de monumentos icónicos, de história, de arquitetura, mas igualmente da vida quotidiana que fazem do Porto e das suas gentes uma cidade especial. Este livro é um convite para visitar cafés escondidos, tascas, mercados e livrarias que faziam vibrar a vida de outros tempos. Morro da Pena Ventosa é uma carta de amor a uma cidade que continua a deslumbrar por quem lá passa. Não gostei do pequeno desvairo do autor ao secar o rio Douro. Na minha opinião livro de leitura imprescindível.
O Morro da Pena Ventosa, localizado no antigo Porto onde a cidade teria nascido, é um espaço marcado pela convivência das casas antigas e seus moradores idosos, que resistem à modernidade e ao turismo que os empurram para fora dos bairros centrais. Nesse morro, as vielas escuras guardam a memória coletiva dos tripeiros, o povo típico do Porto. É nesse cenário que vivem as personagens do livro de Rui Couceiro, como Beta, a avó, D. Lisete, Dr. Belarmino e outros, com suas histórias entrelaçadas e uma narrativa que mistura ficção e realidade. Com um toque de realismo mágico, o livro é uma homenagem à cidade do Porto, ao rio Douro e aos seus habitantes, abordando temas contemporâneos como especulação imobiliária, mudanças climáticas que ameaçam o ambiente, e a sensação de perda, seja de espaços, memórias ou modos de vida.
Achei brilhante este livro do autor Rui Couceiro. Dos melhores livros que li ultimamente. Um romance que aborda temas atuais, tradições, personagens e dizeres de uma cidade sempre em movimento. Conheço praticamente todos os locais referidos no livro e talvez isso tenha contribuído para esta minha opinião. Mesmo para quem não é do Porto, ou que não conheça esta zona da cidade, penso que irá gostar pois os temas humanos e sociais abordados são transversais a uma sociedade por vezes desatenta e que o autor tão bem traz à tona.
"Morro da Pena Ventosa" é um retrato sensível da Sé do Porto e das suas gentes, onde Rui Couceiro entrelaça memória e ficção com mestria. A escrita é contida e elegante, revelando personagens que, embora discretas, possuem uma profundidade emocional marcante. A narrativa flui com naturalidade, embora por vezes o ritmo abrande. A introdução de elementos distópicos no final pode surpreender, mas não compromete a força do conjunto. Uma leitura que permanece pela sua autenticidade e pela forma como capta a alma de um lugar em transformação.
Foi muito bom conhecer melhor este lugar, a Sé, e as suas histórias, assim como as suas gentes, pela pena da querida, trabalhadora, sonhadora e amiga Beta, com quem tanto me identifiquei! Melhor ainda conhecer esta avó que era tudo, colo e porto seguro, a amiga inventada, confidente e suplantada, e o amor, o abraço onde cabe o mundo da fantasia. Botai sentido, este é um livro do carago!
Que livro maravilhoso! Repete algumas ideias demasiadas vezes, mas não é por isso que deixa de ser incrível. Recomendo!
"À falta daquilo que a vida nos tira e tirará sempre, que nunca nos faltem as ideias, as palavras e a imaginação, que nunca se acabem as frases e as histórias, que dure para sempre a possibilidade de criar, porque o que existe ou não chega ou é torpe ou insuportável"
Numa escrita admirável o autor leva-nos a passear pelas ruas do Porto. Uma história de saudade e afetos, dor e temor, de velhice e solidão, de doenças mentais, da morte e da exploração imobiliária que assola as nossas cidades. A ligação da protagonista com a sua avó, trouxe-me algumas lágrimas ao remeter me para a minha infância e para a ligação que tinha com a minha avó.