Ana recebe um telefonema de uma vizinha da mãe informando que Andrea desapareceu na sequência de uma série de escândalos no bairro, entre os quais o suposto sequestro de uma criança. Apesar de ter jurado a si mesma que não voltaria à casa da mulher que lhe infligiu todo o tipo de violência, Ana não consegue ficar indiferente à situação; e o que encontra no apartamento é bastante intrigante: lixo por toda a parte, pegadas de lama, móveis destruídos, garrafas vazias amontoadas no caixote. Enquanto se interroga sobre o que terá sido a vida de Andrea desde o dramático acontecimento que marcou as duas para sempre, Ana empreende uma dolorosa viagem às memórias da infância, que incluem não só uma mãe desequilibrada e alcoólica que tem um relacionamento conturbado com um homem perigoso, mas também um rapaz frágil que a faz cúmplice dos seus traumas e, por via das afinidades, se torna o seu único amigo. E, apesar de não se verem há muitos anos e de Ana o ter desiludido, é justamente a este amigo que resolve agora pedir ajuda. Com personagens inesquecíveis e desconcertantes, Não Há Pássaros Aqui é uma reflexão madura sobre o modo como aquilo que vivemos na infância determina a nossa vida adulta e como tendemos a reproduzir comportamentos a que assistimos, mesmo quando friamente os condenamos.
Num tempo em que a saúde mental é um problema à escala global, este é um romance de estreia profundamente atual que venceu o Prémio LeYa em 2023.
É um livro muito triste sobre o mais podre do ser humano. Está bem escrito e a história prende. Tenho alguma tendência para escolher livros com histórias que deprimem mas acho importante haver sempre o contraste com o belo e o bom. Neste livro isso não acontece. É deprimente do início ao fim e senti-me muito angustiada. A personagem principal é execrável, profundamente desequilibrada, mas não consegui sentir pena dela o suficiente para a entender. Se foi bom ter sentido alguma coisa mesmo que essa coisa tenha sido angústia? Sim, é essa a funçãode um livro. Se agora preciso de algo que fale da beleza da vida? Sim. Muito!
"Célia era a única pessoa que parecia agir normalmente na nossa presença. No entanto, por algum motivo, a cordialidade dessa mulher solitária parecia evidenciar ainda mais o quanto minha mãe e eu éramos duas pessoas quebradas."
Eu sei que o passado, ainda para mais um passado de abusos, pode limitar o futuro de alguém e nem toda a gente tem força suficiente para tentar quebrar o ciclo de maldade, mas isso não me impede de me irritar com esta Ana e de querer entrar no livro e dar-lhe duas no focinho.
Se gostam de almas perturbadas, este livro é para vós. Se, como eu, se irritam com pessoas más e cruéis, não leiam este livro.
3,5* Não há pássaros nem esperanças aqui. Um livro que é uma sucessão de tragédias pessoais mais ou menos previsíveis. Ana recebe a notícia do desaparecimento da mãe, com quem deixou de falar anos antes. No regresso a casa, recorda os tempos em que era uma adolescente sofrida, a morar com a mãe alcoólica e o namorado desta, o clássico brutamontes egocêntrico, que entra nas suas vidas para as infernizar. Lê-se num ápice.
“Não Há Pássaros Aqui” é um romance intenso e inquietante, que mergulha nas feridas da infância e nas marcas que carregamos sem perceber. A escrita é envolvente e emocionalmente crua, com personagens que nos desafiam e ficam connosco. Uma estreia poderosa, ainda que com momentos que me deixaram a desejar mais profundidade. ⭐⭐⭐⭐
Não chegava a meio e já sabia que este livro se tornaria um favorito, pois a minha natural tendência para histórias duras e com personagens que nos deixam angustiados fala mais alto que eu.
O autor criou um enredo e dissecou de forma exímia o comportamento e a mente humana, dando liberdade aos leitores para criar pressupostos mas acima de tudo criando um conjunto de peças que no final criaram um puzzle único para cada personagem.
Todo o livro tem dor, acontecimentos trágicos e entendo que não seja um livro para todos os leitores mas, com uma escrita tão bem conseguida e uma teia tão bem engendrada, acredito que possa ser um bom desafio para quem quiser experimentar algo novo.
Contado na primeira pessoa por Ana após o desaparecimento de Andrea, regressa ao passado que a assombra para compreender o presente que a sufoca com os segredos que apenas ela agora guarda. Não há pássaros aqui. O refúgio na esperança.
Um livro intrigante e inquietante em que a dor e o vazio preenchem estas pessoas que, se manifestam cruelmente. Pessoas danificadas. Um livro que fascina pelo tanto que nos conta numa narrativa muito bem controlada.
Benjamin é o outro protagonista desta história. As suas vidas são espelho uma da outra.
" Descobri nesse quarto que era possível encontrar conforto no fundo do abismo,um tipo de conforto que não se encontrava em nenhum outro lugar. Um conforto que me deixava dependente e me isolava completamente das outras pessoas "..
Comprei este livro por três motivos: ✔️ A capa ✔️ O Título ✔️ As primeiras páginas agarram me e não o pude deixar para trás.
Este livro foi vencedor do Prémio Leya 2023,carregado de temas duros e que nos deixam de coração partido, é um romance surpreendente, pois nele habitam personagens sombrias. É uma leitura angustiante, pessoas que destroem tudo ao seu redor, alcoolismo, dependência, solidão, negligência, são alguns dos temas abordados. A protagonista é a Ana,uma mulher que cresceu num lar completamente destruído,vítima de abusos carrega em si uma necessidade de destruição constante que nos faz ficar por vezes dilacerados e sem chão 🫤 torna-se mesmo aflitivo 😢. Gostei muito da escrita,da construção das personagens e na mensagem em si. Mais uma vez o tema dos transtornos mentais, e como a falta de afecto tem impacto na forma como vivemos a infância e onde o lar tem o papel principal e onde muitos não encontram abrigo. Recomendo muito esta leitura embora seja uma história muito duro.
4,5⭐️ O que vivemos na infância marca-nos para sempre - é uma das certezas que tenho. Tudo encaixa nesta narrativa. Apesar do tudo não ser para todos (violência, relações abusivas, saúde mental). E o fim? Não podia ser diferente. 😉
“Não Há Pássaros Aqui”, romance de estreia do autor e escritor brasileiro Victor Vidal, distinguido com o Prémio LeYa 2023, é uma história que continuamente sulca o leitor no seu âmago, graças a uma escrita pautada por uma acuidade sensorial e profundidade psicológica inegáveis.
Este livro não é apenas sobre as personagens que nele figuram. E também sobre os sombras de cada uma delas e perpetuação da violência tanto física como psicológica, com o consequente sentimento de mágoa, ressentimento, solidão e desesperança.
Resumidamente, a história fala-nos de Ana que não vê a sua mãe Andrea há cinco anos. Até ao dia em que uma vizinha da sua mãe lhe telefona, comunicando que a mãe está desaparecida. A partir deste evento, todo um desenrolar de segredos e de vivências começa a fluir, como a água de um riacho habitado por seixos cortantes. É notável o trabalho que o autor colocou na caracterização das personagens, nas camadas temporais que se entrelaçam e nas revelações surpreendentes que se precipitam. Comoveu-me o laço de amizade entre Ana e Benjamin e a “sede” de ambos em encontrar uma espécie de porto seguro. Não é preciso ser perfeito, basta ser possível.
De igual modo, e ao longo de toda a narrativa, o autor aborda a facilidade com que se julga e condena o outro, sem tantas vezes notar que o outro também alberga fragilidades que, a todo o custo, insiste em esconder, essencialmente por vergonha.
O título deste livro é belíssimo. Aliado ao conteúdo narrativo, ele brindou-me com várias reflexões: sendo o pássaro símbolo de leveza, liberdade e amizade, entre outras coisas, o que resta quando dentro do outro tudo parece ter secado? Existe alguma coisa que ainda se possa recuperar? Algum modo de se ser morada onde os pássaros desejem permanecer? Qual a força que os laços de amizade podem ter? O que aconteceu à voz, ao canto das pessoas que vivem estigmatizadas, à margem da sociedade?
Convido-vos a trazer este livro para morar nas vossas casas, não só pela universalidade dos temas que aborda, mas também pela história de personagens que tão cedo não irão esquecer.
Já há muito tempo que não classificava uma leitura com 1 ⭐ no Goodreads. Infelizmente, com esta leitura foi isso que aconteceu.
Ana recebe a notícia do desaparecimento da sua mãe, Andrea, uma mulher que a maltratou desde criança. Ana vai até casa da mãe para tentar perceber o que se passou e tentar ajudar a encontrar a progenitora. É a partir daqui que se desenrola a ação.
Começo pelas protagonistas, que, em princípio, me deviam ter feito sentir alguma coisa, como compaixão ou empatia ou raiva, mas não. Nada. Senti que eram apenas duas personagens que ali só a existir. Depois temos Benjamim, um amigo de infância de Ana, que achei uma personagem rasa.
Mas, o que menos gostei foi o sofrimento, a dor e a loucura que atravessam toda esta obra sem nunca haver um mínimo de esperança. Dei por mim a pensar, “para que isto tudo?”. Sim, a vida real pode ser assim, ou até pior. Mas a certa altura só queria terminar e eis que acontecia mais uma desgraça, por vezes até de forma gratuita que não acrescentava nada à história.
Gosto de personagens sofridas e cheias de defeitos. Eu que leio João Tordo estou habituada a isso. Mas há esperança, redenção, um caminho para seguir. Nesta obra não.
Mas atenção. O que a mim me fez não gostar, a muita gente pode agradar. Outro exemplo deste tipo de história é o livro “Uma pequena vida”, de Hanya Yanagihara, que muita gente adorou e eu desisti porque só via ali desgraça sem fim.
Apenas consegui chegar ao final desta leitura porque o autor tem uma escrita que cativa.
Quero continuar a acompanhar próximas obras do Victor Vidal e espero que o Prémio Leya lhe traga visibilidade e possibilidade de publicar futuras obras. Espero poder acompanhar, mas num outro registo.
Isto é apenas a minha opinião e não quero dissuadir ninguém a ler esta obra.
Bem escrito, pertinente e envolvente. Le-se num fôlego só, numa sensação de apneia angustiante. Mas a personagem principal absorve de uma forma surpreendente. Toda a narrativa, bem construída apesar dos cruzamentos de tempos e espaços, vai sendo construída enquanto dá corpo às personagens. Muito visual e cinematográfico, apesar de repulsivo diversas vezes, com temáticas difíceis de lidar, é um livro que não fica indiferente.
3.5 ⭐️ O que dizer sobre este livro? É um livro muito duro. A escrita é muito boa, envolvente, cativante.
Ana é uma personagem perturbada, consequência de todos os acontecimentos que foi vivendo ao longo dos anos, neglicência, abuso. Uma história demasiado pesada.
Durante todo o livro sinto que Ana procura compreender a vida da mãe nos últimos anos, à procura de sentir algum sinal de afecto ou amor, algo que nunca sentiu durante toda a sua vida. A personagem tem imensa dificuldade em expressar sentimentos de afecto até por quem lhe quer bem, como é o caso de Benjamin. Acabando por ter comportamentos tão destrutivos com ela e com os outros, que me deixaram muitas vezes com raiva da personagem, mesmo acreditando que lhe era impossivel ser diferente depois de tudo o que viveu.
É um livro profundamente triste, estive sempre à espera que Ana conseguisse curar alguns dos seus traumas e que encontrasse alguma paz.
O sentimento de repugnância reina durante a leitura. E "como é que ela foi capaz de fazer isto" é uma pergunta que podemos fazer várias vezes ao longo do livro.
Num romance, magistralmente escrito, Victor Vidal apresenta-nos o início de um mundo: uma mãe e uma filha. Numa narrativa que oscila entre o presente, com Ana adulta, e o passado, com Ana jovem, seguimos esta protagonista por dúvidas existenciais, tais como se podia ter tido uma vida totalmente diferente ou se podia ter sido poupada a certas tragédias.
O livro começa com o desaparecimento da mãe de Ana e passamos o livro inteiro a tentar descortinar o que aconteceu. Pelo caminho, regressa o amigo de infância de Ana e, juntos, também começam um caminho para encontrar a história da mãe de Benjamim.
Esta é um história bela, mas repugnante por todas as descrições que causam asco e por todas as situações impulsivas em que Ana se coloca.
Recomendo esta leitura do vencedor do Prémio LeYa 2023, que volta a ser muito bem atribuído.
“A canção dos pássaros formou um núcleo forte em meu peito. Como uma fortaleza. Um refúgio para os dias ruins. Um lugar para proteger meus sonhos.» Silêncio. Suas feições se tornaram ainda mais soturnas. «Ultimamente não importa quantas vezes eu sonhe com eles, não há pássaros aqui.»”
Iniciamos esta leitura com a morte de Andrea, mãe de Ana. Ana não lamenta a morte da mãe, uma mãe violenta, alcoólica, mas não consegue evitar uma viagem ao seu passado, à sua infância, viagem que acompanhamos com sobressaltos, poucos momentos de alegria e, muitas vezes, de horror. Ao mesmo tempo, Ana vai desvendando as circunstâncias que antecederam a morte da mãe, como se lentamente desembaraçasse um fio de meada.
Assistimos também ao reencontro com Benjamim, rapaz que fez parte da infância de Ana, com ela partilhando as agruras de um percurso infeliz.
Neste livro, como na vida, encontramos seres humanos profundamente traumatizados, com comportamentos inesperados, paradoxais, algumas vezes bondosos, mas muitas vezes cruéis, parecendo viver como os hamsters, num círculo vicioso. O autor transporta-nos para o interior destas personagens com mestria. Tudo faz sentido quando os lemos por dentro, apesar de nos chocarem e até provocarem repúdio. Mas também nos afeiçoamos a eles, com uma vontade imensa de os consolar e amar. Não somos todos um grande paradoxo?
Dizer o quão importante é ler um livro premiado que dá voz aos filhos de pais incapazes de cuidar é pouco. Falar sobre isto não é apenas corajoso, é um gesto de carinho para quem sofreu e a quem retiraram a infância. Este livro é muito duro, mas a escrita irrepreensível, emocional e envolvente torna difícil largá-lo. Obrigada Victor Vidal 🤍 Não foi por acaso que este livro obteve o Prémio Leya em 2023. Não deixem de o ler! Mas preparem-se.
À Mónica Cabral que mo ofereceu sabendo o enorme presente que me estava a dar, muito muito obrigada ❤️
Este é um livro triste. Onde dois protagonistas, Ana e Benjamim, têm um passado em comum e uma dor associada às suas famílias. Ambos procuram respostas. Ambos são afetados por uma infância violenta. Teria tudo para ser um excelente livro, mas senti alguma dificuldade em manter uma linha lógica entre os acontecimentos e em acompanhá-los. Isso fez com que me desligasse da história.
Não é em vão que este livro é vencedor de um prémio literário. Na minha modesta opinião acho que é daqueles livros que se amam ou se odeiam. E depois existo eu que gostei bastante mas não ao ponto de o amar. E não o amo porque não é bom, mas porque reflete algo que repudio. Novamente estamos perante a estória de uma mulher bastante jovem que é abusada de várias formas pelo namorado da mãe com a conivência da mesma (também ela abusadora) e a relação de ambas é tóxica, maligna, muito dura. Este livro convida-nos à reflexão profunda de como tudo o que observamos, vivemos, experimentamos na infância se reflete no adulto que nos iremos tornar e Ana tornou-se uma adulta com várias questões por resolver, por colmatar e tudo gira em torno do seu regresso à casa da sua mãe Andrea que desapareceu misteriosamente e mesmo após tudo o que viveu às mãos da mesma, Ana não consegue virar costas. As memórias que voltam como uma tempestade, fazem com que Ana entre numa espiral decadente, perigosa em que o seu único amigo é o mesmo que teve aquando a sua infância, amigo esse que também passava por abusos paternais. As memórias passadas no orfanato onde Andrea trabalhava e Ana ajudava o seu amigo a esconder-se. Onde Andrea conheceu o homem que mudou a vida delas para sempre. No geral, está bem escrito, conseguimos seguir perfeitamente a linha de pensamento do autor, conseguimos entrar na cabeça das personagens, mas na minha interpretação ficamos com um final em aberto, um final passivo de ser visto como desejamos. Não é uma estória bonita nem feliz. Mas “ultimamente não importa quantas vezes eu sonhe com eles, não há pássaros aqui”. @bibliotecamil_insta