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180 pages, Paperback
First published January 1, 1953

“sangue por dinheiro; as casas de fidalgos na penúria amparavam-se a lavradores boçais e ricos, a sólidos comerciantes, retemperavam o brasão no suor da boa burguesia; e os Alvas não fugiam à regra; quando soou a hora da miséria vieram entregar a menina aos lavradores do Montouro”Uma Abelha na Chuva é um romance de cariz neo-realista, que tem por cenário a decadência económica e moral de uma certa elite social provinciana. Numa época em que a aristocracia havia perdido poder económico para uma classe emergente de novos-ricos burgueses, os casamentos de conveniência (neste caso de Maria dos Prazeres Pessoa de Alva Sancho, aristocrata, com Álvaro Silvestre, comerciante e lavrador) são a solução para colmatar as carências financeiras dos primeiros e satisfazer uma certa ambição de estatuto dos segundos. Uma solução que permite manter ou ostentar aparências perante a sociedade, mas que se traduz em relações domésticas assimétricas e infelizes, marcadas pelo desdém, pela frustração e pela conflitualidade.
“A abelha foi apanhada pela chuva: vergastadas, impulsos, fios do aguaceiro a enredá-la, golpes de vento a ferirem-lhe o voo. Deu com as asas em terra e uma bátega mais forte espezinhou-a. Arrastou-se no saibro, debateu-se ainda, mas a voragem acabou por levá-la com as folhas mortas”.Uma Abelha na Chuva é uma obra literária de simplicidade enganadora, com uma profundidade e alcance apenas implícitos num repertório simbólico rico e muito bem arquitectado, pouco comum no panorama neo-realista da altura. Um romance que se aprecia na medida da atenção que estejamos dispostos a disponibilizar-lhe.