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Uma Abelha Na Chuva

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Uma Abelha na Chuva conta-nos as peripécias de Álvaro Rodrigues Silvestre, sujeito às “instigações” de sua esposa, D. Maria dos Prazeres Pessoa de Alva Sancho Silvestre. O livro começa com uma confissão de Álvaro e com a sua vontade de a tornar pública na primeira página da Comarca — uma redenção consigo próprio.

Esta história leva-nos à aldeia de Montouro num Outono chuvoso, onde conhecemos as personagens que rodeiam este casal e constituem a aldeia e pelos quais ficamos a conhecer o Portugal provinciano de meados do século XX.

Como afirma o autor, “Por onde a solidão a fazia resvalar. E o quarto tão frio. Talvez os ventos, os granizos do norte, as grandes chuvas. Talvez D. Violante. Mas sobretudo a velha casa de Alva, quando a miséria não chegara ainda e, atrás dela, os Silvestres. Agora é o marido labrego e doentio, as bebedeiras, o desencanto, isto. Quer melhores nortadas, D. Violante?”.

O escritor ironiza a sabedoria popular, o largo da aldeia quando acolhe um ajuntamento popular, ancestral, onde tudo se discute, onde tudo se decide num julgamento popular e, tantas vezes, tacanho. E a morte, que persegue Álvaro numa bebedeira de brandy, a morte que tolhe Jacinto e Clara, à chuva, persiste em vingar neste livro.

180 pages, Paperback

First published January 1, 1953

19 people are currently reading
533 people want to read

About the author

Carlos de Oliveira

39 books40 followers
Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras de Coimbra (1947) e foi um dos iniciadores do movimento neo-realista. Colaborou nas revistas Altitude, Seara Nova e Vértice (de que foi director). Poeta e romancista, estreou-se com o volume de poemas Turismo (1942) e o romance Casa da Duna (1943). Publicou depois os volumes de poemas Mãe Pobre (1945), Colheita Perdida (1948), Descida aos Infernos (1949), Terra de Harmonia (1950), Cantata (1960), entre outros, e compendiou a sua obra poética em Trabalho Poético (1977-78). Além de romances (Alcateia, 1944; Pequenos Burgueses, 1948; Uma Abelha na Chuva, 1953, e Finisterra, 1978), publicou o livro de crónicas O Aprendiz de Feiticeiro (1971). Foi condecorado pela Presidência da República, a título póstumo, com o Grande-Oficialato da Ordem da Sant’Iago da Espada, em 1990.

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1 star
21 (2%)
Displaying 1 - 30 of 88 reviews
Profile Image for Carmo.
727 reviews566 followers
October 18, 2016
Imagem de um Portugal rural de mentalidade obsoleta; onde se cultivam as aparências e se nega a decadência, onde se vive com medo da morte e com medo de não saber viver, onde se afogam os instintos e renega a realidade, onde a vingança serve de remendo à cobardia, e a morte pode ser castigo e salvação.
Extremamente bem escrito e envolvente agarra da primeira à última página. Para ler devagar e com atenção tentando desvendar toda a simbologia.

Profile Image for Teresa.
1,492 reviews
March 19, 2016
Uma Abelha na Chuva é um romance sobre a solidão, o medo da morte, a ambição, a ignorância, a crueldade, o ódio, o desejo,...
E o amor, representando por quatro pares:
Maria e Álvaro. Um casamento de interesse entre a aristocrata arruinada e o plebeu rico.
Abel e D. Violante. O padre e a sua "irmã". Um amor proibido pelas convenções sociais e religiosas.
Dr. Neto e D. Cláudia. São eternos namorados. D. Cláudia tem uma saúde frágil e não lhe "parece justo chamar à vida um ser doentio, deformado ou louco."
Jacinto e Clara. A juventude. A beleza. A paixão. O amor em toda a sua plenitude.

"A abelha foi apanhada pela chuva: vergastadas, impulsos, fios do aguaceiro a enredá-la, golpes de vento a ferirem-lhe o voo. Deu com as asas em terra e uma bátega mais forte espezinhou-a. Arrastou-se no saibro, debateu-se ainda, mas a voragem acabou por levá-la com as folhas mortas."
Profile Image for Paula Mota.
1,665 reviews563 followers
January 26, 2023
4,5*

Por onde a solidão a fazia resvalar. E o quarto tão frio. Talvez os ventos, os granizos do norte, as grandes chuvadas. Talvez, D. Violante. Mas sobretudo a velha casa de Alva, quando a miséria não chegara ainda e, atrás dela, os Silvestres. Agora é o marido labrego e doentio, as bebedeiras, os desencantos, isto. Quer melhores nortadas, D. Violante?

Vale a pena fazer releituras como esta, primeiro porque se passaram tantos anos que não há memória do conteúdo, depois, porque é uma obra de inegável qualidade. Vê-se que Carlos de Oliveira era poeta, e dos bons, pois cada parágrafo é escrito com um enorme virtuosismo.
O escritor da Gândara é também um exímio retratista, a quem não falta a ironia e a crítica social.

D. Cláudia temia a natureza, a chuva, o sol, o mar, o vento, ignorava as flores que irrompem dos estrumes, e a própria vida humana, as relações sociais, os pequenos equívocos da convivência, as conversas mais acaloradas, assustavam-na.

Em “Uma Abelha na Chuva” aborda-se o declínio da aristocracia e a ascensão da burguesia, em que Maria dos Prazeres é empurrada para um casamento de conveniência com Álvaro Silvestre, um homem abaixo da posição social dela, do qual só resulta a já esperada infelicidade. A antiga herdeira da casa de Alva é uma mulher que tenta controlar o seu desprezo pelo marido disforme, cobarde e bêbedo, enquanto reprime o desejo que sente por outros homens, quer de carne e osso, quer produto das suas fantasias.

Ela gritou por fim:
- Não te matam, descansa, posso lá ter tamanha sorte; hei-de aturar-te até ao fim da vida, até que Deus me leve deste inferno que é a tua casa. Tenho nojo de ti, nojo, entendeste bem? Que te admiras tu que eu sonhe?, sonhos sobre sonhos, sempre para esquecer a tua cama, o pão da tua mesa. (...) Odeio-o por ter dado conta do que era só comigo, tão íntimo, que o esconderia a mim própria se pudesse.


É uma relação condenada que arrasta outras vidas para a tragédia, a qual culmina de forma magnífica e fatídica na imagem que explica o título da obra.
Profile Image for Fátima Linhares.
933 reviews340 followers
August 29, 2024
A leitura deste livro resultou de ter visto as boas classificações atribuídas nesta plataforma e, na altura, ser o mês de Junho, de Camões, e, na minha cabeça, de ler livros de autores nacionais. Assim, convidei a minha parceira de leituras, a querida Cristina, para lermos esta obra.

O livro começou muito bem, com uma tentativa de confissão de Álvaro Silvestre, prontamente intercetada pela sua mulher, Maria dos Prazeres. Este início pareceu-me bastante promissor, mas, depois, apareceram personagens, para mim saídas do nada, daí achar que faltava contexto, e a ação perde fulgor, ganhando-o novamente nos acontecimentos que se dão debaixo de uma bátega. Aí a ação decorre muito rapidamente e queria descobrir se o Jacinto se safava.

Toda a tragédia se dá porque o Senhor Álvaro Silvestre é um homem de carácter bastante duvidoso, temente a Deus, mas isso não é suficiente para que não pratique más ações. Poderá haver influências da Senhora Dona Maria dos Prazeres, mas isso só prova que, no seu íntimo, já era um homem falho.

Quase dois meses depois concluí esta leitura e não posso dizer que achei esta narrativa extraordinária. Achei confusa e com alguma falta de contextualização. Até dei por mim a pensar se o problema seria meu, o que se calhar até se verifica. Talvez estivesse tudo nas entrelinhas e eu não consegui alcançar toda a mensagem da obra. Contudo, lê-se bem, mas não me arrebatou.
Profile Image for Célia Loureiro.
Author 30 books960 followers
May 28, 2018
Uma Abelha na Chuva, publicado em 1953, é o retrato físico de uma mulher bonita, robusta, casada por dever com um homem que a ama, e que ela despreza. Um homem fraco, bondoso, bonacheirão. É um ensaio poderoso, que consiste na submersão por inteiro num mundo rural claustrofóbico, e também no pensamento de alguns estratos sociais aqui bem representados.

Este livro veio ter comigo através do programa Grandes Livros da RTP 2, podem aceder-lhe aqui. Enquanto o esmiuçavam, passavam imagens a preto e branco do filme homónimo de 1971, e a prestação da Laura Soveral como D. Maria dos Prazeres captou-me a atenção. Uma mulher de aspecto tão firme, e, no entanto, quebrada por dentro. Esvaziada de doçura, de calor, de suavidade. O cabelo perfeitamente arranjado, e ainda assim um torvelinho na alma, evidente sob a superfície serena. Reconheci o tipo de força sustido por aquele rosto quase passivo que, de olhar baço, se insinuava no ecrã, arrebatando-o, cena após cena. As páginas deste romance, como um mergulho no quotidiano destas pessoas e das suas relações estéreis, expõem o casamento disfuncional de Álvaro Silvestre, pequeno proprietário rural, dono de uma mercearia, quem sabe outrora lavrador, e de D. Maria dos Prazeres, oriunda de uma família nobre em declínio. Apegada aos objectos que um dia coloriram o estatuto da família, esta personagem é de uma nitidez intimidante, mas, nem por isso está melhor composta do que as restantes. Todos os rostos ali criados por Carlos de Oliveira são dotados de uma admirável multidimensionalidade: é palpável uma certa hipocrisia no cura, uma ambição desmesurada no proletariado, uma asfixia da nobreza e a decadência moral de uma burguesia de vícios e fraquezas.

D. Maria dos Prazeres é apegada à tradição, ao passado, e é também uma vítima de ambos. Foi conduzida ao altar por um pai à beira da falência, e viu-se condenada a uma vida de infelicidade ao lado de um homem que considera fraco. É ela quem dá ordens e é obedecida, nos seus domínios, é ela que se vale do padre para espiar o marido. Contudo, nem tudo está dentro dos limites rígidos do seu controlo; não manda no próprio coração nem numa coisa que tem vida própria e que pulsa a cada vez que põe os olhos no cocheiro da casa; o desejo. Deseja o cocheiro rude, risonho, despreocupado, um pouco tosco que a segue para onde ela o mandar. Talvez porque ele seja uma antítese gritante do seu marido patético. Mas o cocheiro personifica um devaneio fora do seu alcance, e ela não dá um passo para inverter essa situação, quiçá porque essa atracção a vexe, ou porque, mal-grado o chamamento da carne, o considere indigno da sua pessoa. Enquanto isso o marido, também miserável, bebe. A acção decorre num espaço circunspecto, em que o mundo rural vem descrito de forma sublime – cheira-se, toca-se, sente-se, ouve-se.


Tudo se precipita quando Álvaro ouve o cocheiro mencionar os indesejados olhares cobiçosos que a patroa lhe deita.

Uma obra, a meu ver, incontornável para quem procura compreender melhor o panorama do micro "neorrealismo" literário português. A passinhos de bebé, cá me vou aventurando na nossa literatura lusa. E tem valido muito a pena...
Profile Image for Bárbara Rodrigues.
180 reviews52 followers
October 9, 2018
Foi muito diferente do que estava à espera. Uma história pequenina escrita de uma forma bonita. Eu, pouco culta, tive de ir muitas vezes procurar o significado de algumas palavras.

"A casa continuava vazia, como um jazigo enorme, de paredes altas".
Profile Image for Nelson Zagalo.
Author 15 books466 followers
August 10, 2017
Vi o filme na adolescência, a adaptação (1971) de Fernando Lopes , e não gostei. Ficou-me marcado o estilo nada natural, o ritmo lento e entrecortado, combinado com um título que sempre me pareceu ingénuo, pelo simbólico e fragilidade do insecto, incapaz de gerar interesse. Por isso tive sempre relutância em pegar no texto original de Carlos de Oliveira. Admito que foi um erro, o texto é superior, ou talvez o facto de hoje ter mais do dobro da idade me faça sentir tudo tão diferentemente.

Carlos de Oliveira nasceu no Brasil, mas foi na região portuguesa da Gândara que cresceu e de onde retirou a geografia que serve de cenário a “Uma Abelha Na Chuva”. Esta região situada no litoral — entre o Mondego e a Ria de Aveiro — conheço-a muito bem por também aí ter vivido uma parte da minha infância, mas por isso mesmo posso dizer que não apresenta particularidade — na generalidade plana e arenosa, dotada de pequenas lagoas e muitos pinhais. Aqui nada parece acontecer nunca, mas de certo modo é dessa espécie de marasmo brumoso que Oliveira se socorre para encorpar o universo da sua história, e daí que refletindo, hoje, sobre a adaptação de Fernando Lopes me pareça afinal muito condigna, assumindo eu a minha incapacidade para enquanto jovem a poder compreender.

[imagem]
Os pinhais da Gândara

A história dá conta de um conjunto de personagens que ocupam diferentes estratos sociais do Portugal dos anos 1950, das suas relações, ambições e decadências. Mas os personagens, tal como a geografia, parecem não ter muito para dizer, para se importar, ou agir, como se se deixassem levar pelas forças que os trespassam, sejam as leis, regras sociais, ou condições geográficas e climatéricas. Inevitável a colagem a “Satantango” (1994) de Bela Tarr, o seu mundo mecânico sem força interior, mágico nebuloso, de certo modo castrado pelas condições políticas de uma Hungria comunista, o que não deixa de apresentar semelhanças com um Portugal sob o jugo ditatorial.

[imagem]
"Satantango" (1994) de Bela Tarr

A crítica e análise do texto, tão prolífica no mundo académico a ponto de tornar o texto obrigatório na escola nacional, centra-se muito sobre a componente ativista do neo-realismo português, dando grande destaque para o simbólico que percorre o texto, desde logo o título e as classes sociais, no modo como destaca a falta de organicidade da sociedade de então. Se me interessou, o que verdadeiramente me espantou, o que me agarrou, e deixou fixado em Carlos de Oliveira foi a estilística. Oliveira era um mestre da palavra, leiam-se os seguintes excertos:

“Arrastava-se a viagem. A morrinha parara mas havia mais frio. Traçou o xaile de lã sobre a garganta, sempre aquilo, colhia-a um golpe de humidade e a voz, rouca de natureza, tornava-se inaudível. Só o calor lhe permitiria falar outra vez desafogadamente. Passou de memória a sala do Montouro, com pinhas acesas e desfeitas no tijolo do lar, as conversas vagarosas, o grande candeeiro de petróleo com as senhoras debruçadas sobre as malhas, e ela que em geral se azedava no pasmo daquelas noites desejava-o agora de todo o coração, quem me dera estendida na cadeira de verga, ao brando crepitar do lume.”

“Sentou-se num desses marcos de pedra tosca que dividem as propriedades; tentava serenar, sair da sua confusão; e olhando aqueles sítios conhecidos agasalhou-se na memória das manhãs infantis passadas por ali: as galinhas mansas e ensonadas a desenterrar as minhocas da humidade do pátio; a voz pastosa de João Dias, o velho caseiro, a gritar ao gado; o cavalo novo, comprado em S. Caetano, empinava-se a meio do terreiro e relinchava atirando pelas narinas o fumo da respiração selvagem; as aves madrugavam nas ramagens da nogueira imensa; ele, empoleirado na alpendrada de madeira e zinco, dava conta do catarro do velho Silvestre, dos seus primeiros passos no quarto, estendia a vista pelos currais, pelas culturas encharcadas de orvalho; o sino espargia sobre a gândara o som antigo do amanhecer e nas casas nascia o lume que a dejua;”

“Levou o resto da manhã às voltas com a ideia e tanto lhe mexeu que a deixou a sangrar: o sangue farto das feridas recentes. Espantava o sono com goladas duma garrafa de aguardente que escondia no cofre. Pouco a pouco, ressuscitava nele o homem implacável que a intensa amargura dalguns dias arrancava ao desespero a que descia, como se o vento desse na poeira da sua consciência desmoronada e as pedras limpas se reerguessem umas sobre as outras. Nesses acessos tornava-se rígido, cruel.”

Muito expressivo e ao mesmo tempo, impressivo. O texto que parece simples, carrega consigo uma quantidade de imagens a que só acedemos na plenitude após várias releituras. Como se as palavras dessem conta de uma realidade imediatamente perceptível mas formassem camadas de sentido que se vão construindo na soma de palavras em frases e por sua vez na soma de sentidos. Para isto contribui o ritmo e o encadeamento das frases que contribuem para uma prosa particularmente poética.

[imagem]
Ingrid Bergman em "Stromboli" (1950) de Roberto Rossellini

Se no final da leitura me dava conta da imensa beleza do texto por contraste à pequenez da história contada, à medida que o tempo pós-leitura foi passando fui sentindo cada vez mais o mundo de Oliveira, e percebendo melhor o que ele pretendia. Oliveira não queria contar uma história, queria criar uma experiência, a sua Gândara é o “Stromboli” (1950) de Rosselini, e se ambas estas figuras foram rotuladas de neo-realistas, eu não consigo deixar de as sentir como impressionistas.

Publicado, com imagens e links, no VI
https://virtual-illusion.blogspot.pt/...
Profile Image for Paula M..
119 reviews53 followers
August 22, 2017
Lê-se num dia e finalmente já sei quem é a abelha que ficou à chuva. O título é tão bonito.

" E quando ela fez dezoito anos, o pai fidalgo, que era Pessoa , Alva e Sancho (...) negociou o casamento da filha com os Silvestres, lavradores e comerciantes: sangue por dinheiro. (...)
- Assim seja , concordou o pai de Álvaro Silvestre, compra-se tanta coisa, compre-se também a fidalguia."

O rastilho desta história é o dinheiro. Mas o dinheiro apenas salva a fidalga D. Prazeres da pobreza e em nada mais ajuda.
Há uma teoria que diz que " um bater de asas de uma simples borboleta pode influenciar o rumo natural das coisas e, até provocar um tufão do outro lado do mundo." Para esta história diria: o bater de asas de uma abelha ociosa influenciou o rumo dos acontecimentos e provocou um tufão do outro lado da casa.
Profile Image for Silvéria.
498 reviews238 followers
June 22, 2019
Podia ter sido uma leitura mais agradável se o enredo fosse mais desenvolvido (que é bom e as personagens tinham material para isso) e se a escrita fosse mais simples (desnecessariamente complexa até para a época).
Profile Image for Ema.
814 reviews84 followers
February 7, 2019
3,5*

A escrita é elaborada e se estivermos com dificuldade em concentrarmo-nos irá ser um pouco difícil desfrutar da história, como foi o meu caso. Acho que li este livro na altura errada, porque ele tem todos os ingredientes que me fascinam, mas não consegui desfrutar da leitura como estava à espera e, por isso, nem vou falar da história em si. Só devo dizer que temos aqui um final que nos deixa atordoados e é através dele que percebemos o título, o que é "uma abelha na chuva". Foi como um murro no estômago.
Profile Image for Ana.
230 reviews91 followers
April 13, 2017
“sangue por dinheiro; as casas de fidalgos na penúria amparavam-se a lavradores boçais e ricos, a sólidos comerciantes, retemperavam o brasão no suor da boa burguesia; e os Alvas não fugiam à regra; quando soou a hora da miséria vieram entregar a menina aos lavradores do Montouro”
Uma Abelha na Chuva é um romance de cariz neo-realista, que tem por cenário a decadência económica e moral de uma certa elite social provinciana. Numa época em que a aristocracia havia perdido poder económico para uma classe emergente de novos-ricos burgueses, os casamentos de conveniência (neste caso de Maria dos Prazeres Pessoa de Alva Sancho, aristocrata, com Álvaro Silvestre, comerciante e lavrador) são a solução para colmatar as carências financeiras dos primeiros e satisfazer uma certa ambição de estatuto dos segundos. Uma solução que permite manter ou ostentar aparências perante a sociedade, mas que se traduz em relações domésticas assimétricas e infelizes, marcadas pelo desdém, pela frustração e pela conflitualidade.

A obra combina a crónica de costumes com uma crítica social acutilante, construindo um cenário simultaneamente dramático e jocoso. A escrita, simples e irrepreensível, e o simbolismo utilizado sustentam uma narrativa sólida e eficaz, na qual nada parece estar em excesso ou em falta. É admirável como, num romance tão curto, o autor consegue criar um elenco de personagens tão variados e psicologicamente tão bem caracterizados do ponto de vista do que pretendem simbolizar. As ferramentas narrativas são utilizadas de um modo que prende a atenção do leitor no imediato de cada página, sem grande urgência relativamente ao desfecho. Até porque o desfecho é também ele simbólico. Apoucado por uma esposa sobranceira e dominadora, Álvaro Silvestre só consegue direccionar a raiva e a humilhação para alvos mais vulneráveis do ponto de vista social e económico. Ou como nos é transmitido pelo olhar do filosófico e sensível dr. Neto:
“A abelha foi apanhada pela chuva: vergastadas, impulsos, fios do aguaceiro a enredá-la, golpes de vento a ferirem-lhe o voo. Deu com as asas em terra e uma bátega mais forte espezinhou-a. Arrastou-se no saibro, debateu-se ainda, mas a voragem acabou por levá-la com as folhas mortas”.
Uma Abelha na Chuva é uma obra literária de simplicidade enganadora, com uma profundidade e alcance apenas implícitos num repertório simbólico rico e muito bem arquitectado, pouco comum no panorama neo-realista da altura. Um romance que se aprecia na medida da atenção que estejamos dispostos a disponibilizar-lhe.

Profile Image for tiago..
464 reviews135 followers
March 18, 2022
Carlos de Oliveira, frequentemente arrumado no grupo dos neorrealistas (com que justiça não me cabe a mim dizer), não deixa por isso de ser um caso de exceção entre eles; pelo menos a julgar por este pequeno, mas belíssimo, livro. Alguns temas neorrealistas estão certamente presentes em Uma Abelha na Chuva: o retrato dos costumes, a luz pouco favorável; o Portugal rural, sufocado por uma moral caduca; o velado da crítica, que raras vezes chega a ser direta. E mantém também certa crueza, certa aridez de estilo, presente noutros neorrealistas como Miguel Torga ou Fernando Namora. Aqui, parece-me, acabam as semelhanças; e começa o que separa este livro e o torna numa jóia. Porque a essa aridez, Carlos de Oliveira mistura um lirismo belíssimo, sem dúvida uma herança do seu trabalho poético; e porque ao carácter de quasi-manifesto que autores como Soeiro Pereira Gomes infundem na sua obra, ele opõe, como disseram no programa Grandes Livros, da RTP 2, uma vontade de ser mais belo que panfletário.

O resultado é esta pequena obra-prima, a transbordar do que não revela. Numa aldeia perdida no interior de Portugal, uma hoste de personagens debate-se com a própria vida, soterrados na lama da aparência, do dever-ser. Álvaro Silvestre, um homem mesquinho, manchado no seu orgulho pelo casamento com uma mulher fidalga e altiva e roído de culpas pelas suas secretas desonestidades, seus ocultos roubos. Maria dos Prazeres, que rói o seu secreto desprezo pelo marido bêbado enquanto sonha com escapar-se nas mãos do cocheiro. O padre Abel, que apregoa a boa moral e depois desafoga os cansaços nas mãos de D. Violante. Clara e Jacinto, os únicos personagens que parecem não se atolar neste lamaçal infinito, mas a quem o destino lhes reserva uma amarga sentença.

As abelhas na chuva são todos eles, a debaterem para se levantarem à medida que gotas grossas de água parecem afogá-los mais e mais na tempestade. Até que, por fim, já não se conseguem mover.

Despretensioso, simples, belíssimo. Recomenda-se vivamente.
Profile Image for Joana’s World.
645 reviews317 followers
March 9, 2017
Não é o meu género de livros mas até foi um leitura interessante
Profile Image for Sónia Carvalho.
196 reviews17 followers
April 20, 2024
Em "Uma Abelha na Chuva" (1953), encontramos um Portugal salazarista, um país oprimido mas envolto numa calma soberana, numa espécie de sono colectivo, onde mesmo as pessoas boas pouco faziam para mudar o rumo dos acontecimentos.

É um livro extremamente bem escrito, onde Carlos de Oliveira caracteriza de forma exemplar a luta de classes, a aridez, a mesquinhez, as frustrações individuais e onde as personagens nada produzem, mas roubam e escondem (sentimentos, pensamentos). São abelhas a debaterem-se à chuva e a serem arrastadas pelas circunstâncias da vida e de um Portugal sem liberdade.

Durante pouco mais de quarenta e oito horas, acompanhamos a vida de um conjunto de personagens da aldeia do Montouro, que se encontra habitualmente na casa de Maria dos Prazeres e Álvaro Silvestre, que têm um casamento infeliz: "Por onde a solidão a fazia resvalar. E o quarto tão feio. Talvez os ventos, os granizos do norte, as grandes chuvas. Talvez, D. Violante. Mas sobretudo a velha casa de Alva, quando a miséria não chegara ainda e, atrás dela, os Silvestres. Agora é o marido labrego e doentio, as bebedeiras, o desencanto, isto."

Quando Álvaro Silvestre, um homem bêbado, amargurado e cheio de remorsos, descobre que a sua mulher sente desejo por outro homem, assistimos à destruição do único amor verdadeiro da história.

"A abelha foi apanhada pela chuva: vergastadas, impulsos, fios do aguaceiro a enredá-la, golpes de vento a ferirem-lhe o voo. Deu com as asas em terra e uma bátega mais forte espezinhou-a. Arrastou-se no saibro, debateu-se ainda, mas a miragem acabou por levá-la com as folhas mortas."
Profile Image for Maria Ferreira.
227 reviews50 followers
May 31, 2020
Carlos Alberto Serra de Oliveira [1921-1981] nasceu em Belém, estado do Pará, Brasil. Filho de imigrantes portugueses, regressou a Portugal com dois anos.

A família fixa-se no concelho de Cantanhede, na região da Gândara, mais precisamente na vila de Febres, onde o pai exerceu medicina.

Em 1953 publica o livro Uma Abelha na Chuva. Este romance foi reconhecido como uma das mais importantes obras da literatura portuguesa do século XX, tendo sido de leitura obrigatória nos programas escolares em Portugal até final da década de 1990.

Uma abelha na chuva é um romance neorrealista, retrata a vida rural da primeira metade do século XX, personagens fictícias retratam a vida campestre da lavoura, do trabalho artesão, do dever de manter a castidade até ao casamento, e dos deveres para com a igreja.
A consciência revolta o cérebro de Álvaro Silvestre. O lavrador roubou, ao longo da vida, tudo quanto podia, inclusive à própria família, mas um acontecimento fê-lo parar para refletir e arrependeu-se. Questiona-se sobre o sentido da vida e da morte. É um Ser medíocre como muitos outros na sua condição, infeliz, mal-amado, intriguista. Culpa a mulher por todos os seus desvarios, mas esconde-se debaixo das suas saias.

Maria dos Prazeres, mulher decidida e com forte caracter, corre atrás do Álvaro na tentativa de o controlar e evitar disparates. Um casamento despojado de sentimentos e atrativos sexuais, alimenta os seus sonhos de amor e paixão com outros homens, particularmente com Jacinto, o seu cocheiro.
Clara e Jacinto quebraram as regras da castidade, mas o amor de ambos é proibido pelo amor de um pai, que acha que sabe o que é melhor para a sua filha.

Dr Neto e Claúdia eternos amantes, puros, prestáveis, cumpridores, bons cidadãos mas malvistos aos olhos da igreja por viverem no pecado.

Padre Abel e a “irmãzinha” D. Violante, lá diz o proverbio “faz o que te digo meu filho, mas não faças o que eu faço”, porque isso é pecado, aos olhos de Deus.

Um pouco de tudo isto que este pequeníssimo livro nos traz, a dicotomia da consciência:
A vida e a morte,
O bem e do mal,
A virtude e a infâmia.
A malvadeza e a puerilidade.
Profile Image for Ricardo Silvestre.
205 reviews35 followers
October 30, 2024
“(…) o homem é o lobo do homem e, portanto, entre devorar e ser devorado, o melhor é ir aguçando os dentes à cautela.”

O Neo-realismo foi um movimento artístico que surgiu em Portugal no início de 1940. Ideologicamente de esquerda, mas paralelo ao Estado Novo, o movimento visava agir como um transformador da sociedade portuguesa. Ao mesmo tempo que entrava em confronto com o totalitarismo vivido à época, dava a conhecer as injustiças sociais nas quais o homem comum tinha papel de destaque.
Considerado um dos maiores escritores portugueses da segunda metade do século XX, Carlos de Oliveira foi também uma figura representativa do Neo-realismo português.

Este ‘Uma Abelha na Chuva’ foi a minha porta de entrada para a obra deste autor. Apesar da sua elevada importância no panorama literário nacional, certo é que sempre me passou um pouco ao lado e não me lembro sequer de o ter estudado na escola (ainda que este se tenha tornado um clássico de leitura obrigatória dos programas escolares na década de 90). Memória selectiva, talvez!?!

Quanto à experiência de leitura, esta foi bastante agradável, não só pelas questões retratadas e claramente associadas ao Neo-realismo mas também pelo seu carácter cinematográfico, muito por conta da escrita subtil e engenhosa com que o autor nos dá a conhecer as personagens e o ambiente que as rodeia. Teria preferido outro final mas o que se relevou não deixou de ser uma surpresa.

Saldo largamente positivo.
Profile Image for Ana Sofia Filipe.
272 reviews2 followers
April 24, 2019
Um romance bastante interessante e com uma imagem bastante verosímil da realidade em muitos locais do país.
A submissão à religiosidade e a procura pelo perdão e a submissão ao castigo redentor.
As intrigas entre habitantes de uma pequena região. A forma crua com que se resolvem os problemas de honra e de moral - à lei do mais forte e da violência, no caso concreto, da morte.
Os jogos de forças e de poderes mesmo dentro do casamento.
As relações entre ilustres da vila, com serões e encontros noturnos e com revelações perigosas.
Ainda assim, considero um romance simples, linear. Apesar de bem escrito, não levanta sobressalto, não mexe nem ferve no leitor.
This entire review has been hidden because of spoilers.
Profile Image for João Ferreira.
3 reviews2 followers
Read
September 18, 2023
Retrato fiel de um Portugal provinciano, bacoco e miserável. Imergimos e contemplamos a descrição genuína de personagens presas pelas suas falhas de caráter, pelos seus demónios, desculpando-se sempre pelas suas circunstâncias. Uma clara e inegável obra do neo-realismo português.
Profile Image for Joana Margarida.
174 reviews45 followers
January 6, 2022
Vibes de crime e castigo. Como começar o ano literário com o pé direito :)
Profile Image for Paulo Rodrigues.
253 reviews18 followers
August 20, 2023
Uma Abelha na Chuva de  Carlos de Oliveira
A história é centrada em   Álvaro e Maria dos Prazeres, casados por interesse. Casaram numa altura em que as famílias fidalgas se encontravam falidas e, como tal, casavam as suas filhas com comerciantes e lavradores. “Sangue por dinheiro”, como nos conta o autor. No início da narrativa, Álvaro dirige-se a pé,
à redacção da Comarca de Corgos. Pretende publicar no jornal uma confissão dos seus pecados, para poder de alguma forma, redimir-se. A partir daqui, desenvolve-se a história deste casal.
Com apenas 132 páginas Uma Abelha na Chuva é uma leitura rápida e compulsiva.
Com um enredo  dramático que me prendeu do início ao fim.
O dramatismo de todos os acontecimentos está sempre presente, aliado a uma escrita poética  (o escritor também era poeta e isso é bem patente na escrita).
Com poucas personagens mas muito distintas. Há personagens para todos os gostos, a Dona Violante por exemplo, que com os seus provérbios me fez rir muitas vezes no meio de tanta tristeza que este livro nos traz . Uma obra com uma escrita muito elaborada como são os livros do escritor, mas fácil de ler . Escrito em 1953
é também uma obra interessante por representar a sociedade portuguesa de há umas décadas atrás. Retrata o quotidiano dos portugueses, bem como a situação política e económica da época, tanto na metrópole, como nas então colónias portuguesas.Temas como o racismo e sexismo estão aqui bem destacados.

"Não leias esta passagem à cunhada, mas fica sabendo que uma preta, bem espremida, deita mais sumo do que uma laranja. A questão é enchê-las dumas aguardentes lêvedas que por aqui há e eu quero ver onde é que está a branca que dê um rendimento destes."
Amores forçados e amores impossíveis, proibidos, tudo ingredientes que fazem deste livro uma obra prima da literatura portuguesa.
Profile Image for Rui.
153 reviews
March 21, 2022
Um belo livro, com uma história cativante e caracterização psicológica das personagens bem construída. A meu ver, beneficiaria de um ritmo um pouco mais lento. Fora isso, foi ótimo ler este romance.
Profile Image for Pedro Gomes.
Author 2 books18 followers
April 21, 2024
Carlos de Oliveira é brilhante no uso linguagem, de um apuramento notável, e não menos na composição. Na análise deste romance, devemos, como diz o Dr. Neto (personagem do dito), partir do real e concreto, para o abstrato e complexo. Neste caso, partir da pequena comunidade de Montouro para uma caracterização da sociedade portuguesa no tempo do Estado Novo.

Silvestre (pequeno burguês, gordo, indolente e covarde) casou com Maria dos Prazeres (filha de fidalgos decadentes e falidos). Maria dos Prazeres é a abelha rainha e o motor de uma colmeia bem pintada por fora, mas putrescente e disfuncional por dentro – alimentando-se de ressentimento produz apenas fel. Maria dos Prazeres vive um vazio impossível de preencher: reduzida a uma pequena burguesia soturna e canalha, cambaleante na sua mesquinhez, cheia de remorsos fingidos; no quarto gélido, a sua sexualidade reprimida (função primordial da abelha rainha) lateja: pelo cocheiro Jacinto; e mesmo na admiração pelo cunhado que foi para as colónias espremer pretos e pretas.

António (o oleiro cego, que virou santeiro) e Marcelo (o seu ajudante) matam Jacinto, o cocheiro de Silvestre, incitados este. Mas a origem deste crime não foi a honra ofendida de Clara (filha de António, amante de Jacinto de quem carregava um filho). Foram os ciúmes de Silvestre acerca dos olhares lúbricos que Maria dos Prazeres lançava inadvertidamente ao cocheiro. Pior do que os olhares, o desvelo com que Jacinto, conversando com Clara no palheiro, ridicularizavam a sua falta de vigor sexual.

Jacinto e Clara são as únicas personagens deste romance que têm uma vitalidade pungente. São elas as abelhas obreiras, as abelhas boas – abatidas por pingos de chuva morrem, assim como o seu filho por nascer. Estas produziam o mel que todos os outros transformavam em fel.

A caracterização de António (Salazar) e Marcelo (às vezes Marcelão) como meros instrumentos na mão de uma pequena burguesia canalha, falida e desesperada, que não fode nem deixa foder, poderá ser surpreendente. Uma pequena burguesia que, por sua vez, não tem sequer a nobreza de assumir os seus atos, e que repousa a sua consciência numa aristocracia silenciosa, a rainha que ninguém vê e a que já ninguém pode atender.

A sociedade portuguesa mudou muito ou pouco, desde então? É com certeza mais aberta e plural. Mas quanto do que aqui é descrito não se poderá identificar ainda hoje?

Profile Image for Beatriz.
313 reviews98 followers
March 28, 2020
Lê-se numa ou duas assentadas. A primeira metade é só um aquecimento, para se conhecer as personagens. Na segunda, toda a acção se desenrola rapidamente e dei por mim na última página a pensar "já está?".

Mais uma vez, uma leitura curta, mas desafiante e edificante, ideal para quando nos falta concentração.
Profile Image for Manuela.
173 reviews
April 4, 2025
Uma abelha na chuva a simbolizar a fragilidade da vida, numa sociedade que valoriza o dinheiro, o poder, a vaidade e a aparência.
Começa-se com o sentimento de culpa, remorso e confissão de pecados e acaba-se em tragédia, na aldeia de Montouro. Sai mais um brandy para Álvaro Rodrigues Silvestre.
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