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Casa de família

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São Paulo, 2019. Preocupada com a perda progressiva da memória, uma mulher se esforça para reordenar lembranças das figuras que moldaram sua identidade: a mãe, o pai, o irmão e aquelas outras, as empregadas, que acompanharam a história da família por trás de uma barreira invisível e cada vez mais frágil.

O que é uma casa de família? Mais do que o sobrado em São Paulo que abriga o típico arranjo patriarcal da classe média brasileira, a expressão se refere aos locais aonde mulheres de todos os cantos do país, mas sobretudo do Nordeste, vão trabalhar como domésticas, babás, cuidadoras.
Quando Soraia começa a registrar suas recordações, com a aproximação da meia-idade e percebendo as imagens de sua infância se embaralharem na mente, são as vozes dessas mulheres que insistem em ecoar --aquelas que chegavam e partiam de sua casa em fluxo ininterrupto desde que a mãe ficou acamada por uma doença degenerativa. Somando a elas as memórias do pai, em suas jornadas para fechar as contas, e as do irmão mais velho, fascinado pelo empreendedorismo, Soraia tenta dar sentido às experiências que viveu.
Autora estabelecida na literatura brasileira, com obras premiadas publicadas por diferentes editoras independentes, Paula Fábrio estreia na Companhia das Letras com seu livro mais arrebatador. Casa de família explora questões de classe e gênero com maestria, buscando entender, por meio das pequenas relações encerradas em um ambiente doméstico, grandes temas do Brasil contemporâneo, desde os resquícios da escravidão atéas origens da ideologia de extrema-direita.

308 pages, Kindle Edition

First published September 10, 2024

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Paula Fábrio

12 books5 followers

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Displaying 1 - 14 of 14 reviews
Profile Image for Alysson Oliveira.
385 reviews47 followers
September 24, 2024
A “casa de família” do título do romance encerra em si uma duplicidade tipicamente brasileira como na frase “ela [pois é sempre uma ela] trabalha em casa de família”, geralmente alternada como “ela é (praticamente) da família”. O título do romance de Paula Fábrio também remete ao palco da trama: uma casa de família ao longo de 40 anos, de 1983 a 2023.

Embora a trama tenha um fio cronológico, os fatos são narrados por associação, idas e vindas no tempo, um rolo compressor que passa pela História, típico do sujeito – no caso, sujeita – pós-moderno. As memórias se confundem e atravessam. E o fato de boa parte do livro se passar no final da ditadura e outra boa parte em 2019 não é mero acaso.

As empregadas entram em saem de cena, algumas deixam mais marcas do que as outras. E que Paula consiga criar personagens vivas, às vezes, em um único parágrafo, é um grande feito de seu livro que, em suas páginas, figura a posição da mulher na nossa sociedade amargamente patriarcal. É uma posição de exploração – mesmo que, eventualmente, sejam as patroas. Às mulheres está fadada a posição de cuidados, seja do lar, dos filhos, dos pais.

A narradora é uma figura carismática que sabe – com a autora – construir frases com sagaz precisão que revelam dinâmicas sociais que permanecem ao longo dos séculos na sociedade brasileira.

As empregadas são do tipo mais variado, mas parecem manter a constante da necessidade – econômica, social, até cultural – da submissão. A passagem delas, filtrada pelos olhos da narradora de classe média, permite uma figuração de como a sociedade brasileira esconde na amizade as relações trabalhistas que são manchadas pelos laços pessoais.

Ainda pelo olhar pessoal, a história do Brasil é uma força motriz aqui, da saudade da ditadura à reforma da previdência, nada é estranho ao romance que ainda cita um certo Jair, filho de um arranca-dente, que abusa de uma das empregadas numa cidade do interior de SP anos atrás. Ao olhar vida dessas mulheres – e de homens que as cercam – que Paula vai ao âmago de nossa vida, como o trator da História passa por cima de nós esfacelando sonhos e possibilidades.
Profile Image for Gabrielle Cunha.
430 reviews114 followers
November 24, 2024
Uma família classe média baixa lidando com uma doença - esclerose múltipla. A protagonista, Soraia, que conhecemos criança e depois mais velha, analisando sua vida sob a ótica das classes, da política brasileira dos anos 80 e atual. É um livro denso, bem triste, melancólico. Foi uma ótima leitura!
Profile Image for Andre Aguiar.
474 reviews114 followers
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August 10, 2024
Assim como os mortos são assunto para os vivos, os doentes são matéria dos sãos. E os criminosos, bem, os criminosos dizem respeito às vítimas — quando elas sobrevivem.
Profile Image for Carla Parreira .
2,041 reviews3 followers
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May 25, 2025
O livro explora a relação entre passado e presente através da narrativa de Soraia, que retorna à casa de sua infância no dia das bruxas, 31 de outubro de 2019. O romance, com quase 300 páginas, é denso, mas acessível, e aborda temas como memória, desigualdade e a fragilidade das relações familiares. Soraia revisita sua história familiar, marcada pela doença da mãe, que consome as economias da família de classe média alta, e pela presença de empregados que contrastam com sua realidade. A narrativa fragmentada alterna entre diferentes tempos e vozes, revelando a dinâmica familiar e as tensões sociais. A relação de Soraia com as empregadas, como Lourdes e Nilceia, traz à tona questões de classe e privilégio, enquanto a família enfrenta a deterioração de sua condição social. A busca por uma nova empregada, após a saída de Francisca, simboliza a luta da família para manter as aparências em meio ao colapso financeiro e emocional. A história se desenrola em um ambiente onde as memórias e as vozes do passado ecoam, revelando as complexidades das relações humanas e as desigualdades que permeiam a sociedade brasileira. A obra também aborda a questão do "quartinho de empregada", um símbolo da desigualdade social que transcende fronteiras, sendo comparado a espaços similares na França. Essa realidade reflete uma forma de escravidão moderna, onde as empregadas vivem no local de trabalho, sem a liberdade de retornar para suas casas. A narrativa revela como a dependência da família em relação às empregadas se torna evidente, especialmente em momentos de folga, quando a ausência delas gera desconforto e desorganização. A estrutura do romance, que transita entre diferentes décadas, permite uma reflexão sobre a evolução política e social do Brasil, apresentando a casa como um microcosmos das transformações do país. A autora, Paula Fábrio, é reconhecida por sua habilidade em explorar temas complexos, e a resenha menciona outros livros de sua autoria, como "Desnorteio" e "Um dia Toparei comigo", além de suas obras voltadas para o público infantojuvenil. A narrativa também toca na fragilidade da memória, especialmente em relação a doenças como Alzheimer, que afetam a capacidade de contar histórias e manter a coerência. A protagonista, ao revisitar sua história, enfrenta suas próprias insensibilidades e complicidades em uma estrutura social desigual. A linguagem utilizada por Fábrio é descrita como crua e ao mesmo tempo poética, refletindo a brutalidade das situações abordadas. "Casa de Família" foi premiado com o prêmio Carolina Maria de Jesus em 2023, consolidando a posição da autora como uma voz importante na literatura contemporânea brasileira.
Profile Image for Guilherme Soares Zanella.
157 reviews2 followers
November 15, 2025
A memória é a invenção mais cruel de todas. Mesmo assim, perdê-la é o meu maior pesadelo. Quanto mais eu alimento o medo de perder a memória e, com ela, a noção de quem eu sou e o controle sobre anseios e desejos, mais me interesso pelo tema, principalmente na ficção. Neste livro, mais do que narrativas, perspectivas de vida se misturam em um mosaico que, a medida em que avança, vai se tornando mais embaralhado. Apesar disso, é sem perder a lucidez que nossa narradora nos guia pelos anos que passou acompanhando as entradas e saídas de várias empregadas domésticas contratadas para, entre outras coisas, cuidar da sua mãe enferma. Pensei que a relação entre a família de classe média e as empregadas que, com ela, "traziam um pedaço do nordeste", seria melhor explorada aqui, mas há uma narrativa que sorrateiramente passa a assumir protagonismo: a relação com Toninho, o irmão. Poderia assumir que faz parte de um livro disposto a embaralhar as memórias também embaralhar seus temas. Apesar disso, me via frustrada repetidas vezes, buscando um fio narrativo que aprofundasse alguns pontos que me interessavam mais, mas muitas vezes abandonados por uma trama que me interessava menos: Toninho, suas condutas questionáveis e antiéticas, e seu final um tanto previsível, mas pouco revelador para além de tudo o que já sabíamos. Gostaria de uma brecha maior para a vida dessas figuras itinerantes que atravessaram a vida e a casa dessa família. Na tentativa de criar elipses para melhor denotar a falta de memória, a autora também parece desconectar completamente a vida da protaognista da existência das empregadas, as tratando como temas à parte, vistas somente com distanciamento crítico e sem muita avaliação para além do superficial. Nossa personagem parece preocupada demais em se agarrar a qualquer fio de memória e muito menos em reavaliar, revisitar ou mesmo transformar qualquer coisa em sua vida. A estrutura, em certo ponto, mesmo que interessante, cansa. A confusão mental não é tanta a nível de nos perdermos em sua espiral. Pelo contrário: o avanço na vida da protagonista está muito bem ligado a eventos políticos e sociais demarcados, o que cria uma espécie de "raia" que não nos permite perder a linha. A imersão acontece, o interesse é legítimo pelos rumos da trama, mas as interrupções e a intrusão-Toninho distrai bastante. Um livro cheio de qualidades, mas não chegou "lá" (na minha opinião, como sempre é por aqui).
1 review
July 14, 2025
A ruína de uma família.

Achei muito bacana toda a construção do livro em torno dos fragmentos desorganizados da memória da Soraia, filha de uma mãe que sofre de esclerose múltipla, uma doença degenerativa. O fato do livro não ser linear e muitas vezes desorganizado e incerto (a narradora não tem certeza e nem precisão de determinados fatos), faz com que o livro seja bastante dinâmico e mimetize esse exercício de rememoração.

Assim como a doença, vamos vendo pouco a pouco a degradação e a ruína dessa família, que viveu por muito tempo de aparências. Uma família de classe média que representa o nascimento da ideologia bolsonarista de hoje em dia, totalmente sem consciência de classe e cheia de preconceitos. Uma família que também é o sintoma de um país em crise e em profundo mau estar.

Eu gosto da forma como sentimos ranço dessa família, até mesmo da narradora Soraia, que também acaba sendo vítima desse contexto patriarcal (algo que é muito presente no livro e até sufocante). O Toninho é daqueles personagens abomináveis, que é capaz de bater na mãe, invisibilizar a irmã e até mesmo abusar dela? (Tem uma passagem do livro que isso chega a ficar implícito e sugerido).

O romance acaba, portanto, soando como um bildungsroman em diversos momentos, a medida em que acompanhamos as recordações da protagonista sobre a doença da mãe, a omissão do pai, a psicopatia e desejo por empreendedorismo do irmão e, principalmente, a passagem de muitas trabalhadoras domésticas por aquela casa e a relação de Soraia com elas — que vai se transformando com o passar do tempo. A maioria dessas moças são jovens e algumas até menores de idade. Em uma época sem legislação para as mesmas, é revelado um contexto de exploração e muita falta de respeito.

Demora bastante para a Soraia ter consciência de todas as pequenas violências vivenciadas naquele contexto familiar disfuncional.

Uma coisas que AMEI no livro foram as partes narradas pelas trabalhadoras domésticas, narrando suas experiências trabalhando na casa e suas vidas sofridas no interior. Nilcélia, você tem meu coração todinho.

Fiquei com pena da Ruth, queria muito saber o que aconteceu com ela.

No mais, recomendo imensamente a leitura. A autora tem um olhar muito atento as questões sociais que ressoam no Brasil contemporâneo.

Profile Image for Laura Guimarães.
90 reviews2 followers
November 7, 2024
4,5 ⭐

É até difícil para mim escrever esse review porque esse livro me pegou num lugar muito pessoal.
Eu vi ele em um vídeo de unboxing do Livraria em Casa e imediatamente coloquei no meu TBR, e acabei ganhando de presente do meu pai.

Retratando uma "casa de família" nos anos 80/90, a personagem principal lembra da sua adolescencia e vida adulta, quando sua mãe adoeceu e passou a precisar de cuidados constantes. Com isso, uma narrativa vai se formando misturando a narrativa da personagem principal com a narrativa das mulheres que trabalharam em sua casa. A narrativa vai e volta para o passado e para diversos momentos no tempo, com fragmentos e pedaços da história se misturando.

O livro é uma história profunda sobre a desigualdade, o racismo, a xenofobia e o preconceito que moldam o Brasil.

Como eu falei, essa é uma história que me toca num lugar muito pessoal, porque dos meus 12 aos meus 20 anos, minha avó, que morava comigo, precisava de cuidados constantes e mulheres trabalharam na minha casa cuidando dela É difícil ver nossos próprios preconceitos e crenças refletidos de volta pra nós, mas graças a deus nós temos livros e histórias e vivências que nos permitam crescer dessa maneira.

Enfim, recomendo, muito bom.
Profile Image for Roberta Goria.
8 reviews
May 27, 2025
Casa de Família, de Paula Fábrio, é um romance que mergulha nas complexidades das relações familiares e sociais no Brasil, explorando temas como classe, gênero e memória. A narrativa é conduzida por Soraia, que, enfrentando lapsos de memória, revisita sua adolescência nos anos 1980, período marcado pela doença degenerativa de sua mãe e pela presença constante de empregadas domésticas no lar. Essas mulheres, muitas vezes invisibilizadas, desempenham papeis cruciais na dinâmica familiar, revelando as tensões e desigualdades presentes na sociedade brasileira.
A estrutura do romance é fragmentada, refletindo a tentativa de Soraia de reconstruir suas lembranças e compreender o impacto dessas experiências em sua vida. A autora utiliza essa forma para destacar como a memória é seletiva e influenciada por emoções e contextos sociais.
Casa de Família é uma obra que convida à reflexão sobre o papel das mulheres, especialmente das trabalhadoras domésticas, e sobre como as relações de poder e afeto se entrelaçam no ambiente doméstico. Através de uma escrita sensível e crítica, Paula Fábrio oferece uma visão profunda das estruturas sociais brasileiras e das memórias que moldam nossa identidade.
Profile Image for Camila Vilela De Holanda.
190 reviews11 followers
November 20, 2024
Achei tão bonito, tão sensível, tão lúcido o jeito como Paula Fábrio versa e proseia sobre os vilões e heróis das nossas histórias (e da linha tênue que os separa, norteia, direciona, dos rostos embaçados que eles têm, das dubiedades das suas almas), das nossas paredes, dos nossos íntimos, das nossas solidões, das nossas ilusões, dos fantasmas encarnados das nossas memórias, dos nossos desejos, das nossas culpas, das nossas dores, da nossa imensa vontade de deslembrar, das nossas (im)possibilidades, todas elas e outras mais.
Profile Image for Federico Leon.
Author 6 books6 followers
December 22, 2025
La crisis en el día a día de una familia, causada por la enfermedad paralizante de la madre, narrada con nostalgía desde el presente a través de los ojos de la hija, recordando la rotacion permanente de enfermeras y empleadas domésticas y su relación con ellas cuando era pequeña y cómo, a pesar de sus propios temas, ayudaban juntas a mantener cierto orden en esa “casa de familia” en la que los problemas nunca paraban. 👏👏👏
Profile Image for Giulia.
71 reviews1 follower
February 17, 2025
Perfeito, o livro consegue contar a história de uma família, dando forma a filha, filho, pai e mãe. Mostrar um pouco da migração que acontecia (e ainda acontece) dentro do Brasil, onde inúmeras mulheres se despediam de suas casas e famílias para cuidar de casas e famílias alheias, e ainda ter como plano de fundo todo o Brasil, com os detalhes da cultura e política desde os anos 70 até 2023
Profile Image for Ju Rocha.
31 reviews
July 6, 2025
A casa é mesmo de família?

Um livro cheio de sentimentos ambíguos, assim como ele próprio: leve de se ler, mas que nos traz porradas e duras verdades sobre "ser humano". A nossa humanidade é colocada sem frescura quando tratando de temas pesados. Os relatos que parecem desencontrados são profundos e filosóficos, ao mesmo tempo que a autora parece querer simplesmente aproximar-se mais de um desabafo, algo posto pra fora.
Enfim, apesar da distância e da diferença de vidas (da autora e nossas), é um livro que nos aproxima dela, de suas questões, e dos seus pensamentos e sentimentos. Ela nos relembra a cada momento de como somos diferentes e semelhantes nessa condição humana que é de cada um e de todos.
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