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O livro africano sem título: Cosmologia dos Bantu-Kongo

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O livro africano sem título ― Cosmologia dos Bantu-Kongo, do congolês Bunseki Fu-Kiau, um dos mais importantes acadêmicos e pesquisadores da cultura africana, condensa os princípios da cosmologia dos Bantu-Kongo, grupo étnico situado nas margens do Oceano Atlântico na África Ocidental. Com o amparo de figuras e diagramas, Fu-Kiau apresenta os ensinamentos, princípios, provérbios e a concepção de mundo que constituem o sistema de pensamento dessa cultura africana, que tem a coletividade, a comunidade e a ancestralidade como características fundamentais. Com tradução do músico e professor da Universidade Federal da Bahia Tiganá Santana, o primeiro livro de Fu-Kiau publicado em português oferece ao leitor brasileiro acesso a uma tradição de grande influência na formação do país, que evidencia o entrecruzamento de perspectivas transatlânticas, uma vez que grande parte dos escravizados que chegaram ao Brasil vinha do que hoje conhecemos como Angola, cujos habitantes pertenciam ao tronco linguístico bantu. O livro inclui uma entrevista conduzida pelo tradutor com a educadora Makota Valdina, a primeira pessoa a verter escritos de Fu-Kiau para o português e textos de capa assinados por Leda Maria Martins e wanderson flor do nascimento, que enriquecem ainda mais a edição. O livro africano sem título ― Cosmologia africana dos Bantu-Kongo é uma fonte valiosa de conhecimento sobre a sabedoria e filosofia africana e um combustível para novas formas de pensamento e abordagens para o presente e o futuro. Trechos “Cada pessoa e´ um segundo sol nascendo e se pondo na Terra. Ela tem que nascer, como o sol o faz, para Kala, para ser, para se tornar, para acender o fogo. O conceito de Kala e kalazima em si e´ associado ao negrume e e´ usado como um si´mbolo de surgimento da vida, o mundo fi´sico [ku nseke]. A pessoa espiritual, ngu^nza, e´ associada a`s forc¸as por tra´s desse conceito e processo. Kala e´ a vontade mais forte de existe^ncia de cada mu^ntu, conforme encontramos em suas expressões diárias.” “A atenc¸a~o de vida da pessoa, ku nseke, esta´ centrada em n’kisi (N), que e´ o elemento mais importante e central neste mundo. E´ a forc¸a-elemento que tem o poder de ki^nsa, radical de n’kisi, significando cuidar, curar, tratar, guiar por todos os meios, inclusive por cerimo^nia. N’kisi cuida dos seres humanos em todos os seus aspectos de vida no mundo por aqueles terem um corpo material que requer cuidado por meio de n’kisi (reme´dio). Visto que cada pessoa vive num mundo rodeado de ma- tadi (M), minerais, bimbenina (B), plantas, e bulu (b), animais, cada n’kisi (N) deve constituir-se por compostos de M-B-b.”

208 pages, Paperback

First published January 1, 2001

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13 reviews
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July 15, 2025
Realmente muito bom. O livro entrega tudo o que promete. Confesso que vim a partir de um artigo do Fu-kiau que havia lido e do conceito de tempo espiralar usado por Leda Maria Martins. Dessa forma, devo admitir que o livro não tem esse foco, mas de qualquer forma, ele condensa de forma impecável a cosmologia bantu-kongo.
Profile Image for Raphael Donaire.
Author 2 books36 followers
January 4, 2025
"O Livro Africano sem Título", de Bunseki Fu-Kiau, é uma obra que transcende os limites convencionais da escrita acadêmica e se aventura no coração da cosmovisão Bantu-Kongo. Neste trabalho, o autor aborda uma gama de conceitos que vão desde a vida e a morte até a lei e o universo, enriquecidos por uma profunda reflexão sobre a natureza essencial da existência humana e da comunidade.

O autor nos guia através de um intricado mapeamento do universo segundo a perspectiva Bantu-Kongo, onde cada indivíduo é visto como um "segundo Sol" na Terra, iluminando e sendo iluminado pelos ciclos da vida e da natureza. A ideia de "Kalunga" – entendida como um oceano, imensidão e força vital em constante movimento – é central no livro, representando tanto o princípio divino da mudança quanto a conexão eterna entre os vivos e os mortos, estes últimos vistos não como seres ausentes, mas como presenças contínuas aguardando um retorno ao mundo físico.

As ilustrações e gráficos que acompanham o texto servem não apenas como elementos visuais de apoio, mas como extensões dos conceitos apresentados, ajudando quem lê a visualizar as estruturas científicas e filosóficas das antigas escolas de pensamento africano. Fu-Kiau destaca as ferramentas necessárias para entender essas estruturas, que ele descreve como ainda vivas nas "mentes das bibliotecas africanas".

Um dos aspectos mais provocativos da obra é sua crítica ao conceito ocidental de "civilização". Fu-Kiau argumenta que a verdadeira civilização deve ser medida não apenas pelos padrões de conhecimento e desenvolvimento tecnológico, mas pela capacidade de uma sociedade de nutrir e valorizar suas raízes comunitárias e ancestrais. Ele critica duramente os líderes africanos que veem a diversidade étnica como um sinal de "tribalismo", acusando-os de negar a rica tapeçaria de identidades que formam a nação.

Vale um destaque para o tema educação. Através dos saberes ancetrais, Fiau descreve o conhecimento como algo que não pertence a indivíduos isolados, mas ao mundo inteiro, e critica a noção de que o saber pode ser possuído ou retido por algumas pessoas. Em vez disso, Fu-Kiau encoraja uma cultura de compartilhamento e disseminação de conhecimento, onde cada pessoa é tanto um arquivista quanto um divulgador de saberes.

Trechos que me chamaram a atenção:

- Para uma mûntu africana, os mortos não estão mortos: são apenas seres vivendo além da muralha esperando pelo seu provável retorno à comunidade, ao mundo físico.
- Cada pessoa é um pequeno Sol nascendo e se pondo na Terra.
- Somos rolos de vida na forma de fitas que armazenam tudo o que realizamos. Por conta desses registros estarem escondidos em cada pessoa, o passado é passível de ser lido.
- Etnia não é uma doença é, em sua diversidade, o orgulho nacional.
- O conhecimento não está em nós, está fora de nós. Somos apenas máquinas de arquivo, computadores vivos, com o poder de coletar e arquivar as informações para o uso futuro, à vontade.
- Um aprendizado superficial, em qualquer lugar do mundo, é muito perigoso no que diz respeito as relações humanas. É sempre melhor permanecer calado do que proferir declarações incorretas sobre outras culturas. Muitas da tensões mundiais correntes são o resultado dessas declarações.
- Líder tem ouvidos e não boca.


"O Livro Africano sem Título" é um convite para explorarmos uma filosofia frequentemente desconsiderada no meio acadêmico e intelectual. A obra nos encoraja a entender como o continente africano e seus saberes podem enriquecer nosso repertório e nos permitir resignificar conceitos como identidade, comunidade e liderança. Fu-Kiau nos desafia a reexaminar nossas próprias noções de sociedade e progresso, e a considerar como as antigas tradições podem oferecer insights valiosos para os desafios modernos. É uma obra que não apenas informa, mas também transforma, convidando-nos a refletir sobre como podemos contribuir para um mundo mais justo e interconectado.
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