A identidade, a memória, os traumas íntimos e geracionais de uma família portuguesa nos anos de 1990-2000.
Ensina-nos a teoria matemática que todo o acontecimento súbito e avassalador, a que chamamos catástrofe, não é mais do que o produto de incontáveis pequenas transformações passadas, e que todas as formas e seres, que julgamos fixos e permanentes no tempo, estão sujeitos a imprevisíveis variações futuras. De igual modo, neste seu romance de estreia, Rita Canas Mendes, com o olhar móvel da infância e da adolescência, percorre com humor e ironia os episódios, tristes, cómicos, trágicos e quotidianos, que constituem as vivências das várias gerações de uma família.
Decorrido entre Lisboa e Cascais nas décadas de 1990 e 2000, com incursões pontuais pela Guerra Colonial, o norte de Portugal e a Euro Disney, Teoria das Catástrofes Elementares é um romance em estilhaços, um vitral de memórias, traumas e identidades que revisita a história recente do país, confirmando a autora como uma das vozes mais promissoras da nova literatura portuguesa.
Os elogios da crí
«Narrativa habilmente urdida às circunstâncias íntimas da infância e juventude da protagonista, com os seus desafios próprios, muitos deles como aceitar a nossa família com todos os seus defeitos e limitações?»
O livro certo para ler neste tempo. Divertido. Reflexivo. Um livro que fala de nós. Que fala de classe, das dificuldades e das perfomances em torno do crescer algures no espaço metropolitano de Lisboa nos anos 90. Um livro que se prende no leitor e nos obriga a pensar na nossa história e memória.
“Com Teoria das Catástrofes Elementares senti-me como se estivesse a espreitar o diário íntimo da protagonista, ou até como se estivesse a assistir a uma sessão de terapia em que ela recorda diversos episódios que a marcaram.”
Em "Teoria das Catástrofes Elementares", Rita Canas Mendes propõe uma história fragmentada e introspetiva sobre a memória, a identidade e a história recente de Portugal. No entanto, a ambição da obra se perde numa narrativa confusa e sem coesão.
A fragmentação da narrativa, embora condiga com a temática da memória, torna a leitura difícil, exigindo um esforço maior para acompanhar a história.
As personagens pareceram-me unidimensionais e pouco cativantes. Falta-lhes profundidade e desenvolvimento, o que me impediu conectar-me com elas. A história em si não tem clímax e resolução e deixou-me a sensação que faltou isso mesmo
Se procuram uma narrativa contínua e personagens marcantes, não será o livro ideal. Mas se procuram uma leitura desafiadora este é o vosso livro.
Li este livro como se estivesse a folhear aqueles álbuns de fotos antigos que havia na casa dos meus avós, com fotos de momentos e viagens e a sua legenda. Momentos soltos da vida que me faziam imaginar o que tinha acontecido. Durante a leitura, fiquei com esta ideia: a autora pegou em folhas do seu diário e fez com elas uma espécie de colagem que resultou neste livro. Apesar de não haver uma continuidade na narrativa, gostei muito do tom autobiográfico (que não é, alerta logo a autora), e dos vários episódios com os quais acabamos por encontrar algo com que nos identificamos. É um livro divertido, cheio de ironia e de muita autenticidade, que passa por diferentes fases da vida da protagonista e da sua família, na Lisboa contemporânea. Recomendo!
Um livro com humor já me conquistou. Protelei ler porque o título remonta para a matemática que é algo muito nubloso e de difícil raciocínio para uma tola mas após ouvir Rita Canas Mendes em dois podcasts revi o meu julgamento antecipado. E ainda com um olho aberto e o outro a querer fechar arrastando o primeiro iniciei a leitura de manhã bem cedo e desde as primeiras páginas adorei a personagem com sentido crítico e muito humor que procura descobrir histórias de familiares. A sua ancestralidade. E a sua identidade.
Dei prioridade a este livro pela leveza com que trata assuntos sérios, sem os romancear como o alcoolismo, doenças mentais ou predadores sexuais. Das memórias vai rebuscar outros temas transversais. Pode parecer disperso mas eu achei deliciosa esta sequência para compor um quadro mas sou suspeita porque gosto de histórias em que se desbrava afetos e emoções. E adorei a Vera.😄
“Família, essa palavra sem limites. Podemos morrer a qualquer instante, mas enquanto isso nada acontece vamos sempre a tempo de renascer.” Conto ler o próximo livro.
A autora propõe uma narrativa introspectiva e cruzada, com avanços e recuos temporais, que entretece a história de uma família com a identidade portuguesa e a História contemporânea. A premissa é ambiciosa e cativante mas a sua execução deixa muito a desejar. Infelizmente, como é apanágio de alguns escritores portugueses contemporâneos, a escrita desta autora revela-se algo pobre e corriqueira. Denota falta de riqueza vocabular e acusa excessivas influências de escrita jornalística, o que é lamentável num exercício que se pretende literário. A narrativa fragmentada, com mudanças bruscas de vozes narrativas e constantes interrupções do fio condutor por meio de analepses e prolepses, poderia constituir um mecanismo literário de grande interesse e mérito. No entanto, a fraca construção das personagens e a sua notória unidimensionalidade tornam difícil a tarefa de manter o interesse pelos saltos narrativos. O que é contado carece de profundidade, e as personagens não conseguem ganhar vida na nossa imaginação leitora, permanecendo anémicas no papel. A ausência de um clímax definido e de um desfecho inequívoco éuma desventura rebelde, já tentada por outros contemporâneos e autores que ambicionam destacar-se pela inovação e arrojo. Contudo, incorre no grave pecado de trair o leitor - uma falha que talvez corrobore a máxima de que, para quebrar regras com sucesso, é preciso primeiro dominá-las. É triste criticar uma autora contemporânea portuguesa de cuja ficção queria genuinamente gostar. No entanto, este "Teoria das Catástrofes Elementares" fica muito aquém das expectativas.
Conjunto de crónicas sobre as relações familiares. É a minha primeira leitura da autora e por isso as expectativas eram zero. Percebi logo pelos primeiros dois capítulos que não teria uma narrativa contínua, antes pequenas crónicas subordinadas ao mesmo tema. Por estes motivos, não me senti defraudada e, como gostei da escrita da autora, foi uma leitura agradável. 3,5 ("a atirar" para o 4)
Rita Canas Mendes, I was not familiar with your game!! fiquei fã❤️🩹
percebo quem não tenha gostado ou entendido a estrutura, mas para mim foi como se me estivessem a contar histórias de família enquanto folheio um álbum de fotos. delicioso.
não há um capítulo que não tenha pelo menos uma passagem digna de ser sublinhada e discutida.
3.75⭐️ uma história com uma escrita diferente. a associação livre da narradora, tanto faz com que haja momentos em dificulta a leitura , como torna outros maravilhosos pelas ligações de pensamentos. pela sua voz conhecemos a sua história, a da sua família e a forma como a história dos seus familiares mexe na dela. vemos a transgeracinalidade em acção.
Foi-me difícil avaliar esta leitura, porque demorei a perceber que nesta história não "há fio à meada". Damos saltos temporais entre acontecimentos da vida da narradora que a marcaram ora pela positiva, ora pelas lições que lhe deram, mas fazemo-lo de uma forma desconexa, assim como é a memória humana. Talvez por isso não tenha conseguido ler este livro de enfiada, ainda que quando lhe pegasse, passasse um bom momento. É um bom livro para intercalar com outras leituras.
A escrita da autora é maravilhosa, para mim o ponto forte do livro, e por isso, mesmo que a estrutura deste não faça muito o meu género, lerei com gosto um romance mais tradicional.
Quando percebi que este é o romance de estreia da autora não queria acreditar! Poucos livros me deixam presa à narrativa desta forma. Dei por mim a querer falar dele a toda a gente, a toda a hora. Será uma recomendação fácil e imediata a partir de agora. Foi como espiar a vida de uma família portuguesa através da janela. Cheio de nostalgia, traumas geracionais e uma escrita que, a mim, particularmente, me diz muito ❤️
Amei este livro de uma ponta à outra. A Rita escreve de uma maneira soberba, é impossível pousarmos o livro. Que obra linda, escrita a partir daquilo que é uma infância, uma adolescência, uma vida adulta, o dia a dia. E tornar isso num livro tão bonito, é realmente incrível.
Sinto que falta coesão neste livro. São apresentados imensos estilos de escrita diferentes entre os diversos capítulos. Achei que as partes mais importantes estavam descritas de maneira muito vaga e apressada, e o que era irrelevante para a história estava muito descrito e extenso. Sinceramente achei o livro muito confuso e mal estrututado.
A primeira coisa que me chamou a atenção neste livro foi, sem dúvida, o título: “A Teoria das Catástrofes Elementares”. Que título original, que despertou de imediato a minha curiosidade para o seu conteúdo.
Confesso que não entrei de imediato na narrativa, levei alguns capítulos a conectar-me, mas quando tal aconteceu, foi uma leitura devorada, porque o tom da escrita criou em mim um enorme entusiasmo!
É precisamente o tom o que mais gostei aqui. Com um toque de humor/inspiração, Rita Canas Mendes tem uma forma muito própria de contar uma história, que eu apreciei muito. Ao longo destas páginas, vamos assistindo a um desfiar de memórias, numa viagem às origens da narradora, através dos inúmeros episódios que vai narrando.
Quase como se estivéssemos num serão despreocupado e alguém se fosse lembrando aqui e ali de acontecimentos e nos fosse contando. Gostei muito deste ritmo!
Está escrito na primeira pessoa, e de tal forma real que fiquei com dúvidas se seria tudo ficção…
Foi uma excelente surpresa, depois de um início mais atribulado (houve um capítulo em particular que esmureceu o meu entusiasmo, que foi depois retomado, felizmente), revelou-se uma excelente leitura!
O título e a capa deste livro foram o que captou a minha atenção e ainda bem que dei uma oportunidade a esta leitura.
Gostei muito deste primeiro contacto com a escrita de Rita Canas Mendes. O tom da obra é muito cativante, uma mistura de comédia e tragédia que funciona bem e é de fácil leitura.
A narrativa é apresentada através de capítulos episódicos, em que a narradora reflete sobre momentos marcantes da sua vida, traumas passados ou memórias de família. A estrutura não linear e com saltos temporais entre passado e presente é algo que, para mim, funciona sempre bem, e aqui não foi exceção.
A forma como a autora explora as relações familiares foi uma das coisas que mais gostei neste livro; pelo contrário, os capítulos dedicados a explorar o contexto social da época da narrativa - que se desenrola principalmente na viragem do século - nem sempre me conquistaram, pois senti, algumas vezes, que serviam apenas o propósito de defender uma opinião sobre os acontecimentos narrados. Apesar disso, ajudam a montar uma imagem de uma família de classe média a viver nessa altura e o seu impacto nas relações familiares, pelo que percebo o porquê da sua inclusão.
No geral, foi uma boa experiência de leitura e gostava de experimentar ler a autora num registo de narrativa mais tradicional.
O que dizer sobre esta experiência de leitura, a não ser que simplesmente amei?! Talvez admita que sim, não é um livro para todos os gostos, no entanto atrevo-me a dizer que para quem ama a escrita e a língua portuguesa sinto que é um dos livros contemporâneos da literatura (e sim é mesmo uma obra literária) portuguesa que merece mesmo ser lido! Para quem está habituado a ler romances mais contemporâneos e mais comerciais, ou mesmo os thrillers do momento, este livro é algo difícil de se entrar. Tem uma dinâmica algo diferente do que estamos habituados. Não existe uma linha temporal bem definida e a autora faz uma espécie de jogo tetris com os pequenos episódios que nos vai contando, aliás existe todo um jogo de palavras e frases que vão encaixando de forma perfeita e tudo vai ficando mais fácil de interpretar e começamos a ficar completamente viciados no livro e nesta forma de escrita poética e em mosaico. Existe muita sátira, momentos de humor, críticas sociais/políticas, reflexões sobre o passado e nostalgia dos anos 90. Ainda bem que a Rita escreveu este livro e provavelmente se fosse uma autora anglo-saxónica haveria prémios literários e sobretudo mais comoção em torno do mesmo. É um facto, nós não sabemos dar o devido valor ao que é nosso, e quando o fazemos é sempre em cima da crista da onda. Ainda me lembro de ter pegado no 'rapariga, mulher e outra' e de ter parado de o ler porque não estava a conseguir entrar nele, mais tarde com outra disposição voltei a pegar nele e simplesmente adorei. Acho mesmo que este livro e estilo de escrita da Rita é também uma experiência literária muito semelhante com esse livro da B. Evaristo, aliás não é à toa que partilham a mesma chancela literária e as capas têm algo de muito semelhante. Aqui com esta teoria das catástrofes elementares (que é um fenómeno em que eu acredito muitíssimo) também existe uma musicalidade na prosa que por um lado nos arrebata a alma, ao mesmo tempo que nos diz que aquela é uma ideia a reter, embrenhando-se nos nossos pensamentos.
"Teoria das Catástrofes Elementares" é um livro que se aventura por caminhos literários pouco convencionais, apresentando-se como um mosaico de memórias fragmentadas. A escrita, de tom casual e intimista, convida o leitor a entrar num espaço pessoal, onde pequenas catástrofes do quotidiano se entrelaçam com reflexões sobre temas complexos. A estrutura narrativa, semelhante a um diário, desafia as expectativas tradicionais. A ausência de uma linearidade clara e a natureza volátil dos pensamentos podem tornar a leitura desafiadora, exigindo um mergulho profundo nas nuances da obra. As memórias, por vezes aparentemente desconexas, surgem como flashes, sem uma conexão óbvia com o todo, o que pode dificultar a imersão do leitor. A autora toca em temas relevantes como abuso, racismo, patriarcado e sexismo, mas fá-lo de forma fugaz, sem aprofundar as questões. Essa abordagem pode deixar o leitor com a sensação de que os temas são apenas pincelados, sem explorar o seu potencial para gerar reflexão e debate. Em suma, "Teoria das Catástrofes Elementares" é um livro que se destaca pela sua originalidade e pela sua capacidade de captar a fragilidade da experiência humana. No entanto, a sua estrutura não linear e a superficialidade no tratamento de temas complexos não me agradaram.
Uma opinião vale o que vale... De facto, cumpre o propósito anunciado: "romance em estilhaços, um vitral de memórias, traumas e identidades que revisita a história recente do país". E para mim tem esse valor muito próprio, com um estilo incomum (que na verdade é uma mistura de estilos). Tem um vocabulário rico e acessível, que apreciei sobremaneira. Mas... tendo uma crítica tão boa, talvez eu não tenha sabido ser a leitora certa para este livro. Ou li de expectativas inflamadas, ou está sobrevalorizado. Lerei outro da autora a ver se chego a alguma conclusão.
Já li muitos livros que fala de famílias disfuncionais, mas confesso que deste não gostei. A autora/narradora é supostamente uma beta de linha de Cascais/Estoril, no entanto há muitas incongruências quanto ao vocabulário utilizado. Depois o livro está cheio de clichês, nomeadamente nomes próprios, propriedades/tempos vividos em África, senti que o livro está escrito de uma forma muito forçada, não flui naturalmente. Dei classificação três pois por vezes há partes com algum humor. Mas não me convenceu.
Teoria das Catástrofes Elementares centra-se em tudo aquilo que nos molda e que nem sempre é visível para quem está de fora (nem tem de ser). Embora não me tenha tirado o fôlego, acredito mesmo que é uma boa leitura e que nos permite refletir sobre «o que julgamos fixo», deixando-me com vontade de ler mais coisas da Rita Canas Mendes. Há aspetos que não controlamos, mas são estas variantes que sustentam a nossa vida.
Este livro, escrito na primeira pessoa, mostra vários episódios da vida da protagonista Vera. Ainda que não seja um livro biográfico parecia que estava a vasculhar a vida da autora. Gostei dos momentos familiares retardados e das características peculiares das personagens. Não gostei das incursões feitas a Moçambique (personalidades, revistas...) pois não reconheci qualquer referência feita. Esta parte do livro foi toda lida na diagonal.
Uma autora que não conhecia, traz-nos um romance difícil que descreve a vida de muitos portugueses nos anos 80/90 com tanto que pode ir menos bem as 3 estrelas são porque esta leitura não me cativou a ponto de querer continuar a ler mais, tem uma escrita exemplar, cuidada e com capítulos pouco extensos, estarei atento a novas publicações porque acho que outro registo da autora pode ser mais cativante.
3,5 ⭐️ Achei os primeiros capítulos muito fortes e adorei. Senti falta de um fluxo narrativo porque os saltos temporais confundiram-me um pouco. Fico na dúvida se se trata de um livro de ficção, auto-ficção ou não ficção porque me pareceu que estava a ler o diário da autora, mas suponho que esse seria o objetivo. No geral, gostei mas queria que tivesse terminado com a “força” que senti no primeiro capítulo.
Sem fio condutor, uma carrada de histórias contadas sem ordem específica e sem interligação com as páginas anteriores. É daqueles livros que é bom para a família da autora que provavelmente viu e experienciou muitas das coisas. Para quem está de fora, é fraco.