EXU EXISTE E ESTÁ EM CADA UM DE NÓS É ELE QUEM DÁ SENTIDO ÀS COISAS
Falar sobre Exu (em iorubá, Èṣù) não é tarefa fá trata-se de uma das personagens mais complexas e, talvez, a mais controversa de todas as divindades do panteão africano e das religiões afro-brasileiras, despertando, ao mesmo tempo, amor e ódio em milhões de pessoas ao redor do mundo.
Em O Exu que habita em mim, Vagner Òkè, pesquisador e divulgador do Culto Tradicional Yorùbá (CTY), a partir das narrativas orais transmitidas ao longo de gerações, coloca em evidência, de maneira didática e elucidativa, essa figura que representa a multiplicidade dos cultos africanos na diáspora. O leitor poderá conhecer como funcionam as dinâmicas de Exu em relação aos demais Orixás (como viver com propósito com Ogum, como ter confiança em si mesmo com Xangô, como ter empatia com Yemanjá) e de que maneira elas podem nos ensinar a ter uma vida melhor, mais plena, próspera e feliz.
O livro é um verdadeiro guia para uma jornada de redescoberta, a partir de uma autoanálise que vai mostrar como desenvolver as encruzilhadas necessárias para se apropriar do nosso poder pessoal e transformar nossa existência. Porque Exu representa o movimento, a união e a multiplicidade de tudo que habita em cada um de nós.
Descobri O Exu que Habita em Mim por recomendação na internet, e logo de cara fui fisgada pela proposta e pelo impacto visual da capa — linda e simbólica, um verdadeiro acerto da editora.
Escolhi lê-lo como leitura matinal, aquele tipo de livro que guia o dia com alguma reflexão. Nesse ritmo mais calmo, consegui absorver melhor o conteúdo, sem pressa e com intensidade. Dito isso, meu objetivo aqui é ser honesta e respeitosa na avaliação — acredito que esse seja o primeiro livro do autor, e por isso é ainda mais importante oferecer uma leitura crítica e construtiva.
Começando pelo ponto mais forte: a proposta. Ter um livro de reflexões com Exu como eixo central é potente, necessário e ainda raro. Existe uma carência de literatura que dialogue de forma profunda com as espiritualidades afroindígenas, especialmente com senso crítico. A divisão do livro por Orixás torna tudo mais didático e interessante, e a presença dos itans (mitos) enriquece muito — especialmente para quem já estuda o tema, como eu, foi um prazer ler outras interpretações desses relatos. A diagramação, o projeto gráfico e o cuidado estético são belíssimos. Um trabalho editorial primoroso.
No entanto, alguns pontos me incomodaram. A linguagem do livro, muito próxima da escrita de redes sociais, fez com que a leitura parecesse, por vezes, um longo post do Instagram. Isso pode funcionar para alguns públicos, especialmente os mais jovens ou iniciantes, mas para mim tornou a leitura mais truncada. Talvez eu esteja mal acostumada com autores como Luiz Antônio Simas, cuja escrita é mais densa e elaborada, mas senti falta de um equilíbrio entre informalidade e profundidade. Além disso, há erros de concordância que uma revisão mais cuidadosa poderia ter evitado.
Outro ponto delicado: em algumas partes, o livro se torna excessivamente pessoal. Embora o autor tenha todo o direito de trazer suas vivências, às vezes o foco sai completamente do Orixá e mergulha em histórias particulares que não dialogam tanto com o tema proposto. Um exemplo que me marcou negativamente foi o trecho sobre Iemanjá e tsunami — uma associação que, para mim, flerta perigosamente com discursos que reforçam o racismo ambiental. Esse foi um momento em que quase abandonei a leitura.
No geral, é um livro com uma boa proposta, que pode ser bastante útil para quem está começando a se aproximar das religiões de matriz africana. Em vários momentos, me veio a sensação de estar lendo um “Café com Deus Pai” para pessoas de religiões afroindígenas — o que, honestamente, pode funcionar muito bem dentro de um nicho específico. É um estilo mais "coaching espiritual", o que não é um problema, desde que seja claro para o leitor qual é a proposta.
Recomendo a leitura com senso crítico. O livro não é uma obra-prima, mas tem valor, tem alma, e revela um autor que certamente ainda tem muito a crescer. Um começo promissor.
Avaliação por Aspecto
Enredo / Ritmo ⭐⭐⭐⭐ (Para o tipo de livro, a divisão por Orixás e ritmo funcionam bem) Personagens / Desenvolvimento ⭐⭐ (Não se aplica muito, mas o excesso de autorreferência empobrece a profundidade do tema) Escrita / Estilo ⭐⭐ (Estilo muito informal e linguagem de internet, o que compromete o impacto literário) Temas / Profundidade ⭐⭐⭐ (Proposta potente, mas faltou aprofundamento e senso crítico mais refinado) Impacto / Emoção ⭐⭐⭐ (Tem momentos tocantes e traz reflexões importantes, mas perde força em alguns trechos) Design / Projeto Gráfico ⭐⭐⭐⭐⭐ (Impecável. Um dos grandes pontos fortes da obra)
Nota Final: 3,3 estrelas Uma obra visualmente linda, com uma proposta corajosa e necessária, mas que ainda precisa amadurecer no estilo e no conteúdo para atingir todo o seu potencial.
Comecei a ler por estar aprendendo e conhecendo mais sobre espiritualidade, e tem alguns pontos realmente relevantes, mas achei a linguagem coach demais, quase um livro de autoajuda.