Durante a Guerra Colonial (1961-1974), Portugal recrutou 1,4 milhões de militares para combaterem em Moçambique, em Angola e na Guiné. Um terço destes soldados eram africanos, na altura cidadãos portugueses que foram obrigados pelo Estado a cumprir o serviço militar. Este livro foca-se num universo muito específico deste contexto: os comandos africanos da Guiné, que integraram as três companhias criadas pelo então governador António de Spínola e constituíram a única tropa de elite do Exército português integralmente composta por militares negros.
Depois do 25 de Abril de 1974, estes homens foram abandonados por Portugal, o país que os obrigou a cumprir o serviço militar e pelo qual lutaram. 50 anos depois, contam pela primeira vez a sua história. Querem que o Estado português lhes devolva os direitos ganhos no campo de batalha e cumpra as promessas feitas. Este livro resulta de uma reportagem da Divergente.
O filme homónimo estreia no dia 19 de Outubro no âmbito do DocLisboa. Sinopse curta: Um livro que foi uma reportagem e é também um filme, sobre os comandos africanos da Guiné que integraram as companhias criadas por António de Spínola e forma forçados a combater pelo exército português durante a Guerra Colonial.
Uma reportagem/investigação sobre aqueles que ficam presos/ esquecidos das narrativas históricas. Sem fazerem parte da narrativa sobre a guerra colonial e revolução do 25 de Abril e muito menos das guerras da libertação, ficaram presos na promessa do Estado Português. Passados 50 anos, continuam a ser deixados de lado. E custa ver as fotografias dos ainda vivos ex-combatentes guineenses, sem que lhes sejam reconhecidos direitos. Leitura obrigatória!
Um livro pequeno mas muito curioso sobre um facto que pouca gente lembra - um episódio da guerra colonial no que respeita à integração de nativos nas FA portuguesas e que neste livro mostra em particular o caso da Guiné-Bissau, onde Spínola dando aso à sua ideia de uma independência especial, criou ma força especial de comandos, bem treinados, apenas constituídos por nativos, contra os "terroristas", que eram os homens do PAIGC. Foram importantes na estratégia de Spínola, qe os utilizava apenas em operações especiais, na sua ideia de que seriam eles a força militar do novo país após a derrota das forças de Amilcar Cabral. E ainda conseguia desta forma não tilizar tantos homens vindos da metrópole. Só que as promessas de que no futuro, no fim da guerra, eles teriam documentos que os anilitaria a uma reforma e uma vida boa, não foram cumpridas nos acordos de paz e poucos foram os que o conseguiram. Antes pelo contrário a grande maioria foram presos, torturados e muitos fuzilados por terem combatido pelo inimigo. Os relatos orais recolhidos pela jornalista Sofia da Pama Rodrigues junto desses homens, velhos e abandonados, são punjentes e justos. É curioso que nos dois outros teatros de guerra - Angola e Moçambique - também se integraram nativos nas FA portuguesas, mas em Companhias chamadas da Guarnição Local, mas com oficiais e sargentos maioritáriamente metropolitanos e mesmo quando nativos, eram brancos... Sei do que falo pois calhou-me em sorte ir comandar uma dessas companhias, em rendição individual, o que me trouxe problemas acrescidos na altura imediatamente pós-25 de Abril, onde perante ordens contraditórias tive que acima de tudo proteger os homens que estavam sob o meu comando, iniciando por conta própria e antecipando-me ao que depois foi decidido de tentar o contacto com o "inimigo". De qualquer forma, quando a companhia, já em Nampula foi extinta, me questionei e com sérias preocupações sobre o que terá acontecido àqueles homens, mas infelizmente não estava nas minhas mãos decidir o seu futuro...
Uma leitura incómoda, que toca num momento ainda muito incómodo na memória portuguesa. O livro olha para o destino dos soldados africanos que foram arregimentados pelo regime colonial para combater contra os movimentos de libertação durante a guerra colonial na Guiné. Tropas essas que finda a guerra, com o 25 de abril, foram não só esquecidas como também vítimas de ardis burocráticos. Os homens que serviram nas forças armadas portuguesas foram abandonados, com as consequências óbvias que se podem esperar. Há relatos de tortura e execuções sumárias por parte das autoridades guineenses, e décadas depois, a maioria dos sobreviventes reclama em vão por apoios mínimos como pensões de sangue ou cuidados de saúde por parte de um estado, o português, que lhes prometeu benesses mas mantém firme o seu abandono.
A questão da guerra colonial é ainda muito sensível na nossa socieade, de tal forma que nas discussões públicas se cai muito ainda no binómio guerras do ultramar/libertação. É tema desconfortável, especialmente tendo em conta a visão oficial do colonialismo português como algo benéfico e suave. Algo que a realidade histórica desmente, poderemos não ter descido ao nível dos belgas no Congo, mas agimos de forma rigorosamente igual à de todas as potências que ocuparam África, explorando os seus recursos e populações. Não é um passado de que nos possamos orgulhar, mas também não pode ficar esquecido.
Admitir isto seria um ato de maturidade histórica que não vejo acontecer no discurso público. A história do destratamento dado aos africanos que combateram nas forças portuguesas faz parte de um panorama mais alargado num período que não podemos analisar de ânimo leve.
António Spínola foi governador e comandante das Forças Armadas da Guiné Bissau durante a guerra do Ultramar. Com vista à vitória de Portugal e à governação a longo prazo por parte de “indígenas”, concebeu a criação de forças de comando completamente negras. Estes foram treinados, vestidos e enaltecidos pelo governo Português durante os anos em que durou a guerra. Iam para as missões mais perigosas. Prometeram-lhes mundos e fundos: bons salários, pensões, reformas.
Com o 25 de Abril Portugal sai da Guiné em Setembro 1974 deixando o PAIGC no poder. Justamente o grupo de guerrilha que estes comandos foram treinados a combater. Estes soldados foram perseguidos, torturados, presos e sumariamente executados por serem “brancos”, por terem compactuado com os colonos. Os que sobreviveram, vivem em espirais burocráticas que os deixam sem nada. Perderam a cidadania, o direito a pensões, reformas e alguns nem têm os documentos que os vinculem ao exército português. Só pedem algum dinheiro e apoio médico para curarem as mazelas que sofreram ou em combate, ou a fugir das perseguições do PAIGC.
Um livro curto que nos faz refletir sobre conceitos como pátria, país e sacrifício da vida.
Os Comandos Africanos que generosamente puseram a sua vida ao serviço da Pátria. Integraram um corpo de elite que participava nas missões mais difíceis e arriscadas.
Quando as circunstâncias mudaram foram abandonados, estripados dos seus direitos pela mesma pátria que serviam.
Abandonados à sua sorte e julgados como traidores pela nova pátria, perseguidos, torturados e fuzilados.
Mereciam melhor sorte e sobretudo um reconhecimento de Portugal, o que até hoje não aconteceu.
Uma etnografia incrível sobre um aspecto da historia de Portugal e da Guiné: a participação dos comandos africanos na guerra de libertação/colonial bem como a traição de Portugal a estes, o seu esquecimento e a esperança que estes antigos comandos africanos mantêm em tornar-se cidadãos portugueses! Um livro pequeno, muito bem escrito que deriva de uma investigação de grande qualidade.
Interessantíssimos testemunhos sobre um aspeto relativamente desconhecido da Guerra Colonial, que merecia melhor resposta de Portugal às pessoas que lhe foram leais.
Um livro que nos transporta para as margens da história da guerra colonial e põe em relevo o papel dos comandos africanos na Guiné, o seu percurso do auge ao esquecimento.