A década de 1980 em Portugal foi a primeira a começar em democracia - a primeira em que toda uma geração viveu sem a sombra da ditadura. Os portugueses fizeram dessa época um tempo extraordinário, dominados pela sensação de que cada novo ano seria ainda mais espantoso do que o anterior. Nem tudo foi bom, é certo. Dramas como o trabalho infantil, a heroína, a SIDA, os bairros de lata ou a vulgarização dos salários em atraso escurecem as recordações mais otimistas. No entanto, esse lado negro não é o que prevalece naqueles que cresceram nessa era.
Se a década começou triste, atrasada e falida, avançou numa crescente sede de modernidade e num ambiente de despreocupação, sobretudo entre os mais novos, que hoje parecem irrepetíveis. E quando os anos oitenta terminaram, Portugal era um país promissor, de mangas arregaçadas a encarar o futuro.
Entre a memória autobiográfica e a evocação de alguns dos acontecimentos que mais marcaram o país e o mundo nesses anos, A Década Prodigiosa é uma viagem a um passado onde tudo parecia possível, numa narrativa em que o retrato de época se cruza com a inevitável nostalgia de uma certa inocência perdida.
A Década Prodigiosa: Crescer em Portugal nos Anos 80 é mais do que um exercício de nostalgia; é um retrato de um país em mudança e de uma geração que acreditava ser possível transformar o futuro.
É durante esta década que aqueles que eram crianças no 25 de Abril iniciam a sua pré-adolescência e acabam a entrar na idade adulta. O contexto que se vivia no nosso país também ajudou a viver todos esses anos com uma intensidade desmedida. Com as suas conquistas e dificuldades, os anos 80 deixaram uma marca na memória colectiva dos portugueses, numa convergência de vivências que dificilmente se voltará a repetir. Portugal estava em transição entre o passado e o futuro, e nós éramos o futuro, a geração que podia mudar tudo e fazer deste pequeno rectângulo um país moderno afastado dos valores e das amarras de uma ditadura que nos empobreceu, em todos os sentidos, ao longo de quarenta anos.
É a década da transformação e da modernização, da adesão à CEE, da abertura a novas formas de pensar e agir, da democracia e da liberdade. Tudo está em constante mudança e transformação. Começamos a querer chegar ao padrão dos países europeus e percebemos que era possível mesmo com os problemas sérios que tivemos que enfrentar.
Não é um livro nostálgico, é mais um retrato de um país e das suas gentes. Embora tenha gostado de relembrar tantas e tantas coisas (só não me recordo do tal de Adam Curry, e do pseudo êxito A Salsa das Amoreiras dos Afonsinhos do Condado) acho que o autor dá uma visão demasiado masculina da década, e falta o lado feminino da coisa – nós não éramos só miúdas que gostavam de ir à Feira de Carcavelos comprar roupa e que tínhamos fitinhas no guiador da bicicleta. Não me senti representada em nenhum momento durante a leitura.
Percebo que é muito da visão de um homem que viveu esta década na Linha de Cascais, e não saía muito da sua zona, o próprio assume que visitar Lisboa significava quase só ir comprar discos, na Motor (mais tarde, Bimotor), nos Restauradores, ou à Melodia, na Rua do Carmo e que só entrou na Brasileira com mais de quarenta anos. No entanto, a década foi muito mais do que isso, e faltam-me os detalhes das vivências femininas e das mulheres que também ajudaram a moldar o país que somos hoje. No fundo, é um daqueles livros que mereceria 3 estrelas, mas dou-lhe uma quarta pelas recordações que me trouxe.
Gostei muito de ler este livro💯💯! Fez-me reviver a minha infância👍👍. Está escrito de uma maneira bem detalhada. Acho uma obra espetacular! Ficamos agora à espera do livro da década de 90!!😉😉
Decidi ler este livro porque o tema, em teoria, seria leve e divertido, mas o autor conseguiu torná-lo um pouco maçador. Creio que o livro em papel terá umas 600 páginas (li em ebook) mas bastaria a cronologia final para dizer o mesmo. O texto é mesmo muito repetitivo, talvez devido à organização em blocos cronológicos, mas as personagens ao longo dos anos 80 são as mesmas; e o que é dito em 1983 é repetido em 1989 (por exemplo). Vê-se que o autor venera Miguel Esteves Cardoso e é fã de Herman José. Não tenho nada contra ambos (gosto de ler MEC e aprecio o humor do Herman), mas aqui raia o exagero. Por último, em 600 páginas teria sido possível ser mais exacto em alguns pormenores como a escolaridade obrigatória: é verdade que em 1986 foi alargada ao 9o ano, mas apenas para pessoas nascidas a partir de 1 de janeiro de 81; os nascidos em décadas anteriores teriam que ter o 4o ano (nascidos até 1967) ou o 6o ano (nascidos entre 1967 e 1981).
Acabei por não ler todo pois é demasiado descritivo e a dada altura é sempre mais do mesmo.Foi bom recordar alguns eventos mas o livro é demasiado grande, o que torna a sua leitura demasiado cansativa. As notas de rodapé, todas condensadas no final do livro, também não ajudam.
Tive curiosidade de ler o livro não tanto por nostalgia pelos anos 80, mas porque tendo vindo viver para Portugal com 11 anos em Julho de 1987, achei que poderia aprender mais sobre algumas referências culturais que me faltavam total ou parcialmente.
Encontrei isso até certo ponto, claro, o que justifica não avaliar o livro com duas estrelas. O problema é que não sendo a prosa particularmente cativante (e estou a ser simpático), dei por mim a ler página atrás de página na diagonal, de tão aborrecida e repetitiva que a achei.
Por muito que entenda a admiração (e partilhe largamente dela) do autor por Herman José e Miguel Esteves Cardoso, o panegírico constante acaba por cansar. E nem comento aquele que é feito a Cavaco Silva...
O autor escreve mais de 500 páginas para dizer aquilo que podia, porventura, ter dito em menos de 200. Um exercício intelectual interessante, mas exagerado. Vale a pena ler sobretudo por quem é contemporâneo de toda esta realidade que foi crescer nos anos 80. Mas justamente porque concordo com o autor sobre o brilhantismo único da época, parece-me que os 80 mereciam mais.
Pedro Boucherie revisita os anos 80 como quem volta a uma casa antiga, espreitando em todos os seus compartimentos e vasculhando cada canto com curiosidade.
Para quem viveu esta "década prodigiosa", na experiência de leitura deste compêndio dificilmente sente falta de alguma memória.
A vénia feita a Herman José e a Miguel Esteves Cardoso é absolutamente justa.
Nestas 660 páginas há memórias felizes e despreocupadas, há humor, vidas em sociedade, política, cinema, música e muita TV, mas essencialmente há muito trabalho e muito bem escrito.
Este é um livro que funciona como cola, como agregador de todas as memórias e nostalgias que nós, nascidos em meados dos anos 60 e inícios dos 70, guardamos daqueles que, para cada um de nós, são os melhores dias das nossas vidas. Não o são, na verdade — mas gostamos de dizer que sim. Só por isso, já teria valido a pena ler este livro.
Apesar do exagero nas referências ao MEC, ao Frágil, ao Herman ou à Feira de Carcavelos, aceita-se. Também eu, que em 1985 tinha 20 anos, tendo a exagerar as minhas memórias e impressões desse período. A adolescência molda a nossa personalidade, e o que vivemos nessa altura marca-nos para sempre — as músicas, os livros, as amizades, os amores e desamores, os jornais, os filmes…
Uma nota surpreendente: a ausência, para mim inexplicável, de qualquer referência ao programa de rádio Pão com Manteiga, que passou na Rádio Comercial precisamente ao longo dessa década.
Se é verdade, como dizia o Bowie, que envelhecer é tornarmo-nos quem sempre devíamos ter sido — e se calhar é isso que acontece aos 50, quando finalmente nos sentimos melhor connosco próprios —, então aos 15 ou 20 estamos a ensaiar a toda a força para isso. Este livro transporta-nos para essa fase. De forma nostálgica, divertida, com aquele sorriso cúmplice de “era mesmo assim” — e sabe muito bem. É um page turner, e só isso já seria um grande elogio. Tem informação bem trabalhada e muita investigação. Talvez pudesse ter umas cem páginas a menos, digamos. Mas lê-se com gosto e entretém. Não se pode pedir muito mais.
Talvez por ter expetativas diferentes, o livro acabou por desiludir. Apesar de fazer um esforço hercúleo de reunir grande parte dos aspetos sobretudo sociais e culturais que marcaram os anos 80, a obra acaba por parecer que, enfim, serve mais para os nostálgicos dos anos 80 do que propriamente para um público mais geral. A obra está demasiado embebida na memória que o autor tem dos acontecimentos e num "Lisbonismo" crónico - na medida em que o retrato dos anos 80 é feito tendo em conta a realidade do autor e da região de Lisboa, não atribuindo particular relevância a outros lugares. Se o autor reconhece a disparidade de vivências em diferentes partes do país? Verdade, mas mesmo assim ficamos a conhecer mais sobre a vida social e cultural dos grandes centros e da capital, e não tanto das realidades rurais, operárias, entre outras, mesmo que tenha procurado demonstrar, certeiramente, as mudanças que ocorreram (recorrendo, sobretudo, a dados estatísticos).
Por fim, a obra perspetiva bem o que terão sido os anos 80 em Portugal, apesar do seu "Lisbonismo". Faltou uma metodologia clara para uma obra que se propunha abordar a História dos anos 80, mas permanece incontornável nos (raros) estudos dos anos 80 em Portugal.
Uma viagem fantástica aos incríveis anos 80, de quem como o autor, nasceu no início dos anos 70. Foi o relembrar de muitas memórias, sendo que algumas delas já estavam bem no fundo do baú. Gostaria que os meus filhos lessem este livro, para ficarem com uma ideia do que foi a infância e juventude de quem a viveu nos anos 80. Recomendo
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Um bom trabalho de compilação dos factos marcantes durante a década 80, no nosso canntinho a mar plantado. Prosa jornalística, apoiada com várias referências à época. Gostei das comparações aos teus actuais.
2,8... Esperava algo diferente e talvez tenha criado expectativas em relação a este livro, mas acabei por não ler a parte final pois esta condensa tudo o que já se leu nas 500 e tal páginas anteriores... achei muito, muito repetitivo.
Depois da caixa de pandora ter sido aberta já não há muito a fazer e ficamos nostálgicos, saudosistas, com frases clichés e a desbloquearmos memórias que já pensávamos que não existiam.
Este livro é uma bonita viagem ao passado, que contudo, e talvez pelo facto de eu ter sido uma pequena criança nos anos 80, foca muito dos seus capítulos em memórias politicas algumas muito detalhadas, das quais não tenho memória alguma (bem como uma clara adoração do escritor Miguel Esteves Cardoso)
Não deixa de ser um livro obrigatório a ter em casa para podermos revisitar sempre que nos sentirmos mais saudosistas 😊