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Sodomita

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Partindo de uma investigação histórica e de personagens reais, Alexandre Vidal Porto narra neste livro a saga de Luiz Delgado, violeiro português natural de Évora, que chegou em 1669 à cidade de Salvador, no Brasil, degredado por sodomia — um código para homossexualidade, um dos crimes mais hediondos no Portugal inquisitorial do século XVII.

Em território baiano, roído por uma culpa que o ultrapassa, Delgado reinventa‑se como comerciante, trabalha muito, assume um casamento cordial de fachada, mas não deixa de se entregar a deleites carnais e a algumas paixões sinceras com rapazes que cruzam o seu caminho, à medida que o factual se vai misturando com efabulação. Sodomita não é apenas história nem apenas um romance, não fala apenas em português arcaico nem apenas na oralidade de hoje, e nunca fica preso numa época antiga porque permanentemente nos coloca perante questões até hoje relevantes — preconceito, opressão, prazer, desejo e o direito de existirmos como somos.

136 pages

First published September 1, 2023

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Alexandre Vidal Porto

5 books41 followers

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8 (2%)
1 star
1 (<1%)
Displaying 1 - 30 of 47 reviews
Profile Image for diario_de_um_leitor_pjv .
780 reviews137 followers
August 8, 2024
Devorar estas 150 páginas nas viagens de um dia de comboio entre Palmela e Lisboa diz tanto sobre este livro.
O tema é perfeito. Século XVII, perseguição aos homossexuais - o pecado nefando - pela Inquisição em Portugal e no Brasil. É um tema sobre o qual já li anteriormente, por exemplo na investigação histórica de Luiz Mott.
Alexandre Vidal Porto com a qualidade narrativa que nos vem habituando, conta a história de vida e dos desamores de Luiz Delgado. Recriando uma linguagem arcaica, e com um cuidado extremo o autor delicia o leitor. Até um capítulo final que nos deixa um sorriso nos lábios.
Profile Image for Margarida Galante.
463 reviews41 followers
December 8, 2024
A história baseia-se numa personagem real, o português Luiz Delgado, natural de Évora, que foi enviado para o Brasil em 1669, por ter sido condenado ao degredo pelo Tribunal do Santo Ofício. O seu crime era a sodomia, termo usado para a homosexualidade, pecado hediondo, que podia até levar a uma sentença de morte.

No Brasil, Luiz Delgado consegue refazer a sua vida, tenta resistir à sua natureza e casa com Florência, a quem também interessa a ligação. No entanto, apesar de sentir a culpa do pecado que lhe apontavam, não resistiu durante muito tempo ao desejo e aos seus instintos naturais. O peso da Igreja na vida das pessoas era enorme, o seu juízo era a lei, mas não se consegue lutar para sempre com a própria identidade.

O autor criou uma espécie de linguagem ambientada no século XVII que aprofunda a sensação de tempos passados, que nos transporta no tempo e que demonstra a riqueza da nossa língua.

Esta é uma história de um tempo longínquo mas aborda temas relevantes ainda hoje. Basta pensar nas diversas geografias onde a homosexualidade é ainda considerada crime ou onde as mulheres não têm sequer direito a sair à rua. O autor admitiu já em algumas entrevistas que este livro é fruto do contexto que se vivia no Brasil na época em que foi escrito, uma reacção ao bolsonarismo.

Apesar dos temas sérios e trágicos, esta novela está escrita com graça e ironia, e fez-me sorrir em muitos momentos. O remate final é uma delícia.
Profile Image for Samir Machado.
Author 34 books354 followers
December 8, 2023
"Meu coração é um incêndio, e gosto disso imenso. Digo-lhe com todos os cinco sentidos e com toda a essência do meu ser: vida, ama-me muito e paga-me na mesma moeda, porque te amo muito, muito, muito..."
Ao mesmo tempo que o narrador reproduz de forma magistral a linguagem e a mentalidade da época num pastiche do português seiscentista - a mantém acessível para o leitor moderno, evitando que se torne um exercício de arqueologia linguística. E através da ironia, a dobra para colocá-la a favor do enredo. Por último, é também através da linguagem (assumindo, num último momento, a narração em primeira pessoa) - que o enredo se liberta do fatalismo que sempre foi historicamente imposto a esse tipo de narrativa (e do qual se rebelar, já dizia E. M. Forster no posfácio de "Maurice", é por si só uma decisão política), e assume, por assim dizer, o controle da própria história. E isso só surge através do troca, por assim dizer, da escatologia cristã pela religiosidade de matriz africana.
É um livro que eu gostaria de ter escrito. E sem exagero, é o melhor livro que li esse ano.
Profile Image for mippers.
110 reviews1 follower
April 29, 2025
i learned that, in gods eyes, tops are the real sinners; and that it’s only sodomy if seed has been spread
i really liked the story i think? but it was so hard read the book since it was written in the style of 1600s portuguese

maybe 3.5 stars personal enjoyment by the end? but 5 stars bc gay + i think i would’ve liked more had i been able to read the archaic words easier
Profile Image for Jose Garrido.
Author 2 books21 followers
December 25, 2024
Foi a primeira vez que li Alexandre Vidal Porto.
Os romances históricos atraem-me muito pelo que seria difícil não ter gostado.
A investigação que tive a oportunidade de realizar para um dos meus romances, passado no século xvii em Trás-os-Montes, levou-me às mesas do ANTT (Torre do Tombo) e, por conseguinte, estou familiarizado com as alcovitices dos processos da Inquisição, a fonte primeira deste livro.
Fiquei com a sensação de que a preocupação de fazer um romance ‘moderno’ com os questionamentos ‘do momento’ acabou limitando a criatividade do autor. Liberto dessas peias poderia talvez ter sido algo melhor.
Profile Image for Luciana.
516 reviews160 followers
January 19, 2024
Com um título sugestivo de seu conteúdo, minha expectativa era encontrar o mesmo prazer em ler essa obra, como foi com Cloro e Sergio Y. vai à América, ambas do escritor, todavia isso não ocorreu, sendo uma leitura extremamente maçante, que fixa somente num único fato principal que eu não via a hora de terminar.

Embora não tenha sido uma boa leitura para mim, a obra conta a história de Delgado, um violeiro português que acaba por ser forçado a vir à Salvador para o cumprimento de pena por conta de uma condenação acerca do crime de sodomia. Chegando ao país, sob um passado nebuloso, o protagonista se reinventa, casa-se, mune-se de respeito na cidade até o momento que não mais consegue barrar seus impulsos e desejos, culminando em um desfecho previsível, porém muitas vezes silenciado na literatura.

Não há dúvida da importância do tema tratado, uma vez que lança luz a um período histórico do século XVII onde se retratava a homossexualidade como uma patologia, coisa que ainda perdura em vários países e comunidades, mas que apesar disso, ainda assim não foi uma boa leitura a mim, acho que Um Homem Só cumpre melhor o papel quanto a normalização do tema.
Profile Image for Frejola.
253 reviews16 followers
March 30, 2024
Very enjoyable romp through 17th century Brazil through the experiences of a queer family. I specially enjoyed the improbable-at-the-time ending and the period-accurate (and hilarious) language throughout.
Profile Image for Fellipe Fernandes.
224 reviews15 followers
December 18, 2023
O que mais me incomodou nesse livro foi o narrador circunstancial, isto é, aquele que só narra fatos que denotam determinadas circunstâncias dignas de relato, não aprofundando nas elucubrações emocionais das personagens que, diante da história vivida, não passariam incólumes de grandes dilemas morais e sentimentais, que neste livro não foram apresentados ou aproveitados como deveriam. É um livro bom, cujo final foi um tanto inesperado e, de certa forma, muito redentor de nossa alma coletiva enquanto membros da comunidade LGBTQIA+ e herdeiros de tantas violências e aviltamentos, diante das crueldades previamente apresentadas pela história contada e também pela a que nós, fora da literatura, ainda logramos experimentar. No entanto, fiquei carente de entender melhor as nuances sentimentais das personagens ali presentes, como Florência, Brás e sua família, entre outros, que elas fossem tratadas mais como humanos em suas complexidades e menos como recursos históricos descobertos da arqueologia violenta de nossa formação cívica.
73 reviews2 followers
October 18, 2025
Goed en snel te lezen, weet niet of de vertaling heel goed is. het leest wat simpel.

wel een indrukkwekkend verhaal!
181 reviews2 followers
January 24, 2025
O maior defeito é ser tão curto. Vidal Porto consegue de forma convincente trazer-nos um relato na linguagem do século XVII das desventuras de Luiz Delgado, condenado pelo santo ofício em Lisboa ao degredo por atos nefandos. Uma estória real, que o dito santo ofício quereria para sempre esquecida, agora popularizada e imortalizada na bela obra de Vidal Porto.
Profile Image for Francisco Salgueira.
48 reviews4 followers
January 9, 2025
“É no calor do sangue circulante que reside e se transporta o pecado adormecido em cada um de nós, bastando um toque para despertá-lo”
Profile Image for Carol Boldrini.
25 reviews14 followers
December 25, 2024
Só não terminei numa sentada porque a viagem de metrô não era longa o suficiente.

É um rio que corre fluido, tal qual Cloro e Sérgio Y. Corre fluido e corre semente.
Profile Image for Caio Alecrim.
77 reviews1 follower
July 18, 2024
A proposta interessante de uma história de amor entre homens, ambientada em Salvador nos anos 1600, foi esmagada por uma narrativa retrógrada do autor/narrador. Pode ser justificada pelo estilo erudito intencional, que evoca um livro clássico daquela época com as suas palavras mais rebuscadas. Mas este foi publicado em 2023, então tratar das mesmas questões com um linguajar duro e pesado me deixou muito desconfortável. Pareceu lidar com as questões do preconceito de então com um fetiche pelo olhar de agora.
Eu já tinha lido outro livro do autor, "Cloro", que também me incomodou por uma fetichização do sofrimento. Ele manteve o mesmo espírito aqui, mas em outra época e em outro cenário, o que fez piorar as coisas.
Profile Image for Rita.
111 reviews7 followers
February 11, 2025
Ser homossexual no século XVII era um crime que levava à deportação do país de origem, numa sociedade que condenava os homossexuais a viverem a sua sexualidade às escondidas sob o peso da vergonha, pena talvez maior que uma deportação. Fica a reflexão de que a homossexualidade, tal como a heterossexualidade, é de todos os tempos, mas que foi de tal forma condenada pela cultura judaico-cristã, que mesmo quando se era deportado para um país como o Brasil, em que era prática comum em variadas tribos indígenas, tinha de ser vivida em segredo. Que saibamos continuar a fazer um percurso em que práticas tão naturais como amar outra pessoa deixem de ser condenáveis, seja em que circunstancia for.
Profile Image for Maaike.
231 reviews2 followers
December 24, 2025
Gelezen in een Nederlandse vertaling. Hoewel het boekje bijzonder kort is, heeft het toch een maand geduurd eer ik erdoor was. Dat heeft grotendeels te maken met het feit dat ik moest herkalibreren: de kaft van het Nederlandstalige boek geeft de indruk dat het een ‘luchtige’ historische vertelling is, maar het taalgebruik is sterk aanleunend bij de 17de eeuw waarin het verhaal zich afspeelt. De moeite om toch te herstarten en zeker omdat het verhaal goed weergeeft hoe alles te maken heeft met de context waarin het afgestraft of gedoogd wordt. 3,75!
Profile Image for João Pinho.
54 reviews4 followers
February 2, 2025
Gostei, uma viagem ao Portugal (e Brasil) do século XVIII e aos horrores da inquisição, de uma forma caricata e por vezes humoristica.
Profile Image for Ricardo Silvestre.
205 reviews35 followers
December 26, 2024
Não tinha por hábito fazer leituras que envolvessem a temática da Inquisição até ao passado mês de novembro, altura em que li ‘A Hermafrodita e a Inquisição Portuguesa’ ( publicado em Portugal este ano, pela editora Bertrand) e adorei. Quando li a sinopse deste ‘Sodomita’, romance baseado num personagem real do séc. XVII cuja história passou a ser conhecida através dos inúmeros registos deixados pela Inquisição (e porque também explora questões queer em pessoas condenadas pelo Santo Ofício), fiquei imediatamente convencido e certo de que o leria num futuro próximo.

"Os condenados atravessaram ruas e esplanadas sob apupos e xingamentos por parte dos vários populares que se dispuseram a assistir a penitência se cumprir. Alguns haviam despejado imundícies sobre as pedras do caminho para que os condenados, descalços, sentissem na pele nua a bosta de homens e animais e todo tipo de podridão."

Este é o primeiro trabalho que conheço de Alexandre Vidal Porto. Por desconhecer a sua forma de escrever, fiquei agradavelmente surpreendido ao encontrar uma linguagem antiga (suponho que próxima da época aqui retratada) elaborada a partir de um olhar actual e contemporâneo. Sim, funciona.

Para além de todas as questões antropológicas associadas ao tema da homossexualidade, também não pude deixar de ficar surpreso com a referência ao continente africano onde as práticas homossexuais não só não eram condenáveis como pareciam ser praticadas por vários povos nativos africanos. Surpreendente, não?

“Por esgotamento e também por não haver ninguém que nos percebera, fiz-lhe confidência de que também eu tinha parte com o nefando (…). Que me enamorara de rapazes e que nunca tivera apetite por fêmeas. E que orara muito e pedira a Deus que me livrasse de tal sentimento, mas que me resignara com o designio divino de manter-me inclinado aos varões, de corpo e de coração.
«É da nossa natureza», disse-me Ganga.”

Ficaram curiosos?
Leiam-no. 😉
Profile Image for Gabriel Leibold.
122 reviews12 followers
February 10, 2024
Nos conduzindo pelo universo lusófono que tramita entre Portugal e o Brasil-colônia, "O Sodomita" é um livro que busca mapear alguns momentos da construção da subjetividade de um homem gay em diante dos rigores da Inquisição Católica.
O início do romance de Alexandre Vidal Porto é forte e nos ajuda a mergulhar de cabeça na vida de Luiz Delgado, preso e deportado para o Brasil em função de seu envolvimento sexual e amoroso com "o rapazola Brás". Outro aspecto de muita qualidade no livro é o uso da língua portuguesa, recorrendo a expressões e à estilística de tempos passados (fator determinante para situar o leitor no contexto histórico dentro do qual a narrativa se passa).
É, portanto, uma pena que, do meio para o final da narrativa (com exceção do brilhante desvendar de novos mundos a partir do encontro de Luiz com as culturas de Angola), o romance nós apresente a personagens que ficam perdidos no meio do caminho. A esposa de Luiz no Brasil, fruto de um arranjo, recebe um desfecho muito pouco satisfatório para o desenvolvimento da personagem até o ponto de seu sumiço na narrativa. O mesmo se dá com a escravizada Carmina, tão importante na história da aceitação da homossexualidade de Luiz por parte de sua esposa, que desaparece junto desta apenas pelo fato de que elas não mais circundam o universo de Luiz (ainda que a elas caibam o florescimento do bem estar de Luiz, ainda que momentâneo, em seus tempos no Brasil).
Profile Image for Andre.
53 reviews2 followers
February 23, 2024
Uma ficção muito breve baseada nos registros de um homem gay condenado a viver no Brasil seiscentista. Artifícios de escrita aliados à pesquisa histórica são trunfos para descrever os julgamentos impróprios de uma elite eclesiástica sobre as vidas das pessoas em uma sociedade mantida sob vigilância pelos olhos de todos.
Ambientação perfeita, e poderia ser mais longo!
Profile Image for Laura Hanauer.
60 reviews
October 12, 2025
partindo da história de luiz delgado, um português que foi degredado para o brasil pelo crime de sodomia, vidal porto desenvolve uma narrativa que extrapola os limites da história e da ficção, ao se debruçar sobre a existência de um homem gay na segunda metade do século xvii. o romance retoma a linguagem da época com maestria, de forma que o leitor se sente inserido naquele período. apesar de se basear em um caso real, a obra não se limita ao que atestam as fontes, indo além ao ficcionalizar sobre a vida de luiz delgado e das pessoas de seu convívio. a mudança mais interessante foi em relação a sua esposa, florência, que no livro é uma moça que busca desenvolver sua intelectualidade e que encontra na escrita uma liberdade inexistente na vida real. o casamento dos dois é puramente de interesses, visto que eles não possuem relações físicas. assim, para além de discutir sobre a homossexualidade, também existem discussões sobre a condição das mulheres nesse período. outro ponto brilhante da obra é a perspectiva dos escravos sobre o assunto, especificamente os que foram traficados de angola, onde a homossexualidade não era vista como um pecado, mas como algo natural. esse contraponto entre a visão cristã européia e a cultura de povos africanos, demonstra a existência de perspectivas distintas num mesmo espaço/tempo, quebrando com a ideia de que diferentes sexualidades ou identidades de gênero não existiam ou eram suprimidas em todos os lugares. saber que em outros espaços essas experiências não apenas eram naturalizadas, como respeitadas, ressalta como o preconceito em relação a isso é amparado em elementos culturais que, no caso português, se embasam em preceitos religiosos. a inquisição em portugal e no brasil deixou marcas profundas, delgado teve sorte em sair da prisão com vida, por não haver provas suficientes sobre ele ter cometido um ato de sodomia perfeita, contudo, as torturas a que foi submetido e a humilhação que passou, dizem tanto sobre o século xvii, quanto sobre os dias atuais, sobretudo no brasil. por terem cometido o "nefando", inúmeros homens e mulheres foram punidos ao longo da história e ainda o são, apesar dos métodos de punição serem distintos.

recomendo a leitura desse capítulo do luiz mott, onde ele fala sobre o luiz delgado, é interessante perceber em quais pontos a história e a ficção divergem. o mott tem uma pesquisa extensa sobre a homossexualidade no brasil colônia, recomendo muito (MOTT, L. Desventuras de um degredado sodomita na Bahia seiscentista. In: MOTT, L. Bahia:inquisição e sociedade [online]. Salvador: EDUFBA, 2010. 294p. ISBN 978-85-
232-0580-5. Available from SciELO Books .)

[insta @grifandolivros]
Profile Image for Gabriel Nami.
22 reviews
November 24, 2024
"Sodomita" é o resgate de um personagem real do Brasil seiscentista: Luiz Delgado, violeiro português, natural de Évora, que foi enviado de Portugal a Salvador pelo Tribunal da Inquisição pela prática de sodomia.
No Brasil, casa-se com Florência e torna-se tabaqueiro, assumindo os negócios do padrinho da sua esposa. Depois de algum tempo, não suporta a jurada castidade e acaba, por meio da sua história, nos revelando a Sodoma dos trópicos.
O livro foi baseado no artigo "Sodomia na Bahia: O Amor Que Não Ousava Dizer O Nome", do antropólogo e historiador Luiz Mott.
A narrativa, envolvente, muito bem elaborada e conduzida, se dá por meio de uma linguagem que tenta simular o português histórico enquanto usa elementos da linguagem atual.
Ao final,
Deixo registrado um dos trechos mais belos do livro:
"Meu coração é um incêndio, e gosto disso imenso. Digo-lhe com todos os cinco sentidos e com toda a essência de meu ser: vida, ama-me muito e paga-me na mesma moeda, porque te amo, muito, muito...".
Profile Image for andré.
76 reviews
October 8, 2025
O que não lhe contara o mameluco, porque disso não soubera ainda nem ele nem Campina, era que, entre os pecados identificados pela visitação naquela cidade, encontravam-se oitenta blasfêmias, sessenta e cinco práticas judaicas, sessenta e sete proposições heréticas, vinte e quatro desacatos à religião, trinta e cinco bigamias, dezenove sodomias, catorze práticas luteranas e onze feitiçarias.

Don't threaten me with a good time!

Gostei muito do livro, que conta a história de Luiz Delgado, condenado por sodomia em Lisboa no século XVII e degredado para o Brasil. Chegando em Salvador, se estabelece como comerciante de sucesso e figura importante da comunidade. Mas ele não pode negar seus impulsos, e quando uma série de desgraças se abate sobre a Baía de Todos os Santos, os culpados aos olhos da sociedade — e da Santa Inquisição — são pecadores dos mais diversos.

Embora baseado em uma pessoa real, o autor reconta a sua história livremente, com diversas alterações relevantes, de forma que não se trata de uma biografia, mas de um registro histórico ficcionalizado. É uma maneira também de trazer histórias esquecidas como a de Luiz Delgado à tona. Porto pinta um quadro riquíssimo das sociedades portuguesa e brasileira da época com uma linguagem arcaica recriada, que poderia ser maçante mas ao contrário, é cativante e ricamente detalhada.

Outro aspecto interessante da obra é o contraste entre as formas de se lidar com a homossexualidade, abordado com diversos enfoques; por um lado, na comparação do período que a obra retrata com a atualiadade; por outro, na diferença gritante na relação com os homossexuais entre a sociedade portuguesa e as muitas culturas africanas nas quais tratava-se de um fenômeno totalmente natural.

Livro fascinante, curto na medida certa e primorosamente escrito. Recomendo!
Profile Image for Alexandre  Paradela.
74 reviews1 follower
December 7, 2024
Esta foi a minha primeira incursão à escrita de Alexandre Vidal Porto, e que bela forma de começar. Com uma escrita repleta de termos e expressões do século XVII mas que em nada perturba o entendimento com o bonús de nos fazer rir com tal vocabulário. Estamos no ano da Graça de 1666. E tudo começa com um roubo de panelas no bairro da Mouraria que leva Luiz Delgado ao cárcere. Sodomita, conduz-nos a seguir por uma narrativa poderosa e reflexiva, onde questões de preconceito, aceitação e resistência se entrelaçam de forma sensível e marcante. A história centra-se na vida da personagem de Luiz Delgado que desafia as normas sociais e culturais que o rodeiam, numa busca pela sua verdade e liberdade interior. Com uma escrita elegante e profunda, Alexandre Vidal Porto constrói uma narrativa que nos prende faz-nos reflectir sobre a condição humana. Um livro que se centra num dos períodos mais sombrios da história da Europa do Séc XVII mas que Alexandre Vidal Porto com a sua mestria lhe tira o peso e lhe oferece leveza. Vai deixar saudades Luiz Delgado bem como uma longa curiosidade de como foi a vida deste homem a seguir…”Meu coração é um incêndio, e gosto disso imenso. Digo-lhe com todos os cinco sentidos e com toda a essência do meu ser: a vida, ama-me muito e paga-me na mesma moeda, porque te amo muito, muito, muito.”
Profile Image for João Roque.
342 reviews16 followers
August 16, 2025
Este segundo livro que li de Alexandre Vidal Porto e a sua quarta e até agora última obra chama-se "Sodomita".
O meu interesse por este livro é simples de explicar, pois gostei muito do livro que li dele "Cloro"e porque nos fala da Inquisição que era severa no reino português no século XVII, o tempo em que decorre a acção.
Fala-nos de uma personagem presumivelmente real que é condenado ao degredo de 10 anos no Brasil , por delito de sodomia pela Santa Inquisição.
As coisas correm-lhe bem na Baía desse tempo, ele é jovem e decidido...
Mas os abusos do seu "pecado" que não era exclusivamente seu naquele local, fez que uma delegação da Inquisição visitasse a cidade e ele e o seu protegido na altura, fossem levados de novo ao reino para posterior julgamento...
Numa linguagem em que mistura o português arcaico com a linguagem actual, AVP volta a mostrar a sua facilidade de escrita bem estruturada.
O final do livro, passado em Angola, novo degredo, agora perpétuo, do protagonista é antológico.
Fico curiosissímo com os dois primeiros livros do autor, que já encomendei.
Profile Image for Ligia Leite.
84 reviews4 followers
May 28, 2024
Um livro interessante, com tema super relevante, bem escrito e bem construído. Gostei bastante, mas terminei – talvez contaminada pela leitura da orelha – desejando ter me aproximado mais do personagem principal ao longo da narrativa, o que foi dificultado pela forma da escrita que é interessante, mas despertou meus traumas de jovem jurista que abandonou o direito.
Achei um texto super importante, principalmente por trazer luz à existência da homossexualidade no Brasil, que muito precedeu os movimentos LGBTQIA+.
844 reviews
October 3, 2024
Li na edição portuguesa da Tinta-da-China, e é mais uma pequena pérola do Clube da editora. É uma novela histórica, com o sabor do português do século XVII, contada a partir de um processo da Inquisição. Luiz Delgado, um alentejano sucessivamente degredado pelo crime de sodomia, conseguiu a felicidade no último dos degredos. Só tenho pena do destino de Florência, que nunca atingiu a bem-aventurança, ou pelo menos assim o pensamos nós, leitores. É uma reflexão sobre o direito ao nosso bem mais íntimo, pessoal e intransmissível: o nosso corpo.
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