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445 pages, Kindle Edition
Published November 10, 2024
"Essa é a coisa mais certa que já senti na vida e, ainda assim, tenho tanto medo, porque sei que o mundo lá fora não vai nos perdoar.
O começo foi promissor.
"Debaixo do meu chapéu" é um livro fácil de devorar. A narração é simples e gostosa, os capítulos são bem curtos e, em geral, cobrem apenas uma cena, além de alternar o POV entre as duas personagens principais, Lara e Ana Marília. Nos capítulos iniciais, essa característica deu um ritmo viciante à leitura, mantendo a história em constante movimento enquanto eu me familiarizava com as protagonistas, seus mundos internos, e o conflito que desencadeia a aproximação das duas.
Não dura. A narração rápida e pouco descritiva serve bem para estabelecer o cenário da história, mas torna os momentos de introspecção das personagens extremamente rasos. Não dá tempo de permanecer na mente da Ana e da Lara enquanto elas pensam no que sentem - seja desdém, desejo ou afeto - porque a narração demanda que a história continue se movendo. O mesmo acontece com as interações românticas e sexuais entre as personagens, e essa falta de permanência nas sensações e nos sentimentos faz com que todos eles pareçam extremamente rasos. Eu nunca consegui entender muito bem de onde vinha todo o amor entre a Ana e a Lara, porque, embora a atração entre elas tenha sido estabelecida imediatamente, nunca conseguimos acessar os sentimentos mais profundos delas. O andamento da história é confuso, ora com semanas transcorrendo entre capítulos, ora com cenas que se estendem por múltiplos capítulos.
O livro tem, na minha opinião, um ponto alto: o capítulo 28, em que Lara e Ana Marília visitam a família da Lara no interior, e as duas percebem que estão se apaixonando. É o capítulo mais longo do livro, e parece ser a joia da coroa. Permanecemos mais tempo com as emoções da Ana (narradora do capítulo), e aprendemos mais sobre sua vida e seus gostos, através da interação com a família da Lara. Até o estilo de escrita funciona, devido ao jeito agitado da família. A cena de sexo é romântica, demorada e envolvente. Foi o ápice do meu otimismo com esse livro, mas fica parecendo um golpe de sorte, uma visão de um universo paralelo. A partir daí, a história degringola em ritmo de queda livre.
Me decepcionei tanto acima de tudo, porque eu peguei esse livro na intenção de me apaixonar por ele. A premissa me agarrou, gosto muito de histórias sobre pessoas LGBT em espaços que não são pensados como "nossos", e fiquei intrigada com os temas que a autora falou que abordaria - sobre a relação com a fama, amar em público, conflitos familiares. Meu maior problema com Debaixo do meu chapéu, é que esse livro se propõe a explorar muitos tópicos interessantes, e é longo o suficiente para fazer isso, mas parece que foi uma história construída cena a cena, ao invés de ter uma narrativa contínua - então todas as decisões tomadas pelas personagens parecem ser feitas para maximizar o melodrama em cada capítulo. Isso torna o livro difícil de largar, mas profundamente frustrante.
Ao final da história, eu não conseguia mais torcer pela Ana e pela Lara, porque o relacionamento delas até então tinha sido intenso, volátil e vazio em comunicação. Também não consegui simpatizar com o desejo da Ana de se reconciliar com o pai, que, ao longo da história, se mostrou desdenhoso e controlador ao ponto de ser monstruoso, sem nunca demonstrar carinho pela filha. A complexidade dessa relação é informada a nós, mas nunca demonstrada no texto - e é nessa nota amarga que o livro acaba, o que drenou definitivamente meu proveito dessa história. É confusa, mal planejada, mais longa do que deveria, e os poucos pontos de brilhantismo - o começo e o capítulo 28 - só servem pra me frustrar ainda mais com o produto final, porque demonstram o talento da autora e o potencial por trás de uma história como essa.