Enquanto se recupera de uma desilusão amorosa, Arielle passa a trabalhar como ajudante de Papai Noel em um shopping no ABC Paulista. Entre poses para fotos com crianças, reencontros inesperados e novos laços afetivos, ela reconstrói seu caminho de volta ao amor.
Melhores trechos: "...E o pai, alto, negro e grudado num aparelho celular nem tchum para a menina. Eu, assim como a maioria dos jovens adultos desse país, de tempos em tempos me pergunto o que estou fazendo da minha vida. A dúvida de ter escolhido certo me acomete nas horas mais improváveis: ao ver o saldo negativo da minha conta bancária, ao abrir a geladeira e perceber que não tem nada lá dentro, ao acordar na casa da minha mãe e afastar a colcha das Meninas Superpoderosas e por aí vai. Mas agora, no auge dos meus 29 anos, fantasiada com uma roupa de veludo no auge do verão e sendo alvo de escrutínio de uma criança ao mesmo tempo em que meu ex-noivo, ao longe, admira lingeries para alguém que não sou eu, finalmente tenho certeza de que sim, fiz a escolha errada. E não existe nada que eu possa fazer para voltar atrás. Só o que me resta é me esconder, pois Fernando dá indícios de que vai seguir o caminho dele e nada o impede de se virar em direção à atração natalina. Até porque, com esse tanto de luzes, brilhos, cheiros e musiquinhas irritantes, esse é o lugar mais chamativo do shopping inteiro. Para meu desespero. Por isso, num arroubo de adrenalina, me jogo atrás de um boneco de neve e fico encolhida por alguns segundos, querendo simplesmente sumir... Ah, acho que esqueci de mencionar: consigo ser bem dramática às vezes. Mas acredito que essa minha característica pode contribuir com algo no meu novo cargo. Ser ajudante do Papai Noel requer mais do que um rostinho bonito e paciência com criança. Ou pelo menos foi isso que me disseram durante a entrevista de emprego. E que eu concordei com veemência porque precisava desesperadamente de dinheiro. Ainda tenho dívidas para pagar do casamento que não aconteceu. Mas não quero pensar nisso agora. Ajeito minhas mangas bufantes, o gorro com um sino preso e contorno a árvore com passos decididos. E justo quando eu penso que não tem como um primeiro dia de trabalho ficar pior, 'bate o sino pequenino' toca pela décima sexta vez. Sinto minhas forças se esvaírem, mas antes que eu desfaleça completamente, um grito estridente me traz de volta à vida... A caminhada de mais ou menos vinte minutos deveria ser um momento relaxante e apreciativo, contudo, a recente discussão com minha mãe faz minha cabeça girar feito o peão da casa própria. Aliás, eu adoraria ter uma casa própria, mas esse sonho me parece tão distante quanto os outros, tão longínquos que quase não vale mais à pena sonhar. Não há suspiro no mundo que espante minha frustração. Ainda assim, faço minha tentativa. Para mim, o pior de tudo é que, apesar de todo o desagrado da conversa, não consegui nenhuma resposta. Sigo sem saber o que posso dar de presente para ela. Só o que consegui foi aumentar as expectativas para algo que sequer existe. O tiro não só saiu pela culatra como eu também me vi obrigada a cair fora do apartamento. E cá estou, pela milionésima primeira vez, me perguntando se não sou adotada. Sei que já passei da idade de fazer esse tipo de questionamento, que deveria ter autonomia para fazer um teste de DNA e acabar com essa dúvida de uma vez por todas. Mas também tenho medo de enfim achar uma resposta definitiva para a eterna divergência que rola entre minha mãe e eu. Quase todo dia me pergunto: dá para sermos mais diferentes? E invariavelmente toda vez ela consegue me provar que sim. Sua recusa em revelar o que gostaria de ganhar de Natal é fichinha perto do chilique que deu quando contei que eu e Fernando terminamos. Ele era uma das poucas coisas que ela gostava em mim. O fim da nossa relação serviu como uma comprovação de que sou uma causa perdida. E essa é uma das poucas coisas em que minha mãe e eu estamos de acordo. Ultrapasso alguns pedestres que andam devagar demais para o meu gosto enquanto empurro para o calabouço dos meus pensamentos impensados o fato de que minha mãe só me acolheu em sua casa porque ela sabe, tão bem quanto eu, que não tenho a menor condição de me virar sozinha. Mesmo que ela não fale sobre o assunto, sabe que me encontro num estado deplorável. E, por mais estranho que possa parecer, isso me sensibiliza... Durante minutos infinitos sofro pelo bebê que perdi. Não é todo dia que me deixo cair tão baixo. Mas, por incrível que pareça, não chego ao fundo do poço, pois o Papai Noel me segura... Nos dias que seguem a aparição de Fernando, minha ginástica de pescoço alcança um novo patamar. Os torcicolos são testemunhas de que me esforço para vigiar todo o entorno do pátio central do shopping, o medo de que meu ex-noivo reapareça, cobrando nossa conversa, é real. Real e visceral. Minhas pernas perdem a força de sustentação só de pensar no assunto. Ainda não estou pronta para revirar os acontecimentos do ano retrasado. Sei que para muitos um ano e meio pode ser considerado muito tempo. E acredito que em algumas situações, como a reforma de uma casa, ou roupas secando no varal, isso é até verdade. Tudo é uma questão de perspectiva. E, na minha perspectiva pessoal, nunca vai passar tempo o suficiente para que eu fale sobre o que aconteceu comigo sem que isso me cause um sofrimento tremendo. Cada dia que nasce eu tento, de verdade, seguir em frente, como muitos amigos me aconselharam — quando ainda tinham paciência comigo. Mas todos os dias desde que o incidente aconteceu, eu falho miseravelmente na minha tentativa. Enquanto isso, tudo que conheço como normalidade vai se desmoronando ao meu lado. Às vezes tenho a sensação de que dei um passo adiante, mas então acontece algo — como o ressurgimento de Fernando, por exemplo — e entendo que não vou chegar a lugar nenhum tão cedo. O negócio é ficar sempre alerta para não ser levada para ainda mais fundo no poço de tristeza em que me meti... As engrenagens do meu cérebro giram e a ficha começa a cair. Na cabeça dele, minha suposta felicidade foi causada pela minha escapulida com Breno. Isso diz mais sobre ele do que sobre mim, pois não acho que estou com essa alegria toda em meu coração. A convivência com minha mãe é capaz de sugar tudo que há de bom em mim em questão de segundos. Mas, se ele tem essa opinião e não faz a menor cerimônia em pontuá-la no meio dos nossos acenos ao público, deve ser porque é um tópico importante para ele... No dia seguinte, além de chegar mais cedo, reforço o perfume para encobrir qualquer eventual cheiro que a minha fantasia possa emanar. Bianca, a ajudante da manhã, divide o turno comigo e não perde a oportunidade de me passar o informativo completo de como foi o almoço com o mozão dela. Não me poupa nem dos detalhes. Impressionante como às vezes a primeira impressão que temos de uma pessoa não tem nada a ver com o que ela realmente é. A garota que eu achei que fosse na dela e de poucas palavras, na verdade é uma matraca para lá de bem-humorada que conta histórias de um jeito que me deixa curiosa para saber o que vem a seguir... Fernando se coloca na minha frente de braços cruzados, saído do absoluto nada e com cara de poucos amigos... Esfrego o rosto com a mão, possivelmente estragando a pouca maquiagem que apliquei. Não acredito que isso está acontecendo comigo. Não agora, que pensei que tinha colocado parte da minha vida no lugar... Ao que me parece, esse corredor movimentado do shopping virou uma batalha de homens altos contra Ari. Olho de Breno para Fernando e de Fernando para Breno, cada vez mais incrédula. Levanto as sobrancelhas lá no alto, querendo comunicar a Breno que temos uma missão e que finalmente não tenho a menor intenção de dar para trás... Olho para ele sem acreditar no que acabo de ouvir. É simplesmente tudo que eu queria há um ano e dois meses. Agora, já encarei a maioria das dificuldades sozinha. E embora eu admire o fato de ele enfim ter chegado ao ponto que eu queria, sinto que existe um abismo enorme entre nós... Eu sabia que ele daria um jeito de enfiar Breno nessa história. Até porque, é mais fácil justificar o término de uma história de amor quando tem uma terceira pessoa envolvida. É muito complicado assumir a responsabilidade de colocar o ponto final, pois geralmente é esse indivíduo que recebe mais críticas... E eu não tenho a obrigação de ser! Quero estar com alguém que aprecie minhas outras qualidades, sem que eu precise ficar fazendo malabarismos de sedução para manter a pessoa interessada. A expressão de consternação de Fernando me diz tudo, ele acha absurdo que eu tenha a ousadia de ser eu mesma — ou a versão mais relaxada e menos preocupada em agradá-lo de mim. Ele entende que no estágio de segurança pessoal que me encontro agora nossa relação não vai funcionar... Talvez o desejo principal dele, assim como o meu, fosse acertar as coisas — mesmo que esse acerto não necessariamente signifique embarcamos em uma nova relação romântica... Só para me certificar, estico a mão e seguro a de Breno, sentindo a energia gostosa que ele emana. E, como se não bastasse, ele olha para mim transbordando amor festivo e me lança um daqueles sorrisos que me fazem ter vontade de me derreter e me transformar numa poça... Foi um choque quando descobri que estava grávida. Tentei, com todas as minhas forças, não criar expectativas. Depois que sofri o aborto, a médica me informou que as chances de acontecer novamente eram altas. Todo dia eu acordava e segurava minha barriga para me certificar de que o bebê continuava lá. O pânico tomava conta de mim o tempo inteiro. Se não fosse Breno segurando minha mão durante as noites, não sei como conseguiria ter pregado o olho ao longo de toda a gestação. Não foi uma gravidez fácil, todos os dias eu tinha que vencer o medo avassalador de perdê-la. Mas aqui está ela, em meus braços, cobrindo meu ombro de baba..."
é um romance natalino bem fofo, meio enrolado em certas partes, mas até que rápido. a pesonagem principal me irritou bastante, mas dá pra relevar, tirando a Bianca, o papai Noel e a Maricota, todos os personagens me irritaram em algum momento, mas depois tudo se acerta. achei legal, mas se fosse menos enrolado e a Ariele não tivesse saído direto do Twitter, seria melhor.
achei uma leitura super delicinha, bem casual e leve. aborda a questões de perda gestacional e de depressão sem ficar pesado. a Maricota é a coisa mais fofa que existe. Se propõe a ser um conto de natal e acho que cumpriu bem seu papel.