Isabel não tinha medo dos mortos. Gostava de passear por entre as campas do cemitério, a recuperar as histórias da morte daquelas pessoas. Quando a falta de alguma informação lhe acicatava a curiosidade, perguntava à mãe...Quando esta se recusa a dar-lhe uma resposta sobre uma mulher chamada Eulália, Isabel inicia uma busca por esclarecimentos. Só que ninguém quer falar sobre o assunto e, Inesperadamente, Isabel vê-se confrontada com uma teia de mentiras, maldade, enganos e crimes que a levam a compreender o passado misterioso da mãe e a forma quase anestesiada da sua existência. Um romance de estreia profundamente sagaz e envolvente que faz um retrato do interior português preso na tradição religiosa da década de 1970.
nasceu em 1979, em Lisboa. Cresceu nos subúrbios, rodeada de livros. Devia ter estudado Psicologia Criminal, a sua grande paixão a par da escrita, mas acabou por se licenciar em Publicidade e Marketing. Aos dez anos, escreveu o seu primeiro conto e decidiu que, um dia, haveria de ser escritora. Demorou trinta e dois anos a conseguir. Em 2021, publicou o seu primeiro romance, O Lugar das Árvores Tristes. Aclamado pelos leitores e pela crítica, chegou ao Brasil em abril de 2023.
"Porque nas aldeias tudo se sabe, mesmo aquilo que ninguém diz."
No calor do momento, tenho a elogiar muito a escrita desta autora em plena estreia. A escrita é muito equilibrada e, melhor, é aplicada na medida certa: sem ser superficial nem desnecessariamente floreada. O embalo da escrita é algo que deixa claro que estamos perante uma nova voz na literatura nacional, outro caso de uma estreia bem-sucedida.
Gosto muito da premissa do livro, da relação mãe e filhos, do mundo rural, das hierarquias que ainda hoje em dia imperam nesses lugarejos do interior. Gosto de como a Lénia põe o dedo na ferida e expõe os podres da autoridade nesses recantos de impunidade.
Por outro lado, houve algumas coisas que deveriam ter sido claras, mas que não consegui compreender (quiçá, por culpa minha): - Descobrindo-se a possível verdade sobre a morte da D. Eulália, mistério que move a personagem principal, não percebi o porquê do silêncio. - Estando a Isabel diante do diário da mãe, como pode ter conhecimento de coisas que tiveram lugar fora da vista e do conhecimento da mãe?
"Não se escolhe a hora a que se morre, a não ser que alguém a escolha por nós"
Por último, senti que algumas partes do livro me foram um pouco repetitivas: há uma sequência em que três personagens têm o mesmo tipo de abordagem para com o vilão, e os diálogos entregam as mesmas acusações. Por outro lado, grande parte da história é vista à lente de 1972, o que relega a nossa personagem principal para uma espécie de introdução e epílogo da história, não chegando realmente a dar-se a conhecer ao leitor.
Termino renovando a minha fé em como a Lénia regressará com outros livros e que, a julgar por este, o seu percurso será muito promisssor!
Ainda estou a digerir um dos livros que aposto que será uma das melhores leituras de 2021!
A escrita simples, mas cativante, crua e cheia de emoções que este livro nos traz...simplesmente maravilhoso. Lia-o sempre que o tempo me permitia e quando não o estava a ler, não deixei de pensar na história e no que faltava ler, no desenrolar das teias e acontecimentos de uma pequena localidade . Um livro que inquieta, que nos dá vontade de ler mais e mais, uma verdadeira obsessão saudável ;)
Estou de coração cheio e maravilhada com esta pequena história.
Muitos Parabéns à Lénia, ganhou uma nova fã e espero sinceramente ler mais livros da autora :)
Uma história simples, mas com tanto para dizer, discutir, para rir e para chorar. Uma história tão nossa. Revi personagens, momentos, lugares.
Li este livro em 24 horas. Comecei no sábado e no domingo estava terminado. Lemos este livro sem parar. Ficamos sem fôlego. A escrita é irrepreensível: bonita, envolvente e viciante. E tenho o maior orgulho que a autora seja portuguesa.
O início desta história prometia. Adoro livros que andam para a frente e para trás no tempo. Mas infelizmente não consegui embrenhar-me na história. Achei alguns discursos repetitivos, gostava de ter sabido mais das personagens. Senti que a Lurdes passou muito rapidamente de uma rapariga muito tímida que nunca disse nada nem se opôs ao que lhe aconteceu, para uma jovem mulher que ameaçou várias vezes o Padre. Acho pouco verosímil que em 1968-70 alguém se atrevesse a falar assim com um Padre, e não foi a única personagem a fazê-lo.
Fiquei desiludida pelo fim em aberto tanto na história do presente como na do passado.
Uma história tocante, inquietante, que augura uma boa leitura do próximo livro da autora. Sim, haverá uma continuidade, terá de haver uma continuação. Faltaram os reencontros, as punições, uma consciencialização relativa às mentalidades retrógradas que têm de ser rompidas, a sensação do incompleto, do inacabado, muito ficou pendente... Faltou a cura! Aguardo o próximo livro!
Primeiramente conhecemos Isabel, uma jovem que sente uma atracção pelos mortos e pelo cemitério e que não se conforma com a resposta que lhe dão quando pergunta como morreu D. Eulália. Por sentir que precisa de saber mais, Isabel acaba por descobrir mais sobre o passado da mãe, Lurdes. E, vamos então, voltar atrás na acção e conhecer o que Lurdes teve que enfrentar quando tinha apenas 14 anos. E este passado de Lurdes mexeu e tocou-me imenso. A escrita da Lénia é simples e muito acessível mas expõe-nos tudo de uma forma tão crua que me conseguiu deixar-me de rastos. Foi brilhante o modo como Lénia construiu a personagem do padre pois conseguiu fazer-me sentir tanto ódio, tanta raiva, tanto nojo de uma personagem, que apenas vive nas páginas de um livro mas que eu senti como real. E, nem mesmo o final aberto que conseguiu fazer baixar a classificação. Uma história expeccional! Vejam a minha opinião mais detalhada em vídeo, AQUI.
Desde que este livro saiu que andei desejosa de o ler pois sempre gostei da escrita de Lénia Rufino enquanto blogger. Porém, sinto que as minhas expectativas saíram goradas. Não me arrebatou. A escrita é irrepreensível, mas demasiado simples para aquilo de que estava à espera.
A estória em si tem potencial, mas senti que foi mal explorada e, nalguns aspectos, explorada de forma fantasiosa. E isso pode ser explicado por factos. Expõe a realidade de um País que estava subjugado à Igreja e ao poder político (Estado Novo), no Portugal dos anos 60/70. Aborda a ruralidade desse País, em que muitos viviam do trabalho nos campos e muitos do filhos nem acabavam a quarta classe para poderem ajudar os Pais. Ou seja, grande parte da sociedade não era instruída. Portanto, idosos ou não, adolescentes ou não, as pessoas não tinham estudos e não as estou a ver a dirigirem-se a um clérigo, proferindo-lhes ameaças, enquadradas legalmente.
Também as mortes de duas personagens não convencem, tanto pelo motivo, como pelas circunstâncias, como pelo comportamento reiterado. É certo que há padres que eram ou são autênticos diabinhos, mas também não exageremos. E pessoas de idade, ou não, sem estudos, terem uma destreza de detective, que faz inveja a qualquer inspector da PJ... Muita coisa mal explicada e muita incoerência.
Em suma, a autora teve boas ideias, mas que ficaram pela rama. Faltou uma maior profundidade à estória e às personagens, para que este livro tivesse mais substância.
Opinião: O Lugar das Árvores Tristes é ficção, mas podia perfeitamente não ser.
Também eu cresci no interior, numa aldeia do tamanho de um alfinete, com um cemitério de muros brancos e uma entranhada devoção católica.
Nesta história de famílias destruídas, segredos guardados durante décadas, impunidade e costumes enraizados, ainda sobrevivem mulheres fortes e inspiradoras!
A escrita da Lénia, tão simples e crua, mas ao mesmo tempo envolvente, coerente, emocional e descritiva, desperta-nos da compaixão à raiva! Sentimos as personagens! A Isabel e a Lurdes ficaram comigo muito depois de o ter terminado...
Foi uma estreia com o pé direito, pois esta é uma história que nos agarra pelos colarinhos do início ao fim e só nos larga quando viramos a última página!
Quando terminei O Lugar das Árvores Tristes, a primeira coisa que perguntei em voz alta foi, se este era mesmo o primeiro livro da Lénia!
Dito isto, que venha o próximo!
“Nas aldeias tudo se sabe, mesmo aquilo que ninguém diz”. - Lénia Rufino
Acho que aquilo que mais me apaixonou neste livro foi a escrita, foi impossível não adorar a escrita, e é isso que mais me deixa entusiasmada para o próximo livro da Lénia.
Quanto à história em si, por preferência própria gosto que as pontas estejam todas resolvidas no final, ou pelo menos quase todas, que é algo que não acontece propriamente aqui - e eu queria tanto que um certo senhor tivesse aquilo que merecia, apesar de todos nós sabermos que na grande maioria dos casos não é isso que acontece...
Temos uma história envolvente, em que é impossível não darmos o nosso coração a Lurdes, tanto que quase que me esqueci que havia um "presente" em que acompanhamos a Isabel. A história da Lurdes ficou com o meu coração e mergulhei por completo na sua existência.
Um livro que me deu muito gosto em ler, apesar do final que me fez lembrar a minha experiência com Afonso Cruz (que também me deixou com pontas soltas).
Não basta a uma leitura ser bom entretenimento para conquistar o leitor. Nem é suficiente uma técnica primorosa para apaixonar quem lê. O que agarra um leitor às páginas de um livro é a empatia que cria quem escreve com os seus receptores, o coração que deposita e que transparece nos seus escritos. Pois este livro consegue a proeza de aglomerar todas estas três carácteristicas: entretém de forma sóbria, mas intensa e arrebatadora; é primorosamente bem gizado e executado; e, acima de tudo, contém e espelha a alma da sua criadora, bem como de um tempo e de um povo rústicos e verdadeiros, com os quais nos identificamos e comovemos. É, por tudo isto, uma leitura a não perder e um primeiro sucesso certo de alguém que veio para ficar no panorama literário português. Cinco estrelas.
"O lugar das árvores tristes" é o romance de estreia de Lénia Rufino. Neste livro, somos transportados até um lugarejo do Alentejo (mas que podia ficar em qualquer local de Portugal) e ficamos a conhecer Isabel e a sua mãe Lurdes, numa história que se reparte entre o ano de 1992 e as décadas de 1960 e 1970 do século XX. Isabel tem a particularidade de ter sonhos e inteligência maiores que as fronteiras do lugarejo onde vive e de desfrutar do seu tempo de forma mais ou menos peculiar. Deambula pelo cemitério da sua aldeia, descobrindo farrapos de passado das famílias que a rodeiam e até mesmo da sua... Mesmo que o presente lhe queira impedir de descobrir tudo aquilo que deseja. A sua ausência de medo dos mortos permite-lhe pressentir os segredos que se escondem em cada um dos talhões do cemitério que visita escondida dos olhos dos demais. Até que existe um segredo que parece espreitar de um desses talhões, qual mão de um esqueleto que se escapa de uma sepultura num qualquer filme de Halloween...
O ponto de partida para todo o desenrolar da narrativa deste "O lugar das árvores tristes" parte da recusa de Lurdes de contar à sua filha sobre o que motivou a morte de Eulália, uma daquelas velhotas que existe em qualquer lugarejo, mais ou menos perdido, e que tem o condão de estar presente no local certo à hora errada. E a história que conhecemos nas páginas deste livro só nos vem comprovar que Eulália vem ser a confirmação desta regra. O não contar dos motivos de morte de Eulália, despertou em Isabel uma vontade ainda maior de conhecer esse segredo e de explorar as velhas arcas arrumadas no sótão... Entre o pó e as páginas amarelecidas de vários diários, Isabel vai descobrir mais do que os motivos da morte de Eulália. Vai descobrir quem são estas árvores tristes, perdidas do seu rumo de vida naquele lugarejo alentejano, e vai também descobrir um objectivo maior para a sua própria existência. Na pág. 87 pode ler-se: "Por isso, quando se viu sem nada, sentiu-se uma árvore despida, incapaz de cumprir os mínimos que garantissem que continuaria viva". Seria também Lurdes uma das árvores perdidas num lugarejo perdido no norte do Alentejo?
A leitura deste livro faz-se forma bastante fácil. Lénia Rufino presenteia-nos com uma escrita fácil de acompanhar e fluída que tem a capacidade de nos envolver, principalmente se tivermos no nosso passado elementos familiares ou da nossa infância que facilmente nos fazem cair dentro das páginas do livro por nos serem tão próximos. Tendo eu raízes familiares no Alentejo, num lugarejo não tão pequeno assim como aquele que é descrito neste livro, facilmente consegui reconhecer os vários elementos que vão surgindo. A vida dura, dedicada de sol a sol à agricultura e ao cuidado dos animais, relegando para segundo plano o tempo em família. A taberna da esquina onde os homens se juntam antes do jantar, em torno de um balcão e de umas garrafas de cerveja e onde se deitam contas à vida e à jorna que se recebeu. As famílias de relações cortadas para sempre, nem sempre pelos motivos mais justificados ("Naquela família, as quezílias resolviam-se de uma de duas formas: ou à pancada, quando era entre homens, ou cortando relações, se estavam envolvidas mulheres" pág. 172). Os funerais que, mais do que mera homenagem a quem parte, se revelam como momentos centrais da vida social dos lugarejos perdidos de Portugal e que nos mostram mais sobre aqueles que vivem sobre o que parte e está no meio da sala dentro de um caixão. "Há, nos funerais, um resquício de maldade que é impossível conter. Ali não era diferente. O cinismo chegava sempre a horas a estes eventos" (pág. 146). Tudo isto assisti durante as minhas férias de verão no Alentejo da minha infância. A forma como está descrito fez-me arrepiar por ser uma realidade tão minha conhecida e por perceber que, seja a norte ou a sul, o sangue que corre nas veias destes lugarejos é profundamente marcado pela identidade de um povo claramente marcado pelas cicatrizes que um Estado Novo nos deixou...
A maior parte da narrativa é passada exactamente durante os últimos anos desse Estado Novo, com a clara preponderância de um clero sobre as restantes classes sociais. Confesso que, neste ponto, não consegui tanto identificar o Alentejo que eu conheço... Mas talvez porque o padre do lugarejo da minha infância fosse muito menos impositivo, cruel e aglutinador do que aquele personificado pelo Padre Alípio deste livro. "Cabia-lhe a si, enquanto homem, garantir que chegava ao fim da vida sem mácula pública, continuando a ser visto como um homem exemplar que sempre conduzira as almas do seu rebanho de forma impoluta" (pág. 205). No entanto, consegue-se perfeitamente identificar o elo central da Igreja, partindo da cúpula maior do Cardeal Cerejeira e que se desdobrava através de cada um dos níveis da Igreja até à paróquia da aldeia, onde o padre era mais reio e senhor do que mero conselheiro espiritual. Temos igualmente um mero vislumbre do que era ser da "família rica da terra" (pelo menos, senti isso na descrição dos episódios da adolescente Lurdes...) e o que isso podia significar se algum erro fosse cometido... Os pilares da religião e do dinheiro durante o Estado Novo marcaram a vida de Lurdes da pior forma possível... E ao ler a sua história, ainda que ficcionada, pergunto-me quantas Lurdes e quantos João existiram na narrativa do povo português subjugado aos brandos costumes sem capacidade de levantar a voz perante uma clara injustiça, tudo em nome de uma honra ainda imbuída de espírito medieval e que, dramaticamente, sempre condicionou tantas vidas do nosso Portugal. Mas vemos como o papel dessa Igreja castradora pode ter sido também a origem de tantos se afastarem dela: "Não teria de se vergar perante uma igreja que punha nas vítimas o ónus da culpa. E se antes já era pouco crente, agora ainda menos" (pág. 127).
A forma crua e atroz como Lénia descreve os desejos do padre Alípio são verdadeiramente a fotografia da culpa que sempre se atribuiu (e ainda se atribui tantas vezes, no presente....) às mulheres, qual epíteto máximo da culpabilidade da mulher quanto ao despertar desejo no homem e ser culpada de tudo aquilo que lhe poderia acontecer. "Puseste-te a jeito" como tantas vezes ouvimos e lemos... "Não sabia como a sobrinha tinha engravidado, mas havia de ser, com certeza, culpa dela, ingénua e até um pouco palerma, que não sabia defender-se e que teria certamente provocado quem quer que lhe tivesse plantado o filho no ventre" (pág. 87). Aquela capacidade de crueldade atroz e de preconceito que tantas vezes vemos materializado da pior forma de mulheres em relação a mulheres. Mas curioso ver como o tio de Lurdes, Eusébio, conseguia ser um homem à frente do seu tempo: "Abstinha-se, por isso, de tecer considerações e não guardava para a sobrinha todas as culpas - longe ia já o tempo em que acreditava que tanta vontade era apenas fruto da sedução feminina" (pág. 87). A descrição entrecortada de um suposto abuso que vem a culminar numa gravidez indesejada, com a atrocidade de ocorrer no profundo do nosso Portugal de raízes profundamente católicas embrenhadas nos braços do Estado Novo e nos princípios requeridos a todas as raparigas consideradas de bem, montras maiores das regras prescritas pela Mocidade Portuguesa Feminina. Escrevia-se no Boletim da Mocidade Portuguesa Feminina de 1940: "Raparigas da Mocidade, o vosso dever é reagir contra tudo o que é mau. Vesti com orgulho o fato de banho da Mocidade: ele fala por vós e diz aos que vos vêem quem vós sois: verdadeiras raparigas alegres e saudáveis – mas puras!". O objetivo maior de todas as raparigas era o seguinte: boa esposa, boa mãe, boa doméstica, boa cristã, boa cidadã sempre pronta a contribuir para o Bem comum, mas sempre longe da intervenção política deixada aos homens. E, ainda que não se fale da Mocidade Portuguesa Feminina no livro, tudo aquilo vociferado pelo padre Alípio materializa toda esta mensagem. Sem dúvida, uma narrativa que prende quem leia este livro e que mergulha nos hábitos e nas raízes religiosas do nosso Portugal e que nos mostra o quanto, ainda hoje, essas raízes são ainda demasiado fortes e continuam a moldar o pensamento, a educação e o preconceito de uma sociedade que se quereria, supostamente, bem mais avançado do que podemos pensar que somos.
O livro termina dizendo que "Puxou o portão, que chiou pela falta de óleo nas dobradiças, deu duas voltas à chave e olhou uma última vez para aquelas árvores altas cujas sombras desciam já sobre as campas numa despedida sua e de final de tarde". Teremos um livro seguinte a este?!
Seja no passado ou no presente, que possa este livro trazer para cima da mesa a reflexão sobre os comportamentos que se tem face a uma mulher violada, as palavras cruéis que demasiadas vezes lhes são dirigidas como se tivesse tido culpa do que se passou, os preconceitos impostos pela educação e pela sociedade e que podem moldar ou cortar para sempre o rumo de uma vida. Gostei muito de ler este livro de escrita bastante fluída e sem termos demasiados complexos ou desconhecidos da maioria. Lénia se quisesse, poderia ter mergulhado profundamente nas expressões desse Alentejo, tornando-o mais inalcançável para a maioria. Mas, e bem, preferiu manter as expressões no vocabulário de todos, sem que se impusesse ir à da vizinha, fazer um mandado, não apoquentar os mais velhos ou não ter avondo com o turbilhão de sentimentos que deve ter sido mergulhar nas raízes de uma infância para as colocar por escrito, ainda que de forma ficcionada.
Penso que a capa desta edição está muito bem conseguida, não sendo na cor habitual de uma árvore triste, mas antes num cinza cor de mistério, de segredos, pincelado de azul de tristeza de acontecimentos familiares por resolver... Também o tipo e tamanho de letra, destaco como aspectos positivos da edição, porque facilitam bastante a leitura e a tornam muito agradável.
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Foi um prazer ler este livro! Uma história com emoções, injustiça, vilões e mistério. Tudo numa escrita tão hábil e que envolve o leitor desde o início a querer saber o que aconteceu. Foi muito bem empregue o tempo dedicado a ler este livro. Definitivamente um dos melhores que li este ano.
Terminei a leitura deste livro revoltada. Não por o livro me ter dececionado (adorei as personagens, tudo o ambiente rural e o mistério em volta da narrativa), mas por pensar que a justiça muitas vezes não atua quando tem de atuar e que muitas vezes as vítimas ainda são vistas como as culpadas.
Monsenhor Alpino é daquelas personagens desprezíveis, capaz de todo para manter a sua reputação e ainda tem o desplante de afirmar ser tudo feito segundo os preceitos cristãos. É impossível não odiar esta personagem, responsável por todo as mágoas de Lurdes e sem nunca ser apanhado pelos seus crimes.
" O lugar das árvores tristes" é o brilhante romance de estreia de Lénia Rufino, espelhando a realidade numa aldeia rural no Alentejo em que seguimos a tragédia de Lurdes que aos dezasseis anos observa os seus sonhos destruídos e passa a lutar para recuperar o que lhe foi retirado. É daquelas narrativas que permanecem connosco, e não nos querem mais largar.
Este livro encantou-me pela capa,pela sinopse, e pelas criticas que tem vindo a merecer mas e infelizmente ficou-se por aí. Embora o início da narrativa prometesse uma viagem a um Alentejo profundo, amarrado às leis da igreja católica, socialmente fechado e isolado em si mesmo, com uma caracterização do regime ditatorial que se vivia à época, nada disso se veio a verificar. A narrativa é pobre, com demasiadas repetições do tema principal, personagens caracterizadas de forma bastante superficial assim como as relações entre as personagens. O enquadramento temporal e do lugar foram reduzidos ao mínimo. Normalmente sou uma defensora acérrima da escrita das autoras portuguesas, principalmente nos seus primeiros trabalhos, mas este, talvez por muita falta de orientação das editoras, não foi bem conseguido.
1970, aldeia no interior de Portugal, cheia de tradições, preconceitos, costumes de antigamente e aparências.
Isabel era muito curiosa e adorava passear pelo cemitério da aldeia em busca das histórias de vida e de morte de todas aquelas pessoas.
Enquanto não descobriu como morreram todas as pessoas da aldeia não descansou e foi esta curiosidade que a levou a segredos guardados e memórias perdidas, enterrados há anos.
Sobre a família, a tradição e o rigor, sobre o respeito e a reverência à Igreja, sobre as aldeias onde tudo se sabe e todos se conhecem, sobre as relações familiares do antigamente, muito frias, com pouco afecto e cordiais, sobre arrependimento, sobre escolhas e decisões, sobre famílias desfeitas e marcas que ficam para sempre, sobre a evolução que houve nas nossas vidas desde há 50 anos porque quero acreditar que nos dias de hoje já nada se passaria desta forma.
Em português, em Portugal, muito bem escrito, envolvente e cativante, que sobretudo nos conta e traz aquilo que é nosso. Leiam ❤️
Isabel vive numa pequena aldeia no Alentejo onde todos se conhecem e todos sabem da vida uns dos outros. O seu passatempo favorito era passear pelo cemitério e tentar saber algo mais das histórias daquelas pessoas que lá estavam. Como foi a vida delas? Do que é que morreram? Até que chega à campa de Eulália, uma mulher que todos parecem não querer falar. O facto de todos se recusarem a dizer o que se passou com a morte dela, aguça a curiosidade da jovem, que não para até descobrir tudo.
E é aqui que surge uma segunda história... aquela que seria a história principal do livro e que traria toda a verdade à tona.
Léna Rufino faz-nos recuar ao século passado, ao ano de 1969, a um Alentejo profundo que poderia muito bem ser qualquer aldeia do país. Um local onde a cuscuvilhice impera e onde a moral e os bons costumes estão acima de tudo. Gente humilde, mas que se quer honrada e que vê no padre da aldeia o símbolo da autoridade e de Deus.
A autora escreve bem. Mas escrever bem pode não ser suficiente para cativar o leitor. Aí é que entra a história envolvente que criou. Fiquei rendida desde a primeira página. Parece um cliché, mas garanto-vos que não. Consegui sentir os cheiros daquela aldeia, do sol a bater nas árvores, dos caminhos sinuosos e por vezes desertos, das suas gentes e da autoridade da igreja. Isto porque também eu, durante uma parte da minha infância, também vivi na aldeia, o que me fez enriquecer enquanto pessoa. As aldeias são mágicas.
Engraçado como me identifiquei com Isabel na tentativa de querer conhecer mais sobre os mortos. Também eu, quando ia com a minha avó ao cemitério, percorria as campas e gostava de ver quem lá estava. Ficava chocada quando percebia que havia pessoas novas que morreram de forma trágica, mas a minha curiosidade não passava daí.
O final em aberto pode trazer um amargo de boca aos leitores que gostam de ver uma história com final feliz, mas comigo fez o inverso.
Limbo. Algures entre o privilégio de ser a primeira pessoa a avaliar um livro e o privilégio de ter acompanhado a escrita deste livro. A Lénia não é a nova escritora portuguesa porque não é de agora que escorrem palavras perfeitamente encaixadas das mãos dela. É, arrisco-me a escrever, desde que se lembra de o ansiar.
O Lugar das Árvores Tristes tem o coração, a mão, a vida e a história da Lénia em cada palavra e espero - acredito!, é só o primeiro. De muitos.
Um livro que embala. Uma forma de escrever que nos faz sentir a angústia, a repulsa e a frustração da impunidade. Quero mais Lénia! Quero muito mais! Parabéns!!
o livro da Lénia levou-me de volta às terrinhas de Portugal, em que todos se conhecem e tudo se sabe. como fiz umas mini-férias na terrinha dos meus avós, aproveitei e levei-o comigo para intensificar o ambiente desta leitura.
não imaginava de todo a evolução que esta história iria ter, inicialmente conhecemos Isabel, na década de 90, gosta de passear no cemitério da aldeia, de conhecer a história de vida daqueles que já cruzaram o véu para o outro lado e ainda que pareça um bocadinho mórbido, a forma como é descrito é bonito, transmite assim uma sensação de calmaria, de paz.
cheia de perguntas e com poucas respostas, Isabel toma para sua missão perceber como morreu Eulália e como é que isso poderá estar ligado ao passado da sua mãe, Lurdes, de quem não conhece nenhuma família, que nunca é mencionada, como se fosse proibido. como se Lurdes não existisse antes de se ter mudado para aquela terra.
então embarcamos numa viagem ainda mais atrás no tempo, até aos anos 70 e aí conhecemos Lurdes e vos digo: queremos ficar ao seu lado, queremos que ela consiga vencer e ser mais forte do que todas as forças que se juntam contra ela. mas há males que habitam os corações humanos, inimagináveis, em sítios onde só deveria haver Luz.
este livro aborda temas mesmo muito pesados, muito duros, difíceis de engolir e gostei da forma como foram desenvolvidos, mas ao mesmo tempo achei demasiado rebuscado. duas linhas temporais num livro pequeno também não me ajudou muito, não consegui ter tempo suficiente para criar uma ligação com Isabel, de repente já estou a conhecer a história da Lurdes e depois voltei ao final, de novo a Isabel.
queria um closure maior para toda a história, acredito que a Lurdes merecia, mas como na vida real, nem sempre acaba como queremos.
resumindo: uma autora portuguesa que adoro seguir por aqui, gosto imenso das suas recomendações e que agora finalmente conheço a sua escrita. espero voltar a pegar num livro da Lénia brevemente, porque ainda que este não me tenha enchido as medidas, deixou-me curiosa o suficiente para continuar a seguir o seu trabalho. e que bom é ler os nossos ✨
4,5 🌟 Simplesmente fabuloso. Este livro fez-me sentir tantas emoções ao longo da história, principalmente revolta.
A história inicia-se a apresentar Isabel, que vive com a mãe e a irmã numa aldeia do Alentejo profundo. Isabel gosta de passear por vezes pelo cemitério da aldeia e gosta de visitar as campas dos falecidos, querendo conhecer a história de cada e como é que cada um faleceu. Mas existe uma campa, uma falecida, que ela não sabe o porquê daquela morte .. e a curiosidade é muita e Isabel está decidida a descobrir o porquê. Será que irá descobrir? ...
A autora Lénia Rufino criou uma história delicada mas crua ao mesmo, personagens reais com histórias reais. Viver na época dos anos 60/70 num Alentejo rural, profundo, não era tarefa fácil e a autora conseguiu explicá-lo e mostrá-lo bem neste seu primeiro livro. Existem, no entanto, algumas pontas soltas que podiam ter sido mencionadas na história ou "resolvidas" de outra forma, mas no geral, achei que teve uma boa linha condutora e mostrou muito trabalho e muita pesquisa sobre este tema.
Mais que um mistério, existem muitas lições a tirar deste livro por isso recomendo vivamente a sua leitura.
Um livro sobre traumas, perdas, sofrimento, perdão, família. Gostei bastante, mas tem algumas pontas soltas, que gostava que tivessem sido melhor exploradas.
A premissa do livro misturada com a ruralidade onde se desenvolve a ação aguçou a minha curiosidade e, não me desiludiu em nada. As personagens estão bem construídas tendo em conta os dois espaços temporais narrados. O padre Alípio, dono de uma mente conspurcada, está de tal forma bem personificado, que desenvolvi um ódio de estimação por essa "criatura". Infelizmente hão de existir muitos "Alípios" por aí, usando a autoridade como armadura, acham-se os donos do mundo. A juntar a estes ingredientes, tenho de salientar a escrita da autora, que agarra e envolve o leitor com um jogo sábio de palavras, que nos leva a ler com rapidez e entusiasmo. Este Lugar das Árvores Tristes poderia ser um passeio por qualquer aldeia de Portugal, pois retrata a realidade de muitas delas. Recomendo 5⭐
Que livro viciante! É preciso encontrar respostas e saber mais sobre a história daquelas mulheres e daquela terra. É preciso matar a curiosidade para saber o que todos sabem mas ninguém ousa dizer.
Mais do que o retrato de um lugar e da sua população, é o retrato de uma época. Como é que as pessoas viviam? Quais as consequências dessa vivências nas gerações que lhes seguiam?
Estou tão triste por ter terminado o livro! Que bem que soube! Uma escrita absolutamente sublime, uma história que me agarrou desde a primeira página e que me “embrulhou” pela maneira crua como está contada. Um livro poderoso, uma história que relata na perfeição a mentalidade de um Portugal profundo nos anos 60-70, que vivia claramente de aparências e onde a austeridade, a falta de compreensão e empatia pelo outro e o poder da igreja estão muito marcados. Um Portugal que coloca no topo das prioridades o que os outros vão dizer, sem pensar nas consequências.
Esta é a história de Lurdes, uma menina-mulher que só me fez querer aperta-la, dar-lhe colo e abraçá-la o tempo todo. Completamente perdida, desalentada e a lutar contra um padre e uma visão extremamente católica de duas aldeias, que não ousavam questionar do/o representante de Deus na terra - nem podiam. No fundo, uma história de famílias que se vêem a braços com injustiças, erros e descrenças que só nos fazem querer gritar e fazê-los acordar do pesadelo em que se estão a meter.
Este é o livro de estreia de Lénia Rufino e espero, sinceramente, que mais livros sejam escritos. A escrita é maravilhosa: ritmada, com emoção e que respeita as pausas que a vida de Lurdes deve ter. Ainda sobre a escrita, atrevo-me a dizer que em muitas partes me fez lembrar a de Saramago. Não pela maneira como o livro está pontuado, mas pela estrutura das frases, o sentido, o vocabulário e o enlace das palavras. Adorei! É uma escrita madura, que nos embala, que nos é sussurrada ao ouvido. Uma delícia! Quero mais!
É tão bom ver autores portugueses a surgir desta forma, a entregarem ao leitor um livro exímio, que foi dos melhores que li na vida. Estou muito feliz por ter lido esta história, por esta nova autora e estou ansiosa pelo que aí vem.
Este livro conta-nos a história de Lurdes, uma mulher forte e determinada. O enredo passa-se em dois períodos de tempo distintos, começa em 1992, com a Isabel, filha mais nova de Lurdes e de Joaquim, que gosta de passear no cemitério e saber o motivo da morte dos que lá vivem. Quando Isabel se depara com a dificuldade de saber de que é que morreu Eulália, ela faz a sua própria investigação. Começa por questionar as pessoas da localidade alentejana, que dizem todas elas que Eulália morreu de velha. Mas Isabel sabe que algo de muito estranho se passa em relação aos contornos da morte de Eulália. Um dia Isabel vai para o sótão em busca de algo, é então que encontra diários da sua mãe, e decide ler. Ao longo da leitura do diário de Lurdes, vamos para o ano de 1968, para a adolescência de Lurdes.
Lénia Rufino, escreve de uma forma brilhante, escolheu para a sua história o meu querido Alentejo, ao qual eu estou emocionalmente ligada. Esta foi uma leitura sobre as famílias e o poder de uma entidade sobre os habitantes de duas localidades alentejanas. Pessoas simples e que só tem a preocupação de trabalho diário para colocar comida na mesa.
Quando estava a terminar o livro, confesso que comecei a sentir uma saudade das personagens, da Isabel e da Lurdes. Isto é algo que não me acontecia à muito tempo, o que significa que estas personagens foram muito bem trabalhadas e estruturadas por parte da escritora. Adorei este livro, a sua história e fico a aguardar mais livros de Lénia Rufino.
«Um belo livro sobre o passado, a memória e os segredos que brotam do fundo das páginas.» João Tordo