A pele em flor: Contos

by Vinícius Neves Mariano

O delicado elo entre passado e futuro é o fio condutor dos seis textos desta coletânea inédita de Vinícius Neves Mariano, autor de Velhos demais para morrer, finalista do Prêmio Jabuti.

Em A pele em flor, Vinícius Neves Mariano conduz seus personagens por trajetórias das quais eles emergem com uma nova consciência, prontos para florescer em direção a um novo futuro.
No conto de abertura do volume, Vinícius — o narrador que se confunde com o escritor — testemunha no café de uma livraria uma funcionária negra ser humilhada porque errou o pedido. Perplexo, ele ouve o amigo Henrique, que também presencia a cena, explicar o ocorrido como sintoma de uma doenç o "mal do senhor". Vinícius decide, então, investigar essa grave mazela que, assim como a narrativa do conto, entrelaça realidade e fabulação.
Em "Fawohodie", uma releitura brilhante e provocativa do Aleph de Borges, Mariano questiona não só o que é digno do cânone literário, mas quem pode ocupar esse posto e quais temas são pertinentes na chamada "alta literatura".
As tradições e heranças culturais e simbólicas são a chave para os personagens de A pele em flor entenderem suas emoções e construírem seu lugar no mundo. Na busca pela própria individualidade, eles encontram ressonância no coletivo.

"As narrativas de Vinícius Neves Mariano são assombradas pelo passado. Os textos de A pele em flor são povoados por pessoas que procuram seu lugar no mundo, compartilhando um denominador a cor da pele. Aí está o que as configura racialmente, determinando quais espaços (restritos) podem ocupar e quais caminhos (estreitos) podem percorrer na labiríntica sociedade brasileira. Na esteira da tradição literária negra, Vinícius demonstra que cada um desses personagens representa uma que, para além dos estereótipos impostos pelos discursos hegemônicos, nenhuma vida negra é redutível à insignificância dos lugares-comuns. Desse modo, imersos em seus negros dramas, os personagens de A pele em flor buscam recuperar não apenas seus sentidos próprios; mas, em última instância, a humanidade que nos foi usurpada." — Henrique Marques Samyn, poeta, escritor, professor e doutor especializado em literatura negra

138 pages, Kindle Edition

Published February 18, 2025

Reviews

[Luciana · Rating 5 out of 5]

Com um título que revela a premissa e a relevância da obra, Vinícius Mariano que ora é narrador ora personagem, compõe 4 contos que revelam a necessidade da consciência racial e da pertinência de conhecer sobre si através daqueles que vieram antes e abriram caminho mediante muita dor e arrastar de correntes: a história da população negra, dos quilombos e da religião ancestral são base para compreensão das diversas formas de racismo e são tão ricos quanto qualquer história dos povos, por mais que ainda hoje se tente dizer o contrário. Esse livro, é, portanto, como um olhar que não vai se desviar e fingir não ver o mal e sua personificação nas ações do cotidiano.

Abordando o 'mal do senhor' e a revolta recalcada de quem não mais pode tratar as pessoas negras como subalternas; o racismo estrutural no ambiente de trabalho de uma profissão elitista; o cuidado em esconder o passado escravocrata que mesmo sendo cuidadosamente enterrado retorna, até a fundação de grandes famílias tradicionais que escondem as senzalas que ergueram seus casarões, embora possa soar, esse não é um livro pedante, é antes de tudo realista e inconformado com aquilo que deve incomodar: o tratamento de vítima à quem pratica o racismo e não a quem o sofre e a tentativa de apagamento do mal praticado para se recontar a história segundo uma versão melhor e branca.
Tudo isso faz desse livro uma ótima e importante obra, em especial para as novas gerações, por isso tive uma boa leitura, sendo os dois últimos contos primorosos.

[Johnatan]

#BingoLitNegra | eu achei esse livro genial! nunca tinha lido nada do autor, gostei bastante da escrita e de como ele consegue colocar pitadas de humor até nas histórias mais dramáticas do livro. muito bom!

[Felipe Lima · Rating 4 out of 5]

Ler “A Pele em Flor” foi como abrir um álbum de recortes do cotidiano e descobrir o peso silencioso da cor da pele em cada gesto. São seis contos curtos que costuram passado e presente, mostrando como o racismo se infiltra em cenas aparentemente banais — um quebra-cabeça de emoções que, mesmo reduzido, corta fundo.

Logo no primeiro conto, “O Mal do Senhor”, a cena da humilhação num café me parou de imediato: “O mal do senhor não é uma enfermidade, mas a certeza de que corpos negros podem ser menosprezados.” Gente, essa frase me derrubou pela precisão do conceito e pela dor que ela carrega. Quase senti o desconforto daquela atendente na pele.

Mas nem só de grandes definições vive o livro. Em outros contos, esbarro em mães negras carregando memórias de adoções forçadas, em jovens descobrindo narrativas silenciadas e em fragmentos poéticos como “há corpos que abrigam histórias inteiras”, marcações que me fizeram reler cada parágrafo. Ainda assim, senti falta de um prefácio mais analítico ou de notas que situassem cada trama num contexto histórico claro — isso teria dado ainda mais sustentação à crítica social.

No desfecho, as vozes negras se erguem como um coro que recusa o silêncio imposto. Por isso dou quatro estrelas: admiro demais a urgência e a força literária de Vinícius Neves Mariano, mas acredito que um aparato acadêmico enriqueceria o impacto.

Se você, gente, quer entender as raízes do racismo no Brasil por meio de narrativas curtas, diretas e carregadas de verdade, “A Pele em Flor” é leitura essencial.

[Júlia]

gostei muito de todos os contos o toque de realismo mágico a mescla entre realidade e ficção em que o autor se colocar como personagem !!