Romance de estreia de Oscar Nakasato e vencedor do prêmio Jabuti, Nihonjin — que significa “japonês” — é uma saga familiar contada a partir da vida de Hideo Inabata, um imigrante orgulhoso da própria nacionalidade que, como tantos conterrâneos, aporta no Brasil no início do século 20 para trabalhar nas lavouras de café do interior de São Paulo. Imbuído da sagrada missão de levar recursos ao seu país natal, conforme orientação do imperador aos seus súditos, Hideo logo se defronta com mais dificuldades do que imaginava, e as expectativas dos primeiros dias no navio logo se transformam diante do trabalho árduo e dos choques culturais na nova terra. Ele, no entanto, não cede às dificuldades: resiste à morte da primeira esposa, Kimie, e rejeita as influências da cultura local apresentadas pelos filhos nikkei Haruo e Sumie com a inflexibilidade do que considera ser a honra de um autêntico nihonjin.
Narrada pelo neto de Hideo, Noboru, essa saga lança luz sobre o amor, a união, as distâncias e as diferenças de três gerações de uma comunidade que há mais de cem anos vem se emaranhando a outras para tecer juntas os fios da história brasileira. Da vida dura na lavoura ao comércio no bairro da Liberdade, em São Paulo, da hospitalidade de um país que se abriu para imigrantes às perseguições sofridas por este mesmo país durante a Segunda Guerra Mundial, Nihonjin retrata os dilemas no seio da comunidade nipônica, e vai além ao destrinchar o que há de mais universal na dor humana de ver os próprios sonhos se esvaírem.
Quando foi publicado pela primeira vez, em 2011, o romance logo conquistou a crítica, angariando os prêmios Benvirá (2011), Nikkei — Bunkyo de São Paulo (2011) e Jabuti (2012) na categoria romance. Depois de ser adaptado para a animação Meu avô é um Nihonjin (2024), o livro volta em nova edição para reencantar leitores com a jornada da família Inabata, e, como afirma Leonardo Sakamoto no texto de orelha: “Nihonjin é um espelho, talvez desconfortável. Porque, no final, todos estamos tentando responder à mesma pergunta: quem somos nós nesta imensa lavoura chamada Brasil?”.
Nascido em 1963, Oscar Fussato Nakasato é neto de imigrantes japoneses. Seus avós (paternos e maternos) se instalaram em fazendas de café no interior de São Paulo para trabalharem como colonos, na esperança de enriquecerem e retornarem ao Japão. Desfeito o sonho de voltar ao país natal, a família Nakasato migrou para o interior do Paraná, onde adquiriu um sítio. Preocupados com a educação escolar dos filhos, seus pais transferiram-se para Maringá. Nakasato cursou Direito por dois anos e meio na Universidade Estadual de Maringá, mas trocou esse curso pelo de Letras, na mesma instituição. Fez mestrado e depois doutorado em Teoria da Literatura e Literatura Comparada na Universidade Estadual Paulista, campus de Assis. Hoje é professor de Literatura e Linguagem no Ensino Médio e também no Superior, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus de Apucarana. É casado e pai de dois filhos. Em 1999 foi premiado com os contos “Alô” e “Olhos de Peri” no Festival Universitário de Literatura, promovido pela Xerox do Brasil e Editora Cone Sul. Em 2003 venceu o Concurso Literário da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, edição 2003, Prêmio Especial Paraná, com o conto “Menino na árvore”. Nihonjin, seu romance de estreia, venceu o 1º Prêmio Benvirá de Literatura.
Um livro sobre uma família japonesa que imigrou para o Brasil com o sonho de prosperar financeiramente nas lavouras de café. Uma aula de história, da cultura japonesa e das dificuldades que essa família teve na adaptação. Muito forte e com uma linguagem direta. Um romance de formação familiar.
Estou com uma sorte tremenda de só pegar leituras maravilhosas nas últimas semanas! Incrível!!!
chorei muito lendo kkkkkk solucei! e nao acontece muito isso....
escutei em audiolivro e preciso do livro fisico pra reler e conhecer tudo que eu só li sem entender 100% romance geracional de uma familia imigrante japonesa que veio pro brasil atrás de melhores condições... única critica é que queria mais!
Livro impressionante pela cíclica final. Me peguei emocionado nas ultimas páginas. É uma obra de arte que discute a quase ausência de uma literatura que coloque os imigrantes japoneses no centro da ação.
Livro ok. O primeiro capítulo é muito bom (Hideo e Kimie são duas personagens interessantíssimas por si só e acho que são excelentes canais para explorar o processo e as dificuldades da imigração) e acho que a cena final é incrível - me lembrou o final de "And Then" do Natsume Soseki.
Depois disso o livro foi carregado mais pelas curiosidades da cultura japonesa que ele fornecia do que pela narrativa e/ou pela escrita:
- A história de Haruo apresenta o conflito identitário vivido pela segunda geração de imigrantes, mas é explorado bem rasamente, com a parte mais interessante do capítulo sendo o detalhamento das punições tradicionais de famílias japoneses para filhos rebeldes. - A história de Sumie carece até de algo nessa linha, sendo uma narrativa Romeu e Julieta mais tradicional. Sumie como personagem e a relação do narrador (seu filho) com ela são pontos possivelmente interessantes, mas o livro também não explora nenhum dos dois muito a fundo. - Haruo retorna mais velho, sofrendo perseguição política após a derrota do Japão no fim da Segunda Guerra. Novamente, a parte mais interessante desse capítulo são os detalhes históricos sobre a Shindo Renmei. O clímax aqui tinha potencial para ser uma cena muito bonita, mas cai meio por terra.
O final do livro deu uma melhorada de leve porque foca no narrador decidindo voltar para o Japão e nas últimas interações dele com Hideo, seu avô. Mas também fica uma coisa meio rasa, dado que ao meu ver havia potencial para se aprofundar mais nos porquês desse movimento do narrador.
Acaba que o resultado final da obra é um livro fofinho com curiosidades históricas e culturais mas nada demais em termos literários. Como um livro de 3 estrelas, é mais um 2 do que um 4!
Achei esse livro de uma sutileza sem fim. A história me impressionou por, primeiro, jogar luz a questões que eu não conhecia muito - e sigo precisando conhecer mais. E segundo porque faz isso com uma delicadeza extrema. É um livro lindo!
Um livro curto e com linguagem objetiva, que retrata a história do personagem Hideo Inabata, imigrante japonês, e seus descendentes no Brasil. Considero uma obra muito relevante por colocar os nipo-descendentes como protagonistas. E, como descendente de japoneses, não pude deixar de me identificar com as situações e os conflitos retratados na obra. Mas o livro não é um mero retrato histórico dos nikkeis no Brasil. Principalmente na segunda metade do livro, a narrativa se torna envolvente, com personagens e eventos bastante interessantes.
Há alguns anos, amigos meus nos Estado Unidos, transformaram seu quintal, em um jardim de pedras, um Karesansui, um jardim zen. Com eles aprendi, naquela época, alguns truques de paisagismo oriental que permitem a impressão de grande espaço em uma pequena área, quer por meio de telas, quer por caminhos para passeios sinuosos que levam a cantos raramente explorados do terreno ou que passam sobre um pequeno lago com carpas. O Karesansui, no entanto, permite distanciamento e mais do que isso: uma inimaginável sensação de paz e tranqüilidade, mesmo que sua localização esteja no meio da cidade. O minimalismo das pedras, do cascalho, da água fazem-no um jardim reservado unicamente aos elementos essenciais e parece levar à introspecção e à descoberta daquilo que nos é vital. Karesansui é um jardim que favorece a meditação. A leitura de NIHONJIN me lembrou este jardim. Há na sua narrativa, que cobre três gerações de japoneses e seus descendentes, no Brasil, um arranjo artístico igualmente sensível que faz com que suas 176 páginas sejam suficientes para o retrato da complexidade emocional, da dificuldade física e cultural de adaptação dos imigrantes japoneses que chegaram a este país.
Ainda não visitei o Japão, em pessoa. A literatura japonesa tem aos poucos encontrado seu lugar nas minhas prateleiras de livros favoritos, enquanto que suas famosas xilogravuras policromadas foram objeto de estudo e admiração nas artes visuais. Por causa delas e dos netsuquês, botões de roupa esculpidos com grande detalhe, estudei um ano de japonês. Mas a complexidade da língua e das formas de tratamento me deixaram perplexa e logo abandonei o aprendizado, estudando em seu lugar um pouco de hindu, língua igualmente complexa e frustrante. Foram assim os meus vinte anos, tempos de expansão cultural, onde estudante em terra alheia, uma quase imigrante, tentei alargar meus horizontes e, com afinco, me embrenhar pelos caminhos do outro. Essa atividade não acompanhou a maioria dos imigrantes japoneses no Brasil, como bem mostra Oscar Nakasato em NIHONJIN. O outro, nesse caso nós, brasileiros, era exatamente isso, OUTRO. E assim ficaria até que voltassem à terra do sol nascente.
A temática do imigrante é um dos mais importantes tópicos literários dos últimos 100 anos. Sobretudo a partir de meados do século XX quandoa geração dos filhos ou netos de imigrantes que se estabeleceram na Europa, EUA e Brasil, entre outros, é escolarizada e começa a desvendar os caminhos traçados pelas gerações que os antecederam. Muito tem sido escrito sobre a questão da adaptação e do forjar de uma nova identidade para o imigrante. O movimento voluntário, de massas, de milhares de pessoas de um canto para o outro do mundo procurando melhoria de vida, quer na Europa -- mãe de dezenas de países recém delimitados na África e do Oriente Médio -- quer nas Américas, recipientes de milhares de trabalhadores braçais da Itália, Alemanha, Irlanda, Suiça, Espanha, Portugal, Rússia, Polônia, nunca havia sido tão persistente e grande através da história da humanidade. Seu clímax parece ter sido nos anos que seguiram imediatamente a Segunda Guerra Mundial, ainda que tenha havido fuga numerosa também, nas décadas seguintes, daqueles que não aceitavam a ditadura comunista nos países da antiga Cortina de Ferro.
Mas o caso japonês no Brasil, que hoje tem o maior grupo de pessoas de ascendência japonesa no mundo fora do Japão, é único. Único porque foi o resultado de uma ostensiva política de desafogamento populacional daquele país. Os primeiros contatos diplomáticos entre os governos do Brasil e do Japão sobre esse assunto datam de 1892, ou seja, do governo de Floriano Peixoto. Por causa da maneira como lhes foi mostrada, a emigração japonesa para cá, trouxe cidadãos que se sentiam cumprindo um plano estratégico de seu Imperador e, por consequência, mais do que outros imigrantes sentiam que precisavam voltar com dinheiro, para benefício da própria Terra Mater. Desse modo, mesmo em se deixando de lado diferenças marcantes, e importantes como dignidade cultural e responsabilidade social, que a maioria sentia em relação à terra mãe, a situação psicológica dos imigrantes japoneses, diferia substancialmente das demais nacionalidades que por aqui aportaram, cujos membros, partiam por conta própria, aventurando-se sozinhos, como se ao léu, a caminho do desconhecido, na luta pela sobrevivência, na esperança de uma vida melhor, muitas vezes com fome, sofrendo perseguição política ou religiosa. Diferente dos japoneses, esses imigrantes não sentiam uma dívida de honra com o país de origem, ao contrário, estavam gratos por uma terra para trabalhar, uma oportunidade de criar raízes, constituir família sem perseguições políticas ou religiosas, num lugar de natureza abundante, gerador de maior dignidade de vida.
NIHONJIN não é uma obra unicamente focada na vida dos colonos japoneses por aqui, ainda que precise ser contada. É verdade que na leitura desse romance aprendemos muito sobre o assunto. Mas o romance é mais do que isso. Nele testemunhamos a estética do ”menos é mais” aplicada a um texto literário de forma confiante. A linguagem precisa, repleta de vestígios poéticos, torna o texto fluido e a história corre como água de riacho, num murmurejar incessante. Seu tom é a meia voz e a narrativa, que é simples, despojada de rebuscadas figuras de linguagem, torna o texto relaxante e hipnótico. Como num Karesansui somos convidados a refletir, a ponderar sobre os vagares da mente, sobre o enigma das emoções. Mais tarde, somos levados a reconsiderar o tempo e a memória. Oscar Nakasato é um minimalista da linguagem. E com isso inova a estética literária brasileira. Não há personagens a mais ou a menos, assim como palavras, frases ou histórias. Não é jornalístico. Não é anedótico. Detém-se no essencial. NINHOJIN não chega a ser um haikai da forma narrativa, mas está perto: sucinto, poético, reflexivo. Mínimo. Uma beleza!
"Nihonjin" (Japonês) narra a saga de Hideo Inabata, que emigra para o Brasil incentivado pelo clamor de seu Imperador, de forma a conquistar fortuna e retornar para ajudar o desenvolvimento de seu país natal. Só que a realidade encontrada por Hideo e sua primeira esposa, a frágil Kimie, é outro, de dificuldades, de luta diária pela sobrevivência nas lavouras de café do interior paulista.
Narrado por um dos netos de Hideo, o que diferencia a obra de tantas outros possíveis relatos de tantos outros povos que imigraram para o Brasil desde meados do século XIX até a primeira metade do século XX, é, primeiramente, a sua estrutura, pois praticamente todos os seus capítulos são protagonizados por personagens que antagonizam com Hideo, tradicionalista, conservador, por vezes quase intransigente em suas crenças em um Japão inexistente. Assim, temos Kimie, sua primeira esposa, que acreditava que nevava sobre os cafezais do interior paulista; temos Haruo, filho de seu segundo casamento, que desde criança se rebela contra as tradições impostas por seu pai; e temos também a bela Sumie, mãe do narrador, que abandona o esposo e os seus filhos pelo amor de um gaijin; dentre outros.
O livro, além de ser muito bem escrito, é poético sem ser exagerado, em especial o seu capítulo final. E Oscar Nakasato é, de certeza, merecedor de todos os aplausos e prêmios que recebeu por essa bela obra.
Lindo, sensível e extremamente bem elaborado. Nihonjin é um mergulho profundo nas complexidades de uma família nipo-brasileira marcada por traumas geracionais, choques culturais e o peso esmagador do orgulho parental. A narrativa alterna entre diferentes perspectivas, revelando como expectativas, silêncios e não-ditos podem atravessar décadas, moldando — e muitas vezes ferindo — os vínculos familiares.
Com uma escrita delicada e potente, o autor nos conduz por camadas de identidade, pertencimento e racismo estrutural, sem nunca cair no didatismo. É uma história sobre o que se transmite de geração em geração — não só os valores, mas também as dores — e sobre a difícil tarefa de quebrar ciclos enquanto se tenta honrar as raízes.
Um livro que toca fundo, provoca reflexão e permanece com você muito depois da última página. Recomendo muitíssimo.
Que livro sútil e forte em sua sutileza, a forma escrita é ele inteiro e como compõe suas memórias que são suas quando fala sobre sua família e história nos abre um vasto caminho sobre sua própria identidade. Livro bom e grande, perde um pouco a sua força nos seus últimos capítulos mas o finaliza nos entregando uma passagem que resume bem a história contada
"o tempo so existe porque se fazem coisas, umas após outras, e elas, quando são evocadas, surgem em novas realidades, e entao não são as mesmas. Ojiichan sabia. E eu. O passado agora habitava outro espaço, surgia para justificar o presente, era construído, e não necessitava ter restauradores, que eles são rigorosos, preocupam-se com milímetros e cores exatas. O tempo é atemporal."
Foi um livro bastante fora do que eu normalmente leio, por isso fiquei extremamente surpresa de ter adorado! É um livro pequeno de fácil leitura, e mostra uma família de imigrantes no brasil. Gostei imenso de saber mais sobre esta cultura, mas dou 4 estrelas porque tive de pesquisar imensas palavras e história japonesa para perceber o contexto do livro. Às vezes também foi confuso perceber quem era o narrador. Resumindo, recomendo imenso o livro, adorei!!
Eu já conhecia de forma rasa a história dos nipo japoneses nos Brasil mas ver detalhes e com a perspectiva de pessoas que cresceram nesse tempo muda muito como vemos a sociedade japonesa e brasileira.
Conta a história de uma familia, uma geração de japoneses (nihonjin) que vieram para o Brasil após a segunda guerra mundial na esperança de voltarem algum dia. Estabelecem-se aqui em São Paulo com sua cultura e tradições. A trama segue, os filhos dos imigrantes, agora nipo-brasileiros, entram em choque cultural com os pais. Aprendi muitos termos em japonês. Nihon é Japão. Nihon Jin é pessoa que nasce no Japão. Obachan é vó. Aqui uma curiosidade porque eu sempre achei que escrevia Batiã ou talvez, Batian. Ojiichan avô, okachan mãe e otochan pai. A história contada é realmente boa.
Leitura gostosa, fluida, com muitas informações de que eu não tinha ideia sobre a imigração japonesa, excelentes personagens e histórias reais emocionantes.
narrativa linda que fala sobre cultura e familia e consegue passear entre gerações mostrando momentos histórico-culturais importantes de perspectivas não convencionais. !!!!!
gatilhos: racismo, xenofobia, eugenismo, menção ao suicídio.
No século XX, Hideo Inabata vem para o Brasil com a promessa de enriquecer e levar recursos pata o Japão. Na sua chegada, ele se vê trabalhando pesado no campo e tendo dificuldades para se adaptar e encontrar um caminho para conseguir o que lhe foi prometido ao aceitar migrar para o país.
Eu ainda me surpreendo em como livros tão curtos podem ser tão poderosos. Nihonjin é o clássico caso de um livro que eu subestime desde a primeira menção de que eu teria que ler ele para uma aula, não era algo que eu estava interessado no momento. E como eu estou feliz de ter dado de cara na parede a respeito desse livro.
Contado pelo neto do protagonista, Nihonjin ("Japoneses" em Japonês) mostra uma jornada completa desde a chegada de Hideo no Brasil e como a promessa de riquezas era, na verdade, uma mentira para fazer com que imigrantes trabalhassem em condições análogas à escravidão e como o jovem lidou com perdas e novos começos em um país que o privou de tudo desde a chegada.
São sete capítulos que me emocionaram de uma forma tão única. Cada personagem que passava pela história me fazia suspirar com sentimentos mistos entre amor e dor. O tempo na leitura passou sem que eu percebesse, assim como acontece no livro, que dá uma aula de história de forma tão simples e eficaz.
É preciso deixar claro que Nihonjin não é inspiracional, não é sobre persistir mesmo quando tudo vai contra isso. É sobre morar em um país que te promete muito e faz pouco, que usa da sua mão de obra, suga a tua vida e depois cria políticas para que você não exista mais. Sobre a crueldade do capitalismo e como ele extrai tudo de quem mais precisa e depois joga para escanteio.
Nihonjin é uma obra poderosa sobre migração, família e como ideias conservadoristas podem ser prejudiciais para aqueles que só te querem bem. É definitivamente uma das melhores leituras da vida e merece ser lido por todo mundo que se interessa minimamente em entender uma história (cruel) quase nunca contada do seu país.
Aqui temos algo similar a “torto arado”, se este fosse bom. Vemos através da perspectiva de um descendente de imigrantes japoneses, vindo do período da Segunda Guerra Mundial, como estar em outro país/continente/cultura pode ser um processo doloroso. Vemos uma ponta do que foi a realidade dos imigrantes nos cafezais, assim como sua situação periclitante. Vemos como, realmente, a cultura japonesa é rígida, tanto com as esposas, como com os filhos. Vemos um Brasil altamente racista e xenofóbico (que novidade, não?). E é aqui que esse livro se destaca, vemos que os imigrante não eram os mocinhos da história; na verdade tal título não existe. O que existe são pessoas que resistem em acreditar que aquilo que eles pensavam ser a única verdade, não passava de um delírio. Vemos um homem sofrendo as consequências de se crer nesse delírio.
Nihojin conta de uma forma rápida, simples e não tão rasa, a vida de inúmeras pessoas que precisaram enfrentar o desconhecido.
Being a grandchild of Japaneses that came to Brazil at the same time of the book myself, it’s easy to relate to the story. The conflict about who you are, who you’re supposed to be and who you want to be is really an all time in my life. Also, all the prejudice from both sides is always a subject in the family gatherings and events.
I almost cry in the last pages of the book. In the end, life is made by choices…we hardly can get everything we want the way we want.
I just hope I’m doing my best with what and who I have in my life.
O livro me chamou a atenção por ser escrito por um nikkei paranaense, da região de onde moro, no norte do PR. Por várias vezes senti como se meus avós me estivessem descrevendo as várias histórias do passado deles e dos meus bisavós: a família que deixaram no Japão, os planos de fazer dinheiro e voltar algum dia para lá, a frustração de quando chegaram, o trabalho duro nas plantações e tantas outras lembranças, que no geral são todas muito parecidas entre as famílias japonesas imigrantes. Leitura fácil e rápida, carregada de tradições e valores da comunidade nipo-brasileira.
Esse é um romance que explora a imigração japonesa no Brasil, abordando temas como pertencimento, identidade e memória. A história segue o protagonista Rideu Inabata, que, junto com sua esposa Kin e seu amigo Gintaro, deixa o Japão em busca de melhores condições de vida no Brasil, a pedido do imperador. Ao chegarem ao interior de São Paulo, enfrentam uma realidade difícil, marcada por preconceito e desafios na lavoura de café. O livro, que mistura ficção e memória, é narrado pelo neto de Rideu, que investiga a história da família através de conversas e fotografias. A narrativa destaca a figura de Kimi, a primeira esposa de Rideu, que sente saudade do Japão e sonha com a neve, simbolizando a luta interna dos imigrantes entre suas raízes e a nova realidade. A obra também reflete sobre a dificuldade de assimilação dos japoneses no Brasil, suas tensões culturais e a opressão que enfrentam, especialmente durante a Segunda Guerra Mundial, quando são proibidos de expressar sua cultura. Através de personagens marcantes, Nakasato tece uma crítica à opressão e uma homenagem à ancestralidade, enquanto explora a complexidade da experiência imigrante.A obra de Oscar Nakasato também destaca a presença significativa da cultura japonesa em diversas regiões do Brasil, como o Pará e o Paraná, além do famoso bairro da Liberdade em São Paulo. O autor retrata a vivência de descendentes de imigrantes, como o filho de Rideu Inabata, que se vê em um dilema identitário, dividido entre a cultura japonesa de seus pais e a identidade brasileira imposta pela sociedade. Essa questão da nacionalidade, que varia conforme o país, é um tema recorrente, refletindo a complexidade da identidade cultural.
Nakasato aborda a migração forçada para as cidades grandes, especialmente após a perda da guerra pelo Japão, que gerou desconfiança e divisões entre os imigrantes. O livro revela a luta interna dos personagens, que enfrentam um exílio tanto geográfico quanto emocional, entre o desejo de retornar ao Japão e a necessidade de se estabelecer no Brasil. A narrativa também traz à tona histórias que muitas vezes ficam à margem da história oficial, destacando a escassez de representações de personagens japoneses na literatura brasileira.
A prosa de Nakasato é elogiada por sua sobriedade e lirismo, proporcionando uma leitura fluida e envolvente. O autor também menciona as dificuldades enfrentadas pelos japoneses durante a guerra, como a proibição de falar a língua nativa e a repressão cultural, evidenciando a opressão que sofreram em um país que não os aceitava plenamente. "Nirondin" é, portanto, um tributo às vozes esquecidas e um convite à reflexão sobre a memória e a identidade, sendo reconhecido com o prêmio Jabuti por sua relevância e qualidade literária.
Eu pensei muito sobre como avaliar esse livro, e não encontro outra saída a não ser dar a avaliação máxima.
O contar de uma história generacional tão delicada, de maneira tão poética e imaginativa nas lacunas a serem preenchidas, é algo que Oscar Nakasato faz com completa maestria. Eu não tinha ideia de nem da metade dos fatos que existiam ao redor da imigração japonesa no Brasil. Não sei se é porque sou do Rio de Janeiro e pensam que não é "tão importante" nos ensinarem esse pedaço da história do nosso país nas escolas, mas eu me senti extremamente ignorante enquanto lia, justamente por parecer alienada a tudo aquilo.
Oscar, através de conversas com sua família, principalmente com seu Ojiichan, reproduz a vida de seus antepassados no Brasil com tanta paixão e carinho que é impossível não se emocionar a cada capítulo.
Pude ter uma imagem clara formada de todos os personagens apresentados, especialmente de seu Ojiichan, por quem pude perceber um amor tão grande por uma figura dura e complexa. O jeito como descreve seu avô e imagina seus pensamentos é até acalentador — pois vejo semelhanças com figuras de minha própria família, que se viam alienadas em um país tão diferente, que possuíam tantos conflitos internos de ideais que moldavam as relações com outros familiares e, principalmente, com seus filhos.
Nihonjin não é apenas um livro que acompanha uma família na imigração para o Brasil; é um conto detalhado sobre as dificuldades físicas, emocionais, espirituais e idealísticas de um núcleo familiar, guiado por uma cabeça quase inflexível e dura (com todos e consigo mesmo), que explora emoções, ações e decisões que levaram, por exemplo, ao nascimento do autor.
o poder de fazer com que o leitor sinta dor, tristeza, saudade, incerteza e solidão, a partir da narrativa de histórias que não repercutem experiências comuns a qualquer um que o ler, fez desse livro um grande presente a qualquer pessoa que o tiver em mãos.
algumas características que me fizeram continuar pensando na escrita e no escrito mesmo depois de finalizada a leitura foram a estrutura do texto em forma de contos de cada personagem, as escolhas do autor de misturar palavras em português e japonês, os títulos dos "capítulos" que trazem um resumo do que o leitor irá encontrar nas próximas páginas, assim como a dúvida que o autor implanta no leitor - talvez até mesmo sem querer, mas duvido que ele seja inocente - de se tudo que está exposto nessas páginas são meramente frutos de sua imaginação e não ecos de suas próprias histórias e de seus ancestrais mais próximos.
o enredo, os personagens, os sentimentos, a escrita, tudo funcionou de um jeito que me levou a continuar presa nessas pessoas, a continuar imaginando, assim como o narrador, o que aconteceu baseado naquilo que está sendo contado, a continuar acreditando que o que poderia definir a trajetória dessa comunidade é a solidão de cada indivíduo desse mesmo conjunto.
Numa experiencia pessoal, consegui reconhecer muitos dos personagens mesmo sendo sansei. Acredito que meu pai (que é da mesma geração do narrador) ia ter ainda mais conhecimento sobre o mundo criado no livro. O livro monta muito bem questões sobre a imigração e sobre ser nipônico no Brasil. É possível ser brasileiro e japonês ao mesmo tempo? Preciso negar minhas ascendência japonesa pra ser mais brasileiro? O que é ser de alguma nacionalidade? Se sempre serei estrangeiro no lugar que nasci. Achei que mesmo sendo escrito de forma bem direta, ele é bem emocionante e bonito. Algumas cenas, principalmente em alguns fins de capítulos, são muito sensíveis e com lindas descrições e comparações. Sobretudo, o ponto alto do livro é como o narrador interpreta e reconta a história de seus parentes desde seu avó e de certa forma a partir de seu ponto de vista. Assim, ele interpreta as vontades e questões de seus familiares, tornando a vida numa narrativa envolvente.