Jump to ratings and reviews
Rate this book

Tetralogia do Mato

The Jaguar's Roar

Rate this book
The story of an Indigenous girl’s kidnapping during a colonial expedition intertwines with a young woman’s modern-day search for identity and ancestral truths.

In 1817, explorers Spix and Martius returned from their three-year voyage in Brazil with not only an extensive account of their journey, but also with an Indigenous boy and girl, Iñe-e and Juri. Kidnapped from rival tribes as part of the colonialist trend of collecting “living specimens” on scientific expeditions, the two tragically perished shortly after arriving in Europe. This lyrically rich novel takes their perspective to illuminate their harrowing journey.

Micheliny Verunschk’s fifth novel, the first to be translated into English, powerfully challenges dominant historical narratives by centering the voices of these stolen Indigenous children. Intertwining their story with a narrative set in contemporary Brazil, we meet Josefa, a young woman grappling with her own identity when she encounters Iñe-e’s image in an exhibition. Through its poignant exploration of memory, colonialism, and belonging, this novel stands out in Brazilian literature, offering readers a profound reflection on the enduring impact of history on personal lives.

192 pages, Hardcover

First published March 9, 2021

118 people are currently reading
5719 people want to read

About the author

Micheliny Verunschk

31 books82 followers
Micheliny Verunschk é uma escritora, crítica literária e historiadora brasileira. É Mestre em Literatura e Crítica Literária e Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC São Paulo.
É autora de livros de contos, poesias e romances, incluindo Nossa Teresa: vida e morte de uma santa suicida (Patuá, 2014), ganhador do prêmio São Paulo de Literatura, e O som do rugido da onça (Companhia das Letras, 2021), que conquistou o Jabuti de melhor romance literário e o terceiro lugar do prêmio Oceanos.

Ratings & Reviews

What do you think?
Rate this book

Friends & Following

Create a free account to discover what your friends think of this book!

Community Reviews

5 stars
522 (28%)
4 stars
675 (36%)
3 stars
480 (25%)
2 stars
159 (8%)
1 star
24 (1%)
Displaying 1 - 30 of 276 reviews
Profile Image for Felipe Vieira.
784 reviews17 followers
November 11, 2023
3,5

Um livro em que a expectativa não foi superada, mas a história tem os seus méritos. Apesar do potencial desperdiçado por ter poucas páginas.

O som do rugido da onça vai crescendo ao longo da narrativa e dos significados que possui. A terceira e última parte é a melhor. No entanto, pareceu-me que os personagens não são desenvolvidos o suficiente. Os momentos estão jogados ali para que no final faça sentido.

Entendo o grito, a raiva e o alerta. Micheliny Verunschk explora o modo como os indígenas foram tratados depois que os brancos colonizadores invadiram os seus territórios e como essa onda de violência, apagamento e desvalorização cultural perpetuam até os dias atuais. Mesmo com a intensa luta dos povos originários em busca de respeito eles ainda esbarram em grandes obstáculos: governo, garimpeiros, agropecuaristas e mídia desonesta.

O livro como apontamento de todos esses crimes é excelente, mas acaba deixando a desejar na construção dos elementos que o compõe. A escrita é forte, a narração variada é um ponto diferente e instigante, mas o desenvolvimento não é dos melhores. Ainda assim o final é muito bom.
Profile Image for Eric Novello.
Author 67 books567 followers
Read
April 4, 2023
Selo "livrão" de qualidade.

Não é um livro de trama propriamente dito, mas que gira em torno de um assunto: o embate entre desencanto e reencanto que explica muito do que nosso país tem de pior e de melhor.

Bom também para lembrar que essa pulsão de morte tão escancarada pelo fanático miliciano que nos presidiu, embora seja mais comumente associada ao fascismo, está presente desde a nossa origem na base do pensamento colonialista.

Escrevi mais alguns pensamentos na newsletter Encruza Criativa
Profile Image for Nathalie Gonçalves.
165 reviews39 followers
May 21, 2022
terminar esse livro foi um suplício - e olha que não estou falando de um livro longo.
é triste ver um livro que se compromete a fazer uma conexão entre passado e presente falhar tão miseravelmente. esperava tanto! no fim das contas, não passa de um amontoado de frases curtas e (que deveriam ser) de impacto costuradas por um grito de guerra no final.
não, não foi legal. mas dei duas estrelas porque grifei algumas coisas. e também porque já li piores.
Profile Image for Luciana.
516 reviews160 followers
June 8, 2022
Não é recente a constante perseguição aos povos indígenas no Brasil, uma vez que marginalizados, despidos da condição de sujeitos de direitos, são perseguidos, massacrados, emboscados e mortos, em prol do agronegócio, do garimpo e do desmatamento ilegal.
Com um passado tão presente, a autora do romance se mune com a riqueza cultural dos povos miranha e juri para retratar um fato histórico abominável: a usurpação de várias crianças indígenas, animais e plantas por dois pesquisadores alemães: Martius e Spix.

Sobrevivendo apenas duas crianças durante a travessia para Munique, a narrativa se constrói sobre o período turbulento que Iñe-e e Caracara-í vivenciaram, sobre a perda de identidade e voz destes, que não tiveram tempo de absorver e conhecer tudo da própria cultura, sendo, assim, estrangeiros de si mesmos.

Unindo o mito e sabedoria dos povos originários do Brasil, a autora permeia a obra com vocabulário em miranha, juri e nhengatu, insere o costume e cultura dos povos, onde tanto tentaram conspurca-la, criando, nesse sentido, uma obra interessante sobre o tema, além de relembrar a vida daqueles que não eram vistos como humanos e sim, objetos de estudo desprovidos de identidade.
Ademais, ao final, há relatos da barbárie contra os povos indígenas e daqueles que os defenderam, recortes de notícias do extermínio que começou com os bandeirantes e perduram com ataques do atual presidente do país.
Profile Image for ♑︎♑︎♑︎ ♑︎♑︎♑︎.
Author 1 book3,800 followers
December 19, 2025
Vrunschk adopted a tonal register here that feels a little gauzy and indistinct and romanticized to me. The story reads not so much like a visceral rendition of one indigenous girl's experience of being wrenched from her home, kidnapped to Europe, and neglected to death. It reads more like a founding myth. Is that okay? Maybe. But I wanted to feel "Miranha" as a real child. I didn't. Her story felt mythologized, albeit in a very different and far more sympathetic way than the previous scraps of stories written about her. I wanted the novel to focus more on her experience, as well, and less on what other reviews have called a "polyphonic" examination of her experience and her historical significance.

Ever since I read Native American Fiction: A User's Manual by David Treuer I've been overly aware of the tendency of writers to reach for a register that Treuer believes is inauthentic, whether the writer is indigenous or not. He gives examples of sincere and talented authors, who, when describing an indigenous experience, tend to adopt a way of writing that is disturbingly close to the egregious, false romanticizations of indigenous stories, like The Education of Little Tree or The Blood Runs Like a River Through My Dreams, and that Treuer believes can be traced all the way back to James Fenimore Cooper. Even though this novel is set in Brazil the storytelling register hit me this same way. It kept me at arm's length. I can still whole heartedly recommend this novel for what it -does- do but I feel it would have been all the more respectful of the historical atrocity of what happened to this child to have written her less mythologically and more like the terrified child she must have been.

So 4 stars because you should read it anyway. Also I don't want to punish the book for not being the book I wanted to read. My complaint isn't about quality, but about approach, and others will feel differently.
Profile Image for Alejandra Arévalo.
Author 4 books1,884 followers
June 23, 2025
Basada en uno de los crímenes que se cometieron por el colonialismo y en nombre de la ciencia en Brasil, El sonido de la onza narra la historia de dos niños de dos pueblos originarios de la Amazonía son "llevados" a Alemania y con ello le da luz a una historia que ha sido ocultada por muchos años y que pocos conocen, la autora decide además contar esta novela usando otros elementos fantásticos y centrándose en la vida de estos dos niños y un mejor final para ellos. Es una novela triste pero también que nos invita a conocer más sobre cicatrices coloniales y los crímenes que se siguen cometiendo en nombre del progreso, la ciencia y el dinero.
Profile Image for Ricardo Silvestre.
205 reviews35 followers
May 26, 2025
A narrativa começou bem, com uma premissa promissora e um pano de fundo histórico que despertou a minha curiosidade. Contudo, o livro andou, correu meio mundo e, algures pelo caminho, perdeu-se de si próprio. E eu perdi-me com ele.
Há uma dispersão de foco, uma sobrecarga de informações que, a meu ver, nunca chegaram a entrelaçar-se de forma eficaz.

”Os cientistas alemães Johann Baptist von Spix (1781–1826) e Carl Friedrich Philipp von Martius (1794–1868) são conhecidos por uma famosa expedição que fizeram ao Brasil entre 1817 e 1820, levando do país sul-americano para a Europa milhares de plantas e animais exóticos que seriam posteriormente estudados e catalogados.
Mas uma parte talvez menos conhecida dessa história é que, entre esses milhares de itens transportados para a Europa, estavam também duas crianças indígenas, Juri e Miranha — como ficaram conhecidos em referência ao nome de suas famílias indígenas de origem, da região amazônica.”


Pode ter sido uma questão de expectativa, de estilo, ou apenas de timing. Afinal, o livro venceu o Prémio Jabuti em 2022 na categoria de “Romance Literário”.
Há quem tenha encontrado nele algo que eu não consegui ver, é certo, mas a sensação que ficou ao terminá-lo foi a de ter naufragado a meio da viagem.
Profile Image for Terry.
95 reviews11 followers
November 19, 2025
Cacophony: an incongruous or chaotic mixture; a striking combination (Merriam-Webster). Few words could better describe this hugely important novel wrapped in a small package. The Jaguar’s Roar by Micheliny Verunschk, translated by Juliana Barbassa, tells the story of a nineteenth-century Indigenous girl, Iñe-e, taken from her home in the jungles of Brazil and shipped across the Atlantic to Munich as a “living specimen.” It is also the story of a modern woman who feels a seismic internal shift upon seeing the girl’s lithograph in a Brazilian museum and becomes determined to uncover her truth.

Why cacophony, you ask? Allow me to explain. The story is narrated not only by the girl and the modern woman, but also by a large cast of others — humans, animals, even rivers — and not always with the clearest transitions. It unfolds in a non-linear format that won’t suit every reader; in fact, I suspect it will resonate deeply with only a select few. Yet this structure feels intentional and beautifully executed, carried by lyrical prose and a remarkable translation.

Each of the many settings is immersive, though the reader is never in one place long enough to fully take them in. Like the rivers that carry some of the story’s most powerful narration, the pacing is unpredictable, at times placid and steady, then suddenly wild and gravity driven. The course of Iñe-e’s story mirrors the rainforest itself: the peaceful chatter of birds, the chaotic screech of monkeys, the heavy stillness before the jaguar strikes, and finally the absolute silence of the end. The abrupt shifts between narrators, times, and places mirror her disorientation, the sense of being lost, confused, and afraid.

The Jaguar’s Roar is a powerful novel about the mistreatment and cultural genocide that Europeans have inflicted upon Indigenous peoples across the world. It is not a straightforward story, because the history itself was never straightforward. At times it feels disorienting and confusing, the kind of story that deserves more than one reading; each time, the reader will uncover something new. Though it is not packaged neatly, the writing is gorgeous and the translation feels tailor-made, fitting perfectly. I was moved almost from the very start to the final page. It would be unrealistic to say this book will appeal to everyone, yet I believe everyone could learn from it. I highly recommend it to readers of historical fiction who value difficult but important themes, to those who enjoy translated works, and to anyone willing to engage with a book more than once.

I read a digital copy made available by W.W. Norton & Company through NetGalley, and this review reflects my honest opinion.
Profile Image for Adriana Scarpin.
1,735 reviews
June 27, 2023
O som do rugido da Onça converge em três pontos que o tornam um ótimo livro: o primeiro é o resgate histórico de um recorte de mais uma vilipendiação do povo indígena, o segundo é o trabalho de pesquisa minucioso de uma história perdida no tempo que também reflete o nosso agora, e, terceiro, a forma como Verunschk utiliza a linguagem que nos remete prontamente ao delinear da consciência indígena.
Se essa trinca de questões não foi o suficiente para apreciarmos a obra, nada mais o é.
Profile Image for Gabrielle Cunha.
429 reviews114 followers
December 13, 2022
Costumo ter mixed feelings com livros muito premiados, mas esse aqui entendo perfeitamente as honrarias recebidas!

Poético, instigante, com críticas sociais necessárias, amei. Termino a leitura ávida para pesquisar mais sobre crianças indígenas que foram sequestradas e levadas à Europa.
Profile Image for Fernanda.
362 reviews6 followers
November 20, 2022
"Justiça de onça se faz é no dente."

O livro é interessante, mistura várias linhas do tempo pra contar a história real de duas crianças indígenas levadas pra Alemanha como "espécies vivas" da fauna e flora brasileira em 1820.

A história é mesmo chocante e a sensibilidade da Micheliny ao escrever sobre o tema é palpável. Alguns capítulos são ótimos, outros bem arrastados. Os capítulos finais tem um quê de história oral que gostei e se entrelaça com questões indígenas modernas.

Escutei dois podcasts com a autora - Pulso Latino e Sonhos Intranquilos - que ajudaram a expandir minha apreciação sobre a obra e entendi melhor como a cosmologia indígena se aplica desde a floresta amazônica até o rio alemão. Essa com certeza é um dos melhores ensinamentos do livro. Amei a ideia mas a execução de alguma forma não me satisfez.
Profile Image for Thaís.
5 reviews
January 6, 2022
Amei a ideia do livro e em muitos momentos fiquei verdadeiramente tocada, mas não gostei tanto da mistura das duas histórias: a da menina raptada, e a de uma bisneta de uma mulher indígena 'pega no laço'. A narrativa contemporânea é superficial em contraposição com o passado embebido em detalhes. A justaposição termina sendo rasa demais para dar conta da complexidade do tema, em especial na sensível discussão sobre mestiçagem e o apagamento de ancestrais indígenas. Fiquei na expectativa de um dilema interno que não veio. Quase todo brasileiro é mestiço mas o que fazemos com isso? Afinal, como diz o Viveiros de Castro: 'no Brasil todo mundo é indígena, exceto quem não é'. A protagonista do tempo presente parte em busca de uma validação identitária, mas a dor da mestiçagem está também na nossa cumplicidade com pais ou avós brancos. Afinal, ela foi criada como branca e a ocidentalização em um país racista lega o privilégio de acessar certos espaços com mais facilidade - como o tal mestrado na Alemanha. Que sentido identitário construímos através (e apesar) dessas heranças conflituosas? Tinha uma potência imensa nesse conflito que infelizmente não é explorada.
This entire review has been hidden because of spoilers.
Profile Image for Kenelly Rodrigues.
8 reviews
July 22, 2023
No geral, achei O Som do Rugido da Onça um livro excelente. É uma história poderosa e comovente que eu recomendo para qualquer pessoa interessada em história, culturas indígenas ou simplesmente uma boa leitura.

Gostaria de ter tido a oportunidade de conhecer melhor os personagens principais. Entendendo que o livro tem um background histórico muito grande, a escolha de não explorar tanto os personagens pode ter sido intencional. Acredito nessa hipótese ao lembrar do trecho em que Martius "reescreve" a historia de forma bastante conveniente ao contar o motivo pelo qual eles estavam levando Juri e Iñe-e pra Munique. Deveria Micheliny explorar tanto Juri e Iñe-e, só pra satisfazer o meu vazio de conhece-los melhor?

Josefa, mulher forte e determinada dos dias de hoje, relacionada e atraída por Iñe-e, que vai em busca de suas raizes indígenas. Quantas Josefas a gente conhece pelo mundo?

A linguagem usada no livro principalmente com Uaara-Iñe-e é evocativa e poética. Poesia bonita, mas triste. O livro faz um trabalho maravilhoso ao capturar os sons e cheiros da floresta e eu fui junto com Uaara-Iñe-e sentir e ver tudo que Tipai uu queria nos mostrar.

A perseguição aos indígenas é antiga.
E ruindade ela acaba?
O Som do Rugido da Onça nos mostra que não.

---
Ao finalizar o livro, dei uma pesquisada sobre o tópico e encontrei relatos históricos de Spix e Martius com imagens de artefatos contados no livro como a placa de bronze, imagens do período colonial, e fotos de Isabella ( Iñe-e ) e Johannes ( Juri ), os reais nomes nunca conhecidos. Bate uma tristeza saber que O Som do Rugido da Onça não foi tao fictício. :(
Profile Image for Natalia Rodrigues.
195 reviews1 follower
August 6, 2022
Eu não sei nem o que falar, agora que acabei de ler. Foi uma experiência riquíssima, pesada e ao mesmo tempo com o poder de despertar a luta e buscar mudança. Justiça. A narrativa é muito bem construída através de costuras entre vozes, personagens e documentos. O real e o imaginário, passado, presente e futuro trançados de forma majestosa. Como diz Ailton Krenak na contracapa do livro, conciso e exato: "Palavras mágicas com poder de criar mundos. Muito bom de ler."
Profile Image for Sarah-Hope.
1,470 reviews209 followers
December 7, 2025
The Jaguar's Roar is a remarkable work of short fiction that takes as its starting point a pair of indigenous youth who are brought to Germany as "specimens" from the Spix and Martius expedition to what is now Brazil. Verunschk has a gift for packing significant detail into brevity. The book is just under 200 pages long and tells the story, not just of the "specimens," but also of Josefa, a young, half-indigenous woman and of Spix and Martius and other individuals of that time.

This is Verunschk's first work to be translated into English, and it left me eager to read more of her work. She provides fascinating content, but also leaves room for readers to make connections on their own and find their own meanings.

I received a free electronic review copy of this title from the publisher via NetGalley; the opinions are my own.

Profile Image for Laura Peconick.
125 reviews6 followers
August 18, 2025
4.5
Nem todo pai, mas sempre um pai né. O brasileiro adora ler umas desgraças que aconteceram na 2a GM, como se a gente precisasse sair da nossa própria história pra encontrar horrores.
Profile Image for Paula Cruz.
Author 17 books244 followers
November 21, 2024
Assim que terminei "O Som do Rugido da Onça", tive a certeza que precisava relê-lo para descamá-lo em toda sua raiva, toda sua pesquisa, todo seu sonho. Este é um livro curto, mas denso em sua essência, com uma forma inventiva para falar de uma tragédia documentada, e o pior: uma tragédia também científica.

Ultimamente tenho gostado de ver filmes sem assistir seus respectivos trailers, e agora estou tentando replicar isso com os livros que encontro. Por conta disso, uma grata e misericordiosa surpresa foi começar a leitura sem muitas informações da obra: eu sabia apenas que era um dos ganhadores Jabuti. Então, a leitura que começou como ficção logo se tornou um horror realista. Descobrir que é os eventos são baseados na barbárie e no sequestro de duas crianças indígenas por uma missão científica europeia no Brasil é um soco no estômago. Ir de encontro pela primeira vez às gravuras das crianças retratadas no livro foi um momento chocante para mim, como se eu estivesse falando com fantasmas através do texto de Micheliny Verunschk.

Este livro tem grandes ideias, sendo que gosto muito muito do uso de vários narradores ao longo da obra. Oscilar entre os narradores humanos (indígenas e europeus) é esperto, mas o deleite está nos capítulos de seres míticos (o capítulo do rio, meudeussssss!!!), que é onde dá para perceber que a autora mais se divertiu e empenhou fazendo. Ao final da leitura descobrimos que a Micheliny também está nos puxando para dentro de cosmologias indígenas através desses narradores, o que é o arremate total do livro. Porém, justamente pelas muitas referências e muitos narradores e muitos ritmos, a escrita perde a fluidez de vez em quando, desacelera e demora para voltar na marcha. Ao mesmo tempo, é também um livro altamente pretensioso com poucas páginas, e acredito que esses mergulhos narrativos seriam beneficiados se tratados com mais calma em umas 80-50 páginas. Não obstante, "O Som do Rugido da Onça" é um grande e importante livro. Digo mais: é um livro imensamente corajoso e mágico e vingativo. Mais uma vez a ficção nos traz um pouco mais de justiça para fatos injusto, e ajuda a quebrar o feitiço
Profile Image for Solange Cunha.
278 reviews44 followers
May 27, 2025
Com esse título, o livro teria tudo para ser um nota 5/5. E, de fato, Micheliny consegue, ao menos no início, construir um eu-lírico próprio, com criatividade e domínio da linguagem escolhida, demonstrando ter feito uma pesquisa profunda para tratar do tema.

No entanto, logo nas primeiras páginas, a narrativa começa a se tornar um retalho de referências históricas, registros de época e vozes sobrepostas que, embora pudessem dialogar de forma interessante, acabam soando desorganizadas e confusas. A história de Josefa, por exemplo, ficou solta no romance, a meu ver.

Em diversos trechos, a presença do elemento fantástico parece mais uma adesão a uma tendência (ou formula) literária do que uma escolha natural à narrativa.

Dito isso, valorizo a proposta central da obra: contar a história a partir da perspectiva de quem foi capturado, sequestrado, escravizado. Ao deslocar o foco narrativo para um olhar indígena, Micheliny rompe com a tradição dos relatos centrados no homem branco “desbravador” e “cientista”.
Profile Image for Luciana Betenson.
271 reviews2 followers
June 27, 2023
Este livro me provocou sensações semelhantes às do livro “A ridícula ideia de nunca mais te ver” da Rosa Montero (tem resenha aqui). Ou seja, um tema em princípio muito legal e baseado em um fato histórico (o sequestro de duas crianças indígenas pelos exploradores europeus Martius e Spix, durante expedição para exploração da fauna e flora brasileiras no século XIX), que a autora desenvolve bem e que nos emociona em vários momentos na leitura. A cena da morte do Juri é belíssima! Porém, ao mesmo tempo, um relato permeado de especulações sobre fatos históricos sem embasamento, alternadas com uma narrativa atual meio autobiográfica. Ou seja, um livro que navega entre – mas confunde – não ficção, ficção e autobiografia social. Também achei o último trecho do livro longo demais. Enfim, dito isto, um livro bonito e interessante.
Profile Image for Leila de Carvalho e Gonçalves .
79 reviews34 followers
November 25, 2022
Quando Micheliny Verunschk resolveu visitar a mostra permanente do Itaú Cultural, localizado na cidade de São Paulo, não imaginava que ali encontraria a inspiração para seu quinto livro, O Som Do Rugido Da Onça, vencedor do Prêmio Jabuti e finalista do Oceanos em 2022.

Entre as peças expostas, as litografias de uma menina e de um menino indígenas — identificados apenas pelos nomes de suas tribos: Miranha e Juri — impactaram profundamente a escritora, a ponto de envolvê-la numa ampla pesquisa cujas informações remontam a expedição que, organizada pelos cientistas Spix e Martius, chegou ao país em 1817, de carona com a comitiva da princesa Leopoldina.

Eles foram responsáveis pela captura e envio dessas crianças para a Europa, no caso, para a Corte de Maximiano I da Baviera. Apresentadas como curiosidade — exemplares da nossa “excêntrica fauna” — ambas morreram depois de alguns meses devido a baixa imunidade contra “doenças comuns ao homem branco”, uma condição agravada pelo estresse sofrido desde o afastamento de suas famílias.

O Som do Rugido da Onça é a reconstrução ficcional dessa tragédia a partir de uma das vítimas: a menina miranha cujo verdadeiro nome é desconhecido, mas é tratada como Iñe-e e aqui cabe um aparte, conforme documentos, ela recebeu o batismo e passou a ser chamada de Isabella em solo europeu.

O resultado é um romance histórico original, “eivado de imperfeição”, contado por entre as rachaduras que lhe permitem enxergar, ou melhor, “feito planta que rompe a dureza do tijolo, suas raízes caminhando pelo escuro, a força de suas folhas impondo nova paisagem, esta é uma história a procura do sol.”

Paralelamente, alternando diversos planos temporais, esta também é a história de Josefa, uma mulher tentando fugir de um passado incômodo que inclui a própria ascendência. Morando há três anos em São Paulo, desde que chegou de Belém, ela “segue operando estratégias de apagamento da própria identidade”, até se deparar com os retratos das duas crianças na mesma exposição que inspirou Verunschk, algo que dá uma nova perspectiva para sua vida.

Esse tratamento não linear do tempo evoca impasses que ainda resistem, ao conectar a situação do indígena no século XIX com o panorama atual. Dois bons exemplos são a sistemática tentativa de violação de direitos e a negação do pertencimento cultural, uma conjuntura preocupante pois está associada ao apagamento identitário e até ao extermínio étnico, o fulcro da romance.

Finalmente, outro diferencial está na escolha da condução narrativa que recai sobre o olhar do indígena, trazendo à cena suas lendas, crenças e a cosmogênese, enquanto resgata o vocabulário miranha, juri e nheengatu. Inclusive, Verunschk cria a fala da onça, uma criatura mítica, que chega a assumir a posição de narradora diante de algumas circunstâncias.

“Aniba, aniba, siriganguê!”

Trecho do Livro:
“Iñe-e escutara uma vez as mulheres, sua mãe entre elas, dizendo que o pai pegara a doença dos brancos e que estava se tornando um estrangeiro em sua própria nação. Mas os guerreiros mais velhos e mesmo os jovens pareciam estar todos de acordo com ele, e o povo miranha se congratulava pelas trocas que o chefe se empenhava em realizar. Foi assim que nos últimos tempos as crianças órfãs e mulheres do seu povo haviam virado moeda também, e por isso a mãe e o avô de Iñe-e temiam as visitas dos brancos, especialmente por causa dela, e tentavam escondê-la dos olhos do pai, como se isso o fizesse esquecer de sua existência. Mas todos os esforços se revelaram inúteis. Não havia nenhum esconderijo a seus olhos, nada e nem ninguém que o impedisse.
Uma manhã em que o sol se levantou do mesmo jeito que sempre se levantava, e em que a mata falava sua língua do mesmo modo com que sempre falava, nada denunciava o que estava por acontecer. O pai de Iñe-e e o estrangeiro, que atendia pelo nome de Martius, firmaram acordo sobre a venda de sete crianças. Mas o homem branco deixaria o porto dos Miranhas levando consigo oito vidas. Iñe-e lhe fora dada como presente.” 🐆

Nota: Adquiri o e-book e recomendo.
Profile Image for André Pithon.
182 reviews2 followers
May 19, 2024
Bingo de Ficção Especulativa 2024
2.1: Um animal no título

Nota: 2.5

Macunaíma é uma obra importantíssima, construída sobre enorme pesquisa antropológica, de grande significado simbólico e relevância histórica imaculada. Eu odeio Macunaíma. É um dos meus poucos 1* estrela. O Som do Rugido da Onça é inegavelmente um livro mais agradável, com igual profunda pesquisa, trazendo listas de referências bibliográficas, de um autora relevante na área, premiado com o Jabuti. É um livro de trata de temas importantes, que faz críticas socias relevantes, mas, o grande mas, eu não acho que seja um livro bom.

O Rugido é construído como uma colagem, existe uma narrativa principal; duas crianças tiradas de suas tribos indígenas e levadas para a Europa em exposição; mas é lotada de tangentes, quebras temporais, cenas contemporâneas, trechos de outras obras ou de reportagens. Esse mecanismo ao invés de oferecer profundidade, dilui a história, enfraquece seu núcleo, e não soma o suficiente para justificar sua inclusão. Acredito ser um livro extremamente bem pesquisado, mas ofensivamente mal executado.

Parte da história acompanha Josefa no presente, que se vê tomada por uma associação com a história das crianças, e seus problemas contemporâneos. Mas isso não leva para conclusão nenhuma. Na metade do livro da trama de Josefa é abandonada, sem conclusão, e resta apenas o questionamento de por quê? Sua última cena é Tipo, beleza? Eu concordo com todas as posições políticas da obra, mas são mal construídas, e não acho justo eu elogiar algo pois eu concordo com tal coisa. É uma falha de construção narrativa catastrófica, que faz a obra parecer repicada, faltando, incompleta e sem uma forte conexão temática. O presente e o passado precisavam se retroalimentar de alguma forma, e aqui não existe conexão adequada para justificar essa construção.

A história central, na linha do tempo passada, é funcional. Falta emoção as vezes.

Pastiche. Recorte. Colagem.
Quando no ensino fundamental, você recorta pedaços de revista para fazer sua crítica social foda, se perde na metade, e acaba tendo que improvisar sentido para muita coisa, pq não tem uma linha consistente amarrando tudo. Não é uma história, é uma colagem.

Ainda assim, pedaços são bons. A prosa por vezes é interessante. O livro abre muito forte com uma recusa de usar o vocabulário específico do conquistar, criando uma linha entre desencantar e empalhar que ressignifica conceitos e achei muitíssimo bem construído. Existe uma conversa com um rio alemão que eu gostei bastante. Outros momentos são cansativos, ou tão clichês que beiram ao pateta, como a morte cheia de alucinações já vistas milhares de vezes do primeiro garoto indígena.

É um livro pretensioso o bastante para levar o Jabuti, e sou fã de propositalmente criar estruturas pouco convencionais. Mas de que adianta sua estrutura ser interessante, se não existe uma gota de narrativa capaz de ancorar e mover tudo? Para mim, aqui não há rugido, mero coral de miados.
Profile Image for Alysson Oliveira.
385 reviews47 followers
September 27, 2022
[Semifinalista Prêmio Oceanos]
O que Micheliny Verunschk faz em O som do rugido da onça é impressionante: parte um romance histórico que dá voz e vida aos sistematicamente excluídos, parte uma investigação sobre o estado das coisas no nosso presente. E ela o faz com muitas virtudes. Ao centro, estão Iñe-e e Juri, duas crianças indígenas sequestradas pelos cientistas alemãe Spix e Martius, e levadas para a Munique, onde foram estudadas e exibidas na corte.

De um fato histórico do passado, marcado pela violência e opressão, fazemos a ponte para o presente. As ligações são claras, e não é preciso que a autora as explicite em sua narrativa – embora um segmento do livro se passe no presente. O que Verunschk figura aqui é a história do Brasil que só repõe os momentos violentos contra os indígenas não importando o momento histórico.

Numa prosa, ao mesmo tempo, lírica e dura, a autor constrói a viagem das personagens de forma bem próxima, e com momentos de nos causar horror e tristeza. É preciso uma autora muito segura de suas escolhas formais para construir um romance tão maduro e potente. Mesmo com poucas páginas, há aqui uma grande força que vem das personagens, da narrativa, das palavras. O resultado é um romance que olha o passado, mas enxerga e ilumina o presente.
Profile Image for Ingrid Coelho.
18 reviews
April 18, 2023
O tema do livro é extremamente potente e necessário, principalmente por ser real e ter tanta identificação com o Brasil indígena, e real! Mas na minha opinião a escrita tem elementos demais, acaba deixando a leitura densa e maçante sem necessidade, já que o tema por si só é interessante o suficiente para manter a atenção do leitor. Por esse motivo a narrativa acaba abrindo muitos parênteses, e tornando o livro um pouco presunçoso, o que me dificultou engrenar na leitura e ter identificação com a narrativa. No aspecto geral eu gostei, mas não amei, mas acho que vale a pena a leitura para conhecer a história de Iñe-e e Caracara-í que com certeza precisa ser conhecida e disseminada!
Profile Image for Vanessa Leite.
98 reviews
December 10, 2023
uma surpresa e uma decepção ao mesmo tempo: o livro está cheio de frases de efeitos e uma simulação de voz indígena que me pareceu muito artificial. Infelizmente, achei que, em vários momentos importantes da narrativa, faltou mais desenvolvimento para que eu não sentisse que estava lendo uma narrativa mais superficial.

por outro lado, em alguns momentos, me peguei imersa e curiosa na leitura, apesar de que esses sentimentos não duravam tanto.

ao final da leitura, fiquei com um sentimento de que esse livro foi premiado/aclamado por talvez não estarem acostumados com literatura indígena mas isso pode ser uma impressão só minha mesmo
Profile Image for Monique Cavaletti.
35 reviews
August 14, 2023
O livro não me conquistou. Enredo atrapalhado, vocabulário confuso, personagens mal construídos, dificílimo de terminar mesmo sendo tão curto. Tinha expectativa por ser tão bem falado e premiado e me desapontei bastante. Talvez apenas não seja o estilo de leitura pra mim, embora eu reconheça o trabalho da autora nas suas pesquisas e em levantar um tema importante de forma original. Se for ler, tenha paciência e resiliência.
Displaying 1 - 30 of 276 reviews

Can't find what you're looking for?

Get help and learn more about the design.