Jump to ratings and reviews
Rate this book

As Areias do Imperador #1

Kobiety z popiołu

Rate this book
Pierwsza odsłona trylogii o ostatnim władcy południowego Mozambiku autorstwa jednego z najważniejszych współczesnych pisarzy afrykańskich.

Południowy Mozambik, rok 1894. Sierżant Germano de Melo zostaje wysłany do wioski Nkokolani, aby nadzorować podbój terytorium, do którego rości sobie prawo Ngungunyane, ostatni z przywódców Imperium Gazy, drugiego co do wielkości afrykańskiego królestwa rządzonego przez Afrykanina. Ngungunyane zebrał armię, aby przeciwstawić się rządom kolonialnym, i wraz ze swoimi wojownikami powoli zbliża się do przygranicznej wioski. Zdesperowany Germano prosi Imani, piętnastoletnią dziewczynę, aby została jego tłumaczką. Imani należy do plemienia Chopi, jednego z nielicznych, które odważyło się stanąć po stronie Portugalczyków. Ale podczas gdy jeden z jej braci walczy dla Portugalii, drugi wybrał armię afrykańskiego władcy. Między tłumaczką a sierżantem rodzi się uczucie. Imani wie jednak, że w kraju, w którym króluje przemoc, kobieta musi pozostać niezauważona, stać się cieniem, popiołem.

W Kobietach z popiołu Mia Couto z właściwą sobie żywiołowością opisuje rozdarty wojną Mozambik u schyłku XIX wieku, sięgając po źródła historyczne i oddając sprawiedliwość faktom.

343 pages, Paperback

First published January 1, 2015

134 people are currently reading
2443 people want to read

About the author

Mia Couto

110 books1,379 followers
Journalist and a biologist, his works in Portuguese have been published in more than 22 countries and have been widely translated. Couto was born António Emílio Leite Couto.
He won the 2014 Neustadt International Prize for Literature and the 2013 Camões Prize for Literature, one of the most prestigious international awards honoring the work of Portuguese language writers (created in 1989 by Portugal and Brazil).

An international jury at the Zimbabwe International Book Fair called his first novel, Terra Sonâmbula (Sleepwalking Land), "one of the best 12 African books of the 20th century."

In April 2007, he became the first African author to win the prestigious Latin Union Award of Romanic Languages, which has been awarded annually in Italy since 1990.

Stylistically, his writing is heavily influenced by magical realism, a style popular in modern Latin American literature, and his use of language is inventive and reminiscent of Guimarães Rosa.

Português)
Filho de portugueses que emigraram para Moçambique nos meados do século XX, Mia nasceu e foi escolarizado na Beira. Com catorze anos de idade, teve alguns poemas publicados no jornal Notícias da Beira e três anos depois, em 1971, mudou-se para a cidade capital de Lourenço Marques (agora Maputo).
Iniciou os estudos universitários em medicina, mas abandonou esta área no princípio do terceiro ano, passando a exercer a profissão de jornalista depois do 25 de Abril de 1974. Trabalhou na Tribuna até à destruição das suas instalações em Setembro de 1975, por colonos que se opunham à independência. Foi nomeado diretor da Agência de Informação de Moçambique (AIM) e formou ligações de correspondentes entre as províncias moçambicanas durante o tempo da guerra de libertação. A seguir trabalhou como diretor da revista Tempo até 1981 e continuou a carreira no jornal Notícias até 1985.
Em 1983 publicou o seu primeiro livro de poesia, Raiz de Orvalho, que inclui poemas contra a propaganda marxista militante. Dois anos depois demitiu-se da posição de diretor para continuar os estudos universitários na área de biologia.

Além de ser considerado um dos escritores mais importantes de Moçambique, é o escritor moçambicano mais traduzido. Em muitas das suas obras, Mia Couto tenta recriar a língua portuguesa com uma influência moçambicana, utilizando o léxico de várias regiões do país e produzindo um novo modelo de narrativa africana. Terra Sonâmbula, o seu primeiro romance, publicado em 1992, ganhou o Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos em 1995 e foi considerado um dos doze melhores livros africanos do século XX por um júri criado pela Feira do Livro do Zimbabué.

Na sua carreira, foi também acumulando distinções, como os prémios Vergílio Ferreira (1999, pelo conjunto da obra), Mário António/Fundação Gulbenkian (2001), União Latina de Literaturas Românicas (2007) ou Eduardo Lourenço (2012). Ganhou em 2013 o Prémio Camões, o mais importante prémio para autores de língua portuguesa.

Ratings & Reviews

What do you think?
Rate this book

Friends & Following

Create a free account to discover what your friends think of this book!

Community Reviews

5 stars
421 (27%)
4 stars
595 (38%)
3 stars
425 (27%)
2 stars
95 (6%)
1 star
23 (1%)
Displaying 1 - 30 of 159 reviews
Profile Image for Meike.
Author 1 book4,962 followers
July 11, 2020
"Written words are mighty spells, capable of potent magic."
Wow: I just read my first novel from Mozambique, and the story sucked me in, entranced me, messed with my head, made me question what I know about literature, hit me over the head with an unexpected finale and spat me out. Now I'm dizzy and I think I need a witch doctor.

Until 1975 (!), Mozambique was a Portuguese colony, and this book's author, Mia Couto (b. 1955), is the son of Portuguese settlers. When his parents went back to Portugal, he and his siblings decided to stay in their native country, and Couto is now one of the most important writers in Mozambique. This background info is relevant for the story he is telling in this historical novel: In 1894, Portuguese Sergeant Germano de Melo is court-martialed after an attempted military revolt and, as his punishment, is posted to the village of Nkokolani to oversee the Portuguese conquest of territory claimed by Ngungunyane, the last of the leaders of the Gaza Empire (Gaza, 1824-1895, was the second-largest empire led by an African; the Republican revolt against the Portuguese King also really happened).

In the village, he meets 15-year-old Imani whom he hires as an interpreter. She belongs to a tribe that sided with the Portuguese, but her own family is torn between the Crown and the African Emperor. Between Germano and Imani, a curious dynamic unfolds, and by telling the story about the destiny of this contested village and its people, Couto meditates on Mozambique, Portugal, colonialism, racism, and literature.

The story is told in alternating voices by Imani and Germano and draws its poetic strength from this juxtaposition: Imani talks about the history, customs and beliefs of her people, telling many folkloric tales and employing lots of magical realism to bring her (very real) points across, while Germano desperately tries to cling to so-called reason and reality, until he cannot uphold appearances anymore: The truth his nation defends is no truth at all. Germano starts to lose his mind, and the Emperor of Gaza is progressing.

This book is full of piercing metaphors and moving images, and I especially liked the role that words, language and literature itself play in the book. E.g., while Germano admires Imani's beautiful spoken Portuguese, he can hardly tolerate to watch her write, because of the power she acquires by doing this. Imani knows about that power, and she uses it by writing her story:

"This is the story of the rivers. The greedy may steal their water until they run dry. But they won't steal their history. (...) In the dust and ashes, I write the names of the dead. So that they may be born again from the footprints we leave."

If you - like me - think that this is some powerful writing, read that book, it is full of passages like this one (I can't help myself, I have to add in one more quote: "My father was a tuner of the infinite marimba that is the world" - wow, Couto, just wow). Highly recommended.
Profile Image for carpe librorum :).
757 reviews55 followers
Read
May 7, 2016
Após a leitura da contra-capa, fiquei um pouco hesitante em embrenhar-me mais uma vez pela leitura de Mia Couto, logo o primeiro de uma trilogia, por vezes tenho a sensação de que ele escreve sempre o mesmo livro. Mas é uma escrita tão melódica, difícil de resistir. Pensei que pudesse ser outra Terra Sonâmbula com laivos de O Outro Pé da Sereia, mas é diferente. A História dá-lhe um toque especial. Poderia passar-se nos dias de hoje, porque o tempo parece não passar por Moçambique, ou se passa, é com certeza um tempo diferente. Cartas sem resposta de um militar desterrado alternadas com o relato de uma mulher... gostei bem mais da parte dela. Mas a leitura ganhou asas, e quando dei por mim, voou... Muito bom para um fim-de-semana prolongado com muito sol!
Profile Image for Bárbara.
1 review8 followers
August 25, 2016
É-me, provavelmente, das reviews menos fáceis de escrever sobre um livro de Mia Couto pois, desta vez, a ser sincera, não posso escrever adorei. O livro tem partes belíssimas, sobretudo no início e no fim, mas pelo meio fica um sabor de aquém, de qualquer coisa que lhe falta. Não pela qualidade da escrita, que em Mia Couto é sempre mágica, mas pela própria estrutura do livro que, entre os capítulos que alternam entre a ação e o registo das cartas escritas pelo sargento, se torna um pouco expectável e repetitiva. Talvez por ser fã de romances históricos e fã maior ainda de Mia Couto tivesse expectativas demasiado elevadas, mas Mulheres de Cinza não é, de todo, o melhor livro de Mia Couto. Ainda bem, significa que o melhor estará, ainda, por vir.
Profile Image for Natalie.
39 reviews2 followers
May 27, 2018
There are few books that I've disliked as much as this one. While it is possible that something (or a lot of somethings) was lost in translation, the exceptional lack of story and the self-absorbed characters rendered this book almost unreadable.

The premise seems promising--a young Portuguese sergeant is stationed in a forgotten outpost in Mozambique where he is faced with growing unrest and the threat of an army, led by the emperor of the State of Gaza, Ngungunyane. In order to better understand his new surroundings, the sergeant employs a young girl, taught by Portuguese missionaries, to help surpass both language and cultural misunderstandings. Inevitably, as time goes on, he becomes infatuated with her and hopes to win her love in return.

Unfortunately, none of the promise of this book pans out.

The sergeant is foppish in his attempts to do anything. He writes lengthy letters to a man he's seemingly never met about every thought that enters his mind. He vacillates between feelings of kindness and respect for the local people and then, inexplicably, denounces them as savages, not worthy of respect. In fact, all of this happens mostly in his mind as he does absolutely nothing but write these letters and occasionally meets with his young guide.

The young girl, Imani, is entirely flat--her words and feelings distilled to a few aphorisms and incomprehensible rants on a lack of identity.

Most of the book seems to be building up to a final battle between Portuguese troops and those of the Emperor, yet when the battle comes it is nothing but a few sentences. Nothing more than a whimper. Instead, as soon as the battle begins, we return to mindless rants from both Imani and the sergeant.

It would be unfair to say that a white man cannot fairly represent women and black Africans, but in this case it would be true. Mia Couto, who is a white man, created characters that are so flat, so lifeless that it is amazing this book was even published. When Imani speaks it is nothing like the voice of a young girl, nothing like a member of a long-established, proud tribe, but instead it is a terrible, pathetic cliche. Again, this could very well be the fault of the translator, but then it is the translator that has failed this book beyond belief.
Profile Image for Mariana Mousinho.
138 reviews431 followers
May 21, 2018
"Sorte a dos que, deixando de ser humanos, se tornam feras. Infelizes os que matam a mando de outros e mais infelizes ainda os que matam sem ser a mando de ninguém. Desgraçados, enfim, os que, depois de matar, se olham ao espelho e ainda acreditam serem pessoas."
Que escrita maravilhosa...
Profile Image for Aleksandra Gratka.
664 reviews60 followers
March 18, 2025
Obstawiam, że niewiele osób interesuje się historią Mozambiku. I ja należę do większości ignorantów, więc zupełnie nie wiedziałam, czego spodziewać się po opowieści o tym miejscu, snutej przez afrykańskiego pisarza.

Południowy Mozambik roku 1894 staje się areną starcia dwóch sił - Ngungunyane, ostatniego z przywódców Imperium Gazy oraz wojsk portugalskich, które, zaprawione w kolonizowaniu, i tu chcą położyć żądną zysków łapę. Ich przedstawicielem jest sierżant Germano, którego trochę służalczą, trochę butną perspektywę poznajemy z listów pisanych do zwierzchnika. Jego tłumaczką jest piętnastolatka Imani, należąca do plemienia sprzyjającego Portugalii.
To ona, Imani, jest tu najwspanialszą postacią, jej relacja to piękne zdania o złym świecie, w którym ojcowie piją, matki chcą uciec w śmierć, bracia walczą po przeciwnych stronach, a ona, niczym bohaterka tragiczna, będzie musiała zmagać się z konsekwencjami niezależnych od niej decyzji.
Imani jest świadoma swojej roli - "jestem rasą, narodem, płcią, wszystkim, co uniemożliwia mi bycie samą sobą". Jest kobietą z popiołu, bo ten, kto jest popiołem, nie czuje bólu. A ból, przemoc, zagrożenie to synonimy życia w tamtym miejscu i czasie. Tu śnią się martwi, tu w kolbie karabinu słychać krzyki zamordowanych, tu okrucieństwo wojny mierzy się liczbą niepogrzebanych zwłok.
Sierżant Germano niby sporo wie, a jest jak dziecko we mgle, przez Imani przemawia mądrość przodków.

To pierwsza część trylogii i trzeba trzymać kciuki, by Wydawnictwo nie zwlekało z kolejnymi. Seria "Przeszły-ciągły" przyzwyczaiła nas do nieoczywistych i zaskakujących lektur, ale tak pięknego, poetyckiego języka opisującego świat daleki od piękna - przyznam - nawet się nie spodziewałam. Wspaniała powieść.
Profile Image for Sara Jesus.
1,674 reviews123 followers
July 10, 2018
Este é o primeiro livro da triologia de Moçambique. Um livro que aborda a guerra entre o imperador e os portugueses

É interessante o escritor misturar a História de duas nações tão distintas, e fazer com que um soldado português se apaixone por uma negra.

Imani não é uma rapariga qualquer. Ela é uma das mulheres de cinza, sem nome e que necessitamde casar para darem descendência. Mas a sua família não a rejeita, apesar de ela continuar solteira. Seu pai encarrega de faze-la espiar a correspondência do soldado Germano. Soldado esse de quem ela acabará por gostar.

Uma obra muito rica. Mia Couta escreve com poesia e verdade. Desejosa de ler a continuação
Profile Image for Tala Nawfal.
24 reviews20 followers
May 27, 2019
Not a dull moment in this enchanting, damned place.
Profile Image for Newton Nitro.
Author 6 books111 followers
May 19, 2016
Minha primeira leitura da obra de Mia Couto, "Mulheres de Cinzas" é um romance histórico diferente e maravilhoso, dentro de um estilo de prosa poética, e que passa, além dos fatos, que expõe a complicada formação da identidade moçambicana através dos pontos de vista de uma jovem negra e de um oficial doo reino português, ambientado no final do século XIX.
_________________

Mulheres de Cinzas (As Areias do Imperador #1) - Mia Couto | Companhia das Letras, 2015 | 344 páginas | Lido de 16.05.16 a 19.05.16
_________________
SINOPSE

Primeiro livro da trilogia As Areias do Imperador, Mulheres de cinzas é um romance histórico sobre a época em que o sul de Moçambique era governado por Ngungunyane (ou Gungunhane, como ficou conhecido pelos portugueses), o último dos líderes do Estado de Gaza - segundo maior império no continente comandado por um africano.

Em fins do século XIX, o sargento português Germano de Melo foi enviado ao vilarejo de Nkokolani para a batalha contra o imperador que ameaçava o domínio colonial. Ali o militar encontra Imani, uma garota de quinze anos que aprendeu a língua dos europeus e será sua intérprete. Ela pertence à tribo dos VaChopi, uma das poucas que ousou se opor à invasão de Ngungunyane. Mas, enquanto um de seus irmãos lutava pela Coroa de Portugal, o outro se unia ao exército dos guerreiros do imperador africano.

O envolvimento entre Germano e Imani passa a ser cada vez maior, malgrado todas as diferenças entre seus mundos. Porém, ela sabe que num país assombrado pela guerra dos homens, a única saída para uma mulher é passar despercebida, como se fosse feita de sombras ou de cinzas.

Ao unir sua prosa lírica característica a uma extensa pesquisa histórica, Mia Couto construiu um romance belo e vívido, narrado alternadamente entre a voz da jovem africana e as cartas escritas pelo sargento português.
_________________
RESENHA

Misturar o gênero de romance histórico, com sua ênfase em eventos e trama com a prosa mais trabalhada e lírica dos romances ditos "literários" e sair algo bem feito é para poucos. Porque o gênero "literário" também tem suas convenções e exigências, como um maior cuidado com o lado lírico da prosa, a exploração psicológica mais profunda e o uso da narrativa e de metanarrativas intercalado com a existência ou não de trama.

Acredito que "Mulheres de Cinzas" consegue esse feito. Talvez seja o fruto da pesquisa extensa feita por Mia Couto sobre o período da colonização portuguesa de Moçambique no final do século XIX, a mistura deu muito certo.

De um lado temos um contexto histórico complexo, abordado sem maniqueísmos, com a decadência das tribos africanas frente ao domínio colonial e os impactos desastrosos da interferência européia nos conflitos tradicionais dos povos de Moçambique e região.

Ao invés de focar no aspecto externo da trama, a ameaça de destruição da tribo dos VaChopi frente ao império africano dos Gungunhanes, Mia Couto mergulha fundo na alma dos protagonistas, misturando a riqueza folclórica e cultural das tribos africanas com questões de racismo, linguagem, identidade feminina e tribal, e a dissolução da identidade que acontece com conquistadores e conquistados, quando culturas diferentes são forçadas a coexistirem.

Gostei muito do livro, a leitura é agradável e cheia de frases fantásticas! É um daqueles livros que se você começar a sublinhar as frases que mais gostou, vai acabar riscando o livro inteiro!

Uma dica, experimente ler em voz alta algumas passagens para ver como o Mia Couto é fera! :)
_________________
RECOMEDAÇÕES

Recomendo "Mulheres de Cinzas" para quem:

Curte romances com prosa poética, como Clarice Lispector e Guimarães Rosa (o grande guru do Mia Couto).
Queira conhecer um pouco da história de Moçambique
Queira entender mais a complicada questão da identidade africana.
Quem curte histórias tristes (sim, o romance é bem triste e melancólico).
Quem queira conhecer mais sobre a visão de mundo de uma tribo africana.
Quem curte a mistura de romance histórico com prosa e caracterização mais aos modos da chamada "alta literatura".
_________________
CITAÇÕES

"A diferença entre a Guerra e a Paz é a seguinte: na Guerra, os pobres são os primeiros a serem mortos; na Paz, os pobres são os primeiros a morrer.

Para nós, mulheres, há ainda uma outra diferença: na Guerra, passamos a ser violadas por quem não conhecemos."

"Mulheres de Cinzas" (Capítulo 9) - Mia Couto, 2015.
_________________

"Na manhã seguinte dirigi-me descalça para o rio Inharrime. Mergulhei no leito até que a água me chegou ao peito. Não era que quisesse morrer afogada, arrastada nas fundas correntezas. A minha intenção era a oposta: queria engravidar do rio.

Sucedera antes com outras mulheres esse fecundo namoro. O segredo era ficarem quietas até que a alma delas não se distinguisse das folhas, flutuando mortas, corrente abaixo. Era isso que queria naquele momento.

Porque de uma coisa eu estava certa: nenhum homem haveria de me possuir. Restava-me o rio, o meu rio de nascença. As águas já me fluíam por dentro quando encalhei na margem, paralisada como um velho e náufrago tronco. E ali me deixei até recuperar forças para o regresso a casa.

Foi então que os meus pés se afundaram no matope. Em vez de contrariar essa ausência de chão, libertei-me das vestes e, toda nua, abandonei-me ao abraço viscoso da lama. Por um momento deixei-me possuir pelo prazer de sentir a pele coberta por uma outra pele. Entendi então o gosto dos animais pelo banho de lama. Era por isso que ansiava: ser um bicho, sem crença, sem esperanças."

"Mulheres de Cinzas" (Capítulo 17) - Mia Couto, 2015.

_________________
PRÓXIMAS LEITURAS

Agora, antes de retornar para Westeros com "O Cavaleiro dos 7 Reinos" e "A História de Game of Thrones", lerei o clássico do romance histórico italiano, "O Deserto dos Tártaros" de Dino Buzzati e depois "Vasto Mundo", de Maria Valéria Rezende, ganhador do Prêmio Jabuti do ano passado.

E vamos ler porque ler é DOIDIMAIS! :)

_________________

Érika & Newton – Inglês por Skype
Faça uma AULA EXPERIMENTAL GRATUITA!
Aulas TODOS OS DIAS, de 7 às 23 horas!

Érika de Pádua | Professora de Inglês – Aulas por Skype
WhatsApp: (31) 9223-5540 | Skype: erikadepadua@gmail.com
Linkedin: https://goo.gl/2c6QIb

Newton Rocha | Professor de Inglês – Aulas por Skype
WhatsApp: 9143-7388 | Skype: prof.newtonrocha@gmail.com
LinkedIin: https://goo.gl/7rajxF

Visite o nosso Blog Melhore Seu Inglês:
https://melhoreseuingles.wordpress.com/

Curta Nossa página no Facebook:
https://goo.gl/qcPQUK

Nosso Canal no Youtube – Melhore Seu Inglês:
https://goo.gl/KYns5i
Profile Image for Sharon :).
379 reviews31 followers
April 24, 2019
Listened to this book to satisfy the African author category of my book challenge. The story was interesting needed to be told. I learned alot!
Profile Image for Déborah Vagner.
1 review1 follower
October 10, 2020
Realismo fantástico que beira o horror das guerras do Império de Gaza, denunciando a condição feminina da jovem Imani.
Profile Image for Tamara Agha-Jaffar.
Author 6 books282 followers
June 15, 2018
Woman of the Ashes by Mia Couto, translated by David Brookshaw, is the first book in a forthcoming trilogy that tells the story Portugal’s attempt to colonize the southern Mozambique territory of Gaza in 1894. The territory is claimed by Ngungunyane, the last of Gaza’s leaders. He has raised an army to fight the colonizers, and as the novel opens, Ngungunyane and his warriors are making their way toward the border village of Nkokolani where the story takes place.

The narrative alternates between the voices of two individuals: Imani, the fifteen-year girl of the VaChopi tribe, hired to interpret for the Portuguese; and Sergeant Germano de Melo, appointed as captain of the garrison at Nkokolani to represent the interests of the Portuguese crown. Germano’s narrative takes the form of letters to his supervisor in which he assesses the current political situation. His letters gradually become increasingly personal and confessional with the passage of time. Imani, who learned to speak fluent Portuguese at the mission school, is conflicted. Her situation is fraught with tension: her father is an abusive alcoholic; her mother continues to mourn the death of her children; her two surviving brothers are on opposite sides of the conflict; and she and Germano gravitate between love and hate in their relationship.

There is much to admire in the novel. Couto skillfully depicts the clash of cultures, miscommunications, deceptions, and attitudes of the colonizers and the indigenous peoples. And as is frequently the case, the indigenous people are split between those who support the colonizer and those who want to rid the country from the yoke of foreign oppression. This split takes the form of internecine violence with one tribe perpetrating atrocities on its neighbors. The situation is multi-layered and riddled with a complexity that is reflected in the alternating voices of the narrators.

Stories taken from African folklore, superstitions, dreams and their interpretation, and the occurrence of bizarre events all thread their way intermittently throughout the narrative. Many of these are taken seriously and interpreted as warning signs by the indigenous population; many are summarily dismissed by Germano as the belief systems of a primitive people.

The weakest element in the novel lay in its characterization. The characters are flat and one-dimensional with a portrayal that is stereotypical. Imani’s voice and diction are not reflective of a fifteen-year old girl. Her forays into self-doubt and existential angst lack authenticity. Germano’s letters are self-indulgent and full of self-pity. And other than the difference in content, there is little to distinguish Imani’s diction from that of Germano’s. Having said that, however, if one is willing to forgo the dearth of characterization, the novel does tell a compelling story, a story that sheds light on a turbulent period in Mozambique history, a story that has been repeated many times over and in many different forms whenever and wherever the colonizer and colonized clash.
Profile Image for Alessandra.
40 reviews
March 22, 2017
Infelizmente o livro não me cativou tanto quanto esperava. Todos os elementos da escrita de Mia Couto continuam ali, a prosa mágica, o realismo fantástico, o eterno não-lugar daqueles que foram arrancados da sua terra, algo que me impressionou muito quando li Terra Sonâmbula. Contudo, parece que, nesse caso, não houve liga capaz de prender a narrativa. Talvez por ser o primeiro livro de uma trilogia, a verdade é que passa a impressão de ir do nada a lugar algum. A relação de Imani e Germano é construída de forma brusca, faltando um elemento central que deixe claro ao leitor a conexão entre as duas personagens. A aparição de uma personagem ao fim do livro não faz muito sentido, não adiciona a narrativa. Ao longo da leitura senti como se estivesse lendo um "Cem Anos de Solidão" incompleto - a saga trágica dos Nsambe no meio da guerra entre portugueses e VaNguni traz semelhanças à família Buendía, porém a narrativa não engrena, se torna em partes vazia de sentido, como se Mia Couto estivesse com pressa de explicar os acontecimentos. Uma pena.
Profile Image for Anabela Mestre.
94 reviews43 followers
August 28, 2016
É uma delícia para mim ler livros do Mia Couto. A sua escrita é leve e mágica, trazendo-me sensações e reminiscências dessa África, onde nasci, saindo de lá ainda muito pequena, sem nunca lá ter regressado. Este livro, que é o primeiro de uma trilogia que se passa no século XIX, expõe Moçambique desses tempos, quer sob a visão de um português, quer sob a visão dos nativos.
Depois deste primeiro volume fiquei com vontade de ler os restantes, mas antes vou lendo outros livros, pois não gosto de ler seguidamente o mesmo autor.
814 reviews
gave-up-on
April 20, 2018
Abandoned 71%.

This novel had so much potential, but the writing style, the narrative and the characters were lacking substance. Germano also sounded like a whiny teenage girl.
Profile Image for ಥ_ಥ.
683 reviews16 followers
December 6, 2024
I was browsing my library's digital app and put this book on hold from their translated fiction section, aiming to diversify my reading. I knew it was from Mozambique but hadn't looked up anything about the author or context - something I often do with library books since there's no risk in trying new things.

I ultimately decided not to finish 'Woman of the Ashes,' not due to its quality but because of growing discomfort with its narrative approach. The author, Mia Couto, who has Portuguese ancestry, writes from dual perspectives - including that of a white Portuguese soldier which felt appropriate. However, his choice to also write in first person from the perspective of an African woman during Portuguese colonial rule was what troubled me. This raised complex questions for me about voice and representation in historical fiction.

I found myself comparing this to other works that navigate cultural boundaries differently. For instance, 'The Help,' despite its own complexities around the white savior narrative, structured itself as Black domestic workers sharing their stories through a white character who could safely publish them in 1960s Mississippi - rather than attempting to inhabit their internal voices directly. Similarly, journalists and historians like Fergal Keane in 'Season of Blood' maintain clear positions as outside observers documenting others' experiences.

What felt particularly challenging about 'Woman of the Ashes' was its intimate assumption of a colonized person's viewpoint by someone with ancestral ties to the colonizers. While authors can certainly write outside their experience, the specific power dynamics of European colonialism in Africa - which continue to shape global inequalities today - make this narrative choice especially complex.

This experience has left me reflecting deeply on the boundaries of perspective in historical fiction and how we might thoughtfully approach sensitive historical subjects while respecting the voices of those who lived through them.
Profile Image for Mandy.
3,622 reviews332 followers
May 31, 2018
The first volume in a planned trilogy, Woman of the Ashes takes place in Mozambique in 1894. A fifteen year old girl becomes central in a clash of cultures between the indigenous population and the Portuguese colonisers. Sergeant Germano de Melo is posted to the village of Nkokolani to protect Portugal’s interests from falling under the control of local emperor Ngungunyane, nicknamed the Lion of Gaza, the last emperor to rule the southern half of Mozambique. Unfamiliar with his surroundings and the local culture and language, Germano recruits Imani as interpreter and intermediary. Imani is torn between her native traditions and cultural identity and her sympathies for the Portuguese. Her life is further fractured by the fact that one of her brothers sides with the colonisers whilst the other sides with Ngungunyane. Alternating between the voices of Imani herself and letters written by Germano, this dual-narrative structure gives the reader a multi-layered picture of the complexities of life in the region at this tumultuous period. There’s allegory and folklore aplenty here, with a touch of magic realism, but it’s all integrated quite successfully with the more realistic elements. What doesn’t work so well is that the characters feel one-dimensional, even stereotypical, and the attraction between Germano and Imani all too predictable and clichéd. Based on historical fact, the novel tells a reasonably compelling story, and I remained engaged, but I wasn’t convinced by either of the main characters. Nevertheless an interesting read, opening up a little known episode in African and Portuguese history.
Profile Image for João Duarte.
140 reviews4 followers
July 24, 2016
"Mulheres de Cinza" é o primeiro volume de uma trilogia em que Mia Couto fala do Moçambique do final do século XIX, abandonado por uma metrópole que não tinha condições para se governar, e muito menos para manter um império.

A história é relatada intercalando duas perspetivas: a do sargento Germano, através de cartas que ele envia a um superior hierárquico; e a de Imani, uma moçambicana com raro domínio da língua portuguesa, que lhe serve como ajudante, e que por ele se apaixona.

Vendido como romance histórico, este livro de Mia Couto é diferente do que esperaríamos. Em primeiro lugar, pelo estilo de escrita, cheio de poesia, tão próprio do autor moçambicano. Por outro lado, em lugar de ser verdadeiramente um romance histórico, trata-se de um romance que, por acaso, utiliza alguns elementos da História.

Devo confessar que este livro me desiludiu, dado que sou um entusiasta de romances históricos, e que aprecio a escrita de Mia Couto. E, em "Mulheres de Cinza", deparamos-nos com uma escrita que realmente é extraordinária, mas que não é acompanhada por um enredo cativante (antes, até, ligeiramente entediante) que lhe sirva de pedestal.
Profile Image for Camille McCarthy.
Author 1 book41 followers
April 9, 2019
This book is interesting for how it goes back and forth between a Black African teenage girl, Imani, and a white Portuguese Seargent, Germano. The two voices were distinct and he definitely did a great job of showing their different worldviews. He also picked a setting that is not covered much, in my experience - Mozambique at the end of the 1800's. It seems the author did a lot of research to connect the events in the book to historical events. I enjoyed the book and its style reminded me of other African authors, such as Alan Paton, but it ended with such a lack of resolution that I wasn't really sure what the point of the book was. Definitely it was about two people who are stuck in the middle and don't feel like they belong in one world or the other, but the whole deal with the Seargent's letters being read by someone other than who he meant them to go to and the deception by that other person totally flew over my head. The events were a little fuzzy and I didn't understand the characters' motives a lot of the time. It wasn't a bad book, just confusing; I liked parts of it a lot, but I'm not sure I liked it as a whole.
Profile Image for Vinicius Sarralheiro.
66 reviews1 follower
July 28, 2017
Confesso que ainda não sei o que pensar sobre a estrutura do livro.
Talvez eu esperasse um pouco mais de detalhes sobre a narrativa, os acontecimentos e as formas como tudo se passa. Também não sei bem o que achar da forma intercalada de colocar as narrativas - o problema é que algumas vezes elas se complementam ou ficam repetitivas, enquanto outras vezes parecem que estão em momentos diferentes.
Por outro lado, achei interessante o livro ter mais de uma voz. E o que gostei muito foi o trabalho bem feito sobre os sentimentos e sensações na percepção de cada cultura (moçambicana e portuguesa).
Isso me instigou e acho que é o que me dá mais vontade de continuar essa história e ler o próximo.

No geral, vale muito a pena para mergulhar em uma realidade em que não estamos nem um pouco acostumados. As crenças e "lendas" que entram no meio da narrativa são lindas. Só por elas já vale a leitura!
Profile Image for Jo.
159 reviews20 followers
May 31, 2018
Como qualquer livro do Mia Couto, um autêntico deleite página após página. A escrita é excepcional e as imagens belíssimas. Não gostei tanto como do Jesusalém nem do Terra Sonâmbula, talvez por ser uma trilogia esta primeira parte parece-me um bocado estática em termos da história, mas ainda assim quero muito ler os próximos dois livros da saga.

"Quem mata é quem dispara ou quem manda matar? E pergunto-lhe: todo esse marfim tornou-vos mais ricos?
- Não a mim, Imani. Não a mim.
E prosseguiu a moça: Será assim quando tiverem esventrado a Terra para lhe roubarem os minerais. Ordenarão aos negros que se empilhem uns nos outros até que cheguem à Lua. E mineiros chopes começarão o garimpo da prata lunar."

"Os brancos podem falar de variados modos: diz-se que têm sotaques. Só a nós, negros, não é permitido outro sotaque. Não basta falarmos a língua dos outros. Temos que, nesse outro idioma, deixar de sermos nós."
196 reviews4 followers
March 3, 2020
Sinceramente, pensé leer los tres libros que componen la trilogía de "Las areas del emperador" en lengua portuguesa y apenas pude terminar el primero.
Si alguien lee por primera vez a Mia Couto, considerará esta novela fascinante; pero no creo que sea la mejor que ha escrito.
En Couto prima el lenguaje antes que la historia, pero realiza un acercamiento a una época de Mozambique desde diferentes ángulos: la muchacha nativa, el militar "condenado" a una misión en un país extraño; y secundarias voces tomaran vida en "Trilogía de Mozambique" novela que estoy leyendo en español en una buena traducción y ciertamente soy capaz de apreciar que Couto maneja los dialectos como nadie (previa lectura de este primer libro "Mulheres da cinza"), me parece que tiene una de las plumas más cinceladas en lengua portuguesa.
14 reviews1 follower
March 14, 2017
primeira leitura do autor e posso dizer que a escrita é fácil, leve e que nos ajuda a entrar na história e nas personagens. passagens que nos remetem para a escravidão e também sobre a forma de viver a vida que os africanos têm enraizada. achei interessante a história, diferente do habitual que tenho lido, mas para mim a meio do livro faltou qualquer coisa. quando tiver oportunidade irei ler o segundo livro da trilogia.
Profile Image for Tiago Malaquias.
102 reviews1 follower
October 26, 2022
POR: A minha estreia nos livros de Mia Couto. Um livro que retrata uma ex colónia de Portugal, no caso Moçambique, e do conflito entre os colonos e os habitantes locais. Alternando a história sob o ponto de Vista do Sargento Português Germano e uma habitante local, Imani, dá a conhecer os sentimentos vividos por ambos os lados e as dúvidas sobre o certo e errado. Estou curioso com a continuação da história.

ENG: My debut in Mia Couto's books. A book that portrays a former colony of Portugal, in the case Mozambique, and the conflict between the settlers and the locals. Alternating the story from the point of view of Portuguese Sergeant Germano and a local inhabitant, Imani, reveals the feelings experienced by both sides and the doubts about right and wrong. I'm curious about the continuation of the story.
Profile Image for Nuno Ferreira.
Author 19 books85 followers
August 31, 2018
Dono de uma prosa lindíssima, Mia Couto trespassa-nos com o seu mundo de teias, sensibilidades e sensações. Mulheres de Cinza põe a nu não só a inconstância de valores, a debilidade das certezas e o entrecruzar de culturas, como toda a profundidade da alma moçambicana, os pequenos detalhes que a tornam tão grandiosa. Um relato fictício de inspiração real que consegue tocar fundo nas nossas almas, fazendo-nos pensar naquilo que temos e naquilo que conhecemos como verdade. Faz-nos questionar as nossas próprias verdades.

Através de dois pontos de vista, o de um português e de uma moçambicana, Mia Couto faz-nos viajar pelo passado multicultural que uniu Portugal e África, as crenças enraizadas das suas civilizações e a tentativa brutal de devorar crenças com a mesma veemência com que devoram terras. Essa aglutinação de território por parte dos portugueses entra em choque com as características fortíssimas da cultura moçambicana, que não se deixa aspirar por completo. Nos pequenos pormenores, Couto revela-nos a beleza de uma cultura que tanto nos esforçamos por apagar.

O imperador de que fala o título da trilogia é Ngungunyane, conhecido entre os portugueses como Gungunhane ou Leão de Gaza, que liderou o segundo maior império africano liderado por um nativo: o Império de Gaza, que hoje conhecemos como a metade sul de Moçambique. Na história que Mia Couto traz até nós, as povoações nativas desesperam pelos avanços cruéis de Ngungunyane, contando apenas com a protecção frágil dos portugueses ali destacados e com a esperança ténue de que a cavalaria de Mouzinho de Albuquerque chegue para os salvar. O imperador foi derrotado e deportado para o Açores em 1895, vindo a falecer em 1906.

O nome de Ngungunyane permaneceu como símbolo de várias glórias, e lendas e histórias foram criadas com base na sua personalidade. Existem versões que sugerem que não foram os ossos do imperador que voltaram dentro da sua urna, mas sim torrões de areia. A lenda dita que do grande adversário de Portugal restaram apenas areias colhidas em solo português, o que inspirou o título da série. As areias significam ainda, metaforicamente, os restos arruinados do seu Império.

A ação do livro passa-se na Nkokolani de 1985, a aldeia natal de Imani. A jovem de 15 anos pertence à tribo VaChopi, uma das poucas que resiste ao imperador e conta com o apoio dos portugueses. Apesar da conversão, Imani guarda em si muito da sua cultura ancestral, nunca se tendo encontrado muito bem a si mesma. Desde logo, o nome que lhe deram mudou algumas vezes. Cinza foi um dos nomes por que fora batizada, mas acabou por ficar Imani, que significa “quem é?”.

Imani faz parte de uma família pouco feliz. Tsangatelo, o seu avô, virou as costas à família para ir trabalhar para as minas, onde refez a sua vida com outro homem. O pai, Katini Nsambe, entregou-se ao labor e ao vício do álcool. A mãe, Chikazi Makwakwa, parece ter sempre autoridade sobre o marido, apesar deste ser extremamente violento para com ela quando bebe. Imani tem ainda dois irmãos. O mais velho, Dubula, que parece o mais propenso da família a apoiar o imperador. E Mwanatu, um jovem retardado que é usado como moço de recados pelos portugueses. A chegada dos tios vem mexer ainda mais com este caldo fervilhante de crenças e ideologias.

Por oposição, temos as cartas de Germano de Melo a D. José de Almeida, Conselheiro do Reino, que nos dão um ponto de vista menos poético e vívido dos acontecimentos, mas ainda assim emocionante e repleto de significados. Ele é o olhar dos portugueses para com a cultura dos nativos moçambicanos. A sua visão estóica vai-se aligeirando à medida que vive na comunidade de Nkokolani. O suicídio de um português a quem Germano tinha ordens de detenção, Francelino Sardinha, mexeu com o seu âmago, levando-o a trilhar uma jornada para compreender o fascínio que o homem possuía pelos locais.

Subordinado a personagens históricas como Ayres de Ornelas ou António Enes, e depois de uma temporada na pensão da bela italiana Bianca Marini, Germano aloja-se na cantina de Sardinha, que era também um quartel, e usa Mwanatu como seu moço de recados, ao mesmo tempo que utiliza a jovem Imani como intérprete. Rapidamente Germano começa a sentir um desejo intenso pela bela nativa, a que ela se esquiva com a sua enorme habilidade e inteligência. Também Imani se sente atraída pelo português, mas ao descobrir que ele a enganou e à sua família, tudo faz para o humilhar e desdenhar. É a morte e a guerra que a fazem repensar na vida como a conhecia.

Adorei o livro no seu todo. Não só a escrita de Mia Couto é lindíssima, como nos faz reflectir imenso naquilo que temos e naquilo que damos como certo. Couto alia uma credibilidade histórica fortíssima, sem necessitar de grandes descrições, a uma espécie de fantasia de folclore, brincando com as tradições e conhecimentos daquele povo tão envolvente. Um homem que escava e escava debaixo da terra, cavalos que vêm dos céus, armas que trazem os gritos dos homens que mataram e um militar que contém moscas dentro dele são alguns exemplos desse lado mais fantasioso.

Mas é a interpretação dos nativos sobre a morte e todas as crenças que eles carregam a respeito, o que mais me maravilhou ao longo do livro. Mia Couto quase não descreve lugares ou personagens. Ele faz-nos senti-las. Através das emoções, do toque e dos cheiros, somos convidados a entrar num mundo profuso em crenças e em sentimentos, que um dia foi o nosso. Espero ler em breve o segundo volume desta maravilhosa trilogia moçambicana.

http://noticiasdezallar.wordpress.com
Profile Image for George.
3,262 reviews
November 23, 2024
3.5 stars. An interesting, unique historical fiction novel set in Mozambique in 1894. Narrated by Sergeant Germano de Melo, the Portuguese army representative, and Imani, a fifteen year old African native who can speak Portuguese. Imani belongs to the VaChopi tribe, one of the few tribes who sided with the Portuguese Crown. At the time, Ngungunyane, the last emperor of the State of Gaza, has put together an army to resist Portuguese rule.

The story alternates between the letters of Germano to his commanding officer and Imani, who provides her perspective of her relations, the VaChopi tribe and her views of Germano. A number of short folk tales are interweaved into the story. We learn about Imani’s grandfather, mother, father and two brothers.

Here is an example of the author’s writing style:

‘Europeans write the names of those they had buried on a stone. It’s their way of resuscitating them.”

A novel dense with allegory and imagery, but light on character development and plot momentum.

Overall a worthwhile reading experience.

This book was first published in Portuguese in 2015.
Profile Image for Allison Charette.
Author 10 books13 followers
September 11, 2023
Really pretty prose, well-translated (though the sentence structure was rendered a bit literal for my taste), but…I’ve read better in this genre. It rang strangely hollow, like the whole was slightly less than the sum of its parts. Try Maaza Mengiste’s “The Shadow King” instead.
Profile Image for kiana.
242 reviews19 followers
January 24, 2024
idk i just couldn't get into it.
Displaying 1 - 30 of 159 reviews

Can't find what you're looking for?

Get help and learn more about the design.