Jump to ratings and reviews
Rate this book

La lista de Alice

Rate this book
O capitalismo nos atravessa o corpo e a alma e esse atravessar é sempre violento e desagregador. Não há quem escape. No caso do corpo da mulher há ainda a navalha do patriarcado em riste, disposta a expor-lhe as vísceras e, em assim sendo, a demonstrar o quanto é espaçoso, o quanto parece tomar um lugar no mundo o qual, supostamente, não deveria. Como uma espécie de Jack, o estripador, ele vem armado de sua lâmina e fazendo um grande estrago, coisa que é de todos sabida, coisa muito velha, mas que é combustível sempre renovável em seu pathos agressivo.
É um pouco disso que trata a fabulação de Judite Canha Fernandes em A lista da mercearia, novela que fala sobre como o corpo da mulher, sua subjetividade e afetos são desde muito cedo dados em sacrifício a brutalidades de toda natureza. Uma história de silenciamentos e perdas. E é assim que Alice, a personagem principal, dona de uma condição atípica, um coração que não cabe dentro dela mesma, recompõe os fragmentos de sua vida. Esse coração simultaneamente físico e metafórico, pesado de mundo, atravessa a paisagem narrativa com seus medos, desejos, desencontros, com seu estado urgente e excessivo. Um “morango” ou “monstrinho nojento” marcando um território aberto, a contrapelo dos limites histórica, social e corporalmente impostos.
Uma das vozes poéticas e narrativas mais interessantes de Portugal na contemporaneidade, Judite Canha Fernandes enreda o leitor em um labirinto construído com engenho e habilidade, no qual a voz da narradora se sobrepõe à voz de uma autora que gosta de itálicos diante de uma constelação de homens sempre iguais e diversos, uma sobreposição que muito bem lembra os movimentos de sístole e diástole. Tretas.

O corpo é um lugar demasiado.

112 pages, Paperback

Published February 20, 2025

75 people want to read

About the author

Judite Canha Fernandes

10 books8 followers
nasceu no Funchal em 1971. Publicou poesia, ficção (romance e conto) e teatro. O livro de poesia o mais difícil do capitalismo é encontrar o sítio onde pôr as bombas foi semifinalista no Prémio Oceanos em 2018. O seu romance de estreia Um passo para sul foi Prémio Agustina Bessa Luís em 2018, Menção Honrosa no Prémio Literário Dias de Melo em 2018, foi nomeado para melhor livro de ficção narrativa em 2019 pela Sociedade Portuguesa de Autores, foi semifinalista do Prémio Oceanos em 2020 e faz parte do Plano Nacional de Leitura 2020-2027.

Ratings & Reviews

What do you think?
Rate this book

Friends & Following

Create a free account to discover what your friends think of this book!

Community Reviews

5 stars
20 (42%)
4 stars
15 (31%)
3 stars
11 (23%)
2 stars
1 (2%)
1 star
0 (0%)
Displaying 1 - 7 of 7 reviews
Profile Image for Sónia Carvalho.
196 reviews18 followers
March 16, 2023
Um livro diferente, inovador, onde acompanhamos um dia da vida de Alice, a nossa heroína, que sofre de cardiomegalia e que ao sair do trabalho, percebe que o seu coração enorme, que transporta fora do corpo desde a adolescência, está especialmente descontrolado (o batimento está muito acelerado e cresceu repentinamente). Durante umas horas, e enquanto se prepara para encontrar um dos Franciscos da sua vida, Alice irá reavivar memórias e percorrer a sua lista de medos superados e por superar, medos que ameaçam a sua liberdade, na tentativa de deslindar a raíz do aceleramento cardíaco descompassado. Sempre que sente falta de ar ou receio em desmaiar, Alice sonha convulsivamente, mas "naquele dia os sonhos pareciam ser memórias." Ao longo do relato, vai sendo interrompida pela escritora obcecada pelo itálico, que vai lançando frases incómodas e irónicas - "já devem ter reparado nestas interrupções em itálico. Por favor, não liguem, é apenas a escritora a interromper. Quer impedir-me de contar esta história a meu modo, mas não vai conseguir."

"Visto a cem metros, parece um morango gigantesco de plástico, mas não é. É apenas o meu coração, três quilos de massa muscular palpitante, e estava em muito mau estado naquele dia. Músculos, artérias, válvulas, cavidades, impulsos. Seguia pela rua arrastando-o atrás de mim, como faço normalmente. Era dia dezassete de março e podia sentir a aproximação da primavera. Uma pequena multidão caminhava a meu lado. Pessoas, abelhinhas, afadigadas nos seus murmúrios entre os carros e as árvores. A vida corria tranquilamente, todos os rios seguiam em direcção ao mar, excepto o meu coração. Meia hora antes, segundos antes de sair do trabalho, tinha aumentado subitamente de tamanho - mais cinco centímetros de diâmetro - e desatado a bater em frenesi. Tinha enlouquecido."
Profile Image for Maria Machado.
46 reviews
August 28, 2025
"Es decir, mi lugar en el mundo estaba en el grupo de aquellas que esperan. Hasta que ellos decidan, dediquen odas a mi cuerpo desnudo y al aire etéreo de ninfa, debo esperar en recatado silencio. Solo entonces podré ser adorada en museos o en gruesos volúmenes de antologías. O, mejor aún, podré ser amada.

Solo que yo no sé esperar.
Nunca supe."
Profile Image for Beatriz.
501 reviews212 followers
July 7, 2025
pienso en Alejandro Sanz e imagino su corazón lleno de tiritas , en el soneto con una salvedad de Eduardo Carranza /salvo mi corazón, todo está bien /, pienso en el famoso arte milenerio japonés sobre restaurar con hilos de oro lo roto y vislumbro un corazón lleno de cortafuegos, pienso en frantumaglia y las galletas del fondo del bote hechas migas como hecho migajas hemos tenido el corazón alguna que otra vez y que , a pesar de todo ,ahí continúa haciendo su trabajo, bombeando sangre, introduciendo oxígeno sacando el dióxido ,coloreando de rojo la oscuridad del cuerpo, intentando conciliar sin remedio su relación con el censor que nos habita ....
Alice tiene el corazón más grande de lo normal. Es decir ocupa más espacio del que debería. Por eso lo lleva fuera del pecho. A la vista de todo. Casi como una ofrenda al mundo. Aquí tenéis mi corazón gigantesco, por favor, no lo dañeis es más frágil solo por ser más grande. Alice ha quedado con un chico que se dedica a recorrer el mundo. Es una cita. Pero ese día su corazón ha decidido aumentar su ritmo cardíaco hasta límites insospechados. Está claro que Alice está nerviosa. Pero no solo por la cita sino por los miedos. Por la cara A y B de otra posible relación, de otra posible ruptura, de otra posible falta de entendimiento , de volver a dar con otra persona que habla un idioma diferente .es imposible no vivir con miedo en el mundo en qué vivimos. Miedo a que nos pisen y nos espachurren el corazón sin piedad. Maldad gratuita porque ande yo caliente ... Alice hace listas. Listas de todos sus miedos. Los clasifica. Los nombra. Les da corporeidad . Los aniquila cuando corresponde. Con el corazón bombeando a punto de explotar Alice recorre la ciudad a través del recordatorio de sus relaciones fallidas, de la anomalía de su corazón , de sus ilusiones y lo poco que parecen quedar de ella, de su falta de amor propio que parece llevarla a un estado de languidez .... Pero Alice no está sola en esta historia. Para suerte de Alice y de todas las lectoras hay una voz en off , una pepita grillo que no se cansa de animar a Alice ,de animarnos a todas pues más sabe el diablo por viejo que por diablo y si alguna vez sientes que tú corazón va a estallar lo hará por placer jamás por dolor .
Judite Canha Fernandes recoge todo su lirismo para crear una novela con una única imagen que lo inunda todo : un corazón que se desborda , que ocupa más espacio que el natural porque su dueña y protagonista del relato lo ha ido "cebando" con todo aquello que no ha llegado a buen puerto y aunque se puede vivir así , cardiomegalia se llama, lo que ya no es normal es que este se empiece a rasgar por no poder soportar más miedos. Ha llegado el momento, dice la voz en off , las cursivas de nuestra vida, de reducir la lista que Alice lleva confeccionando desde que tiene uso de razón , solo de esa manera todo volverá a su tamaño habitual lo que despejará y mucho la visión de Alice ante su vida y sus sentimientos . Porque si hay algo que tenemos que tener claro es que sin corazón no hay posibilidad de vida alguna.
Profile Image for Mariana Afonso | Books Of My Own.
225 reviews102 followers
October 4, 2023
(3,75)

nunca tinha ouvido falar do livro ou autora.
na livraria, o título chamou-me à atenção, li o texto da contracapa e decidi logo que tinha de trazer.

comecei a ler, e uau. forte, reflexivo, imaginativo.

começou mesmo muito bem e a conquistar-me.

o problema, é que, para mim, começou demasiado bem (como se costuma dizer “it started with a bang”). porque com o desenrolar da (pequena) estória, lá para as 50 páginas, senti que já não havia inovação nenhuma; o tom de reflexão manteve-se, mas sem ser novidade, sempre a bater no mesmo assunto, muito circular diria; e a verdade é que para um livro de 90 páginas, algo mais também não seria propriamente positivo, foi mesmo uma questão de me ter surpreendido tanto ao início, e depois não manter esse fator surpresa.

talvez seja daqueles momentos em que a expectativa alta foi criada nas primeiras páginas, e de forma até injusta.

plus, a conjugação dos verbos (“ao contrário”) não ajudou
Profile Image for Yasnay.
13 reviews
September 21, 2025
Es un libro corto y reflexivo que sin esperarlo se me ha hecho largo. Por algún motivo, las vivencias de Alice resuenan con las de tantas mujeres, sin embargo no acabo de sentirme "identificada" con su personaje... En conclusión: un libro aceptable, de una sola lectura.
Profile Image for Paula (filologaamedias).
21 reviews2 followers
March 4, 2025
Pasar un día con Alice significa adentrarse en lo más profundo de su ser para apreciar, a través de sus ojos, cómo es percibida por todo aquel que le rodea. Y vaya que si la observan, no sólo por ir arrastrando con su pesado corazón, atenazado por la cardiomegalia, sino por ser lo que es: una mujer. En «La lista de Alice», se nos presenta a una protagonista de lo más humana, la cual no duda en exponer sus miedos e inseguridades al mundo, criticando, a su vez, todos los condicionamientos a los que estamos expuestas las mujeres, la violencia que sufrimos en nuestro día a día y cómo está tan normalizado cuestionar lo que decimos, hacemos y pensamos.

A través de una escritura de lo más fresca y sarcástica, la autora expone el sistema tan opresor y machista en el que vivimos, poniendo a su personaje en situaciones de lo más crudas pero, por desgracia, reales, tanto que en más de una ocasión he tenido que parar la lectura debido a la impotencia tan grande que estaba sintiendo. Con sus 94 páginas de extensión, este libro es de lo más directo e impactante, Canha Fernandes no se anda con rodeos al momento de exponer sus ideas y eso es algo que he valorado. Sin duda, es un libro que recomiendo muchísimo por el valor tan reivindicativo que tiene.
Displaying 1 - 7 of 7 reviews

Can't find what you're looking for?

Get help and learn more about the design.