Antologia poética Manuel Bandeira, coletânea organizada pelo próprio autor em 1961, reúne poemas publicados em diversos livros. No prefácio o autor A antologia atual é mais completa que as anteriores por incluir também poemas de circunstâncias, constantes do livro Mafuá do malungo, e traduções que fiz de poetas estrangeiros, tiradas do livro Poemas traduzidos. Além disso, recolhem-se nela alguns poemas recentes ainda não coligidos em livro. Como nas duas primeiras, aqui o critério foi marcar a evolução da minha poesia, aproveitando de cada livro o que me parecia representar melhor a minha sensibilidade e a minha técnica.
Nesta obra é possível perceber o conflito, inteligentemente resolvido, entre o moderno e o canônico, as brincadeiras com os temas da vida e da morte e a sua extrema sensibilidade aliada a um domínio técnico apurado. Segundo os estudiosos, Manuel Bandeira, em sua poesia, abandonou o tom retórico de seus predecessores e usou a fala coloquial para tratar, com objetividade e humor, de temas triviais e eventos do dia a dia. Apesar de sua refinada sensibilidade, que remonta aos clássicos portugueses, o autor era capaz, também, de se fascinar com o insólito e o corriqueiro.
Manuel Bandeira (April 19, 1886 – October 13, 1968) was a Brazilian poet, literary critic, and translator, who wrote over 20 books of poetry and prose. ~ Manuel Bandeira foi desenganado pelos médicos por causa de uma tuberculose, aos dezenove anos de idade. O que provou ser um engano: ele viveu até os 82. Toda a sua poesia tem esse sentimento, em suas palavras, de "Toda uma vida que poderia ter sido e não foi".
Ele foi um dos poetas nacionais mais admirados, inspirando, até hoje, desde novos escritores a compositores. Aliás, o "ritmo bandeiriano" merece estudos aprofundados de ensaístas. Por vezes inspira escritores não só em razão de sua temática, mas também devido ao estilo sóbrio de escrever.
Manuel Bandeira possui um estilo simples e direto, embora não compartilhe da dureza de poetas como João Cabral de Melo Neto, também pernambucano. Aliás, numa análise entre as obras de Bandeira e João Cabral, vê-se que este, ao contrário daquele, visa a purgar de sua obra o lirismo. Bandeira foi o mais lírico dos poetas. Aborda temáticas cotidianas e universais, às vezes com uma abordagem de "poema-piada", lidando com formas e inspiração que a tradição acadêmica considera vulgares. Mesmo assim, conhecedor da Literatura, utilizou-se, em temas cotidianos, de formas colhidas nas tradições clássicas e medievais. Em sua obra de estréia (e de curtíssima tiragem) estão composições poéticas rígidas, sonetos em rimas ricas e métrica perfeita, na mesma linha onde, em seus textos posteriores, encontramos composições como o rondó e trovas.
É comum criar poemas (como o Poética, parte de Libertinagem) que se transforma quase que em um manifesto da poesia moderna. No entanto, suas origens estão na poesia parnasiana. Foi convidado a participar da Semana de arte moderna de 1922, embora não tenha comparecido, deixou um poema seu (Os Sapos) para ser lido no evento.
Uma certa melancolia, associada a um sentimento de angústia, permeia sua obra, em que procura uma forma de sentir a alegria de viver. Doente dos pulmões, Bandeira sofria de tuberculose e sabia dos riscos que corria diariamente, e a perspectiva de deixar de existir a qualquer momento é uma constante na sua obra.
A imagem de bom homem, terno e em parte amistoso que Bandeira aceitou adotar no final de sua vida tende a produzir enganos: sua poesia, longe de ser uma pequena canção terna de melancolia, está inscrita em um drama que conjuga sua história pessoal e o conflito estilístico vivido pelos poetas de sua época. Cinza das Horas apresenta a grande tese: a mágoa, a melancolia, o ressentimento enquadrados pelo estilo mórbido do simbolismo tardio. Carnaval, que virá logo após, abre com o imprevisível: a evocação báquica e, em alguns momentos, satânica do carnaval, mas termina em plena melancolia. Essa hesitação entre o júbilo e a dor articular-se-á nas mais diversas dimensões figurativas. Se em Ritmo Dissoluto, seu terceiro livro, a felicidade aparece em poemas como "Vou embora para Pasárgada", onde é questão a evocação sonhadora de um país imaginário, o pays de cocagne, onde todo desejo, principalmente erótico, é satisfeito, não se trata senão de um alhures intangível, de um locus amenus espiritual. Em Bandeira, o objeto de anseio restará envolto em névoas e fora do alcance. Lançando mão do tropo português da “saudade”, poemas como Pasárgada e tantos outros encontram um símile na nostálgica rememoração bandeiriana da infância, da vida de rua, do mundo cotidiano das provincianas cidades brasileiras do início do século. O inapreensível é também o feminino e o erótico. Dividido entre uma idealidade simpática às uniões diáfanas e platônicas e uma carnalidade voluptuosa, Manuel Bandeira é, em muitos de seus poemas, um poeta da culpa. O prazer não se encontra ali na satisfação do desejo, mas na excitação da algolagnia do abandono e da perda. Em Ritmo Dissoluto, o erotismo, tão mórbido nos dois primeiros livros, torna-se anseio maravilhado de dissolução no elemento líquido marítimo, como
Manuel Bandeira fala muito sobre morte, sexo e seus amigos. Acho fofo todos os poemas com nome de pessoas, poemas para outros escritores, poemas de lembranças da infância.
Foi um professor de redação que me apresentou a Manuel Bandeira. Ainda lembro dele andando de um lado para o outro recitando (ou seria interpretando?) "Vou-me embora pra Pasárgada", " Mascarada" ou "Os sapos", contando-nos acerca dos sentimentos e das vivências do poeta. E foi assim que acabei por adquirir uma pequena seleta, mas o meu velho exemplar que me acompanhou ao longo da vida e tinha história pois riscado, grifado, rabiscado como um verdadeiro companheiro de viagem, mas eis que um dia tomou outro rumo numa das mudanças da vida. Deixou-me para não mais voltar. Comprei outro e pensei, construiremos uma nova história , mas a coisa não funcionou.
Mas o tempo ainda é um bom remédio, assim como os livros. Os livros me deram um amigo, que me deu um livro e que só por isso já vem com uma história. E assim como a minha seleta já está fazendo história, já tem marcações, grifos e anotações. Conheci novos poemas, me encantei e me atrevi a fazer minhas próprias interpretações e depois de tudo isso devo dizer que Manuel ainda é o "meu" poeta, agora com novas histórias.
Quando ontem adormeci Na noite de São João Havia alegria e rumor Estrondos de bombas luzes de Bengala Vozes cantigas e risos Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei Não ouvi mais vozes nem risos Apenas balões Passavam errantes Silenciosamente Apenas de vez em quando O ruído de um bonde Cortava o silêncio Como um túnel. Onde estavam os que há pouco Dançavam Cantavam E riam Ao pé das fogueiras acesas? — Estavam todos dormindo Estavam todos deitados Dormindo Profundamente.
Quando eu tinha seis anos Não pude ver o fim da festa de São João Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo Minha avó Meu avô Totônio Rodrigues Tomásia Rosa Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo Estão todos deitados Dormindo Profundamente.
Tenho pelo Bandeira um carinho muito íntimo; foi um dos primeiros poetas que eu li com maior atenção. Essa antologia, organizada de forma mais tradicional do que, digamos, a antologia que Drummond organizou sobre sua própria obra, segue uma linha diacrônica, partindo do primeiro ao último livro do poeta. Desse jeito, a gente fica tentado a pensar em termos de evolução de escrita, de fases da sua obra etc. Prefiro - gosto individual - antologias que se organizam de outro jeito, que dão a ver afinidades formais ou temáticas entre os poemas; por que me interessa que A cinza da horas seja anterior à Libertinagem e que este seja anterior à Estrela da tarde se os poemas não dialogam nessa linha temporal, mas na simultaneidade da produção já feita? Claro que a leitura diacrônica trás informações importantes, mas eu prefiro as leituras sincrônicas, que bagunçam o rame-rame do nosso empobrecido tempo linear. Mas, de qualquer forma, o livro vale muito a pena, porque Bandeira vale muito a pena.
Foram semanas lendo, analisando e sentindo a poética de Manuel Bandeira. Essa Antologia Poética, publicada pela primeira vez em 1961, traz a reunião dos 11 livros do poeta, são ao todo 235 poemas que marcam a evolução da poesia de Bandeira. Sensibilidade e técnica são pilares inescapáveis para quem o lê, foram várias as vezes em que ao ler, marquei, sublinhei, dobrei a página criando uma orelha, mas também vi o tempo congelar lendo poemas como "testamento", "profundamente", "noite morta", "versos de natal" e tantos outros textos.
Gosto de pensar no poema como o tipo de texto que nos fisga em meio aos nossos tantos fluxos de vida, o fluxo do poema é outro, tem ritmo, cadência, silêncios... Após ler toda a obra de Banderia nessa Antologia, saio mais lúcido quanto a necessidade de poemas nos dias em que vivo. Poemas esses, em grande parte, escritos não para serem entendidos, mas sentidos.
Por vezes hermético, muitas vezes claro, mas sempre poeta. A leitura dessa coletânea organizada pelo próprio Manuel Bandeira em 1961 desafiou minha atenção em muitos momentos. Porém, outros tantos poemas deixaram claro, por sua beleza e sensibilidade, que ainda tenho de amadurecer como leitor de poesia. Sou um leitor apressado, mas desfrutei dessa “Antologia Poética” ao longo de meses.
A maior parte desse volume da Editora Global, com 360 páginas, traz poemas do próprio Bandeira. E há 20 páginas dedicadas a traduções de poetas estrangeiros. E as 30 páginas finais são dedicadas ao “Mafuá do Malungo”, em que o autor dedica poemas a amigos e, entre outros recursos literários, faz jogos de palavras.
O córrego é o mesmo. Mesma, aquela árvore, A casa, o jardim. Meus passos a esmo (Os passos e o espírito) Vão pelo passado, Ai tão devastado, Recolhendo triste Tudo quanto existe Ainda ali de mim – Mim daqueles tempos!