Refletir sobre destradicionalização não é dotar o passado da aura que o magnifica, nem reduzir o presente às ruínas do que passou. Os valores, tradicionais ou não, são deste mundo. Oscilamos incessantemente entre o pior e o melhor. No que somos e queremos ser, há sempre um resto das "baixas origens", avistadas por Nietzsche, Freud, Marx e Cioran, ou das "altas origens", que o buda, Jesus de Nazaré, Francisco de Assis, Ghandi, Winnicott, Simone Weil ou Dietrich Bonhoeffer souberam ver. Na morada dos ideais, se acotovelam, lado a lado, vingança, rancor, inveja, pusilanimidade, mesquinhez e compassividade, solidariedade, coragem, desprendimento, magnanimidade, generosidade.
O Vestígio e a Aura: Corpo e Consumismo na Moral do Espetáculo, de Jurandir Freire Costa é uma compilação de seis textos do autor. Dividido em duas partes, a primeira é intitulada Metapsicologia e a segunda Comportamento. Na primeira parte o autor traz conceitos de representação aliados com os estudos do corpo na psicologia, sobre desejo e sexualidade e o uso do corpo como objeto transicional. Na segunda parte, ele promulga uma "virada corporal" na sociedade e na cultura quando lança mão de conceitos como "a personalidade somática" e a "cultura somática", ao se referir à obsessão pós-moderna com o corpo. Mas o texto que mais gostei dessa antologia foi "declínio do comprador, ascensão do consumidor", que foi a temática que me fez retirar esse livro emprestado da biblioteca da Universidade Federal de Santa Catarina. Das duas partes do livro, achei que o autor foi mais feliz com o que desenvolveu para a segunda parte do que na primeira.
Bom, mas já que estou lendo em 2025 e não é minha primeira leitura do assunto, em alguns momentos os artigos viram ultrapassados, uma imagem das discurssões acadêmicas da época lançada. Porém, indagações boas.