Por que é tão difícil mudar, mesmo quando sabemos que determinados hábitos ou atitudes nos são prejudiciais? Que mecanismos estão por trás da nossa resistência à mudança e como entendê-los para, então, desmantelá-los? Contumaz observador da alma humana, Flávio Gikovate analisa neste livro os obstáculos que enfrentamos quando nos propomos a mudar um comportamento e aponta caminhos para vencer tais entraves. A vontade pessoal e a autoanálise são ingredientes fundamentais, mas não só. A razão também tem papel primordial: o que de fato queremos mudar? Quem desejamo-nos tornar? Estaremos dispostos a abrir mão da estabilidade para alcançar nossos objetivos? Conseguiremos suportar a dor das perdas imediatas para gozar de benefícios em longo prazo? Sem fórmulas prontas nem conselhos fáceis, o autor mostra como a biologia, a cultura e a personalidade moldam o indivíduo e leva o leitor a reflexões profundas sobre a capacidade que todos temos de mudar.
Médico-psiquiatra, psicoterapeuta, conferencista e escritor. Nos últimos trinta anos, escreveu 25 livros sobre problemas relacionados com a vida social, afetiva e sexual e seus reflexos na sociedade. Atualmente apresentando o programa “No Divã do Gikovate”, na rádio CBN, e dedicando a maior parte do tempo à clínica.
O livro promete mais do que entrega. O fato de o autor dialogar com seus colegas e com o público em geral - - os pacientes - - atrapalha, já que os muito parágrafos de conselhos aos colegas são pouco interessantes para os demais e provavelmente obviedades para os profissionais. Mas é interessante e tem passagens que ensejam boas pontes para a reflexão de quem quer de fato mudar. Vale a pena dedicar algumas poucas horas à leitura, em geral bem agradável.
Melhores trechos polêmicos: "...Creio que são justamente as crianças mais inteligentes as que participam mais ativamente da produção do modo de ser delas mesmas... As crianças que, por influência dos pais ou por moto próprio, concluem que sua mente é competente e pode ser levada a sério por elas costumam cometer vários erros de avaliação acerca de sua condição e também de como são as outras crianças e adultos. Consideram -se mais dotadas que seus colegas de escola e passam a ter um convívio mais difícil com eles, desenvolvendo crescente desinteresse por suas atividades. Olham para eles com certo desdém e são vistos como chatos e sem graça. Não raro desenvolvem problemas sérios de convívio social, problemas esses que costumam carregar pela vida afora. Crianças mais inteligentes chegam em idade muito precoce a conclusões que consideram verdadeiras... Penso que o primeiro aspecto relacionado com a felicidade é a ausência de dores, especialmente as que derivam da escassez de ingredientes essenciais à sobrevivência digna. Assim, uma condição material mínima, que permita acesso a alimentação adequada, moradia, educação e saúde, é item inquestionável, sem o qual a felicidade não pode sequer ser cogitada. Essa zona de sofrimento, quando resolvida, determina o tipo especial de prazer chamado de negativo justamente porque deriva do fim das dores: quem está com frio, sede, fome e pode se livrar do desconforto experimenta uma sensação de alívio, um prazer negativo. Quem está doente e volta a se sentir saudável, também. Esses prazeres estão relacionados com a extinção de uma dor e surgem quando o indivíduo volta ao ponto zero, aquele do equilíbrio – que, em biologia, se chama homeostase. Na zona do negativo, do sofrimento, não existe felicidade. Os prazeres negativos são efêmeros, desaparecendo a sensação logo que o mal -estar é sanado... Uma das observações mais importantes acerca da separação entre prazeres negativos e positivos tem que ver com o fato de que o amor, de acordo com meu modo de pensar, corresponde a um prazer essencialmente negativo. Desde o nascimento, gerados em um útero aconchegante – o paraíso –, experimentamos uma dolorosa sensação de desamparo, uma curiosa sensação de incompletude, de que nos falta algo. Esse 'buraco', que não raramente sentimos na região do estômago, parece ser uma espécie de registro traumático daquilo que correspondeu à dor da ruptura do elo simbiótico materno – a expulsão do paraíso. É uma dor que nos acompanha ao longo da vida, em intensidade variável de pessoa para pessoa, de circunstância para circunstância, e cujo principal recurso atenuador é a reconstrução de um elo dual – o de natureza adulta não deve, é claro, ser simbiótico – com um parceiro adequado – idealmente, com o qual tenhamos muitas afinidades. Assim, o amor é 'remédio' para a dor do desamparo, sendo, pois, um prazer que deriva do fim desse desconforto. É claro que pode estar acoplado a inúmeros prazeres positivos, tais como os de natureza erótica, além daqueles que se originam da boa conversa, dos planos em comum, do ato de compartilhar passeios, atividades culturais etc. O amor em si é antes de tudo paz, harmonia – homeostase – ao lado de alguém que se torna muito especial e, de certa forma, substitui o primeiro elo que tivemos, o materno. A felicidade depende da ausência de prazeres negativos, o que determina o estado de serenidade; e também da existência de uma dose adequada de prazeres positivos, aqueles que independem de dor prévia: os do corpo – atividades físicas prazerosas, dança, sexo – e os da mente – gosto em aprender, cultivo de atividades ligadas à música, ao cinema, literatura, boas conversas... Até hoje me vejo perplexo diante desse fenômeno universal, em que cada um de nós parece ter uma 'cota' de felicidade acima da qual surgem um medo enorme, uma sensação indefinida de ameaça, de que alguma coisa terrível vai nos acontecer... O medo da felicidade seria o responsável por esses processos autodestrutivos que só se manifestam na fronteira, no momento em que estamos prestes a alcançar algo que muito nos encanta e com o qual havíamos sonhado. A sensação de harmonia e felicidade é a primeira que se manifesta. Porém, logo em seguida aparecem uma inquietação, um medo difuso de não sei o quê. A pessoa fica felicíssima e, ao mesmo, tempo, se sente brutalmente ameaçada, como se de fato existisse uma espada sobre sua cabeça. A felicidade mistura-se ao medo, provocando uma sensação peculiar, difícil de ser descrita, mas muito fácil de ser reconhecida por quem já vivenciou esse estado. O melhor exemplo dessa estranha mistura é o que acontece na paixão. Defino paixão como a associação de um encaixe sentimental de enorme intensidade com um medo de igual dimensão. Paixão = amor + medo! É uma vivência peculiar; corresponde a um 'estado extraordinário' diferente dos estados usuais porque a inquietação e a felicidade se misturam de forma indissolúvel..."
O livro apresenta, de forma leve e com linguagem acessível, os fatores envolvidos no processo de mudança comportamental. De fato, o autor não se aprofunda no tema, e muitas vezes a abordagem é breve e superficial; no entanto, ao meu ver, o mérito do livro esta nesse aspecto, uma vez que a habilidade do autor possibilita que um tema denso seja apresentado de forma despretensiosa, em um livro para ser devorado em poucos dias. Ao mesmo tempo em que apresenta pontos e contrapontos, com sinalizações discretas sobre referencias, estimula o leitor a refletir e conduzir sua própria pesquisa. Vale como uma leitura de iniciação sobre tema para profissionais de áreas de saúde envolvidas em mudança comportamental e público geral.
Livro que nos ajuda a pensar o porque que a mudança nos tras tanto medo e que o desconhecido pode nao ser tao ruim quanto imaginamos, criamos expectativas ruins do que nao conhecemos mas devemos arriscar a mudança para que consigamos alcançar nossos objetivos.
O Gikovate sempre tem insights valiosos, nesse livro ele aborda importantes aspectos psicológicos a serem observados para quem deseja mudar algo em si.
Por indicação e empréstimo de uma amiga peguei esse livro para ler. Foi um grande acerto. Gikovate tem uma lucidez para apontar problemas e uma simplicidade para falar sobre nossa psique e nossos níveis de consciência. Ele caminha conosco desde a decisão consciente de mudança, passando pelas dificuldades no caminho e como mante-las. Ótimo livro para nos dar um ponta pé para mudar sem cair no pieguismo dos livros de auto-ajuda.