Depois do apocalipse, Deus criou um segundo mundo.
Num vilarejo enclausurado entre montanhas cheias de segredos, em que o pecado não cabe e a vida é um esforço, um homem inventa uma luneta e põe-se a adivinhar o futuro nas estrelas, desencadeando eventos que vão mudar a pequena comunidade para sempre. Uma expedição heróica às montanhas, uma viúva coxa perdida de amores por um desconhecido, um cão que pouco tem de cão a vaguear, um crime sangrento, umas almas penadas em desassossego, um culto bizarro a nascer e as extraordinárias ligações a tempos e mitos antigos, de prostitutas e profetas, de milagres e maldições, de anjos e demónios, de quando um filho de Deus caminhou no mundo até se tornar demasiado perigoso para um império e ter que morrer, para remissão do pecado universal, numa banal cruz de madeira.
"Há mais tempo do que as memórias alcançam e os escritores contam, deus fartou-se do homem. E o mundo que tanto lhe custara fazer acabou numa impiedosa hecatombe, um colapso gigantesco de labaredas e horror que exauriu o universo de milénios e milénios de vida e morte, de civilizações e guerras, de evoluções e revoluções, de eventos e inventos."
Deus chateou-se com o homem e resolveu aniquilar o mundo como o conhecemos, matou todos os seres vivos: humanos, fauna e flora. Destruiu também todas as infraestruturas, habitações e não deixou nenhuma evidência da civilização à superfície da Terra. Deus fez um reset à humanidade, destruiu para voltar a criá-la sem egoísmo, sem vícios e sem maldade. Á medida que o tempo passa os homens provam que não são capazes de fugir à sua essência, eles procuram sempre destruir, matar e cobiçar o próximo. Numa aldeia remota um homem cria acidentalmente uma luneta, e com ela diz ser capaz de prever o futuro e devido à sua clarividência é incumbido de viajar até à montanha que esconde, segundo se diz, os segredos de séculos passados. Noutro espaço temporal vamos conhecer um jovem chamado Yeshua que após passar 40 dias no deserto torna-se num profeta colocando a sua vida e de quem o acompanha em risco. Na praça de uma vila chega um homem que foi condenado à morte por enforcamento, cometeu um crime horrível e imperdoável em nome do amor. Nesta história há ainda um cão, um cão muito inteligente e que ajuda cada um dos nossos personagens a "demonstrarem " o seu verdadeiro carácter. Confusos? Têm que ler este fantástico romance de estreia do Edgar Pedro para saber como e porquê que todas as personagens se interligam na história. Com uma escrita soberba, cuidada e completamente original, o autor traz-nos um mundo com realismo mágico e traz-nos também inquietações filosóficas e que deve ser lido de mente aberta. Gostei imenso deste A Dança dos Pássaros Invisíveis, foi uma excelente surpresa e aconselho vivamente.
⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️ Que romance fantástico que li! A escrita é soberba - rica e fluida e as personagens muito interessantes numa história com realismo mágico em que o narrador, irónico, parece dialogar com o leitor. Um romance para se ler em voz alta e de sorriso escancarado com excertos como; “destrancava os cadeados do sentido da vida, pelo menos para aqueles com bom olho e melhor lógica”. Muito é posto em causa de um modo muito irreverente e filosófico. O autor, que nada sei, creio que seja um criativo com muito sentido de humor. Li e reli devagar para melhor o apreciar.
O astromante casual é a primeira personagem que, parte com as aspirações de uma vila sedenta de notícias do incerto e do desconhecido, para opor à monotonia do certo e do conhecido. A segunda personagem é o nazareno que, a História perpetuou. E claro, não poderia faltar a tentação, Madalena, nesta endiabrada trama que, soa como uma ladainha, onde se antecipa um desfecho inesperado. Qualquer semelhança com outra história, quiçá bíblica, não é mais do que um rasgo de originalidade crítica num romance que é mesmo um prazer de ler.
Para quem procura um livro disruptivo, com uma linguagem original e uma escrita refinada, está aqui uma boa solução. Não conhecia o autor, mas fiquei rendida à forma como escreve, ao imaginário que consegue construir e à reverberação que a história deixa em quem lê. É uma leitura imperdível e que merece chegar a muitos leitores.
Tudo se passa numa pequena vila mais ou menos medieval (as referências temporais não são o mais importante aqui), num segundo mundo criado por Deus, depois de este se ter chateado com a humanidade e ter destruído o mundo. Há um astromante que vê o futuro nas estrelas, uma cordilheira montanhosa que guarda segredos ancestrais e atrai ciclicamente a curiosidade dos locais. Fazem-se expedições às montanhas, anda por lá um cão divino (ou diabólico?) e todas terminam em luto. Depois, há uma novela de amor, breve e sanguínea, alguém que é morto e nunca tinha havido um homicídio. Noutro tempo, a passagem de Cristo pela Terra é re-imaginada (o autor tem uma imaginação delirante que apaixona a cada linha), com várias dimensões em paralelo com o assassino da vila.
Em suma, é um livro profundo, com algumas passagens polémicas, mas muito bem escrito e que faz o leitor refém até ao fim. É desafiante, é mágico, é genial. Só para quem tem mente aberta para a surpresa.
Fico à espera de outros livros do autor.
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Não conhecia o livro ou o autor, mas fiquei rendido. Uma história muito criativa, com várias mensagens subliminares (não sei se as "apanhei" todas) e uma original reflexão sobre o homem e a sua relação com o divino, através de um enredo cheio de personagens e situações peculiares (montanhas misteriosas, uma vila beata, uma manca, um cão bizarro, um adivinhador de futuros, um profeta torcido e muita coisa para descobrir), servidas com uma dose de humor refinado.