O diário de uma mulher em busca de emancipação e uma reflexão desassombrada sobre os mecanismos de dominação masculina e as relações entre os sexos. Uma obra que antecipou os grandes debates do feminismo moderno.
Em 1947, dois anos antes d’O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, um breve romance invadia os escaparates das livrarias e fazia correr rios de tinta na imprensa suíça. A PAZ DAS COLMEIAS é o diário secreto de uma mulher em busca de emancipação e uma viagem ao centro da desilusão conjugal de Jeanne Bornand, dactilógrafa de meia-idade numa encruzilhada da vida. Neste caderno inconformado sobre a condição feminina, alimentado pela raiva perante o desconcerto do mundo, não escapam à protagonista as diferenças inconciliáveis entre os sexos, a insatisfação das mulheres com espartilhos sociais e subalternizações várias. Contrapondo a imagem das colmeias a uma sociedade violenta regida por homens, Alice Rivaz assina, num estilo vivo e cativante, uma obra precursora e surpreendentemente actual sobre os eternos mecanismos da dominação masculina.
Quem acreditaria, ao ver-me, que alimento o gosto pelas blasfémias secretas?
Alice Rivaz (1901-1998) foi uma escritora suíça que tem não só uma rua com o seu nome, como é costume, mas também uma escola para adultos e, curiosamente, um comboio intercidades. Gosto, quero. Feminista e filha de pais com uma forte consciência social, só viria a ser cidadã de primeira categoria em 1971, quando 66% da população aprovou o sufrágio universal, portanto, com ainda 34% da população a opor-se já o século XX ia na sua recta final, e depois de, em 1959, um referendo o ter reprovado com 67% dos votos. De lembrar que o primeiro país europeu a conceder o voto às mulheres foi a Finlândia em 1906, Portugal (apesar de algumas excepções anteriores) fê-lo em 1976, nas primeiras eleições livres, e o cantão suíço de Appenzell Innerrhoden foi o último reduto até 1991. Os motivos para esta resistência? Um espírito conservador aliado ao lema “Mulher na política é contra a ordem divina”, o receio de que as mulheres envolvidas na política descurassem o seu papel de mães. Foi neste ambiente patriarcal e retrógrada que, em 1947, Rivaz publica “A Paz das Colmeias”, escrito ainda sob o espectro de uma nova guerra mundial, após o eclodir da Guerra Civil espanhola.
Os seus cantos, os seus clamores que se elevam por um sim, por um não, às vezes por menos ainda. A sua urgência de responder a esse apelo misterioso que os aglutina. Camaradagem da aventura, das feridas, dos hinos, dos juramentos. E, em cada geração, os mais inteligentes entre eles ocupam-se a dar um nome, vários nomes, à carnificina, para assim a explicarem e justificarem. Às vezes pergunto-me: que temos nós que ver com semelhantes loucos?
É durante a ausência do marido, que cumpre parte do serviço militar, que Jeanne inicia este seu diário que, tal como a protagonista de “Caderno Proibido” de Alba de Céspedes, esconde no armário da roupa, para evitar perguntas e observações constrangedoras.
- Lê-me essa obra-prima… Sou todo ouvidos. Imaginei o que aconteceria se, em vez de mim, fosse ele que me confessasse que escrevia “para si”… Como me teria mostrado atenta, respeitadora do seu trabalho! Nunca me passaria pela cabeça troçar dele.
É nesse caderno que escrutina o seu casamento em crise…
Dia após dia, fui, como sempre, acumulando censuras e queixas que não formulava, ou exprimia imperfeitamente através de esboços de frases nunca acabadas. (…) Mesmo que a nossa língua continue paralisada, há todo um movimento dentro de nós que se exprime sem recorrer a palavras. É o nosso passo que se torna arrastado; a nossa voz, mais cortante e aguda; os nossos olhares, mais severos.
…se interroga sobre a devastação do tempo sobre o seu corpo…
Chamarei, então, um outro, um novo amor? Agora que já não sou quem era? Que não fiz tudo o que julgava poder fazer? Mesmo essa beleza que me atribuíam, e à qual não costumava dar nenhuma importância, agora que começo a perdê-la, surpreendo-me a levá-la a sério, a tremer a vê-la desaparecer em breve.
…questiona arrojadamente o desejo sexual feminino dentro e fora do casamento…
Pensa que este tipo de satisfação lhe é devida, por direito, pura e simplesmente. E o que me deixa estupefacta é que ele se contente com esses estranhos hábitos de animais domésticos. Que não sinta nenhum desejo de acender, ou até de reacender, em mim alguma atracção por ele, que imagine que me vou entregar a ele só porque é meu marido, acho tudo isso assombroso. E as pessoas ainda se espantam por as mulheres terem amantes!
…põe em causa a desigualdade de género…
Aquilo de que não gostamos é de injustiça. Aquilo que nos revolta é nunca termos momentos de ócio, e isso por causa dele, que se diz mais forte do que nós, e finge amar-nos, querer proteger-nos! Aquilo de que não gostamos é dessa falta de solidariedade entre eles e nós, dessa incorrecção primordial na distribuição das tarefas quotidianas entre eles e nós.
…destabilizando a representação tradicional da mulher. É assim que surge a imagem da colmeia, o verdadeiro sistema matriarcal, a alternativa subversiva ao carácter belicoso inerente à masculinidade tóxica.
Será necessário encontrar o meio de neutralizar a nocividade assassina do homem adulto, pois esta corre o risco de um dia transformar a Terra inteira num deserto calcinado (…). A sociedade das abelhas é muito mais antiga e evoluída do que a dos homens. (…) Quem sabe se uma das condições desse estado de perfeição não foi pôr fora de jogo, através de um método deliberado e concertado, os machos amotinadores.
کتاب آرامش کندوها "واقعیت اینست که ما عاشق بودیم و آنها از ما خدمتکار و آشپز ساختند..." "بیش از پیش می بینم و حس میکنم که آنچه در ازدواج می جسته ام تشکیل خانواده نبوده که عشق بوده است"
راوی داستان زنی است که چندین سال از ازدواج او گذشته است و دیگر همسرش را دوست ندارد و در جستجوی عشق می گردد. اما هر بار تنها گذاشته می شود و سرخورده می گردد، ولی باز عطشی سیری ناپذیر برای پیدا کردن عشق واقعی زندگیش را دارد . داستان همزمان زندگی چند زن متاهل دیگر را هم دنبال می کند که همکارهای راوی داستان می باشند و هیچکدام خوشبخت نیستند و هر کدام دچار سرنوشت ناخوشایندی می شوند. این کتاب را به کسانی که تنها هدف زندگیشان عشق و هیجانهای آن می باشد و در نبود عشق دیگری دچار پوچی می شوند توصیه می کنم.
Rivaz foi uma escritora prolífica e uma mulher tenaz, entretanto relativamente apagada pela historiografia masculina fora das fronteiras da sua terra natal. Autora várias vezes premiada, nascida na Suiça, é conterrânea e contemporânea de Annemarie Schwarzenbach – e a semelhança não termina aí. Filha de protestantes (afinal, falamos da Suíça)- o pai, professor, deixará esse emprego para passar a devotar o seu tempo ao então recente Partido Socialista -, Rivaz não é estranha às limitações financeiras (suas e dos demais), situação que apressará a sua formação e posterior entrada no mercado de trabalho, atuando como alavanca que a empurra para uma vida de mulher trabalhadora e independente. Dividindo o seu tempo entre a profissão de professora (Rivaz era uma pianista de excelência), de jornalista, de pintora, de funcionária pública nas Nações Unidas (Organização Internacional do Trabalho) e de escritora, Rivaz compreende perfeitamente as limitações do papel que cabe às mulheres e a sua luta pela independência e afirmação profissional desaguam numa recusa terminante face ao casamento. E ainda antes de Simone de Beauvoir começar a sua produção feminista, apresenta o seu pensamento em duas obras que incidem diretamente sobre a condição da mulher. Uma delas, publicada em 1947 é este confessional A paz das colmeias.
(...)falei demasiado, e disse o que nunca deveria confiar a ninguém, nem sequer escrever alguma vez neste caderno. Lamentei-o vários dias. Este género de confidências já não é para a minha idade.
Partindo de um diário que a sua protagonista vai mantendo em segredo (a diarística sempre foi uma ferramenta de empoderamento feminino), Rivaz vai traçando um retrato parcialmente biográfico no qual a mulher se debate pela emancipação tanto no plano pessoal como no profissional. No debate aberto por Rivaz, porém, a emancipação feminina está despida de doutrinação e, ainda que, muito simplesmente, assente na recusa de arquétipos (mitos) de pendor masculino - como os que Beauvoir exporá na publicação de O segundo sexo -, Rivaz não entra na vertente militante, deixando, na boca de mulheres comuns, com vidas banais, a denúncia da dominação patriarcal:
Às vezes pergunto‑me: que temos nós que ver com semelhantes loucos? Sim, o homem no exercício do seu poderio terreno transforma‑se de repente em Átila, Nero, Hitler, Napoleão, e no exercício do seu outro poder deixa que o preguem em cruzes, lhe arranquem a língua, o trespassem com flechas perante as Evas e as Marias consternadas que começam por se mostrar contrariadas e depois se afadigam a recolher os membros decepados, a juntar e contar os mortos, a limpar o sítio.
A heroína de A paz das colmeias apenas pode dizer estas coisas no silêncio de um diário. Não é a mulher que se esperaria a defender o feminismo moderno. Jeanne, afinal, é uma mulher sujeita a um casamento desigual, profundamente insegura da sua feminilidade, uma mulher a chegar à meia idade certa de que a beleza que a abandona corresponde ao único atributo que a tornava bela aos olhos dos homens - homens com quem continua a preocupar-se apesar do, ou talvez por causa do, seu casamento frustrado. «[H]á tantas mulheres que preferem declarar-se feias em vez de correrem o risco de se enganar, julgando-se melhores de que são», diz.
(...)se não duvidássemos de nós, é provável que nos apresentássemos tal como somos. Mas, quanto mais duvidamos, mais exacerbamos aquilo que ele espera de nós, visto que idealizamos tudo o que amamos, o que admiramos e servimos.
Chegada a casa do escritório - onde, em comunhão feminina, bate à máquina, dia sim, dia sim, os mesmos papéis - Jeanne não tem voto na matéria: cozinha e limpa para um marido que nunca a deixa «participar verdadeiramente do que diz». Esposa e mãe de um homem que já não reconhece, agarra-se a ele como a um último reflexo de si mesma:
[A mulher] sempre se ocupou do outro, (...)e ocupou-se tão intensamente que por vezes me pergunto se não haverá nisso uma espécie de jogo de espelhos. Por detrás do outro, não insistimos, no fundo, em procurar-nos, em definir-nos a nós mesmas? Um nós embelezado, idealizado; falsificado porque adornado, enfeitado, corrigido, com o objectivo de agradar ao outro, de confirmar o objecto do culto, de fazer falar o espelho. Pois o verdadeiro espelho das mulheres não é o que está encastrado na porta do guarda-fatos ou pousado sobre a lareira, ou ainda escondido nas suas malas. O nosso verdadeiro espelho é o olhar, são os gestos do outro, as suas palavras, as suas súplicas, os seus hinos ou anátemas.
Pelo menos, até ao dia em que o diário sai da gaveta e Jeanne discorre livremente sobre o que são e o que representam as amarras a que se sujeita. Os horários e salários desiguais, as jornadas de trabalho duplicadas pela lida doméstica, as pretensões de carreira, nada escapa ao escrutínio desta mulher que conhece bem Aristófanes e a sua greve ao sexo (Lisístrata), chegando a propor, de forma despudorada, se uma igual recusa não levaria a mudanças mais rápidas e radicais:
Aquilo de que não gostamos é dessa falta de solidariedade entre eles e nós, dessa incorrecção primordial na distribuição das tarefas quotidianas entre eles e nós. Quando é que eles aprenderão finalmente o sentido de justiça que, no entanto, lhes engrossa por vezes as vozes nos parlamentos, nas catedrais, que os faz descer à rua e erguer barricadas? Parece que dariam até a vida por essa grande palavra, e chegam a fazê-lo, é verdade. Preferem empunhar uma espingarda ou uma metralhadora em vez de uma vassoura, uma bela bandeira em vez de uma escova ou de um sabão, e combater os sinais abstractos de injustiça em vez de suprimir a que está ao alcance das suas mãos e de que eles próprios são os causadores.
A libertação da introspecção, alimentando uma autoanálise até então reprimida, leva Jeanne por caminhos que Rivaz, decerto, conhecia bem - a relação entre homem e mulher (casal e não só), as relações de poder estabelecidas por uma sociedade que a remete para um papel de segunda categoria estão na sua lista de preocupações mais urgentes. Jeanne é uma mulher desencantada com o conto do viveram felizes para sempre, o conto da cara-metade, o conto do vigário. Sem encontrar respostas para a sua vida, vira-se para a comunidade e reflete globalmente:
Não tinhamos previsto nada, nós, as mulheres; como sempre, deixámo-los fazer o que quisessem, trocar ameaças, desfilar, chegar a vias de facto. Vimo-los enfurecerem-se. Parece que ao longo da História os deixámos sempre enfurecer-se. E aquilo que, enquanto mães, reprimimos nos nossos pequenos, admiramo-lo depois nos nossos pequenos tornados homens. Basta que o rapazinho se torne adulto para que o gesto que merecia a reprimenda, ou até o açoite, tenha para as mulheres um outro nome. O mesmo acontece com as palavras «crueldade» ou «violência» , que de repente significam coragem ou heroísmo.
Eventualmente, porém, também o espaço do diário lhe será negado, e Jeanne, como tantas outras mulheres, terá de encontrar o caminho de menor resistência para viver a sua vida:
Eu bem suspeitava de que não poderia continuar a escrever neste caderno quando o meu marido regressasse. Nunca pude ter um diário íntimo com ele em casa. (...) Certas presenças, e sobretudo a do meu marido, cortam-me das minhas próprias raízes, impedem-me de me aproximar de mim.
Apesar de criar uma heroína sui generis, uma heroína que representa mais um número do que um nome, Rivaz deixará, sob a forma de diário fictício inacabado, reflexões que virão a alimentar o feminismo moderno advogado por tantas outras mulheres da sua geração, mulheres corajosas como ela, que abriram os caminhos que hoje trilhamos ainda com tão pouca confiança! O seu trabalho é por isso um filão que importa continuar a explorar. Valham para isso as pequenas editoras que ignoram o consumo das massas.
Será necessário encontrar o meio de neutralizar a nocividade assassina do homem adulto, pois esta corre o risco de um dia transformar a Terra inteira num deserto calcinado(...). Impedir todo o guerreiro de crescer, de despontar, e talvez todo o sábio de inventar? Será necessário chegar a isso? A sociedade das abelhas é muito mais antiga e evoluída do que a dos homens. Quem sabe por que estádios passou para chegar a essa organização tão perfeita da vida e do trabalho? Quem sabe se uma das condições desse estado de perfeição não foi pôr fora de jogo, através de um método deliberado e concertado, os machos amotinadores. Sacrificá-los sem excepção, uma vez cumprido o seu papel de machos, e isto para que a colmeia viva, prospere, continue. Talvez tenham sido necessários milhares de desastres contínuos e a ameaça de um desaparecimento completo da espécie abelha para que as abelhas chegassem a esse extremo, quem sabe? Mas nós não somos abelhas. (...) Ah! Se eu fosse homem, teria receio... Mais algumas guerras como esta guerra de Espanha, mais países em ruínas, cobertos de cadáveres, até cadáveres de crianças, e talvez os olhos das mulheres se abram. E a sua raiva erguer-se-á devastadora, sem piedade. Eficaz. Pois somos mais numerosas. Sim, os homens deviam ter cuidado. Deviam pensar mais frequentemente nas abelhas, na paz das colmeias. No preço pago pela paz das colmeias...
Romanzo-pamphet che anticipa i temi del femminismo militante mettendo in discussione i capisaldi di un’epoca: la minorità femminile e la plausibilità del mondo maschile fondato sulla guerra e sulla sopraffazione del forte sul debole.
Attraverso il diario di Jeanne, casalinga e lavoratrice nella civile Svizzera degli anni ‘40, Rivaz scardina i luoghi comuni e i pregiudizi sulla relazione coniugale e sulla sottomissione delle donne all’ordine sociale, etico, ontologico imposto dagli uomini. Soltanto due anni dopo la pubblicazione di questo libro De Beauvoir avrebbe dato alle stampe “Il secondo sesso”, dove i temi trattati qui sarebbero stati analizzati nel più ampio e dettagliato dei modi.
Jeanne, donna comune, rappresentante di una folta schiera di donne invisibili come lei, prende in mano la penna per scrivere un diario segreto a cui rivelare i suoi dubbi e avvicinarsi al nucleo ardente e veritiero dei suoi più intimi sentimenti.
Accade così che la scrittura diventi strumento di consapevolezza, occasione di poter rinominare le cose e attingere alla forza nascosta di un significato nuovo. La sovversione dei parametri di giudizio sul mondo aprirà una falla dentro l’ordine ereditato dai padri e prospetterà l’evento inevitabile di un nuovo assetto futuro (di cui l’alveare diventa simbolo e programma).
“Ecco a che punto siamo ora. Non ci bastano tutto il nostro amore e tutta la nostra determinazione per accudire la delicata covata degli uomini. Insegniamo loro a camminare, a parlare, li educhiamo li vestiamo. Ma non appena sfuggono dalle mani, dalle nostre case, dalla sorveglianza vigile dei nostri occhi, eccoli sparire in massa. Dove vanno? Lo si legge poi nei libri di storia, si va al cinema a vedere cosa ne è stato di quei corpi così curati, così puliti e ben vestiti da mani di donna. Lontani da quelle mani ecco che si coprono di ferite e sporcizia, quegli esseri coccolati, lavati e nutriti a orari regolari. Poi cadono a milioni, gli occhi chiusi dall’orrore, su tutti i campi di battaglia del mondo. Ecco cosa gli accade quando se ne vanno lontani da noi, lasciano le nostre dimore, dimenticano le nostre voci per rispondere al richiamo delle loro.”
Em A Paz das Colmeias, Alice Rivaz dá-nos a voz de Jeanne, uma mulher que escreve num caderno secreto e, nele, expõe a sua solidão, os seus amores falhados e a sua luta contra a rotina conjugal. O caderno é o seu espaço de sobrevivência, mas também de clandestinidade:
“O Philippe chega amanhã. Espero poder continuar a escrever neste caderno, apesar da sua presença, embora tenha um grande receio de ser impedida de o fazer (...). Passamos os serões na mesma divisão, com a torneira do rádio aberta, o que me causa horror. É verdade, há ainda esse rádio. Tinha-me esquecido. A partir de amanhã terei o Philippe e, ainda por cima, o rádio. E tudo aquilo de que gosto desaparecerá.”
Através da escrita, Jeanne diz o que não pode no quotidiano. Revela o seu conformismo e silenciamento. Critica os homens em geral, os arrependimentos fáceis, as desculpas vazias:
“O meu marido voltara para mim, arrependido como todos eles ficam em situações semelhantes. Arrependido! Céus! Como se fosse isso que esperamos deles! Será que não compreendem mesmo que o seu ‘desculpa, não volta a acontecer’ não apaga nada e que nos seus belos remorsos não encontramos nada que nos possa seduzir e reconquistar?”
Ao mesmo tempo, continua vulnerável, à procura de amor:
“Mas que tinha eu esperado mais, chamado mais, senão o amor? Chamarei, então, um outro, um novo amor? Agora que já não sou quem era? Que não fiz tudo o que julgava poder fazer? Mesmo essa beleza que me atribuíam, e à qual não costumava dar nenhuma importância, agora que começo a perdê-la, surpreendo-me a levá-la a sério, a tremer ao vê-la desaparecer em breve (...).”
O livro mergulha nas contradições femininas: o desejo de estar só, mas também o medo da solidão; a crítica feroz aos homens, mas a persistência em procurar um encontro verdadeiro; a aceitação do envelhecimento e, ao mesmo tempo, a dor de perder a atenção e o valor que a sociedade dá à juventude.
“Estar sozinha... sozinha... sozinha... Por uma vez, finalmente! Já não sou eu própria, preciso de me reencontrar. (...) Ficar a sós comigo, durante muito tempo. Depois, creio que tudo ficaria melhor. (...) Preciso de voltar a ver o céu, de afastar estes muros.”
É uma narrativa que reflete sobre o silêncio e a incomunicabilidade:
“Será que, sem palavras, não podemos comunicar nada aos outros? Será que a nossa solidão é assim tão infinita?”
A colmeia é organizada, com um movimento constante mas previsível. Por fora, parece harmoniosa, “em paz”. Mas por dentro, cada abelha está aprisionada no seu papel, sem liberdade individual.
Ho trovato in questo romanzo una forte affinità con Quaderno Proibito di Alba de Cespedes. Una donna sposata, Jeanne, tiene un diario di nascosto dal marito, in cui annota le sue riflessioni di sorellanza con le amiche e colleghe d'ufficio, tutte diverse da lei (quella single, quella sposata e felice, quella divorziata...). Nel romanzo riflette anche profondamente sulla disparità di impegni nella vita coniugale, possono sembrarci osservazioni scontate, ma penso che questa situazione, descritta dall'autrice nel 1947, si ripeta ancora oggi in molte case di Paesi cosiddetti progrediti. A volte sembra che sia stata fatta molta strada da allora, ma se poi guardiamo ognuno nel nostro focolare... chi lo sa.
Increíble que este libro esté escrito entre nuestra guerra civil y la guerra mundial y suene tanto a la actualidad. ¡Lo que he podido subrayar! Y qué sensación leerte en una novela, leer tu vida, tus impresiones, tus pensamientos. Muy poco distanciados con tus vivencias personales, ochenta años después.
Que livro maravilhoso! Um livro de 1947 que, não é datado, mas atual e pertinente, como foi “O caderno proibido” de Alba de Céspedes (de 1952) em que se analisa as relações entre sexos e o desencanto com o matrimónio num diário secreto de Jeanne Bornand. Um livro que, faz importantes reflexões sobre a natureza da relação que estabelecemos com a imagem e a opinião dos outros no nosso universo pessoal. A injustiça na distribuição de tarefas domésticas e tantos outros temas íntimos bem expostos numa linguagem clara e concisa. Um pequeno grande livro.
“En una historia de las ideas feministas en la que la amnesia es una amenaza constante, Alice Rivaz merece recuperar el lugar y el créditos que se le deben” (Mona Chollet en la introducción de este libro)
Una delle scoperte più interessanti di quest'anno.
Vi lascio una citazione: "Tutto sommato , non so più se oserò parlargli di divorzio. Non so più cosa voglio, non so più cosa mi piacerebbe. Mi sento un po' come un'alga, fluttuo. Ma un'alga è trattenuta ancora da qualche parte nell'acqua, da altre alghe, mentre io, sembra che nulla più mi trattenga. Galleggiante, libera come un'annegata".
Annie Ernaux ha ragione: "Per me Alice Rivaz è una vera sorella di femminismo".
Al principio de la novela he sentido su forma de narrar como hipnótica, como si realmente al escribirla las palabras hubiesen traspasado a la autora. Por otro lado,comprobar en qué momento está escrita la novela, más que pensar lo adelantada que está a su tiempo, me ha hecho pensar como a pesar del paso del tiempo las preocupaciones profundas de un modo u otro nos son comunes a todas. Como dirían las hijas de Felipe , que lo que te pasa ya le ha pasado a una monja en el barroco, pues un poco esa sensación. Por último, descubrir que la autora es hija única me ha disparado muchas preguntas sobre si este dato tiene relación con la soledad y con el anhelo de la niñez que de alguna forma, para mí, empapaba la escritura, y me hacía sentirme identificada.
“Étienne todavía no me había llamado. Los días pasaban y seguía sin llamar. Desde entonces viví pendiente del teléfono. ¡Ah, si hubiera sido novelista, qué no habría escrito durante esos días de agotadora angustia en los que notaba la garganta seca, la cabeza en llamas y el corazón encogido! Disparates, no cabe duda.”
-Es un libro al que yo calificaría como sin mucha trama, por cuanto me parece más como un ensayo con su protagonista que cuenta en un diario personal sus diversas ideas y vivencias al margen de su marido, que entonces se encuentra de viaje por trabajo. Su sinceridad es avasalladora desde la primera línea, cuando anuncia que ya no ama a su esposo. A partir de ahí y hasta el final, Rivaz usa su pluma bruta, sincera y filosa para dar cuenta de las frustraciones cotidianas que viven las mujeres en el ambiente doméstico y familiar, con el esposo como protagonista tanto de su vida como de la suya, dueño de todas las decisiones que deberían considerar a toda la familia. En contraste (aunque no demasiado), están sus amigas, en quienes se apoya quien escribe, y a quienes también ve pasar por las mismas frustraciones suyas. Con un mundo muy distinto como meta y utopía, la autora es lo suficientemente sincera para aterrizar el destino de las mujeres al hombre como freno y cuerda que las ata. Escrito en los años 40, da tristeza que no deje de sentirse cercano en cada una de sus páginas, lo que me llevó a subrayar un montón de pasajes.
A história de uma mulher presa a um casamento falhado; uma espécie de árvore apodrecida que se vai aguentando mesmo não tendo mais nada que a sustente.
Foi uma leitura interessante e triste ao mesmo tempo, o que me faz sentir uma certa mágoa pela protagonista.
Esta história no fundo é o reflexo de tantas e tantas mulheres que viveram e ainda vivem uma vida infeliz, condenadas pelo machismo, esse carrasco nojento que insiste em se perpetuar e condenar réus inocentes a uma existência desgraçada.
"E deixar de amar seria então, deixar de conhecer junto de um homem essa espécie de vertigem que nos proporciona o sentimento de sobrevoarmos o nosso próprio abismo?"
A mí modo de ver es un ensayo. Escribe un diario con lo que va ocurriendo y pensando acerca de su marido y hombres en general. Cuando se publicó en 1947 imagino que sería como una bomba leer estos pensamientos en una mujer.
"He de confesar que ahora me gustaría vivir otro amor. Claro que ya no tengo una carita de veinteañera, ni siquiera de treintañera. Además, ahora ya sé lo que me espera, lo que espera a cualquier amor en esta vida, lo que cuesta, lo que podemos esperar o más bien no esperar de un hombre. Sin embargo, sabe Dios por qué, quisiera saborear un poco más de su comedia, de su bonita comedia previa a que se abra el telón. De su Preludio. Porque, para ellos, el amor se limita al Preludio, a las palabras dichas ante el telón aún cerrado, y cuando arranca la obra, cuando se aparta el telón, empieza algo completamente distinto. ¿Cómo quieren que la obra esté bien interpretada con semejante malentendido entre los actores ya desde las primeras réplicas? Lo que sucede es que éramos enamoradas y ellos nos convirtieron en amas de casa, en cocineras… Eso es lo que nos resistimos a perdonarles."
"Ya no sé lo que quiero, no sé qué preferiría. Ya no tengo claro lo que me gustaría. Me siento un poco como un alga; floto. Pero un alga se aferra en el agua a otras algas, mientras que yo parezco no aferrarme ya a nada. Tan flotante, tan libre como una ahogada. Pero no a todos los ahogados los encuentran ni los rescatan. En cambio, si las corrientes grandes no los arrastran a lo lejos, todos se mecen. ¡Como yo! Y seguro que por eso me encuentro siempre en el mismo punto, por eso a veces regreso incluso a la posición de partida."
Les livres sont la seule catégorie artistique que je m'autorise à noter de toutes leurs petites étoiles, non par objectivité (déjà car ce n'est ni matérialiste ni dialectique) mais par amour du geste (et parce que je décide après tout). J'ai déniché ce livre au hasard dans une petite librairie place de Verdun et je l'ai savouré du premier au dernier mot. J'ai aimé le calme plat qui règne, le ton doux-amer, le minuscule soupçon de misandrie qui se dessine (Alice tu tiens un truc, on se concentre !!!!). J'ai aimé la manière dont la narratrice s'indigne, les drames que l'on vit à travers ses yeux, j'ai aimé qu'il se lise vite, le style presque vieillot. La sévérité littéraire qui pousse à une femme qui couche des sentiments sur le papier à se faire mijaurée. C'est peut-être l'un des premiers livres que je conseille lorsque l'on fait l'erreur de me demander, il est consensuel, doux, sûr, rassurant (on voit que ma mère ne m'aime pas je sais). En parlant d'elle, elle l'a lu et ne l'a pas aimé, raison de plus. J'aime le nom aussi, il est vendeur, j'aime le mot ruche, j'aime la métaphore très peu subtile. J’aime la paix associée à la disparition des hommes et je pense que le livre est à une réflexion sur le patriarcat intériorisé prêt d’être très pertinent, mais étant donné que l’auteur ne peut et ne doit pas tout faire. Alors bougez-vous un peu et réfléchissez en supplément de la lecture merci.
Le personnage de Jeanne nous emporte au travers de son quotidien et de sa réalité de femme et surtout d'épouse. Les mots d'Alice Rivaz écrits dans les années 40, résonnent encore totalement aujourd'hui. Une dose de sororité portée par un souffle de révolte.
"C'est que nous étions des amoureuses, et ils ont fait de nous des ménagères, des cuisinières... C'est cela que nous avons du mal à leur pardonner".
Magnífica y sublime. Desde una perspectiva que puede parecer ligera y casual, Rivaz pone sobre la mesa la problemática de ser mujer en un sistema patriarcal, descrito de modo elegante pero honesto. Me encanta.