Um feito literário da autora vencedora dos prêmios São Paulo de Literatura, Jabuti e Oceanos, Depois do trovão investiga a formação de um país marcado pela violência ao iluminar o episódio da Guerra dos Bárbaros.
Durante os séculos XVII e XVIII, a Coroa portuguesa financiou expedições pelo interior do Nordeste do Brasil com o objetivo de extinguir os povos da região, num longo conflito que ficou conhecido como "Guerra dos Bárbaros". Bandeirantes paulistas lideraram várias dessas tropas, devastando as comunidades por onde passavam. Essas disputas são o pano fundo de Depois do trovão, romance de Micheliny Verunschk que tem como protagonista Auati, filho de uma indígena com um frei jesuíta. Levado ainda jovem pelo próprio pai em uma dessas missões, ele é forçado a participar da destruição em série e a se reinventar como Joaquim Sertão. O que fazer quando ele próprio é vítima e perpetrador de tamanha atrocidade? Em que medida a guerra consegue embrutecer uma pessoa e esconder quem realmente se é? Com um trabalho primoroso de linguagem — que recorre a elementos do português castiço, da língua mirandesa, do tupi-guarani, do nheengatu paulista e das línguas tapuias —, Micheliny Verunschk segue a tradição de autores como Guimarães Rosa e Maria Valéria Rezende e ilumina as contradições e a humanidade do sertão, em um trabalho que dialoga diretamente com O som do rugido da onça e Caminhando com os mortos.
"O livro é parte memórias íntimas, parte relato de guerra, parte aventura épica, parte recriação linguística, parte história de amor. Depois do trovão pode ter várias leituras, todas elas fascinantes. Há anos uma leitura não me transportava tanto. Obrigado por esse livro, Micheliny." — Alexandre Vidal Porto
Micheliny Verunschk é uma escritora, crítica literária e historiadora brasileira. É Mestre em Literatura e Crítica Literária e Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC São Paulo. É autora de livros de contos, poesias e romances, incluindo Nossa Teresa: vida e morte de uma santa suicida (Patuá, 2014), ganhador do prêmio São Paulo de Literatura, e O som do rugido da onça (Companhia das Letras, 2021), que conquistou o Jabuti de melhor romance literário e o terceiro lugar do prêmio Oceanos.
Depois do Trovão é um livro de peso, não só porque sua autora recém saiu com os prêmios máximos do Oceanos e Jabuti com seus últimos livros, mas porque a referência a Guimarães Rosa na sinopse da Companhia das Letras não é um exagero em absoluto. Aviso que Depois do Trovão me tomou mais tempo em ler do que os livros da Micheliny Verunschk me tomam (e a acompanho desde sua época de Patuá), se os outros me permitiram sorve-los com voracidade, a lapidação da linguagem desse fez a leitura se tornar muito mais difícil, mas não menos brilhante ao usual da autora, inclusive não brinco ao dizer que este é o pico do trabalho em linguagem dela, quando acho que não poderia me surpreender mais, Micheliny vem com um novo petardo livro após livro.
LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOKO. TEM GUERRA HOMEM QUE NA VERDADE É MULHER PASSAGENS QUE NAO ENTENDI NADA NORDESTE COLONIZAÇÃO COM VÁRIOS COLONIZADORES OTÁRIOS TEM PROPOSTA DE LINGUAGEM BEM CABULOSA. AMEI.
Logo no começo de Depois do Trovão, eu me peguei emocionada lembrando de Grande Sertão Veredas, um livro que eu amo. Era as reminiscências ao contar a história, um narrador mais velho, a linguagem, o sertão...
Mas o livro de Micheliny Versunschk traz outras camadas: o foco da narrativa é indígena, assim como seus outros livros. Estamos no século XVII, no meio das guerras entre os colonizadores e a população indígena nativa, algo que não se vê nas aulas de história do Brasil. A linguagem também oscila, variando com o que está sendo narrado: às vezes temos uma proximidade maior com o português padrão (há até uma carta em escrita formal) e às vezes temos tantas palavras de idiomas nativos, que fica um pouco confuso (mas, como é dito no final do livro, é possível achar o significado das palavras na internet, e por isso que não há notas - e temos aí outra semelhança com o livro de Guimarães Rosa: o melhor é se entregar a história e ao estranhamento e a releitura, até ao encantamento).
A capa do livro é linda e totalmente pertinente: estamos sim falando da identidade do nosso país.
Agradeço a editora por me disponibilizar esse livro pelo NetGalley.