Escrito em 1959, Rã no Pântano, de António de Almeida Santos, na altura advogado a exercer em Lourenço Marques (actual Maputo), foi proibido pelo regime de Salazar sem grande surpresa para o autor. Requisitado para censura, no relatório justifica-se que “são nove contos, sete dos quais contém assuntos de índole imoral e anti-social, motivo por que entendo que o presente livro não possa circular no País”. “O meu livro foi apreendido, se bem ajuízo, por razões de intolerância política e de intolerância religiosa. Não sei qual das intolerâncias pesou mais. Talvez a soma de ambas. Quem hoje o ler não encontrará razões para ele ter merecido tamanha honra”, disse o político em 2004.
ANTÓNIO DE ALMEIDA SANTOS nasceu em Seia, a 15 de Fevereiro de 1926. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e logo se fixou em Moçambique onde exerceu a advocacia até 1974, ano em que regressou a Portugal a convite do Presidente da República António de Spínola. Após o 25 de Abril, foi ministro da Coordenação Interterritorial dos I, II, III e IV Governos Provisórios. No IV Governo Provisório ocupou também o lugar de ministro da Comunicação Social. No I Governo Constitucional tinha a seu cargo a pasta da Justiça, aderindo então ao Partido Socialista (1976-78). Foi ministro adjunto do primeiro-ministro no II Governo Constitucional (1978). Desempenhou um papel determinante na primeira Revisão Constitucional em 1982. Foi ministro de Estado e dos Assuntos Parlamentares na Governo PS|PSD (1983-85). Nas Eleições Legislativas de 1985 encabeça a lista do PS como candidatos a primeiro-ministro. Volta a ter, de novo, um papel preponderante na Revisão Constitucional de 1988|1989. A partir de 1990, volta a destacar-se na direcção do PS, integrando o Secretariado Nacional. Em Outubro de 1995 é nomeado para o cargo de presidente da Assembleia da República que ocupou até 2002. Foi autor de mais de duas dezena de livros, incluindo ensaios jurídicos. Faleceu a 18 de Janeiro de 2016, em Oeiras.
«My book Rã no Pântano was apprehended, if I understand correctly, for reasons of political intolerance and religious intolerance. I don't know which of the intolerances weighed the most. Perhaps the sum of both. Those who read it today will find no reason why it deserved such an honour. But it is this same conclusion that documents the extent to which the dictatorial regime led to its ideological leadership and cultural repression. They tell me that the booklet was not only banned but excommunicated. Indexed. If so, the degree of intolerance rises. The Inquisition was long over.»