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Crónicas do Mal de Amor

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«Ferrante disse que gosta de escrever histórias “em que a escrita é clara, honesta, e em que os factos — os factos da vida normal — prendem extraordinariamente o leitor”. Com efeito, a sua prosa possui uma clareza despojada, e é muitas vezes aforística e contida (…). Mas o que os seus primeiros romances têm de electrizante é que, ao acompanhar complacentemente as situações desesperadas das suas personagens, a própria escrita de Ferrante não conhece limites, está ansiosa por levar cada pensamento para diante, até à sua mais radical conclusão, e para trás, até à sua mais radical origem. Isto é sobretudo óbvio na forma destemida como os seus narradores femininos pensam sobre filhos e sobre maternidade.» Do Prefácio de James Wood

385 pages, Paperback

First published January 1, 1992

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About the author

Elena Ferrante

39 books19.5k followers
Elena Ferrante is a pseudonymous Italian novelist. Ferrante's books, originally published in Italian, have been translated into many languages. Her four-book series of Neapolitan Novels are her most widely known works.

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5 stars
427 (30%)
4 stars
615 (43%)
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282 (20%)
2 stars
61 (4%)
1 star
17 (1%)
Displaying 1 - 30 of 197 reviews
Profile Image for Orsodimondo.
2,458 reviews2,430 followers
March 9, 2023
LA FRANTUMAGLIA

description
Vivian Maier

Non so se esista un caso Elena Ferrante: scrittrice misteriosa o alias di nome già noto, se non addirittura nome de plume di scrittore uomo?
Le teorie sono diverse, i nomi fatti anche.
Lei continua a nascondersi e a rispondere alle interviste solo per email.

È nata a Napoli, ha vissuto in Grecia, si è trasferita a Torino, vuole restare lontana dalla pazza folla o è costretta a mimetizzarsi per motivi contrattuali o di marketing?
Non lo so. E mi interessa anche poco.

Per me è qualcuno che scrive bene, e trovo curioso che i suoi romanzi ante quadrilogia (L'Amica Geniale) che preferisco siano proprio il primo e l’ultimo, così lontani (ventuno anni) e così diversi.

description
Ferdinando Scianna

Qui siamo di fronte a un’interessante operazione editoriale che raccoglie insieme i primi tre, e ‘imita’ identica pubblicazione in lingua spagnola.

Trovo interessante la prefazione all’edizione spagnola, qui tradotta e riportata, che focalizza alcuni temi della narrativa di Ferrante che hanno sempre colpito anche me: le protagoniste che non sono mai tutte d’un pezzo, della cui stabilità mentale è lecito dubitare, considerato che quella emotiva è labile sin dal principio.
La violenza psicologica che serpeggia dall’inizio alla fine.
L’assenza di buoni sentimenti senza un lato oscuro, a cominciare proprio da quelli familiari, di regola considerati i più rassicuranti.
Donne protagoniste tutte nate a Napoli e poi trasferite più a nord, che pensano tutte alla madre in modo ossessivo, vincolo dal quale non riescono a liberarsi.
Donne protagoniste che si portano dentro instabilità e infelicità, vissute come una colpa, condanna da espiare, perché in questa società l’angoscia è ormai uno scandalo.

description
Vivian Maier

La dualità dialetto/italiano che ha un peso rilevante: in questi tre primi romanzi, l’insulto, la volgarità, l’oscenità si esprimono più facilmente liberamente e intensamente in dialetto, che appartiene alle viscere; mentre la serenità, il razionale, il garbo si traduce in italiano, che appartiene alla ragione (le cose cambiano in qualche modo nei romanzi saga de ‘L’amica geniale’).

description
Ruth Orkin
Profile Image for Teresa.
1,492 reviews
February 21, 2019
Quem é Elena Ferrante?
Especula-se, com base nas suas obras, que seja uma mulher, com cerca de 60 anos e que nasceu em Nápoles. Só dá entrevistas por escrito e apenas o seu editor conhece a sua identidade. O anonimato permite-lhe uma total liberdade na escrita, bem explícita nos três romances curtos que compõem As Crónicas do Mal de Amor.

Delia, Olga e Leda são três mulheres, com histórias de vida distintas, que se aproximam num ponto comum: a Maternidade. São mães que amam com loucura os filhos, mas não são as mães que a sociedade obriga e aprova, sob pena de serem tituladas de desnaturadas. Não pensam que os seus filhos são os melhores e mais perfeitos; por vezes, aborrecem-se com eles; esquecem-nos; desleixam-nos; abandonam-nos... porque são mulheres autênticas, imperfeitas, que sentem, que vivem; que amam e odeiam.
Os homens destas mulheres, embora sejam o rastilho que despoleta o sofrimento feminino, são também eles vítimas das suas fraquezas e das suas paixões; generosos e egoístas; heróis e cobardes; fortes e frágeis...

Com a narrativa na primeira pessoa e com uma escrita pura, sem pejo, por vezes cruel, rude e obscena, Ferrante confrontou-me com mulheres verdadeiras, perante as quais tive de "fechar os olhos" para não me rever nelas, no seu desespero, no seu egoísmo, na sua vulnerabilidade, na sua humanidade, ...
Os Dias do Abandono foram os mais marcantes e difíceis de "viver"; algumas vezes tive de interromper a leitura e senti tanto medo que quase cedi à tentação cobarde de desistir de Ferrante.

Um Estranho Amor
"A minha mãe afogou-se na noite de 23 de Maio, dia do meu aniversário..."
Delia empreende uma busca para saber a causa do suicídio da mãe, Amalia, de quem foi sempre distante, e descobre segredos que lhe revelam uma mulher alegre, que amava a vida, embora vítima de um marido ciumento, obsessivo e violento. Encontra, finalmente, a mãe e a si própria.
"Estava de tal forma decidida a tornar-me diferente dela que perdia uma a uma as razões para ser semelhante."

Os Dias do Abandono
"Num dia de Abril, a seguir ao almoço, o meu marido anunciou-me de repente que queria deixar-me. Fê-lo enquanto levantávamos a mesa (...) Falou muito dos nossos quinze anos de casamento, dos filhos, e admitiu que não tinha acusações a fazer-nos..."
Olga vê toda a sua vida desmoronar-se pelo abandono, pela traição, pela ingratidão, e é arrastada num vórtice de dor e desespero que ameaça a destruição do seu Ser, tornando-a numa "pobre-dela". Mas "Não era uma mulher que se deixa desfazer em bocados pelos golpes do abandono e da ausência, até enlouquecer, até morrer." Empreende uma luta titânica consigo própria, faz o que era impensável, transforma-se... perde-se... encontra-se... "Sou o animal invulnerável que atravessa o fogo e não se queima."

A Filha Obscura
"Quando as minhas filhas se mudaram para Toronto, onde o pai vivia e trabalhava há anos, descobri com perplexo espanto que não sentia qualquer desgosto, sentia-me leve, como se só então as tivesse posto definitivamente no mundo."
Leda é uma mulher de meia idade que convive com a culpa de não ter sido a mãe modelo; de ter colocado a carreira profissional na frente da vida familiar.

Não sei se é livro que se recomende. Nem creio que todo o leitor o aprecie.
Sei que ler Ferrante é uma experiência diferente. Uma nova forma de escrever sobre a mulher no seu papel de mãe. Durante a leitura, veio-me à memória O Amor Incerto de Élisabeth Badinter, um ensaio, que li há muitos anos, no qual a autora questiona se o amor materno é instinto ou é apenas um sentimento humano como outro qualquer e como tal incerto, frágil e imperfeito.
Profile Image for Rita.
904 reviews186 followers
November 9, 2020
Um Estranho Amor - ⭐️⭐️⭐️⭐️

Os Dias do Abandono - ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️

A Filha Obscura - ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️

«O ‘eu’ que narra as minhas histórias nunca é uma voz em monólogo. É sempre uma mulher que escreve, e esta escritora está sempre a lutar para organizar, num texto, aquilo que sabe mas que não está claro na sua cabeça»

É sufocante, é denso, é emocional, é cru, é Ferrante a dissecar a alma feminina.
Profile Image for Susana.
541 reviews177 followers
December 6, 2021
Estas três histórias tiveram em mim efeitos muito diferentes.

Um Estranho Amor - 2,5*
Alguma coisa correu mal aqui. Tirando uma ou outra passagem, em geral esta história não me cativou.
Juntando isso à sensação opressiva, quase claustrofóbica, que me incomodou durante a leitura deste texto tão denso, não consegui gostar desta primeira novela.

Os Dias do Abandono - 4*
Horrível e excelente ao mesmo tempo. Não é propriamente um murro no estômago, é mais uma imersão progressiva num estado de quase demência para o qual a narradora vai resvalando desde o início, e que Ferrante consegue transmitir admiravelmente através duma escrita sem filtros e sem rodeios, que se vai modificando ao longo da história, chegando a ser por vezes agressiva e mesmo obscena, incomodativa e brutal.
Não recomendo a quem esteja psicologicamente vulnerável, achei muito perturbador.

A Filha Obscura - 5*
Muito, muito bom! Fiquei completamente absorvida por esta história, principalmente devido à escrita de Ferrante. Partindo duma situação relativamente banal, a autora consegue envolver-nos duma forma magistral nos pensamentos da protagonista, que alternam entre os acontecimentos recentes, que levaram à cena que abre a história (e que tive de ir reler quando a terminei), e cenas de várias fases da sua vida, principalmente dos seus primeiros anos como mãe de duas meninas.
A forma como Ferrante entrelaça o que se vai passando no presente com situações passadas, mantendo ao mesmo tempo uma constante tensão, é absolutamente brilhante, fiquei rendida.
Profile Image for Ensaio Sobre o Desassossego.
428 reviews218 followers
May 19, 2023
Nos três romances curtos (os primeiros romances de Elena Ferrante) que compõem estas "Crónicas do Mal de Amor" acompanhámos a vida de três mulheres: Delia, Olga e Leda. Três mulheres que também são mães, mas que não são as mães perfeitas. Aliás, muito pelo contrário. Têm momentos em que são mães desleixadas, mães que se esquecem dos filhos, mães que odeiam os filhos. Não são as mães que estamos habituados a ler e a ver representadas na nossa sociedade, mas são mães reais.

"Um estranho amor" foi o texto que me disse menos, mas ainda assim durante a leitura fui sempre sentindo um certo incómodo. Acho que um autor sabe que fez um trabalho bem feito quando causa incómodo ao leitor, mas este mesmo assim não interrompe a leitura. Quando o autor toca na ferida do leitor e este se vê representado.

"Os dias do abandono" foi o que mais me tocou e o que mais mexeu comigo.
Senti-me desconfortável durante grande parte da leitura, sabem quando estão a ler um livro e a personagem faz porcaria atrás de porcaria e não consegue controlar mais a situação? Está tudo a dar errado na vida dela, e parece neve a descer pela montanha, a bola vai ficando cada vez maior e maior e maior... até parecer que já não há solução. Olga vai ser engolida pelo abandono...

Já "A filha obscura" foi intenso, penso que uma pré-ideia do que viria a ser Lenú n'A Amiga Genial (pelo menos lembrei-me muito dela durante a leitura). As personagens de Elena Ferrante são inconfundíveis, há qualquer coisa nelas, uma inquietação, uma violência contra o que é esperado delas, uma humanidade que ainda é raro encontrarmos na literatura.

Estas são três histórias de três mulheres comuns, mulheres normais que fazem coisas horríveis, têm pensamentos cruéis e violentos.

As mulheres de Ferrante são reais, são verdadeiras, são as nossas mães, as nossas tias, as nossoas amigas. Somos nós.

Durante estas três histórias, senti muita agonia e desconforto. E percebi que Elena Ferrante se consolidou como uma das minhas autoras favoritas.

Os livros de Elena Ferrante não são felizes, não. São violentos, densos, incómodos, angustiantes. A forma como Ferrante escreve e descreve as mulheres é crua e é bela.
Profile Image for Maria João Fernandes.
368 reviews40 followers
October 23, 2016
"Aceitei, durante aquele percurso, contar tudo a mim própria: tudo aquilo que as mentiras conservavam de verdade."

Não sabemos quase nada sobre Elena Ferrante, esconde-se numa nuvem de mistério, mas os seus livros, pelo contrário, não têm nada a esconder. São puros e a honestidade de cada linha entranha-se em nós. As suas palavras abrem-nos caminhos para obsessões horríveis, sentimentos perfeitos, emoções odiosas e personagens perfeitamente imperfeitas. A sinceridade sem limites tira-nos da nossa zona de conforto e habitua-nos às personagens, que não nos permitem voltar atrás e sermos quem éramos.

Em três histórias, três grandes mulheres enfrentam problemas pessoais: a morte da mãe, o abandono do marido por uma mulher mais nova e o sentimento de solidão após as filhas chegaram à idade adulta. Mas os problemas não são lineares e dividem-se em mais problemas, levando-nos a conhecer os pensamentos e sentimentos mais íntimos das mulheres, sejam generosos ou egoístas e cruéis, sem julgamentos.

"És uma mulher de hoje, agarra-te a tudo o que possas, não recues, não te percas, mantém-te direita."
Profile Image for Celeste   Corrêa .
381 reviews322 followers
May 16, 2019
Na crónica «Os Dias do Abandono», encontramos uma frase (página 145) que pode descrever este livro e outros da Elena Ferrante:

«Queria escrever histórias cheias de correntes de ar, infiltradas de raios de sol onde dançassem partículas de poeira. E, depois, gostava da escrita que nos faz debruçar a cada linha e olhar para baixo, sentindo a vertigem da profundidade, as trevas do inferno.»

As três mulheres deste livro - tantas quanto as crónicas que contém - fazem parte de uma nova vaga de mulheres diferentes da geração das suas mães, estão profundamente marcadas pela sua infância e usam uma linguagem obscena.
São mulheres que se estudam com precisão, se despem das suas máscaras, reagem e assumem os seus comportamentos.
São mulheres que amam demais. Mulheres que amam profundamente as suas mães e os seus filhos, tudo fazem por eles, mas nada deixam de fazer por eles.
Profile Image for Ana.
753 reviews173 followers
March 14, 2016
Não foi fácil ler estas crónicas, isto é, as três histórias que Ferrante publicou antes da tetralogia de Nápoles que a catapultou para o merecido reconhecimento internacional. Não foi fácil porque as li numa época de trabalho dobrado e de muita burocracia consumidora de energia. Não foi fácil porque, apesar de já estar familiarizada com a escrita desta autora italiana, tive que fechar o livro em certas passagens, respirar fundo, fechar os olhos e preparar-me mentalmente para conseguir engolir a saliva de novo, normalizar a respiração e aguentar a revolta no estômago que me pedia a rendição, a desistência.
Ser mãe é do melhor que a vida nos proporciona. Só quem é mãe tem a perfeita noção do quanto a ligação umbilical que nos une a um filho é física, emocional e inexplicável. É de um amor avassalador e que nunca diminui, pelo contrário. Por tudo isto, sempre que refletimos sobre o amor que existe entre uma mãe e um filho, pensamos em carinho, ternura, atenção, sacrifício, dádiva, renúncia e reagimos muito mal perante notícias de mães que abandonam os filhos, que não os cuidam, que descuram dos seus deveres de progenitora. É muito mais condenável se essa negligência ou abandono é materno que paterno, porque a ligação entre uma mãe e um filho vem de muito antes, vem de muitos meses antes do nascimento.
As três histórias de Crónicas do mal de amor centram-se na relação entre mãe e filhos, no quanto essa ligação é determinante para o crescimento da criança, do quanto um descendente é completamente dependente de como a sua progenitora se comporta com ele e com os demais, do quanto esse comportamento molda o desenvolvimento e a personalidade de um filho. Contudo, a forma como Ferrante aborda o papel de filha, de mulher e de mãe transporta-nos para uma realidade que nada tem que ver com os estereótipos ou com o que convencionalmente associamos a esses laços filiais ou matrimoniais. A autora põe a nu integral, sem barreiras ou cortinas, o lado mais negro, mais duro, mais feio, mais abjeto daquilo que nos impele a magoar uma mãe ou um filho de propósito, a ser vingativo com quem nos deu a vida, a odiar aqueles seres que saíram da nossa barriga e que coartam, que impedem que sejamos donos de nós próprios.
Perante o que disse até aqui, não me parece que seja difícil entender o porquê quase desisti destas crónicas de Ferrante. Por muito que me sinta à-vontade com a escrita desta autora, foi muito penoso e quase intragável obrigar-me a prosseguir com a leitura.
A primeira crónica/história – Um estranho amor – é um pouco surreal, as bizarras deambulações da protagonista Delia para tentar perceber o que esteve por detrás da morte da mãe levam-na a confrontar-se com um passado sujo, violento e a finalmente confessar os ciúmes, a repulsa e a atração de querer ser igual à sua mãe:
“Era a ela que eu queria fazer mal. Porque me tinha abandonado no mundo a brincar sozinha com as palavras da mentira, sem limites, sem verdade.” (pág. 126)
“Estava de tal forma decidida a tornar-me diferente dela que perdia uma a uma as razões para ser semelhante.” (pág. 131)
A segunda crónica/história – Os dias de abandono – era aquela da qual tinha mais expetativas, sobretudo por partilha de opiniões com uma compincha literária e pelo seu início: "Num dia de Abril, a seguir ao almoço, o meu marido anunciou-me de repente que queria deixar-me. Fê-lo enquanto levantávamos a mesa (...) Falou muito dos nossos quinze anos de casamento, dos filhos, e admitiu que não tinha acusações a fazer-nos..." (pág. 135). Não posso dizer que as expetativas não tenham sido cumpridas, mas a um preço quase demasiado elevado, porque tudo é demasiado real, demasiado cru e ao mesmo tempo tão verosímil, tão assustadoramente verosímil que o estômago revolve-se ainda agora que já se passaram 4 dias desde que terminei a leitura. Ainda agora fecho os olhos como que para proteger-me de toda aquela dor, irracionalidade, perda de chão e de vontade de existir, buraco sem fim que nos pode transformar literalmente num farrapo autómato, largado num canto qualquer da casa, que não reage perante nada nem ninguém, mas que ganha vida e uma fúria arrasadora perante aquele que aniquilou a sua vida.
Por fim, a terceira crónica/história – A filha obscura – permite-nos acompanhar as férias de Lena, uma mulher de quase cinquenta anos, separada do marido e das filhas. Nos dias que passa à beira-mar descreve-nos a leveza que sente por não ter de viver mais com as suas filhas – "Quando as minhas filhas se mudaram para Toronto, onde o pai vivia e trabalhava há anos, descobri com perplexo espanto que não sentia qualquer desgosto, sentia-me leve, como se só então as tivesse posto definitivamente no mundo." (pág. 292)
Estamos perante uma mãe que confessa o inconfessável – a prisão que os filhos trazem para a vida de uma mulher, a perda da sua identidade – deixa-se de ser mulher para apenas ser-se mãe. E para onde vão os nossos projetos, os nossos sonhos, a nossa rotina, os nossos pequeninos prazeres quando a nossa existência é abalroada pela chegada de um ser minúsculo que nos suga e nos aniquila? E quantas vezes essa aniquilação, esse sugar dos nossos minutos diários revelam o que de mais monstruoso e animal todos possuímos dentro de nós?
Com tudo isto, nem sei bem se recomendo a leitura destas crónicas… Estão maravilhosamente bem escritas (como tudo o que sai da mão de Ferrante), mas são surrealmente reais, são assustadoramente reflexos de quem somos, expõem com uma precisão clínica o que de mais abjeto nos compõe e, como tal, não são nada fáceis de digerir. Deixo ao vosso critério se as querem ler ou não…

NOTA – 09/10 (É-me impossível dar a nota máxima por causa do choque em que ainda me sinto…)

http://osabordosmeuslivros.blogspot.p...
Profile Image for Ana.
596 reviews66 followers
September 12, 2016
Quem vai ler estas três crónicas e espera por um livro tipo "Amiga Genial" vai ficar desiludido. A Série Napolitana pouco tem em comum com este livro. A forma de escrever de Elena Ferrante está lá no entanto a escrita é muito mais crua, muito mais dura.
A maternidade e as relações familiares são o tema comum, mas não são retratadas de um modo idílico, explorando a escritora as muitas fragilidades do ser humano.
Profile Image for Ema.
813 reviews83 followers
September 11, 2017
3,5*

A Filha Obscura (4,5*)
A escrita e as personagens de Ferrante são inconfundíveis. Neste livro, o tema principal é a maternidade e as suas duas faces da moeda. A autora dá-nos uma perspectiva fria e cruel, porém muito verdadeira, de como ela pode ser uma vocação ou uma maldição disfarçada de amor. Já conhecia a mestria de Ferrante para contar histórias de pessoas comuns, que têm pensamentos abomináveis e que fazem coisas horríveis, as suas histórias não são felizes e não nos vão deixar com um sorriso no rosto. Quando comecei a ler A Filha Obscura, comecei por encarar a protagonista como uma mulher independente, com filhas criadas, que estava só a passar umas férias na praia sozinha. Essa descrição está certa, mas no final do livro, tudo muda, porque ficamos a descobrir que esta mulher tem um fundo de malvadez. Abandonou as filhas, traiu e abandonou o marido, roubou uma criança pequena, interfere maldosamente na rotina de uma família como se estivesse a jogar The Sims. Claro que dei por mim a sentir-me mal por estar a ler os pensamentos de uma pessoa assim, mas, por outro lado, tudo o que estava escrito era muito sincero, sem qualquer filtro, eram os pensamentos e as acções puras de uma pessoa que poderia muito bem existir, o que torna a história de alguma maneira maravilhosa. O mais genial é que ficamos a reflectir sobre tanta coisa, sem grande coisa ter acontecido, porque o enredo é bastante simples. O complexo está presente na mente da nossa protagonista que, aos nossos olhos, tornou a maternidade obscura, uma coisa que deveria ser feliz e maravilhosa, é o completo contrário. Acho curioso que a tradução para o inglês ficou "The Lost Daughter", o que se pode muito bem aplicar, devido não só, mas também, à boneca que é perdida e se torna toda ela numa personagem. Contudo, o título original descreve melhor todas as complicações que implica ser mãe e ser filha, na minha opinião. E, inevitavelmente, transportei algumas das coisas que se passam na história para a minha própria vida e comecei a pensar se alguma vez a minha mãe sentiu que eu era um fardo, se houve algum momento em que ser mãe não era o que ela queria. Ou mesmo como seria a nossa relação hoje em dia e como a nossa história seria diferente se nos tivéssemos perdido uma da outra, se ela simplesmente não tivesse vocação para ser mãe. Ferrante é genial, repito mais uma vez, porque nunca será suficiente dizê-lo.

Os Dias de Abandono (3,5*)
Este livro deixou-me num dilema. Para explicar o porquê de uma das minhas autoras favoritas me ter arrebatado com o seu brilhantismo e simultaneamente frustrada com a sua personagem principal mais chata e enfadonha, preciso de resumir o enredo da história: uma mulher é abandona pelo seu marido e fica com a casa, os filhos e o cão nas suas mãos. E este livro é a louca e desconcertante jornada mental (e extremamente traumática em termos físicos) por que esta mulher passa enquanto se sente completamente abandonada e ignorada pelo "companheiro de vida". Primeiro que tudo, a escrita da Ferrante é fenomenal e a sua capacidade para criar personagens plausíveis e descrever a realidade de forma pura e crua é indiscutível (estou sempre a dizer isto, mas é verdade). E neste livro, a autora descreve o processo de separação que esta mulher vive quando anteriormente estava completamente dependente do homem, o seu parceiro, em termos financeiros, sociais, emocionais... Ela não tinha vida própria, só vivia em função da família, e agora vê-se perdida, como se o marido a tivesse deixado no fundo de um poço, sem nenhuma ferramenta para sair dele. E é extremamente interessante acompanhar a sua jornada, mesmo sendo penoso lê-la. O livro está escrito em primeira pessoa, logo, somos obrigados a colocar-nos no lugar dela, e tudo o que ela passa, faz, sente, é um tormento. Mesmo. Senti-me mal ao ler esta história, principalmente no meio do livro, em que as coisas mais loucas, impossíveis de imaginar possíveis de acontecer, realmente acontecem. É um livro que me causa reacções psicossomáticas. Porém, e por outro lado, acho esta mulher chata, ingénua e inconsequente porque se deixou colocar num lugar em que só há vazio, apenas porque o marido resolveu mudar de vida, deixando um casamento que já não existia, só no papel. As coisas que ela faz com ela própria, com os filhos, com o cão, com a casa... Não gostei, embora tenha noção de que são completamente plausíveis. Mexeram muito comigo e várias foram as vezes em que condenei a personagem por toda a loucura que vivia dentro dela e que ela deixou passar cá para fora. Ao contrário de outros livros "comuns", este deixou-me num dilema em que, à primeira vista, não gostei do livro, só que, depois de reflectir um pouco, só não gostei da personagem principal. Falta-me dizer que, no final, esta mulher surpreendeu-me e a mensagem que a autora nos deixa é importantíssima: tudo passa se deixarmos passar.

Um Estranho Amor (2,5*)
Este foi o primeiro livro que a autora escreveu, em 1992, no ano em que nasci. Portanto, esta história tem a minha idade, é interessante pensar que passaram 25 anos e a violência doméstica acontece e é consentida por todos os que dela têm conhecimento. Curiosamente, foi o último que li da autora e o de que menos gostei. O tema centra-se na maternidade e na relação entre filha e mãe, sendo que aqui apenas temos o ponto de vista da filha. A mãe morreu e a protagonista vai tentar perceber o que lhe aconteceu, ao mesmo tempo que recorda o passado das duas e a relação que tinham. Não me identifiquei com a protagonista, não me aqueceu nem arrefeceu, nem estava preocupada com o que lhe poderia acontecer. Julguei-a bastante em alguns aspectos e não compreendi a "projecção" amarga que ela depositava na mãe. Penso que foi isto que me impediu de desfrutar do livro. Por outro lado, gostei bastante desta, mesmo não tendo contacto algum com ela. As descrições e memórias, de que temos acesso pela filha, revelam uma pessoa muito mais interessante do que ela quer fazer parecer. Acrescento apenas que, por ser o primeiro, a autora ainda não tinha encontrado a sua voz e ainda estava a treinar para escrever posteriormente os muito bons livros que publicou.
Profile Image for Elsa.
64 reviews37 followers
March 22, 2018
No contexto geral dos 3 contos ou novelas dou 3 estrelas e dou também por encerrada a minha “fase Elena Ferrante”. Tenho de confessar que já foi a custo que terminei de ler este livro porque a determinada altura me começou a irritar a contínua culpabilidade de tudo o que lhe acontecia por ser mulher.

Os contos são sempre narrados na primeira pessoa por uma mulher e em todos eles ela nunca se sente bem na sua pele. Há sempre a tentativa de ser aceite pela sociedade, e acima de tudo pelo homem que é suposto amá-la eternamente. E depois quando as coisas correm mal, há de tal modo uma mudança de comportamento nessa personagem que subitamente passa a ter comportamentos obsessivos e isso irritou-me profundamente. Essa constante pena de si própria, de vitimização, e os mais que muitos pensamentos em voz alta, repetitivos e maçadores cansaram-me.
No início de cada conta a estória a prendeu-me como na saga napolitana, mas a certa altura – em todos eles – aqui começou a cansar-me. Houve pedaços de narração tão longos e repetitivos das mesmas ideias que me apeteceu passar uma página inteira a ler ao viés.

Em muitos aspectos a narradora do conto “Os dias de abandono” remeteu-me de novo para a personagem Elena Greco pois há muitas coisas em comum entre as duas personagens. E, se já na altura, por vezes me irritei com a sua falta de decisão e de personalidade, aqui isso voltou a acontecer. É talvez a ideia de que todos os problemas das mulheres começam (e parece que também acabam) nos seus relacionamentos maus com os homens que escolheram ou – talvez seja mais ainda na visão da autora – as escolheram a elas que me chateia.
Quem sabe talvez tenha sido eu quem não entendeu bem o que a Ferrante quer transmitir por detrás de tamanha falta de autoconfiança feminina. Digo isto porque no final da narrativa acaba sempre por haver um volte-face e tudo termina bem. Será que está a querer dizer que as mulheres no fim de contas não precisam de se preocupar porque há-de haver em algum lugar do mundo um outro homem que ajude a subir de novo a autoconfiança? Se é isso... pior ainda.

Curioso notar que as três diferentes traduções podem ter de algum modo influenciado a minha leitura e ter gostado mais deste ou daquele conto já que anteriormente todos os volumes da saga napolitana que li tinham sido traduzidos pela mesma tradutora.
Particularmente n’ “Os dias de abandono” notei que a narradora tomou a certa altura uma postura de vulgar (assumida claramente pela personagem no meio dos seus devaneios) e que a linguagem era realmente forte. Tão forte ao ponto de eu me sentir quase incomodada o que até aqui ainda não tinha acontecido com outras leituras de Ferrante. E aí fui ver quem tinha traduzido e percebi de onde me vinha a presença masculina nas suas palavras que não tinha notado nos outros contos – era um tradutor. E não estou com isto a dizer que ele fez um mau trabalho, nada disso. Eu é que não estava habituada. Quem sabe ele talvez tenha sido mais genuíno na sua tradução do que a outra tradutora, a cuja tradução eu estava habituada. Nunca o saberei. O que eu acho é que uma mulher que normalmente não diz asneiras não passa de um momento para o outro a se expressar daquela maneira ordinária, muito menos quando se trata dos seus pensamentos.
Não pude também deixar de notar que como tradutor, (e claro, sei que é esse o seu trabalho) e homem, não deve ter sido fácil escrever todas essas insanidades contra os homens que a Olga pensa e diz.

Acho que Ferrante, no fim de contas é apenas e tudo mais do mesmo. O que significa que apesar de todo este alarido com a saga napolitana não acredito que fique para a estória (talvez em Itália sim) dos grandes escritores da nossa época. Mas posso estar enganada e estar por aí a aparecer brevemente outra saga... quem sabe? ;-)
Profile Image for Raquel Casas.
301 reviews224 followers
September 22, 2017
Lo que hace Ferrante con sus mujeres es digno de mérito. Tira de la cuerda, y tira, y tira, poniéndolas en situaciones límites y dejando que hagan cosas que en ocasiones pueden resultar ruines y mezquinas (como robar la muñeca de una niña de dos años). Gracias a ese tipo de giros podemos conocerlas, amarlas, odiarlas, comprenderlas y desconcertarnos. Pero qué bien escribe y que buenas historias sobre madres e hijas cuenta Ferrante. Es normal que la fiebre por ella no decaiga sino que más bien aumente cuanto más la lees ❣️
Profile Image for Os Livros da Lena.
298 reviews320 followers
November 24, 2020
Review Crónicas do Mal de Amor, de Elena Ferrante
60/2020
5⭐️

Os livros de Ferrante não são feitos de esperança. São antes feitos de verdade, da realidade despida, nua e crua, como ela é.

Esta obra junta três contos, ou crónicas, escritas previamente à tetralogia de L’Amica Geniale.

Depois da tetralogia, únicos quatro livros que tinha lido do/a autor/a antes deste, fiquei um pouco receosa do que iria sentir com esta obra - ainda estou a fazer o luto da Elena Greco e da Lila Cerullo.

Mas a forma crua e honesta com que aborda os temas difíceis, o retrato do facto de nem toda(o)s estarmos preparados e sempre disponíveis para desempenhar os papéis sociais que nos tentam impor, as três protagonistas mulheres, belas e imperfeitas, arrebatou-me mais uma vez! Bravo Elena, ou lá qual seja o teu nome!

Porque, ao fim e ao cabo, somos todos imperfeitos, e só quando o reconhecemos podemos ser melhores. O meu conto, ou crónica, favorito foi Os Dias do Abandono. Brilhante!

Numa entrevista dada por escrito, aquando da questão “porque não vem falar dos seus livros em público? Porque não se mostra?”, quem escreveu este livro respondeu: “Acredito que os livros, uma vez escritos, já não precisam dos seus autores. Se tiverem alguma coisa a dizer, mais cedo ou mais tarde encontram leitores; se não, não...”.
Concordo tanto. Muitas vezes, vemos mais autores vendidos, do que os seus livros.

Sei que só podem ser grandes obras, aquelas que chegam aos leitores sem rosto associado. Uma história despida da história de quem a escreveu.

Nota-se muito que cada vez gosto mais das obras de Ferrante?

E vocês? Já leram? O que acharam?
Profile Image for Magda Pais.
Author 4 books81 followers
January 29, 2017
Estreia absoluta com Elena Ferrante. Depois de tanto ouvir falar na Amiga Genial (que anda por ali na estante à espera de vez) e nos livros da mesma série, a minha estreia acaba por acontecer com este livro que reúne três contos: Um Estranho Amor, Os Dias do Abandono e A Filha Obscura, todos contados na primeira pessoa (Delia, Olga e Leda)

O encanto de Elena Ferrante está na escrita crua, sem arteficios, rude e, muitas vezes, cruel. De uma forma fabulosa, consegue que comecemos por não gostar do narrador mas, aos poucos, vamos entendendo-a e, no fim, acabamos por sentir empatia pelas mulheres que Ferrante retrata. Acima de tudo porque, neste livro, a maternidade não é o sonho cor de rosa e idílico que muitas mães tentam fazer passar.

O mais pesado - e, para mim, o melhor - conto é Os Dias do Abandono. Olga é abandonada pelo marido e acaba por se tornar quase um animal, perdendo todas as referencias familiares e sociais. A leitura deste conto não foi fácil, confesso e, muitas vezes, dei comigo a julgar Olga.
A Filha Obscura é também a história de uma mãe, Leda, para quem a profissão é tudo e que acaba por abandonar as suas filhas em prol do seu trabalho. Leda assume-se, acima de tudo, como mulher e não como mãe.

Um Estranho Amor foi, talvez, o que estranhei mais e que me fez duvidar da escrita desta autora. Pareceu-me uma história com menos nexo, confusa e sem uma linha mestra (ao contrário das outras duas). A mãe de Delia suicida-se e Delia embarca numa viagem pelo seu passado para entender a mãe e o que a levou ao suicídio.

Apesar de, no geral, ter gostado, não me sinto confortável em recomendar este livro a toda a gente. Creio que o melhor deste livro - a escrita crua e cruel - pode fazer com que algumas pessoas não o consigam ler com facilidade. Mas que deviam tentar, isso tenho a certeza.
Profile Image for Mónica Mar.
93 reviews29 followers
August 30, 2016
El universo Ferrante es una ficción comprimida, densa, minúscula casi, pero pesada y propensa a la expansión súbita: ondas que abarcan y engullen altitudes y longitudes recónditas y que luego del estallido se recogen a sí mismas y vuelven al epicentro, al punto de partida. El universo Ferrante es una constante matemática, un uróboros narrativo estable dentro de su propio caos.

Antes de obnubilar a innumerables lectores con su "tetralogía napolitana" Dos amigas, Elena Ferrante publicó tres novelas cortas a lo largo de quince años, novelas reunidas en un solo volumen, Crónicas del desamor. Las ficciones de Ferrante siempre tienen una misma narradora: una mujer napolitana adulta que ha logrado una parcial desvinculación de sus orígenes. Es por ello que su universo literario puede parecer reducido, repetitivo: Ferrante lleva décadas intentando decapitar el mismo monstruo. En la primera novela, El amor molesto, Delia, la narradora, trata de darle sentido a la muerte inesperada de su madre. En una labor que a primera vista puede parecer detectivesca, Delia procura rastrear los últimos pasos de su madre y así descubrir el porqué de su muerte y las extrañas circunstancias que la rodean. Pero andar esos pasos implica una retrospección dolorosa, un cómputo incómodo de los acontecimientos de su infancia y adolescencia, de la relación con su madre, de la relación de ambas con su ciudad natal, con la sordidez del barrio de Nápoles donde vivían, con las muchas violencias que aquel lugar les imprimió en el cuerpo, en el espíritu. En Los días de abandono, la segunda novela, la narradora es Olga, una mujer de treinta y ocho años cuyo esposo la deja "un medio día de abril, justo después de comer". Lo que sigue después es un despliegue de dolor y angustia casi obsceno: Olga se hunde en el fango de su propia aflicción, y los bordes de su yo se diluyen, se derraman en las cuencas de su identidad escindida, rota. Y finalmente, en La hija oscura, la voz la tiene Leda, una mujer que en sus vacaciones en la playa entra en contacto con una joven madre cuya figura, cuyas actitudes, cuya familia napolitana la hacen reflexionar sobre su propia vida, sus hijas ya adultas, su familia también napolitana. Un gesto, una acción en apariencia insensata la harán acercarse a esas personas cuyos orígenes son los mismos suyos, los mismos que odia y de los que ha tratado de escapar toda su vida.

No es gratuito el adjetivo "napolitano", "napolitana" cuando se habla de Ferrante, de sus personajes. La procedencia de estos rara vez varía; Ferrante nunca los desarraiga, así estos lo intenten, así se debatan entre raíces crispadas, pérfidas; en últimas, las raíces los definen, sus historias son historias de orígenes, de embrolladas genéticas sociales que determinan, que rondan, que sofocan. Y uno de los gérmenes es el lenguaje. En el universo de Ferrante, el lenguaje es un organismo vivo, bicéfalo: está el dialecto, el lenguaje de la casa, del barrio, y por ende de las pasiones crueles, de las violencias; y está el italiano, el lenguaje culto, el de la inteligencia y la mesura. Las protagonistas de Ferrante se esfuerzan en asimilar el segundo; dominarlo es una forma de purgarse de humores nocivos, pútridos, de desenraizarse, pero en los momentos más descarnados de sus vidas experimentan bruscas regresiones y el dialecto brota de ellas sin control alguno, doblegándolas, recordándoles que sus orígenes son ineluctables a pesar de la educación que, en cierta medida, las liberó. La educación fue para Delia, para Olga y para Leda no un medio ni un fin, sino un híbrido de ambos, y un arma también: la educación, en especial en otras ciudades (Florencia, Turín), es un cuchillo con que horadar la tierra en la que están arraigadas.

Tampoco es casual que todas las protagonistas de las novelas de Ferrante sean mujeres. La literatura está llena de mujeres concebidas desde la perspectiva masculina, perspectiva que es necesariamente distorsionada. También hay mujeres pensadas por mujeres, pero muchas de ellas habitan dimensiones narrativas restringidas por rescoldos de pudor, de decoro. Las mujeres de Ferrante revelan, tarde o temprano, todos los carices de su naturaleza: el vínculo palpitante y casi inquebrantable con la madre; los cambios del cuerpo, sus humores, sus flujos; las interacciones con los hombres, que van desde las carnales -a veces sórdidas, casi siempre insatisfactorias- hasta las emocionales -yugos, refugios, simbiosis, parasitismos-; los fracasos de la maternidad y sus oscuros horrores; la realización o la negación de la intelectualidad; los vacíos de la soledad y la vejez. En Crónicas del desamor, aunque las tres protagonistas experimenten y narren en menor o mayor grado todas estas vivencias, el estandarte es sin duda Olga, pues su relato es el más cruel, el más impúdico; es una narración de horrores casi dantescos que toma lugar en un pequeño apartamento florentino.

Es innegable que las novelas reunidas en Crónicas del desamor funcionan como bosquejos a lo que posteriormente sería la tetralogía napolitana. El universo Ferrante es una ficción comprimida, densa, minúscula casi, pero de proporciones titánicas, inconmensurables.
Profile Image for Ana Carvalheira.
253 reviews68 followers
December 31, 2014
"Cronache del mal d’amore" da autora italiana Elena Ferrante reúne três comoventes histórias que abordam o amor numa tríplice perspetiva: o filial, o romântico e o maternal condensado, por sua vez, numa trilogia textual que inclui “Um Estranho Amor”, “Os Dias do Abandono” e “A Filha Obscura”.

Dos três, o que mais me tocou foi, sem dúvida, “Os Dias do Abandono” pela crueza da narrativa, pela densidade da personalidade de Olga, pelas situações avassaladoras por que passou quando o seu céu caiu e o seu chão ruiu, ao ver-se abandonada pelo marido, humilhada, por ter sido substituída por uma mulher mais nova e que conhecia desde criança, despedaçada por um casamento que julgara seguro, sem interrupções mas também sem fantasias e sem muitas certezas, aprisionado no tempo, na rotina, nos filhos, na vida que poderia ter sido, que nunca fora e que jamais seria. “As mulheres sem amor gastavam a luz dos olhos, as mulheres sem amor morriam em vida”, essa espécie de lengalenga que Olga ouvira da boca de sua mãe no quarto de costura, enquanto criança, escondida sob a mesa de trabalho, numa espécie de porvir que, na altura, não tinha mais do que um peso subliminar.

“Os Dias do Abandono”, confundem-se também com a dor do abandono, da injustiça de quem sabe que tudo fez sem, porém, esperar créditos ou agradecimentos apenas aquilo o que lhe era devido: a não transmutação. Intransmissibilidade. “E agora, agora Mário ia-se assim embora, levando consigo todo esse tempo, todas essas energias, todos esses esforços que eu lhe oferecera para gozar dos seus frutos na companhia de outra mulher, de uma estranha que não mexera um dedo para o parir e criar e transformar naquilo em que acabara por se transformar”. Apenas acrescentaria fecundar ao parir e criar para reforçar a ideia que, muitas vezes, os sucessos dos homens decorrem de uma espécie de inseminação feminina.

O extravasar de um ódio contido de certo modo irracional mas que acredito próprio das mulheres napolitanas, de um fel ofensivo, de uma emotividade ébria mas ao mesmo tempo de uma inquestionável clareza: “Passamos um longo trecho da vida juntos, pensamos que aquele é o único homem com quem podemos estar bem, atribuímos-lhe talvez coragem e decisão, quando ele não passa de uma cana rachada que emite sons falsos e não sabemos quem ele é de facto, como nem ele próprio o sabe também. Não passamos de seres ocasionais. Consumamos e perdemos a vida porque um certo homem, em tempos remotos, lhe apetecia descarregar o caralho dentro de nós, se mostrou amável, nos escolheu entre as mulheres. Confundimos o banal desejo de foder com uma delicadeza que teria por objeto exclusivo a nossa própria pessoa. Gostamos da vontade de foder que ele sente, iludimo-nos e pensamos que é uma vontade de foder só conosco , conosco só. Oh, ele é tão especial e trata-nos de uma maneira tão especial. Damos outro nome, a essa vontade que o seu caralho tem, personalizamo-la, chamamos-lhe meu amor. Mas que o diabo leve esta história toda, este engano, esta presunção infundada. Do mesmo modo que fodeu uma vez comigo, fode agora com outra, que outra coisa pudera eu julgar que acontecesse? O tempo passa, uma vai-se e chega a vez de outra”. Brutal no sentido demonstrativo das palavras!!

A prosa de Ferrante é assim, extraordinariamente cativante na simplicidade, na honestidade e na emotividade. O episódio em que Olga fica presa dentro de casa, com o filho doente e com o cão moribundo é avassalador, inesquecível no frémito exasperante com o qual nos faz participar da própria ação.
Profile Image for Margaret.
778 reviews15 followers
July 26, 2015
Elena Ferrante é o pseudónimo de uma escritora (ou escritor) italiano que ninguém sabe quem é. Não há fotografias, não há promoções de livros e as poucas entrevistas dadas foram por e-mail. Desta forma, temos uma obra literária completamente desligada de quem escreve. Na era do marketing, isto é uma raridade, e foi uma dscoberta que adorei fazer!

Este livro é constituído por três histórias distintas sobre três “mulheres à beira de um ataque de nervos”. Na verdade, se não fosse já nome de filme, penso que seria o título ideal para a obra. Na primeira história temos Delia que, confrontada com o suicídio inexplicável da mãe, faz um regresso indesejado ao passado para juntar as pontas soltas de uma infância dura, em que a violência doméstica era o pão nosso de cada dia. Na segunda história, Olga vê o seu calmo casamento ruir quando o marido a troca por uma jovem. Consumida pelo ódio e pelo desejo de vingança, desleixa o seu lar, os seus filhos e só um evento dramático a fará voltar à “realidade”. Finalmente, na terceira história, conhecemos Leda, uma professora universitária de sucesso que, para obter este estatuto, abandonou as suas filhas pequenas e agora começa a sentir uma ponta de remorso.

Elena Ferrante escreve de uma forma direta, crua e não mostra qualquer pudor em desconstruir o mito da mulher que alcança a felicidade máxima através da maternidade. Nunca li nada assim! As crianças não são apresentadas como um idílio, mas como um obstáculo, um incómodo; sugam a energia das mães, deformam o seu corpo e são a origem de muitos dos seus problemas. É chocante, politicamente incorreto, mas será que não há mulheres que sentem esta “revolta” de vez em quando, só que têm medo da reprovação da sociedade?

Todas as histórias são escritas na primeira pessoa e, como tal, entramos na cabeça destas mulheres e acompanhamos a sua montanha-russa emocional. É muito intenso e, como tal, aconselho um intervalo entre as leituras. Não aconselhável a almas mais sensíveis!
67 reviews
Read
December 3, 2025
O conto do meio, Dias do Abandono, faz este livro. Cru, cruel, pictórico, dramático, violento, emocionante, bruto, chocante e, claro, verdadeiro.
Profile Image for Marta Clemente.
749 reviews19 followers
April 25, 2025
Este "Crónicas do mal de amor" reúne os 3 primeiros romances escritos por Elena Ferrante. Um deles, o "Estranho Amor" foi um dos livros escolhidos pela @cat.classics e pela @n_soliloquios para a sua iniciativa #desafio1001livros para este mês de Abril de 2025.
Gosto tanto da escrita desta autora, que não li apenas o primeiro, mas sim os três romances que constam no livro. São tão bons! Esta autora tem mesmo o condão de nos fazer entrar nos ambientes e de nós fazer visualizar as suas excelentes personagens e as situações que estás vivenciam.
Li em 2024 a tretalogia napolitana de que também gostei imenso. Esta coletânea não lhe fica atrás. É um gosto ler tão boa escrita!
Profile Image for Tatiana Machado-Griffin.
108 reviews1 follower
November 23, 2020
Elena Ferrante tem algo tão profundo em sua escrita. Há sempre uma sensação de estar-se preso em universos internos de angústia e isolamento. De certa forma é como se os leitores estivessem também presos com cada personagem criada, em seu espaço, a busca de um pouco de luz e esperança, que de fato nunca chega. As três histórias desse livro centram-se em personagens misteriosas, que trazem à tona conflitos de papéis sociais estabelecidos que nem sempre lhes cabem. E o quebra de paradigma, a coragem de cada personagem em escolher viver autenticamente apesar de expectativas exteriores é mesmo genial.
Profile Image for Inês Costa.
158 reviews12 followers
March 19, 2022
gostei de cada uma das três histórias por motivos totalmente distintos e não me sinto capaz de, para já, escolher uma como favorita. só tenho que agradecer à elena ferrante, que me fez companhia nos dias em que me senti menos abandonada desde há algum tempo. 🤍
Profile Image for Giulia.
50 reviews
May 30, 2023
L’amore molesto ★★★☆☆
I giorni dell’abbandono ★★★★☆
La figlia oscura ★★★☆☆

La capacità di Elena Ferrante di scavare nell’animo umano e descrivere la psiche femminile è lampante anche nei suoi primi romanzi, ma mai come nella tetralogia de “L’amica geniale” che rimane il suo capolavoro inarrivabile e indiscusso
Profile Image for Iracema Miel.
246 reviews
August 14, 2022
Este libro reúne las 3 primeras historias creadas por Elena Ferrante:

1ra: El amor molesto.
Delia es la protagonista. Mujer madura, independiente y fuerte. Natural de Nápoles (Ciudad que abarca las 3 novelas, al parecer por idéntico compartir con su autora) lugar que intenta olvidar, pero que "vuelve" siempre con las intermitentes visita de su madre. La trágica e inquietante muerte de esta, hace que Delia regrese e intente darle un orden lógico a su memoria. Establece la vida de su madre a través de los deseos de los hombres, la violencia de su padre, y su propia imaginación de niña. Intenta unir estos tres aspectos para recordar el secreto guardado y regresar los lugares olvidados en su memoria.

2da: Los días del abandono.
Aquí la autora nos presenta a Olga (natural de Nápoles como comenté en el libro 1) quien se abandona a sí misma, tras el abandono de su esposo, dejándole con dos niños y un perro a los cuales se siente incapaz de cuidar. Vencida por las incertidumbres, carencias, deseos incumplidos y la humillación, debe enfrentar sola a las preguntas sin respuestas para este abandono y a la obligación de cuidar su mundo, comenzando por reconstruirse desde el dolor e intentar labrar un nuevo futuro.

3ra: La hija oscura.
Aquí Leda, nos recuerda a las dos protagonistas anteriores. Otra mujer madura, sola, napolitana, enfrentando recuerdos del pasado, duros y descarnados, que todos nos planteamos pero que no nos atrevemos a revelar. Su historia comienza cuando decide retirarse un tiempo vacacional a la playa, luego de que sus hijas se trasladaran a Canadá a vivir con su padre. Cada día frente al mar, es testigo de la reunión familiar de un grupo diverso, que le recuerda a su propia familia napolitana, la cual a todas luces prefiere olvidar, por no sentirse parte de ellos, y esto la lleva a encontrarse con sus más oscuros pensamientos.

Las tres novelas son totalmente feministas, las tres tocan temas profundos, dolorosos, como la soledad, la violencia, los deseos y recuerdos más oscuros, la infancia, la familia, la posición de la mujer como madre, como esposa, pero las tres calan hasta lo hondo, hasta lo oscuro , hasta lo más triste, lo más trágico e incluso lo más incómodo, tan incómodo como imposible de decirse, tan imposible que a veces preferimos ignorarlo, olvidarlo desde nosotros mismos.
La intención de cada una de estas mujeres es siempre huir de todo, como si huir fuera el único camino posible para encontrases con su propia identidad, esta tres mujeres son diferentes y a la vez son la misma y a la vez son muchas mujeres, tú, yo, tu vecina, la escritora, muchas, todas.
Una misma voz para denunciar la historia de la mujer atrapada entre libertad y familia, profesión y responsabilidades, sentimientos y posición social. Tres novelas muy duras, en lenguaje, en descubrimientos. Tres verdades en realidad.
Me gustaría mucho leer de la pluma de Ferrante alguna historia simple. Cómo lo haría? Podría? Simple como la vida de alguien sin grandes búsquedas, sin miedos, sin añoranzas. Porque sobre la desolación es lo más grande que he leído. Vives cada pedazo de vida de estas mujeres como si fueran tuyas. Qué manera tan creíble de trasmitir!
Siento que hay mucho de Ferrante en estas tres protagonistas, y como su identidad es un enigma, conjeturo que tal ha sido su vida, que por eso prefiere contarla sin develarse. en fin, pretensiones de una lectora😉.
Profile Image for Maria.
85 reviews7 followers
October 4, 2021
3⭐ para a primeira história, 4⭐ para a segunda e terceira.
Profile Image for Aitana.
43 reviews1 follower
January 23, 2024
Siento darle solo 2 🌟 pero es que solo Los días de abandono tienen un pase… no he encontrado sentido a las historias y me ha costado bastante engancharme.
Profile Image for Joana Miguel Parra.
7 reviews2 followers
April 29, 2022
Um caso de que o melhor vem sempre no fim.
Três histórias muito diferentes. As duas primeiras não me convenceram, mas a última, a Filha Obscura, mostrou-me que estava a ler um livro de Ferrante. Magnífica!
Displaying 1 - 30 of 197 reviews

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