Num pátio, uma amizade voa em direção ao imaginário. Duas almas ligadas pelo amor à escrita, duas almas que se reencontram num dia de primavera. Tudo é possível e o momento presente é uma janela para eternidade.
Janelas e portas comunicam e representam a transição entre o interior e o exterior, o privado e o público, o conhecido e o desconhecido. Um espaço, uma casa, conta muito sobre nós. Nossas manifestações criativas com base em nossas próprias trajetórias, narram histórias, deixam legados, mas sobretudo, comunicam nossas defesas e aberturas, estabelecendo linhas tênues entre tantas fronteiras e limites. Há sempre um portal que se abre e que se fecha neste comboio do mundo.
Um abrir nem sempre possibilita abertura. Até mesmo um fechar de portas pode ser um abrir sem abrir. Um fechar não é de todo definitivo e quando é, algo realmente precisa mudar, partir. Neste sentido, as portas e janelas nos intrigam há tantos séculos. Nos abrigam em nossos muros particulares. Mas muito mais do que uma estrutura em si, que se completa, que se abre e se fecha, as janelas e portas são como os nossos sentidos a se abrirem. É particularmente singular não querer nunca abrir na vida uma nova janela, realizar-se numa nova porta. Há sempre perguntas e também respostas numa janela centenária ou numa porta moderna. E entendendo as portas e também as janelas como uma abertura ou fechamento de muitos períodos, estas que são instrumentos que atravessaram tantos tempos, hoje são tema, inspiração e manancial de nossa escrita literária.
Entre portas, Amanda Lopes apresenta alguns dos muitos olhares que a atravessam. Entre janelas, Rosária Casquinha da Silva apresenta alguns dos muitos olhares que a provocam. Entre portas e janelas atravessaremos juntos e também seremos provocados a tantos.
Há quem veja mais pela janela, há quem observe mais na soleira da porta. Num sitio ou noutro, as cores veem-se de outra forma, os cheiros têm diferentes intensidades e as correntes de ar envolvem-nos se permitirmos.
É o terceiro livro que leio de Amanda Lopes, o primeiro que leio de Rosária. A poesia da faroleira conquista-me logo nos primeiros versos. Faz-nos olhar o mundo de forma diferente, refletir no que nos envolve, apreciar as pequenas coisas e amar com toda a intensidade. Já com a Rosária foi uma descoberta maravilhosa. Os seus pequenos contos deixam água na boca para mais, transportando-me para o passado, para o místico e até para uma fila de pastelaria. Descobri uma referência a outro livro seu que certamente irei ler!
O encontro entre estas duas autoras acontece na Escadaria. Que passagem tão linda! Ambas as autoras têm qualidades únicas, mas que juntas encontram-se, conectam-se e transmitem emoções fortes. Ainda que na estrutura do livro uma seja a porta e outra a janela, na escrita são ambas as duas coisas. Escrever a 4 mãos não deve ser fácil, mas Amanda e Rosária fizeram algo brilhante!
Deixem-se envolver por estas correntes de ar e sonhem alto. Nem um oceano consegue separar estas duas essências únicas com tanto talento para dar ao mundo. Abram estas Portas e Janelas e inspirem fundo.
Entre Portas e Janelas leva-nos a um mundo de poesia, entre estórias de um lado e do outro do Atlântico, pelas mãos da Amanda e da Rosária. Sentem-se vivências, imaginações férteis e pensamentos que ganharam raíz.