Era uma vez, no reino distante de Traslândia, um rei e uma rainha que não tinham filhos. Um dia, após a rainha se ter perdido num passeio pela floresta das fronteiras do reino, esta encontra o espírito da floresta que lhe promete um filho perfeito em todos os aspetos, exceto num: O príncipe terá orelhas de burro.
Sei ao que vens — disse o gigantesco velho em voz grave e tom quase sarcástico. — O principezinho perfeito com orelhas de burro precisa de um preceptor em condições. Publicado pela primeira em 1942, esta obra de José Régio não é uma história infantil mas sim um romance de fantasia para adolescentes e adultos, repletas de analogias sobre questões filosóficas, sociais e até políticas – uma tendência literária que surgiu nos anos de 1940, um pouco por toda a Europa, de passar a incluir elementos de magia e fantasia em obras literárias dirigidas adultos e não apenas em histórias para crianças, muitas das vezes esmiuçando, reformulando ou decompondo velhos contos de fadas. Foi este tipo de gosto pela introdução do “imaginário fantástico” nas obras literárias consideradas “sérias”, que deu origem à chamada “Literatura Fantástica” nas décadas seguintes, iniciada por Tolkien; e depois ao “Realismo Mágico”, nascido na América do Sul, em que autores como Gabriel García Márquez ou Jorge Amado foram percursores.
A história do “Príncipe com Orelhas de Burro” parte de um velho conto de fadas com o mesmo nome, que se encontra no folclore popular, um pouco por todo o mundo, mas que têm especial incidência na península ibérica pois é daí que provém a maior parte dos elementos que definem e compõe a história, tal como ela se conhece hoje. Portugal até tem a particularidade de ter várias versões do mesmo conto que não se encontram em mais lado nenhum.
Poeta, autor dramático e ficcionista, de seu nome verdadeiro José Maria dos Reis Pereira, nasceu em 1901, em Vila do Conde, onde faleceu em 1969. Formou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Coimbra, com uma tese de licenciatura subordinada ao título As Correntes e as Individualidades na Moderna Poesia Portuguesa, na qual ousa apresentar como nome cimeiro da poesia contemporânea Fernando Pessoa, autor que não possuía ainda nenhuma edição em livro. É em Coimbra que colabora com as publicações Bysancio e Tríptico, convivendo com o grupo de escritores que virão a reunir-se em torno da criação da revista Presença. No primeiro número da revista, fundada com João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, publicará o texto "Literatura Viva", que pode ser entendido como manifesto programático do grupo, defendendo que "Em arte, é vivo tudo o que é original. É original tudo o que provém da parte mais virgem, mais verdadeira e mais íntima duma personalidade artística", pelo que, "A primeira condição duma obra viva é pois ter uma personalidade e obedecer-lhe". Definindo "literatura viva" como "aquela em que o artista insuflou a sua própria vida, e que por isso mesmo passa a viver de vida própria.", aí reclama, para a obra artística, o carácter de "documento humano" e os critérios de originalidade e sinceridade. As linhas mestras da sua poética surgem claramente logo no seu primeiro livro de poesia (Poemas de Deus e do Diabo, 1925), no qual o culto da originalidade, entendida como autenticidade expressiva, se processa tematicamente entre os pólos do Bem e do Mal, do espírito e da carne, e, enfim, do divino e do humano. Neste contexto, os neo-realistas criticaram o psicologismo da sua poesia, que consideravam excessivamente voltada "para o umbigo". Como autor dramático, José Régio coligiu, em 1940, no Primeiro Volume de Teatro, textos dramáticos (Três Máscaras, Jacob e o Anjo) publicados dispersamente desde os anos trinta, a que se seguiriam o drama realista Benilde ou a Virgem-Mãe (1947), uma peça que veio a ser adaptada ao cinema por Manoel de Oliveira, El-Rei Sebastião (1949), A Salvação do Mundo (1954), O Meu Caso ou Mário ou Eu-Próprio - O Outro (1957), peças que, em larga medida, estabelecem uma continuidade entre temas, problemáticas religiosas, humanas e metafísicas já abordadas na obra poética, transferindo o que esta possuía de forma latente em tensão dramática, patético e exibição emotiva para o registo teatral. É de destacar também O Jogo da Cabra-Cega (1934), um romance marcado pelo recurso à técnica do monólogo interior. Postumamente foram editadas as memórias Confissão de um Homem Religioso. Comparecendo ainda em publicações como Portucale, Cadernos de Poesia ou Távola Redonda, José Régio organizou vários florilégios de poetas diversos, redigiu estudos prefaciais para poetas da geração da Presença e preparou a primeira série das Líricas Portuguesas.
The imaginary kingdom of Traslandia, a more or less medieval fantasy world, is almost depopulated by war and plague. Ignoring for which reason what is happening, the princess from a distant kingdom and her nurse arrives one desolate land, almost at the end of the war — a satire on political power.
«O Príncipe com Orelhas de Burro não pode ser considerado em paralelo com qualquer outra obra do nosso tempo, em Portugal [...], é uma obra destinada a ficar como uma grande data da nossa literatura. José Régio encheu o seu livro de quadros e retratos em que se revela toda a sua lucidez de moralista, e também toda a força da sua criação poética; quadros e retratos em que os mais diversos tipos de humanidade perpassam, mas que são sobretudos magníficos como sátira e como crítica de costumes. Régio pretendeu dar-nos um microcosmos em que cada paixão, cada tipo humano, tivesse a sua representação.»
Autor desconhecido. Presume-se que seja de Eugénio Lisboa que escreveu a Introdução à edição da Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM), em 2001
Muito feliz por ter tido a oportunidade de ler este livro. Não fosse pela internet, não teria encontrado esta joia da literatura portuguesa do século XX. Baseado num tradicional conto português de mesmo nome, cujo enredo tem leves semelhanças com "A Bela e a Fera" e com "A Bela Adormecida", o livro é extremamente bem escrito; e nos mostra como, para ver com clareza o outro, é preciso que nós, antes, vejamos a nós mesmos com nitidez.
Bem, desisti da leitura. Isto se deve não ao fato do livro ser ruim ou algo do gênero, mas apenas à questão de eu ter perdido o interesse pela leitura. Pelo que eu li, o livro me pareceu até interessante, mas chegou a um ponto em que eu decidi não continuar, porque tenho mais vontade de ler outras obras no momento. Contudo, deixarei em aberto a possibilidade de o continuar a ler no futuro.
Li este livro há muitos anos, quando ainda era uma adolescente. Gostei muito da história, achei-o comovente, lembro-me que me fez chorar. Muito bem escrito pelo excelente escritor Português, José Régio.
I was surprised how interesting this story was despite being so simple. O Príncipe was in the vein of Disney's Beauty and the Beast and Emperor's New Groove.