O livro que encerra a "Trilogia da terra" iniciada por TORTO ARADO.
Salvador, Bahia. Rita Preta, uma operadora de caixa de supermercado e mãe de três filhos, vê sua vida ser transformada quando um deles – um adolescente - some sem deixar rastro na comunidade onde reside na capital baiana. Na sua jornada em busca de respostas, ela enfrenta as possibilidades de perder seu emprego, seu relacionamento amoroso com um caminhoneiro, e até mesmo a própria vida, ameaçada pela atmosfera de violência e arbítrio que envolve o desaparecimento.
Ao ter seu presente interrompido pelo evento inesperado, Rita se vê imersa nas memórias de seu a saída precoce da casa da família no campo para trabalhar como empregada doméstica na cidade; a difícil relação com a avó Carmelita, a filha desaparecida de Donana; além da culpa que carrega por um trágico acidente envolvendo seus irmãos.
Afligida outra vez por um permanente sentimento de desterro ao revisitar cada lembrança, ela descobre ecos de sua existência nas histórias dos seus antepassados enquanto se dirige à terra onde passou seus primeiros anos. Se por um lado, tenta reunir os fragmentos de sua história para se manter íntegra no presente, por outro, procura involuntariamente a chave para um recomeço.
Na terceira e última parte da "Trilogia da terra" iniciada com Torto arado e seguida por Salvar o fogo, acompanhamos Rita Preta, descendente da linhagem de Donana Chapéu Grande, parte da geração obrigada a deixar suas terras pelos acirramentos dos conflitos fundiários para viver nos limites da cidade. Pessoas que têm seu direito à terra negado e continuam ameaçadas pelas instituições que violam seu território mais íntimo, o corpo, vivendo a herança atemporal da violência que assola o país há séculos.
Mas Coração sem medo é também uma narrativa sobre o poder da imaginação contra o o novo romance de Itamar Vieira Junior é o testemunho literário sobre a força das histórias que precisam ser contadas, revelando o vigor inquebrantável do espírito humano.
Coração sem medo é, acima de tudo, uma história da gente brasileira.
Itamar Vieira Junior (Salvador, 1979) é um escritor brasileiro. Formou-se em Geografia na Universidade Federal da Bahia, onde também concluiu mestrado. É doutor em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal da Bahia com estudo sobre a formação de comunidades quilombolas no interior do Nordeste brasileiro. Em 2018, venceu o Prémio LeYa, com o romance “Torto Arado”.
LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOKO DEMAIS. AQUI É O UNBOXING DA TRISTEZA, INJUSTIÇA E POBREZA. TUDO DÁ ERRADO E CERTO AO MESMO TEMPO, MAS TÁ TUDO ERRADO. MEIO POLICIAL, MEIO DECOLONIAL. TEM ENCHEÇÃO DE LINGUIÇA, MAS COM ESTILO. A LINGUIÇA É CARA. MELHOR QUE "SALVAR O FOGO". AMEI.
O 3o livro desta trilogia é uma leitura cativante, que termina de forma decepcionante. A narrativa é profunda e incisiva ao detalhar o peso e a herança histórica de ser uma pessoa preta no Brasil, expondo a persistente fragilidade dessa condição em qualquer ambiente social e econômico, do campo à cidade, no passado e no presente. o autor se revelar um otimista, usando seus personagens para projetar a educação como a grande força capaz de superar a discriminação e a inferioridade social.
Infelizmente, essa potência narrativa se esvai no desfecho. O autor faz uma péssima escolha de finalização, que parece beber da fonte dos melodramas televisivos. A inclusão repentina de uma 'nova personagem' busca justificar toda a dor e insignificância da existência individual pela simples 'preservação da espécie'. Essa guinada enfraquece a tese central e desmerece a densidade histórica construída até então.
Me fez lembrar Schopenhauer em sua tese que “A Natureza (a Vontade) não se importa com a felicidade ou o sofrimento do indivíduo; ela só se importa que a cadeia da vida continue.”