O romance autobiográfico sobre o acidente que colocou Marcelo Rubens Paiva numa cadeira de rodas quando tinha vinte anos marcou a estreia literária do autor e tornou-se, rapidamente, um sucesso entre o público e a crítica – amplamente traduzido, foi adaptado para teatro e cinema, conquistou prémios como o Jabuti, tornou-se tema de inúmeros trabalhos nas universidades brasileiras e, desde a sua publicação em 1982 até hoje, não tem parado de conquistar gerações de leitores. Longe de ser o simples testemunho de uma experiência dolorosa, Feliz Ano Velho é o retrato geracional de uma juventude que, no final dos anos 1970, experimentava a abertura do governo militar e o sonho da redemocratização. Durante o período de recuperação, Marcelo conta detalhes da sua infância e da sua juventude, dos seus casos amorosos e da sua carreira musical; fala também da repressão da ditadura militar e da perseguição aos cidadãos que se opusessem ao regime, incluindo a invasão da sua casa por seis militares que levaram o seu pai, o deputado federal Rubens Beyrodt Paiva, que Marcelo não voltaria a ver e cuja história desenvolve em Ainda Estou Aqui. O estilo de Marcelo, revelado num humor despretensioso e ao mesmo tempo mordaz, afasta a narrativa de qualquer pendor para o melodrama ou a autopiedade – pelo contrário, este é um texto de enorme força que, passados mais de quarenta anos, continua atual, vibrante e uma leitura indispensável.
Escritor, dramaturgo e jornalista, estudou na Escola de Comunicações e Artes da USP, freqüentou o mestrado de Teoria Literária da Unicamp e o King Fellow Program da Universidade de Stanford, na Califórnia.
Publicou cinco romances: Feliz ano velho (1982, Prêmio Jabuti), Blecaute (1986), Uabrari (1990), Bala na agulha (1992) e Não és tu, Brasil (1996). Publicou também o livro de crônicas As Fêmeas (1994). Foi traduzido para o inglês, espanhol, francês, italiano, alemão e tcheco. Como dramaturgo, escreveu: 525 linhas (1989); O predador entra na sala (1997); Da boca pra fora; e aí, comeu? (1999, Prêmo Shell); Mais-que-imperfeito (2000); Closet Show (2001); e No retrovisor (2002).
Chegou um momento em que eu estava simplesmente pulando as longas páginas focadas em suas memórias sexuais e seus muitos "tesões", que quase receberam maior atenção do que o foco que o livro aparentava ter de fato (o acidente, a reabilitação, o fazer as pazes com sua nova condição). Parece muito com uma conversa desinteressante com aquele colega que, de modo geral, pensa em foder e em mulheres mais do que em qualquer outra coisa, mas ao mesmo tempo mostra a evolução gigante de Marcelo Rubens enquanto escritor, quando comparamos esse livro com os que ele viria a escrever mais tarde.
Quando lemos uma autobiografia, é imprescindível algum tipo de identificação com o autor, que narra os fatos de sua vida em primeira pessoa, para que a leitura ande e funcione. Infelizmente, com "Feliz ano velho", obra nacional aclamada nos anos 1980, não consegui estabelecer essa relação com Marcelo Rubens Paiva. Sempre que eu criava alguma empatia pelo escritor, que teve uma vida marcada por tragédias e desafios, ele retornava com observações machistas, racistas e/ou homofóbicas. Sei que leio esta obra com um olhar contemporâneo, em um contexto muito distinto daquele dos anos 1980, mas essas visões retrógradas expressadas e reiteradas por Paiva durante toda a narrativa me impediram de me aproximar mais de seu relato. Ademais, também achei o texto muito mais longo do que deveria ser... Grande parte dos flashbacks (recurso usado a exaustão pelo autor) poderiam ter sido retirados na edição, já que não acrescentam muito à narrativa.
Entretém e é um livro que você pega pra ler e não larga até acabar, dá pra ler numa sentada. Considerando a história é compreensível o tom depressivo que tem. Fora algumas observações por vezes sarcásticas, por vezes engraçadas, resumiria o livro em memórias sexuais e lamentações.
Pode parecer que o acidente de Marcelo Rubens Paiva foi mergulhar em águas rasas, mas o que ele fez com esse acidente foi de um mergulho bem profundo, um mergulho de ainda continuar existindo, mesmo com tantas limitações. Essa escolha parece ser refletida na forma em como ele conta sua história: bem humorada, que me fez indagar "como ele só não reclamava da vida nessa situação??". Mas aqui repito seu alerta de não querer ser um exemplo de superação pra ninguém. Entretanto, acaba se tornando exemplo, sem querer, de como olhar para tragédias. Marcelo ainda aborda suas histórias e pensamentos com uma honestidade que incomoda. Imagino como todas as pessoas expostas devem ter se sentido após a publicação. Mas o que mais incomodava eram as ideias e constatações sexistas, que uma mente progressista do ano de 2019 já o encaixaria como um "esquerdomacho". só que eu dei uma chance e gostei...gostei quando ele descrevia São Paulo e toda sua magnitude; gostei quando ele trazia o que tava acontecendo na década de 70-80, quando o PT era a menina dos olhos da esquerda, quando as coisas mudavam. Uma leitura muito divertida, afinal.
Comecei esse livro sem nenhum conhecimento prévio sobre o autor ou a história em si. Não tem nada melhor como não ter expectativas, porque o livro me conquistou muito!
Mesmo tratando-se de uma situação muito séria e triste (Marcelo sofre um acidente e prejudica uma vértebra da colna cervical), o autor narra seus dias no hospital e momentos da sua vida de uma maneira muito gostosa e divertida. Me peguei várias vezes gargalhando durante a leitura. Bom sinal!
Recomendo muito esse livro pra quem gosta de leituras descontraídas, leves, enfim.... Muito bom!!!
Um livro interessante, e uma história de vida comovente. É impossível não se emocionar com o relato do autor, os planos para o futuro e sua carreira musical,e todos os aspectos da sua vida afetados após o acidente. Me admirei com o tom informal e sincero dos relatos do Marcelo, e adorei a linguagem crua do autor, sem frescuras ou censuras, o que tornou a leitura bem mais fluida e divertida. Apesar disso, busquei mais informações sobre o acidente e a recuperação, sua evolução e, principalmente, como ele lidou com as sequelas, tanto físicas quanto psicológicas. E descobri ao longo da leitura que, na verdade, Feliz Ano Velho é uma mistura do passado com o presente, relembrando e celebrando a vida do Marcelo antes do acidente, e ao mesmo tempo lidando com a cirurgia, a fisioterapia, os remédios e as dores. Senti falta de uma conclusão, um final mais próximo da história; o livro termina de uma forma meio abrupta e levemente insatisfatória. Por isso, e pela política que surgiu na história um tanto quanto a força, e sem como nem por que, Feliz Ano Velho é um livro três estrelas pra mim, e que recomendo a leitura!
me sinto uma jovem nos anos 80 que leu e se apaixonou pelo marcelo rubens paiva. acho que se apaixonar por ele depois de ler "feliz ano velho" é uma coisa que transcende gerações. não entendi quem resume o livro a "memórias sexuais e melancolia" kkkkkk, o que você esperava? mas entendo que é um livro que funciona pra uma faixa etária específica, que é a mesma de quando ele se acidentou e escreveu; acho difícil se identificar com ele quando se é mais velho ou mais novo do que isso (nunca que este é um livro que poderia ser indicado para menores de 17). realmente, ele é filho de sua época, e não dá para ler com o olhar de hoje, é anacronismo-- não dá para demonizar o cara por pensar o que era corrente nos anos 70/80! me identifiquei com ele diversas vezes, com as coisas que ele sente, o que me faz pensar que a juventude sempre será o mesmo conjunto de experiências, independente do período em que se vive. me peguei rindo com várias passagens e até assimilando as gírias. porém ainda me pergunto como ele conseguia conquistar tantas garotas... o molho, talvez...
Em um acidente de carro que sofri aos 21 anos, ao recobrar a consciência,minha primeira reação foi tentar mexer os pés. A história da fratura da coluna do Marcelo, ficou gravada na minha memória desde os 13 anos, época em que li o livro Feliz ano Velho pela primeira vez. Felizmente não quebrei a coluna, mas jamais deixaria alguém mexer meu corpo até o resgate chegar. Ao terminar de ler o livro pela segunda vez, é incrível eu não ter me lembrado que o Marcelo mencionou ter vindo para minha cidade natal em pelo menos dois momentos. Ele esteve em São João da Boa Vista no do bloco de carnaval Um Dois Feijão com Arroz e na chácara do seu amigo Otaviano.
A classic of the 80s in Brazilian contemporary literature, it is the autobiography of this guy who just dives and becomes paraplegic. He has this way of using language that seems completely casual and friendly and like he's your childhood friend, and even though I haven't re read it and it's been at least a decade since I last saw my copy (wonder where it is), I still remember the feeling of "it absolutely sucks that it can happen to anyone, but it is the mother of the whole stupidity that it happened to such a cool guy". Also, his father had disappeared (dictatorship in Brazil), and his family knew all kinds of interesting people. Definitely worth checking it out.
história de um rapaz que parece não ter muita noção dos privilégios em vários momentos e acaba soando classista, machista e racista em diversos trechos. é difícil, nos dias de hoje, simpatizar com ele de verdade. mas é um livro interessante como documento de época — me fez entender melhor como vivia (e até mesmo como falava) a juventude de classe média alta paulistana no início da década de 80. isso me pega bastante porque minha família vem meio que desse nicho também, então gera uma identificação preocupante. mas caso você não tenha uma conexão assim mais pessoal com a história e o contexto social por trás dela, não indico a leitura não.
Quem julga esse livro pelas passagens sobre sexo não tá atento ao que ele realmente é. Um clássico necessário e corajoso dos anos 1980, uma história marcada por grandes acontecimentos trágicos mas que nos dizem muito sobre ditadura e superação (no sentido mais honesto e menos autoajuda possível). Bom demais.
Li Feliz Ano Velho pela primeira vez quando tinha 15 ou 16 anos. Decidi revisitá-lo nesta semana, motivada pelo filme Ainda Estou Aqui e minha intenção de ler o livro de mesmo nome.
Mais uma vez, o livro me prendeu. A linguagem ágil e a escrita envolvente tornam a leitura dinâmica e fluida. É impossível não se deixar levar pela empatia ao imaginar o que significa, para um jovem de 20 anos, passar pelo trauma de se tornar tetraplégico.
Aos 20, você está começando a explorar quem é fora da bolha familiar, a sonhar com uma carreira e a viver sua sexualidade com mais liberdade. Não é à toa que boa parte das memórias que o autor revisita enquanto está hospitalizado giram em torno desses temas. Há uma crueza honesta no relato que torna as histórias ao mesmo tempo reais e impactantes.
Apesar disso, não consigo dar 5 estrelas. Compreendo que Marcelo, como um jovem branco de classe média nos anos 1970, refletia os padrões e preconceitos da época, mas me incomodaram as formas como ele se refere a mulheres e pessoas negras em diversos momentos (com expressões como “mulatos” e “crioulos”). Essa visão revela muito sobre o contexto sociocultural daquele período, mas também nos lembra de como tais narrativas precisam ser revisitadas criticamente.
This entire review has been hidden because of spoilers.
Pragmáticas memorias del autor, que describe el accidente que le dejó tetrapléjico y sus primeros años encamado. Imagino que el libro es el resultado de una suerte de proceso de exorcización, pues un accidente así hay que saber digerirlo. Interesante.
Livro muito ruim , achei que era mais uma história de superação mas acaba sendo mais uma história sobre as lembranças sexuais de um cara, o único ponto forte do livro é que ele pode ser engraçado em algumas partes
está um pouco confuso na minha cabeça, por um lado estar na cabeça desse homem me incomodou, mas por outro lado me sinto um pouco apegada a esse simples relato da vida dele. então está aí minhas 3 ou 4 estrelas da confusão.
No início, achei o livro bem interessante mas depois não consegui superar os comentários problemáticos que ele tinha. Não entendo porque a editora não fez uma revisão para que leitores jovens pudessem gostar e entender a importância que esse livro teve nos anos 80.
Me diverti pra caramba lendo, a forma muito bem humorada como o Marcelo leva as coisas me pegou desprevenida e me fez rir bastante. Ver como a percepção dele sobre si mesmo enquanto deficiente físico vai se moldando é muito interessante, as mudanças desde o baque do acidente até ter que entender que aquela seria sua nova realidade e ter que passar por cima dos próprios preconceitos pra conseguir seguir a vida. É muito forte a sua honestidade em todos os momentos, os desejos de vida e morte, a relação com as pessoas, com as memórias e com a incerteza de um futuro completamente distante de qualquer coisa que poderia ter desejado para si. O excesso de sexualização das mulheres me incomodou em alguns momentos, mesmo conhecendo o contexto do livro e que se trata da escrita de um garoto, no auge dos seus 20 anos como eu. E uma história que envolve a sombra da morte pairando por ali, mas que me fez sentir extremamente viva.
marcelo escreve muito bem. o estilo descontraído do livro faz a gente devorar. adoro biografias, e marcelo aos 23 já tinha uma história de vida e pontos de vista interessantes.
Obs: importante ler contextualizando. vi muitas críticas aos comentários machistas, privilegiados etc que o autor faz ao longo do livro, mas são anacrônicas e descontextualizadas. é um livro escrito por um rapaz de vinte e poucos anos que nascido em berço que acabava de virar minoria na década de 80. gosto da falta de pudor que marcelo usa pra falar sobre temas como tesão, é natural, é verdadeiro, é a forma como qualquer garoto de 22 anos pensa sobre sexo. marcelo apenas fez a escolha literária de não filtrar. achei muito tranquilo considerando o tipo de coisa que poderia vir da década de 80.
Os relatos sobre o acidente e as consequentes reflexões sobre a vida são comoventes. Difícil é aguentar os comentários do jovem autor em relação às mulheres...
Apesar da narrativa leve e descontraída (mesmo diante de uma tragédia), achei que o livro não envelheceu bem. De fato, é um outro contexto cultural (começo da década de 80), mas como o mesmo autor diz, muito machismo (não gostei da forma que ele trata as mulheres com que se envolveu). Há partes interessantes, que podem sim servir como reflexão (até pela própria questão da superação), mas não consegui ter maior inspiração.
Marcelo não quer ser modelo de superação e isso fica claro, ele sabe ser um grande cuzão em alguns momentos. Acredito que essa falta de filtro que nos aproxima tanto dos seus relatos, que traz tão forte a sensação de vida real. Que sua história se passe em um contexto político tão interessante é a cereja do bolo.