Metade de um século passou sobre a independência da sua terra ancestral, altura em que o seu pai já emigrara da ilha cabo-verdiana de Santiago para Portugal. Meia centena é também o número de textos que compõem a estreia literária de Dino D'Santiago.
Esta estreia não resulta de uma produção linear, nem nasceu da intenção de se tornar livro, mas germinou de forma orgânica, num processo de escrita e de autoconhecimento que se foi alimentando mutuamente. Escrever foi pedir licença à ancestralidade, voltar às memórias do passado, olhar para o presente e esperançar o futuro.
Ao ser desafiado a publicar o que escreveu, o autor acreditou que a partilha da sua experiência, das suas reflexões sobre o quotidiano, do seu sentir, e também dos seus conflitos e vulnerabilidades, revela aquilo que ele em nenhum momento deixa de o homem comum que, apesar da carreira artística, não abre mão dos papéis de pai, filho, irmão e marido.
Se a pena é a língua da alma, Cicatrizes exprime sem precedentes a natureza íntima do seu criador.
“Sonho com quintais onde o vira dança com o funaná, onde a morna embala o fado, e o gumbé se deita no colo do samba - tudo a girar na mesma roda de afeto.”
❤️
Acho que já não sublinhava assim um livro desde os tempos de licenciatura.
“Sou um cidadão de duas pátrias, com o direito inalienável de ser inteiro em ambas.”
Escrito em capítulos breves que são independentes. É a autobiografia de Dino D’Santiago que se centra na luta contra a discriminação racial. O autor faz uma catarse sobre os seus sentimentos; e descreve o seu percurso de vida, desde a sua origem até a atual vida artística.
Acabei agora o novo livro do Dino Santiago e gostei bastante. É um daqueles livros super rápidos de ler - o ritmo é leve, os capítulos curtos (50 ao todo!) fazem com que seja fácil pegar nele em qualquer momento e avançar mais um bocadinho. Também gostei do facto de muitas das histórias serem relativamente independentes entre si, o que dá uma sensação de liberdade na leitura.
O Dino aborda de forma muito direta temas como o racismo, a discriminação e as dificuldades que enfrentou enquanto criança, filho de pais que vieram viver para Portugal e cresceram num bairro de lata. Impressionou-me a forma como ele descreve a própria ascensão: de um contexto tão desafiante a tornar-se uma figura com protagonismo nacional e, por vezes, internacional. Há muita verdade e vulnerabilidade nestas páginas, e isso sente-se.
Numa nota mais crítica, talvez por ele ser um artista tão multifacetado - canta, desenha, escreve poemas - eu estava à espera que o livro explorasse mais temas para além do racismo. Não porque o tema não seja importante (é, e foi precisamente por isso que quis ler o livro), mas porque sinto que há ainda mais que podia aprender com ele, mais horizontes que ele podia ter aberto através da sua voz artística.
Mesmo assim, é uma leitura forte, honesta e inspiradora. Fico contente por a ter feito.
(…) este cansaço é o tributo que pagamos à liberdade que ainda não se cumpre por inteiro, à promessa de um futuro que apenas vislumbramos entre sombras.
E, de repente… autênticas aulas de História escritas em testemunhos urgentes – histórias do mundo, de ancestralidade, de luta, de superação e de cura.
Enquanto lia, senti muitas vezes que estava a ouvir o Dino falar comigo. Há uma urgência muito calma e muito característica nas palavras dele, uma verdade que não precisa de levantar a voz para se fazer sentir. Não é coincidência que o considere um dos melhores seres humanos que tenho a sorte de conhecer. A pessoa que ele é está inteira nestas páginas – generosa, consciente, profundamente humana.
E ler estes textos é isso mesmo, é conhecer o Dino.
Já não há nós e eles. Agora, a dor é partilhada, ainda que a maioria não perceba. Dói a todos, de uma forma ou de outra, porque as barreiras que criámos para nos proteger também são as que nos mantêm presos.
Gostei muitíssimo. Um profundo respeito. Querido Claudino, obrigada. Um manifesto que deveria ser lido por todos, principalmente nestes tempos de turbulência e de horror. Uma lição de amor, de esperança, de redenção. Tantas passagens que me marcaram… Apenas, algumas delas:
“Hoje deixo-vos o meu mantra de reprogramação; Sorte é a dança entre preparação e oportunidade; orgulho é a celebração dos próprios feitos; ambição é o fogo que me leva ao futuro; egoísmo é, afinal, o amor próprio, quando alinhado com a essência”
“Quem se humilha será exaltado, quem se exalta será humilhado”
“Não se pode exigir de alguém aquilo que não se é capaz de dar a si próprio. E, no entanto, aqui estou eu, à espera de algo que nem eu sei se sou capaz de retribuir”
Muito mais do que um livro...uma catarse, um grito, um manifesto.
“O que eu não sabia é que a cor do breu não é um erro, mas uma canção que o mundo ainda não aprendeu a cantar.”
“Eu sou e sempre serei pela paz, em qualquer canto deste globo. E a única arma que carrego nesta guerra da humanidade é aquela que os meus pais me deixaram: o amor. E enquanto tiver munições de amor, continuarei a viajar para todos os lugares onde sou bem-vindo. Porque o amor é a nossa única salvação.”
“Descobri que há uma violência subtil em quem vive sempre a cuidar dos outros e se esquece de si. E que cuidar de mim não é um gesto egoísta — é um ato revolucionário.”
Gostei muito de ler este livro do Dino. Uma importante reflexão sobre diversos temas da actualidade, nomeadamente o racismo e a pobreza. Recomendo vivamente a leitura