Pouco depois do 25 de Abril, os trabalhadores rurais do Sul ocupam a terra dos latifundiários para quem trabalharam como escravos ao longo de décadas. Em Aldeia Velha - o lugar onde decorre a acção deste romance - a sociedade depara-se de repente com as mudanças criadas pela Reforma Agrária, mas também com as consequências do fim da Guerra Colonial e as novas liberdades trazidas pela Revolução. Veremos, por isso, como reagem os que perderam as propriedades (e se insurgem ou resignam com a situação) e os que continuam a trabalhar de sol a sol, embora agora para seu próprio sustento. E também os que, depois de terem lutado anos pela democracia, são agora membros do Partido e ocupam funções de relevo, ou os que acreditaram no mundo perfeito e vêem os seus sonhos esfarelar-se todos os dias. Mas há também coisas que nunca mudam, por mais que os tempos tenham mudado: a bisbilhotice, a mentira, a má-língua, a maldade, o sofrimento. Num romance em que a verdadeira personagem é a própria aldeia - na qual o bulício das vidas individuais funciona como uma espécie de música de fundo - é curiosamente o carteiro - aquele que passa em todas as ruas e portas - o elo de ligação entre o padre, o merceeiro, o médico, a amante, o corno, o ricaço, o presidente da Junta e muitos outros, trazendo-nos a forma como cada um assimila os novos tempos e perspectiva o futuro. Porém, o muito que este homem cala é talvez aquilo que mais importa. Carlos Campaniço, no seu estilo inconfundível e uma linguagem que é um tremendo veículo sensorial, oferece-nos com A Cinco Palmos dos Olhos mais uma obra profundamente original.
Carlos Campaniço nasceu em Safara, no concelho de Moura, em Setembro de 1973. É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses, pela Universidade do Algarve, onde adquiriu também o grau de Mestre em Culturas Árabe e Islâmica e o Mediterrâneo. Vive há dezassete anos em Faro e é Director de Programação do Auditório Municipal de Olhão, o mais recente teatro do Algarve.
Tão giro este livro! Que boa leitura foi! Descreve - nos a vida de algumas pessoas de uma aldeia alentejana no pós 25 de Abril, passado uns anos e, por fim, na atualidade. O autor tem uma escrita muito agradável. Para mim foi uma estreia, mas vou ler mais livros dele, com certeza.
Gostei muito. Passado durante o pós 25 de Abril é o retrato de tantas e tantas aldeias do país tanto nessa altura como hoje, com os seus boatos e segredos. Uma escrita que prende e que nos faz querer ler sempre mais.
Gosto tanto dos romances de Carlos Campaniço e não se trata de identificação porque as minhas raízes não são alentejanas mas a escrita cuidada, ritmada e tão expressiva que dá colorido, autenticidade e vivacidade à narrativa deixou-me absorta na história desta grande “personagem” que é Aldeia Velha, no pós 25 de abril (em 1977) com todos os seus habitantes e os seus medos, intrigas, amores e desamores. O elo de ligação que tudo sabe e quase tudo cala é o carteiro Boca-Viúva.
O tempo passou e houve mudanças, algumas provocadas e outras circunstancias mas continuei ligada a estas personagens que acarinhava e não me apetecia largar e sem deixar de torcer por elas. Um romance que se vive. O melhor dos melhores que li. Devorei.
Um romance que explora o pós 25 de abril com as suas consequências nos habitantes de "Aldeia Velha". Um agradável surpresa de um autor que me era desconhecido. Numa linguagem agradável, num estilo próprio O autor recorre a uma linguagem poética, rica em imagens e sentimentos, que aproxima o leitor das emoções e memórias das personagens. A fluidez da narrativa, aliada a um vocabulário cuidado e expressivo, cria uma atmosfera intimista e delicada, sem deixar de ser clara e acessível. Muito interessante. Adorei as personagens, especialmente a Marianita e o Adrião (com a Ana Maria e os filhos).
"A Cinco Palmos dos Olhos" foi a minha estreia na escrita de Carlos Campaniço.
O romance leva-nos a um Portugal ainda a reorganizar-se depois do 25 de Abril, quando a Reforma Agrária começa a mexer profundamente com a vida nas aldeias do Sul — não apenas na terra, mas também nas relações, nas expectativas e no equilíbrio entre as pessoas.
A ação decorre em Aldeia Velha, uma localidade pequena onde tudo se cruza. Através de várias personagens, o livro mostra diferentes formas de lidar com a mudança: perdeu propriedades, quem passa a trabalhar a terra de outra forma, quem se envolve na política local e quem vê os ideais iniciais confrontados com a realidade do dia a dia. Pelo meio surgem a vida da aldeia, os soldados que regressam do Ultramar, o médico, o padre e o amor.
Gostei muito deste livro. A escrita é leve e envolvente, fazendo-nos sentir dentro de Aldeia Velha — quase como se estivéssemos na praça, a ver o Salvador à porta da loja e o Boca-Viúva a distribuir o correio.