Jump to ratings and reviews
Rate this book

Manhã Submersa

Rate this book
O despertar para a vida de uma criança, entre a austeridade da casa senhorial de D. Estefânia, a sensualidade da sua aldeia natal e o silêncio das paredes do seminário. Um jovem seminarista de 12 anos, é obrigado a ir para o seminário. E a história desenrola-se em torno das vivência e sentimentos que o jovem seminarista vai experimentando. Num ambiente negro, triste, ríspido e severo do seminário, o jovem descobre-se e descobre o mundo que o rodeia: a repressão na educação, a pobreza da sua terra, as desigualdades sociais, o desejo do seu corpo, a camaradagem, a amizade, o amor.

217 pages, Paperback

First published January 1, 1953

26 people are currently reading
1219 people want to read

About the author

Vergílio Ferreira

65 books307 followers
VERGÍLIO FERREIRA nasceu em Gouveia, a 28 de Janeiro de 1916. Seminarista no Fundão, licenciou-se depois em Filologia Clássica na Universidade de Coimbra e foi prof. liceal em Faro, Bragança, Évora e Lisboa (desde 1959). Ficcionista e pensador, estreou-se com o romance O Caminho Fica Longe (1943) e o ensaio Sobre o Humanismo de Eça de Queirós (1943). Escritor dos mais representativos das letras portuguesas da segunda metade do séc. XX, a sua vivência fechou-se no labirinto do existencialismo sartreano. Entre as suas obras destacam-se: Manhã Submersa (1954), adaptado ao cinema por Lauro António e vencedor do Prémio Femina para o melhor livro traduzido em França em 1990, Aparição (1959, Prémio Camilo Castelo Branco), Cântico Final (1960), Alegria Breve (1965, Prémio da Casa da Imprensa), Nítido Nulo (1971), Rápida a Sombra (1974), Signo Sinal (1979), Para Sempre (1983, Prémio Literário Município de Lisboa), Espaço do Invisível (1965-87), em quatro vols., Até ao Fim (1987, Grande Prémio de Novela e Romance da APE), Em Nome da Terra (1990), Na Tua Face (1993, Grande Prémio de Novela e Romance da APE). De assinalar são também o diário publicado a partir de 1981 (Conta Corrente) e o vol. de ensaios Arte Tempo (1988). Em 1991 ganha o Prémio Europália, pelo conjunto da sua obra, e em 1992 é-lhe atribuído o Prémio Camões. Foi condecorado pela Presidência da República com o Grande-Oficialato da Ordem de Sant’Iago da Espada, em 1979 e, em 1985, foi nomeado para o Prémio Nobel da Literatura. Faleceu em Lisboa, a 1 de Março de 1996.

Ratings & Reviews

What do you think?
Rate this book

Friends & Following

Create a free account to discover what your friends think of this book!

Community Reviews

5 stars
562 (32%)
4 stars
763 (44%)
3 stars
314 (18%)
2 stars
64 (3%)
1 star
16 (<1%)
Displaying 1 - 30 of 102 reviews
Profile Image for Vit Babenco.
1,786 reviews5,796 followers
March 5, 2025
A Drowned Morning is a story of ruined youth… Of the perished morning of life.
Going to the Catholic seminary… Saying farewell…
I caught the train at Castanheira station, after Calhau stopped hugging me. It was he who brought me in Dona Estefânia’s ox cart, in whose house, as we know, my destiny was sealed. My mother came to church in the early hours of the morning to see me leave but feeling so distant from me as if I were trapped, as if I already belonged to a world that wasn’t hers – she barely spoke to me.

It’s all so full of sadness… Farewell childhood… Farewell the past… The unknown awaits ahead… 
In truth, I would not like to cry. But abruptly robbed of my childhood, stunned by loneliness, I felt as if I was weeping deep inside. Unexpectedly, I discovered within myself the beckoning of the past. The past was the great mountain to the east, unrestrained freedom, it was the warm breath of the lost mother’s love, the original flower of joy that now wilted.

Humiliating enslavement… A heavy atmosphere of hatred and fear… The main purpose of teachers seems to be not to teach but to subjugate pupils… Obedience to mentors is obedience to the will of God…
Everyone was tormented by waiting and then the Spiritual Director fired: “Since when could this house of God be considered a prison?”
He machine-gunned us passionately, frenzied with rage, to destroy any possible resistance beforehand. And, taken by surprise, we all retreated into the depths of our fear.

The weak ones obey and those who are stronger temper their will.
Profile Image for Luís.
2,374 reviews1,370 followers
March 8, 2025
Manhã Submersa recalls the life spent by António Lopes, Vergílio Ferreira's alter-ego, in the small Seminary of the Diocese of Guarda, located next to the Donas and Fundão. The narrator focuses on a past lived with such intensity that it becomes present towards a future. It is not just any memory but an interrogative, distressing, sometimes tragic memory, analyzing consciousness as Dostoievski, giving less value to the sociological vision so dear to Balzac. Memory lives between reality and the imaginary.
The distinction between reality and fiction is not easy, as we do not know very well where the difference between the two is. François Mauriac noticed that readers would discover outstanding fiction when his work had facts inspired by reality. On the contrary, readers claimed to see an actual copy when specific actions were for him and the fable. Paul Ricoeur even wrote that the fiction was a super-real. Vergílio Ferreira, on the other hand, affirms that "the real is a scam" and even speaks of the folly of reality in literature. By real, I mean the original, authentic, well-known life lived by young people at the Fundão Seminar, particularly by António Lopes, the author's alter-ego. I associate fiction with the beauty search, interiorization, transfiguration, and poetic way of transmitting those same realities. In analyzing the real and the fiction, we will try to go through the places that the author unveiled, identify the people with whom he lived, walk the paths of education, weep the evidence of death, and deepen the mystery of the transcendent.
Profile Image for Alma.
751 reviews
September 1, 2020
"Porque o peso da dor nada tem que ver com a qualidade da dor. A dor é o que se sente."

"Porque um dos crimes mais perseguidos e mais desejados no Seminário, como creio já ter dito, era precisamente o pecado da solidão. Quando algum de nós se afastava para dentro de si próprio, logo a vigilância alarmada dos prefeitos o trazia de rastos cá para fora. Os superiores sabiam que, à pressão exterior, cada um de nós podia refugiar-se no mais fundo de si. Como sabiam também que a descoberta de nós próprios era a descoberta maravilhosa de uma força inesperada. Nenhuns sonhos se negavam ao apelo da nossa sorte, aí na nossa íntima liberdade. Por isso nos expulsavam de lá."
Profile Image for André Benjamim.
Author 2 books31 followers
September 23, 2013
manhã submersa, de Vergílio Ferreira. O meu exemplar perdeu a tinta, nas dobras da capa e da contracapa com a lombada, e nas dobras das badanas com a capa e contracapa. É um exemplar da Bertrand Editora, tal e qual o da imagem acima; em cima o nome do autor a branco, em letras garrafais, sensivelmente a meio o título da obra, a verde, em minúsculas, ao fundo o logótipo e o nome da editora. É uma capa simples, e gasta.

Comprei-o numa tarde estival de início de Outubro, num ano em que o Verão se prolongou pelo Outono adentro. Estava abandonado a um canto de uma montra de uma antiga livraria e papelaria que o dono mantinha aberta por vocação ou ocupação. Já tinha saído da tipografia onde fora a imprimir há três anos, e parece ter saído já velho e cansado, com as páginas mais amareladas que o que habitualmente o são as das obras da colecção do autor no mesmo formato, editora, e tipografia: talvez porque tivessem antevisto o quanto iriam ser folheadas, lidas, e relidas. Ali se encontra, na estante entre outros, do mesmo autor, com outras cores: preto, verde, laranja...

É o único romance que reli. Ou talvez seja outra a verdade: à medida que avançava na leitura, era o romance que me lia a mim. E de cada vez que o reli, lia em mim facetas que até então desconhecia, pormenores a que nunca dera importância, pensamentos que antes não ousara, sentimentos que não imaginara. Quiçá seja isto verdade em qualquer livro, em qualquer obra de arte, porém nenhum outro romance deixou tão vincadas as marcas da sua passagem. Tão nítidas. De cada vez que António dos Santos Lopes toma o comboio na Castanheira, sou eu que subo da plataforma, para o degrau da carruagem. E o destino que lhe talharam em casa de D. Estefânia, pressinto-o em mim. E as suas humilhações, revelações, questões e confusões, trespassam-me o ser. E sou engolido pelo casarão...
Profile Image for Inês Sousa.
211 reviews36 followers
May 30, 2024
Que livro sofrido.. mas bom. Definitivamente vou ler mais obras do Sr. Vergílio. Que escrita cuidada, por vezes crua, muitas vezes impactante. Senti as palavras constantemente a levarem-me as emoções. Leiam esta pérola, caso ainda não o tenham feito. Eu vou ficar aqui a pensar mais um bocadinho nele. 🙂
Profile Image for Isabel.
99 reviews23 followers
December 30, 2015
"A dor é o que se sente. Nada mais. Desisto definitivamente de me iludir com a minha força de adulto sobre o peso de uma amargura infantil. Exactamente porque toda a vida que tive sempre se me representa investida da importância que em cada momento teve. Como se eu jamais tivesse envelhecido. Exactamente porque só é fútil e ingénua a infância dos outros - quando se não é já criança.".

Em espaço de dias, leio o segundo livro de Vergílio Ferreira. Surpreende-me como, embora se perceba que são escritos pela mesma pessoa, transportam o leitor (ou a mim, pelo menos) para um espaço, uma sensação, totalmente diferente.
Manhã Submersa não detém a densidade (amarela das ruas de Évora) do Aparição. Não são as personagens o mais marcante; é-o o ambiente vivido por elas. Em alguns momentos fez-me recordar passagens do Jane Eyre: a frieza (real) do mundo das crianças protagonistas, a tristeza, os dias infinitos. Portanto, de certa maneira, a mágoa de um período de vida perdido. Neste caso a infância e adolescência perdidas.
Há muito de Portugal neste livro. Como o há também no Aparição. No Manhã Submersa, há precisamente as manhãs de inverno do inverno português. Em particular do interior. Fui transportada para essas manhãs geladas, mesmo quando no livro o autor descrevia as férias de verão.
O autor escreve em espécie de diário. Achei curioso o facto de repetir várias vezes a expressão: "de modo que", o que assinala ainda mais essa ideia de escrita rápida, de quem está a contar alguma coisa, e não está a fazer grande exercício de ficção.
A escrita de Vergílio Ferreira é toda ela sublime! Os termos que utiliza, alguns em desuso, mas não datados. A construção de frases: simples, diretas, sem grandes apetrechos. Tudo isto dá ao leitor, a mim, uma sensação de leveza, de satisfação - estou na página 10, quando reparo já estou na 100. As páginas voam e o tempo passa rapidamente.

É fácil de compreender porque é que o livro foi usado no pós 25 de Abril como forma de "atacar" a igreja. Na realidade, não gostaria de explanar muito sobre o tema agora, sob pena de parecer demasiado herege... A fazê-lo teria que dizer que acredito que a educação cristã tem sido a maior maleita que assola as gerações de portugueses; e que essas limitações religiosas impregnam o pensamento português há séculos.

Resta-me dizer que voltarei, nestes dias, à biblioteca municipal, buscar outro do Vergílio!
Profile Image for André.
114 reviews75 followers
June 17, 2016
Escrita irrepreensível, capítulos breves, história bela e comovente, maravilhosamente narrada... Que mais se pode pedir ao ler-se a obra de alguém pela primeira vez? Muito feliz estou por me ter decido a comprar este pequeno livro, que guardo agora com especial carinho. Tão bem que sabe ver a nossa língua assim estimada, revestida de uma sublimidade que lhe é tão própria e única, materializando-se em deleite puro, como se de uma canção por só nós ouvida se tratasse!

Deixo-vos este pequeno trecho, na esperança de que também vocês se deixem encantar pela sensibilidade de Vergílio Ferreira.
«O luar gelado entrava pelas grandes janelas, transfigurava tudo em aparições de espectros. Eu descobria então, sentado aos pés da minha cama, o meu demónio solitário. Mas já o não temia nem quase reparava nele, tão habituado e quase desejoso da sua presença eu estava. Ali o esquecia, silencioso, com os olhos fosforescentes no halo verde da Lua. E, tranquilo, soerguia-me na cama, rodeado vastamente do lento resfolgar dos companheiros como de mortos que respirassem, e olhava através do janelão a cerca emudecida, povoada de sombras, o ermo da mata que subia devagar pela colina.»

Profile Image for Rita.
70 reviews
May 20, 2020
Vergílio Ferreira equilibra realismo com existencialismo de uma forma que me agrada particularmente. A sua escrita é límpida e mesmo o que parece não essencial não é, afinal, dispensável. Em Manhã Submersa conta de uma realidade que nos parece tão distante, mas que estará tão próxima (demasiadamente próxima) da nossa história colectiva, feita de fome, de temor, de ignorância, mas também de sonhos daqueles que reclamaram a vida para si mesmos.
Profile Image for Carla Sofia  Eiras.
7 reviews2 followers
August 28, 2022
Uma viagem atormentada de uma criança no mundo da fé. o conflito interno do desejo, da dúvida, da sede de vivências e amizades que se perdem tragicamente.
Acima de tudo, arrepiante o percurso que Virgílio Ferreira atribui aos seus personagens, desde aceitação à dúvida, à sede de mais e ao alcance platónico do desejo inicial.

Vale cada página, e houve momentos em que sim, senti a noite de todo o mundo entrar por mim adentro.
Profile Image for João Pedro Leite.
108 reviews
March 8, 2023
Que escrita fantástica tem o Vergílio. É completa, poética e bonita, mas sem ser presunçosa. Nota-se que o autor tem um talento extraordinário para expressar por palavras o que quer contar. Tudo isto eu já sabia de ter lido Aparição, mas enquanto nesse livro a história não me cativou, aqui, além da escrita, temos uma história simples, mas que nos prende do início ao fim. Uma crítica feroz ao seminarismo e à vida (se assim lhe podemos chamar) de quem estuda para padre, enclausurado num seminário. O autor aborda também a hipocrisia da igreja católica, dos ricos cristãos e de como pessoas pobres eram obrigadas a retrair o seu próprio ser por um prato de comida e um futuro digno. Poderoso o momento em que a mãe do protagonista assume que teria sido melhor que ele ou algum dos irmãos tivesse morrido em novo, atropelado quando brincavam na rua, do que viver miseravelmente como lhes estava predestinado.
Profile Image for Matilde Ruas.
62 reviews
October 12, 2024
“O meu desassossego tinha a idade da vida, a sua voz era a voz absoluta da Terra.”

Nunca tinha lido nada de Virgílio Ferreira, mas a sua escrita admirou-me, é densa e difícil, mas tão bonita…O livro conta a jornada (nomeadamente de desenvolvimento sexual) de um adolescente a estudar para padre e está simplesmente brilhante.
Profile Image for Luisa.
11 reviews38 followers
December 25, 2018
Neste momento, estou muito dividida quanto à minha opinião sobre este livro.
Por um lado, apaixonei-me pela escrita de Vergílio e senti-me absorvida pela sua história.
Por outro lado, sem dúvida por causa da temática deste livro, não consegui afeiçoar-me à história, nem às suas personagens; muito menos à personagem principal, o Lopes, que, honestamente, achei irritante devido à sua cega inocência e caráter excessivamente pudico.

De qualquer forma, aconselharia este livro a quem ainda não leu Vergílio, tal como eu ainda não me tinha estreado na sua leitura, pois é um bom exemplo de uma escrita encandatora portuguesa.
Sem dúvida que irei ler mais livros deste autor.
Profile Image for Sebastião.
101 reviews17 followers
April 29, 2013
É maravilhosa a capacidade de certos escritores em captar, de forma tão apurada e precisa, toda uma mentalidade, toda uma cultura vigentes em determinado contexto.

Essa realidade é perscrutada através do universo interno do personagem e, assim, a história brota naturalmente a partir da colisão dos mundos.

Mais do que uma história, superiormente contada, mais do que um conjunto de personagens profundos e de descrições magistrais, esta obra suplanta o neo-realismo do Mestre Vergílio Ferreira e coloca-se antes como uma obra-prima do Existencialismo português.
2 reviews
August 6, 2012
Virgílio Ferreira é um daqueles escritores que não nos contam histórias, fazem-nos senti-las. É precisamente o que acontece em 'Manhã Submersa', o drama de um adolescente que cresce ao sabor de um destino que não escolheu: o de ser padre. A narrativa é sublimemente contada anos mais pelo próprio Borralho, através do seu livro de memórias, e a habilidade que o escritor tem de nos fazer sentir a mesma dor que o protagonista sente gera uma inegável empatia entre personagem e leitor.

O livro pode muito bem ser encarado como as crónicas de uma revolta, no qual, ao longo dos vários anos que Borralho atravessa no austero e conservador Seminário, o crescimento pessoal transporta consigo o crescimento de uma raiva interior contra toda uma realidade que lhe é imposta: um destino que lhe foi talhado, um ofício que nunca desejou, uma adolescência feita de privações, um Deus em que foi obrigado a acreditar. Toda a história é uma luta interior, repleta de momentos fortes que dificilmente deixarão alguém indiferente.

Infelizmente é daqueles livros sobre os quais não é fácil escrever sem que se revele alguma coisa do seu enredo, pelo que limito-me a convidar quem nunca leu a não deixar passar 'Manhã Submersa'. É sem dúvida um marco incontornável da literatura portuguesa.
Profile Image for Fátima Andreia.
549 reviews8 followers
August 23, 2024
Um retrato do início do século XX em que a fome fazia com que as crianças fossem entregues aos seminários se existisse um bem feitor que os pagasse
A construção da vida de uma criança num meio repressivo e tacanho.
Gostei pela escrita que nos faz pensar no peso colocado sobre os ombros de uma rapaz.
Profile Image for Sara Vicente.
54 reviews11 followers
June 8, 2024
Todo o meu eu ficou fragmentado por ti, António
Profile Image for Madi.
161 reviews5 followers
August 7, 2024
Perdi todas as capacidades críticas ou ando só a ler livros mesmo, mesmo bons??
Profile Image for Daniel.
175 reviews
October 9, 2025
o nascimento de fernando, o fementido dera-se aqui
Profile Image for Laura Falésia.
22 reviews9 followers
October 9, 2018
Peguei neste livro por acaso e foi uma surpresa incrível. É sobre a solidão de um adolescente pobre de uma aldeia portuguesa que entra no primeiro ano do seminário sem realmente desejá-lo.
Lá, torna-se amigo de rapazes que também não querem lá estar, pessoas que estão capazes de se suicidar para saírem, pessoas que enfrentam os pais para se virem embora. A corrupção por parte dos padres é posta à vista dos alunos e do leitor, deixando-nos à beira de um ataque de choro a cada página.
A violência psicológica e física não é dispensada. A fé do personagem principal parece inabalável e só quando é confrontado com a primeira questão acerca da existência de Deus, que lhe é apresentada por outro personagem ("E se Deus não existir?"), é que o rapaz tem plena posse de si e da sua individualidade.
O leitor acompanha esta transformação interna do miúdo até à desistência do seminário sem que ele tenha qualquer medo ou culpa, possivelmente com a fé debelada.

A maestria com que Vergílio Ferreira domina o vocabulário português é incrível, equiparável a quando estamos a construir o nosso vocabulário na escola primária. Chegamos ao significado das palavras pelo seu sentido.
Profile Image for Nelson Zagalo.
Author 15 books466 followers
December 18, 2014
Mais um belíssimo livro de Vergílio Ferreira, um dos meus autores de sempre. "Manhã Submersa" é uma viagem interior que trespassa o sentir de uma adolescência específica, num tempo e espaço muito específicos. Um livro que terá dado ânimo ou atingido nostalgias a muitos que o leram e que agora se distancia muito da nossa realidade. Contudo enquanto exercício literário continua a oferecer-nos um acesso privilegiado aos sentires de alma, como só a literatura consegue fazer. É um livro pequeno, com um história curta, mas que se adensa por tudo o que nos leva a descortinar do ser humano.
Profile Image for Mafalda Oliveira.
31 reviews2 followers
March 24, 2025
Submersivo romance que nos relembra da manhã imensa que é a infância. Comovente e arrebatador esta carta a uma vida no início de jornada.
Não obstante a escrita que Vergílio Ferreira oferece à língua portuguesa é espantosa mas acessível, sendo facilmente interpretada e levando o leitor para o universo de António Lopes.
Profile Image for João Ricardo.
133 reviews5 followers
December 23, 2022
Ainda me encontro a digerir esta obra. Tal como em "Aparição", a escrita de Vergílio Ferreira é de uma agudeza imensurável: nas suas frases há uma ordenação das palavras que retratam com acutilância o assombro e o espanto lôbrego do espírito humano.

Ainda que creia que esta obra não seja tão impactante como "Aparição", em especial as personagens, existem claramente quatro episódios que me são marcantes, quiçá até inesquecíveis, devido à sua aparente indiferença que, em boa verdade, está inflamada de uma tremenda violência - sobretudo aos olhos de uma criança que sente visceralmente saudade à infância roubada; estes são: ambos os confrontos com Dona Estefânia e a sua mãe com o intuito de lhes dizer que não possui vocação para o sacerdócio, o enterro de Gaudêncio e o momento da explosão do foguete.

Como processar a infância roubada e vergastada pela austeridade, o temor e a opressão de um ensino religioso? Como ousar duvidar da existência de um Deus que tanto lhe é pregado? Como olhar a cara desgastada e maculada de uma mãe e negar-lhe a avidez de um futuro melhor? Como é presenciar a morte, e por fim, entender que tudo é permitido? Que não se está destinado ao calvário eterno? Como é ter o poder sobre o seu destino nas mãos e ter de o rejeitar por medo?

A inocência púdica de uma criança que não pode ser isso mesmo, uma criança comum, e que se torna vítima de injúrias pelos seus conterrâneos. Está ali tudo dentro, dentro da obra. Está ali a ânsia de conhecer a vida; a alvorada esperançosa de uma vida que adveio castrada das trevas.


"A dor é o que se sente. Nada mais. Desisto definitivamente de me iludir com a minha força de adulto sobre o peso de uma amargura infantil. Exactamente porque toda a vida que tive sempre se me representa investida da importância que em cada momento teve. Como se eu jamais tivesse envelhecido. Exactamente porque só é fútil e ingénua a infância dos outros - quando se não é já criança."

"Mas no instante-limite da explosão, no ápice infinito em que tudo iria acontecer, um impulso absurdo, vindo não sei de que raízes, fez-me arremessar a bomba. Ou talvez que não houvesse impulso algum e tudo seja apenas, ainda agora, uma incrível fímbria de receio de que não cumprisse o meu propósito até ao fim. Porque a explosão deu-se e eu sangrei e perdi dois dedos da minha mão direita. Gritaram todos aos meus ouvidos, horrorizados da minha crueldade. Mas só a noite chorou comigo a minha dor, com um amor longínquo de estrelas e de silêncio."
This entire review has been hidden because of spoilers.
Profile Image for John.
222 reviews
April 7, 2018
« Estranho poder este da lembrança: tudo o que me ofendeu me ofende, tudo o que me sorriu sorri; mas, a um apelo de abandono, a um esquecimento real, a bruma da distância levanta-se-me sobre tudo, acena-me à comoção que não é alegre nem triste mas apenas comovente... Dói-me o que sofri e recordo, não o que sofri e evoco. »

Da distinção, o texto lúcido de VF exorta a submersão no seu país triste, intimidante mesmo como mera lembrança, todo este crescimento depois; descrevendo-nos a manhã que foi a génese de toda uma geração, ainda viva hoje. Neste sentido, o texto torna-se cruel - não obstante os momentos de interrogação existencial e até de hilaridade, paralelos no seu realismo - é no retrato cru de uma experiência incomum que toda uma familiaridade se apresenta ao leitor - nem boa nem má - mas genuína, e presente. De novo o conceito ("memória"), e todo o esforço implícito, consciente e não, de lembrar, transportar dormente, dentro de nós, menos uma forma de sentir do que de pensar sobre as coisas que vivemos. Mais que Aparição, é nesta obra que VF une habilmente o seu pensamento à sua voz, apoiado talvez na autobiografia mas transpondo-a para o universal, fazendo a síntese de uma literatura profundamente nacional, inequivocamente própria de si. Mais que ficção, é uma prosa de ideias, de imagens não-imaginadas, de conceitos que se vêem, se experienciam, que podem ser tocados. Ler VF não requer imaginação tanto como inteligência; pede memória mais do que sonho. Custa. Mas vale a pena.
Profile Image for José Pedro Maio .
50 reviews11 followers
March 20, 2021
Adorei este livro, assim como a escrita do leitor. Mesmo nos momentos de relato mais quotidiano, conseguiu sempre captar a atenção do leitor, demonstrando o que é a vida num seminário. Criei uma ligação com a personagem principal e os seus dramas, o que permitiu perceber a sua realidade e a razão dos seus sentimentos. Recomendo vivamente esta leitura!
Profile Image for Rita Guimarães.
49 reviews3 followers
September 19, 2022
"O reino deles era o silêncio e a disciplina. Fora disso, andavam desorientados, porque não tinham adquirido ainda a técninca da alegria."

"Porque um dos crimes mais perseguidos e mais desejados no Seminário, como creio já ter dito, era precisamente o pecado da solidão. Quando algum de nós se afastava para dentro de si próprio, logo a vigilância alarmada dos perfeitos o trazia de rastos cá para fora. Os superiores sabiam que, à pressão exterior, cada um de nós podia refugiar-se no mais fundo de si. Como sabiam também que a descoberta de nós próprios era a descoberta maravilhosa de uma força inesperada. Nenhuns sonhos se negavam ao apelo da nossa sorte, aí na nossa íntima liberdade. Por isso nos expulsavam de lá."
Profile Image for LUCAS.
64 reviews1 follower
March 4, 2025
I’m so sorry Becca but school is coming first rn and now I just have one more Portuguese book to read for it

Ok I loved the book it has so many elements I can relate to and I also love hearing about deep catholic history from the lens of someone so young especially in Portugal. The - Evora made me happy too
Profile Image for Nuno.
19 reviews1 follower
July 13, 2021
Esta obra, foi o meu primeiro contacto com Vergílio Ferreira. Considerado um romance de aprendizagem, em que o personagem inicia o seu processo de desenvolvimento desde a infância até à maturidade, a mesma, António Lopes, narra o seu percursso, num seminário da Fundão, durante os anos 40.
A obra é um verdadeiro "page-turner", com as qualidades da boa ficção literária. Escrita fluída, auto biográfica e com bastantes introspeções em que o autor recorre à natureza, para compor diversas metáforas reveladoras da vida interior de António Lopes.
Profile Image for João Santos.
11 reviews1 follower
November 16, 2021
Uma escrita de época. Elegante e de leitura bastante agradável.
Sem querer fazer grande apreciação acho que é uma optima leitura actualmente pois abre uma janela para a mentalidade portuguesa, especialmente a ligação à Igreja, do século passado.
Displaying 1 - 30 of 102 reviews

Can't find what you're looking for?

Get help and learn more about the design.