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A nossa hora

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Em 2023, a recuperar ainda de uma cirurgia cardíaca, Faciolince aceitou o convite para participar numa feira do livro na Ucrânia. Cumpridos os compromissos literários, o grupo com que seguia decidiu deslocar-se a uma das cidades mais próximas da linha da frente, para testemunhar em primeira mão os horrores da invasão russa. Não imaginavam, então, quão de perto iriam viver a tragédia da guerra. Na véspera do regresso, num restaurante em Kramatorsk, Faciolince e os seus companheiros de viagem sofreram um golpe inominável: um míssil russo com seiscentos quilos de explosivos caiu no centro da cidade, matando treze pessoas e ferindo mais de sessenta. Uma das vítimas mortais foi a escritora ucraniana Victoria Amélina, guia e companheira da incursão ucraniana que terminou em tragédia. Minutos antes, Faciolince acabara de trocar de lugar à mesa com ela.

Este livro é o relato dessa história, no tom pungente e brutalmente honesto que caracteriza o melhor da literatura deste autor: a indignação diante da morte de um inocente; a culpa e o espanto dos sobreviventes; e o incómodo e fortuito acaso de escapar à morte uma vez mais. Um relato que se transforma numa reflexão desarmante sobre a fragilidade da vida.

256 pages, Paperback

Published October 1, 2025

7 people are currently reading
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About the author

Héctor Abad Faciolince

50 books1,150 followers
Héctor Joaquín Abad Faciolince was born on 1 October 1958 in Medellín, Colombia Colombian novelist, essayist, journalist, and editor. Abad is considered one of the most talented "post-boom" writers in Latin American literature. Abad is best known for his bestselling novels Angosta, and more recently, El Olvido que Seremos.

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Displaying 1 - 5 of 5 reviews
Profile Image for Paula Mota.
1,665 reviews563 followers
November 26, 2025
4,5*

A escrita talvez me ajude a compreender. Não quero voltar a Kramatorsk, só escrever sobre Kramatorsk. Não sei o que mais fazer. Nada. Sento-me e escrevo. Mesmo que não queira. Obrigo-me a escrever. Que mais posso eu fazer?

Quando chega a nossa hora? É algo que está escrito ou depende de nós? No dia 27 de Junho de 2023, às 19h28, a alguns quilómetros da frente de batalha no Donetsk, se não tivesse trocado de lugar com a escritora Victoria Amelina por ouvir mal do ouvido direito, talvez tivesse chegado a hora de Hector Abad Faciolince, quando um míssil russo atingiu uma pizzaria, matando 13 pessoas.

Nos últimos anos, depois de sofrer um achaque atrás do outro, tendo padecido de doenças relativamente sérias, sentia cada vez mais que a velhice era horrível e que me estava a despedir da vida aos poucos, sentido a sentido. Sempre que me faziam o célebre questionário de Proust, eu respondia a mesma coisa na última pergunta: Como é que quer morrer? Percebendo que estou a morrer, pois a morte é a última experiência da vida.

O que instiga um escritor colombiano de 65 anos, com alguns problemas de saúde, a visitar a zona mais massacrada da Ucrânia depois da passagem por uma feira do livro em Kiev? Passei dois terços desta obra incrédula, quase indignada por Faciolince, num gesto puramente simbólico de solidariedade, basicamente em resposta a um desafio de outro homem, ter arriscado a sua vida desta forma. Eu sei que os homens jovens morrem mais do que as mulheres por actos impensados, mas pensava que a idade trouxesse um certo bom senso. Das cinco pessoas que formavam o seu grupo, era ele o mais inexperiente e incauto em situações de conflito. Dima, o motorista, era já um guia calejado neste teatro de guerra; Sergio Jaramillo, além de Alto-Comissário para a Paz e vice-ministro da Defesa da Colômbia, foi o conselheiro de segurança nacional responsável pelas negociações com as FARC, o maior grupo de guerrilha do país; Catalina Gómez, calejada repórter de guerra, tinha nervos de aço; e Victoria Amelina, escritora e activista ucraniana, achava que era sua obrigação não só levar uma vida tão normal quanto possível, como documentar as atrocidades causadas pelas forças russas.

A Victoria intitulou o seu diário, que tencionava polir e terminar em Paris, “Olhando para Mulheres que Olham para a Guerra”. Então, eu vejo, com os olhos da imaginação – e com uma fotografia que a Catalina enviou na qual estava a dar a mão à Victoria, que tinha um oxímetro no dedo indicador -, as duas mulheres a viajarem juntas numa ambulância, uma a morrer e a outra a ver morrer a amiga. A Victoria não fugia e a Catalina não foge da guerra. São mulheres como elas que nos ensinam a vê-la, a perceber a sua dor, o seu sofrimento inaudito, a terrível injustiça que os homens fortes (anteontem Estaline e Hitler, ontem Putin, hoje Trump e Natanyahu, amanhã e depois de amanhã não sei quem) tentam fazer passar por algo heroico, necessário e, até, paradoxo dos paradoxos, pacificador.

Sendo “Somos o Esquecimento que Seremos” um dos meus livros de memórias preferidos mas tendo desistido de “Salvo o Meu Coração Tudo Está Bem”, sou tentada a concluir que o forte de Faciolince é o registo autobiográfico, sobretudo no que toca a terceiros. Ainda que exprima de forma honesta e condoída o stress pós-traumático e a culpa de sobrevivente que assola tantos que escapam a catástrofes e atentados à vida, enfadou-me um pouco seu solipsismo e os seus queixumes, enquanto as suas palavras sobre a morte estúpida de Victoria, que deixou um filho de 11 anos, me tocaram profundamente.

“As histórias devem salvar-se a todo o custo, saltar de um corpo quase morto para outro vivo. É a sua última oportunidade.” – Victoria Amelina

Apaziguei-me, no entanto, com esta decisão precipitada do autor quando ele próprio se interroga acerca das suas motivações, evocando recordações dolorosas e nunca saradas.

O mistério é precisamente este, o único motivo pelo qual comecei a escrever no meu caderno preto, para tentar compreender a justiça, mas também o absurdo, da minha decisão: eu, que não fizera nada quando mataram o meu pai e me limitei a fugir; eu, que não fora ativista político no meu país, porque é que agora decidia armar-me em ativista a favor de uma nação muito longínqua.

Ainda que encare com cepticismo a presença de Victoria Amelina que afirma que o acompanha desde a sua morte, “A Nossa Hora” é uma belíssima homenagem a essa mulher de coragem e também uma confissão extraordinariamente humana e franca, onde Faciolince abre a sua alma com uma vulnerabilidade que admiro e entendo.

Creio que fui à Ucrânia, e depois ao Donbass, para tentar demonstrar, sobretudo a mim próprio, que não era um cobarde. E já no coração do Donetsk e das trevas, em Kramatorsk, a vida voltou a mostrar-me o que sou, o que não posso deixar de ser e o que não perdoo a mim próprio.
Profile Image for Regina Barata.
295 reviews6 followers
December 24, 2025
O autor relata a sua viagem à Ucrânia em 2023 para participar numa feira do livro, após a qual o grupo com quem estava decidiu ir até Kramatorsk a 20km da frente da guerra. Desse grupo fazia parte Victoria Amélina, que viria a morrer na sequência de um ataque russo ao restaurante onde se encontravam.
Ao longo do livro Faciolince escreve sobre esta viagem e as suas consequências na sua vida e na sua consciência.
Este é um livro emotivo, em que o autor se expõe e se questiona de forma aberta.
Profile Image for Tito Andrade.
25 reviews4 followers
November 26, 2025
“ Passo os dias em silêncio, o caderno preto sempre fechado com a sua capa hermética que parece chamar por mim. Sinto-me incapaz de continuar a tarefa que me propus realizar.
Contento-me com o pensamento de que talvez seja necessário deixar que o tempo faça o seu trabalho de filtrar o que é desnecessário e deixar passar apenas o fundamental. “

Sempre o tempo …
Profile Image for Eduarda Luso.
68 reviews1 follower
December 18, 2025
Tinha enorme curiosidade para ler mais uma obra de um escritor que tanto gosto …
No entanto, achei diferente este livro, em comparação por exemplo com o “somos o esquecimento do que seremos” que adorei e que também é uma quase autobiografia! Neste “a nossa hora” é clara a necessidade quase sufocante, de escrever, deixar o testemunho da tristeza, da revolta, da culpa e da angústia que Hector vive após a morte de uma escritora, companhia de jantar numa pizzaria na Ucrânia, a qual foi atacada por um míssil russo em 2023!
Um relato impressionante, das atrocidades vividas na Ucrânia, do rasto de devastação, do sofrimento, e do medo! Hector repete-se várias vezes, principalmente no discurso do “acontecimento trágico” e na descrição de Victoria Amélina, a escritora que morre em resultado do ataque russo, mas mostra um pouco da história da Ucrânia antes de 2022 e a situação atual em algumas cidades da linha da frente…
Refere livros e escritores, à mistura com poemas, textos e fotos reais da “aventura “ que correu mal …
Para quem gosta de Hector Faciolince é leitura obrigatória!
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